13 novembro 2008

atribuição de intenções


Uma cultura que despreza as ideias, e desencoraja a sua discussão, possui geralmente variadíssimos recursos censórios que, actuando de forma espontânea a partir da população, impedem a emergência de novas ideias e que elas ganhem vida própria. Em posts anteriores, referi alguns desses recursos.

Porém, o recurso mais popular pela sua flexibilidade é, de longe, a atribuição de intenções. Um homem apresenta uma ideia. Os outros atribuem-lhe uma intenção, geralmente malévola e que nunca lhe passou pela cabeça. Ao fazê-lo, concedem-se a si próprios uma licença para o maltratar. A discussão deixa então de se concentrar na ideia nova e converte-se numa troca de insultos. O objectivo está conseguido. Sendo que é possível atribuir a um homem um milhão de intenções diferentes cada vez que ele abre a boca, ou até sem ele abrir a boca, este é também o recurso censório mais versátil e, por isso, o de mais elementar e popular utilização. É claro que no debate intelectual sério, ele constitui batota - e da grossa.

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