06 maio 2008

Capitalismo selvagem


A notícia financeira mais relevante do dia de hoje diz respeito aos despedimentos que vão decorrer na UBS - o maior banco suíço e um dos maiores bancos mundiais. A UBS é a última instituição a assumir o ónus das perdas associadas ao terrível "subprime". É também o sinal de que a banca suíça perdeu o fulgor de outros tempos. Na verdade, durante esta crise, falou-se, em surdina, de que na UBS estava a ter lugar uma corrida ao dinheiro. A ideia de que o banco poderia mesmo ir à falência, algo que outrora seria tomado como ridículo, circulou entre os operadores de mercado. Felizmente, tudo não passou de um susto, o banco conseguiu recapitalizar-se e está agora a pôr cá fora as más notícias. Os despedimentos são a consequência humana das perdas que, entretanto, há que amortizar.

Toda a gente sabe que o mercado laboral associado a Wall Street é muito volátil. Nos tempos de euforia, os salários são chorudos, os Porsches saem disparados dos stands e o frenesim festivo rumo aos Hamptons é constante. Mas quando os lucros baixam, a redução de efectivos, os cruéis "layoffs", é imediata. Há uns anos atrás, em 2003, por alturas da última grande crise financeira, encontrei no aeroporto de Heathrow, em Londres, um amigo que trabalhava então para a divisão de M&A (Mergers and Acquisitions) do banco norte-americano JP Morgan. Recordo-me, como se fosse hoje, do desgaste que o seu olhar acusava. Tinha envelhecido dez anos desde a última vez que nos tinhamos cruzado. Contou-me que, dois meses antes, o seu chefe tinha tido uma reunião com os subordinados e que lhes tinha comunicado, a um grupo de 30 pessoas, que no final do mês saíam 10. Só não disse quem saía. Deixou-os em competição feroz, uns contra os outros, numa espécie de luta darwiniana para decidir quais os mais bem equipados para permanecer. Pois bem, no final desse mês sairam os tais 10. Quando os 20 heróis pensavam em descansar, nova reunião e novo anúncio: no fim do mês, saem outros dez. Através do mesmo processo de exclusão. Brutal.

Há pouco enquanto piscava o olho à Bloomberg reparei que a contagem de despedimentos em Wall Street já totaliza 65 mil postos de trabalho. Nos Estados Unidos, já foram despedidas mais pessoas que juntas representam um número superior ao total de recursos humanos que o sector financeiro emprega em Portugal! Na verdade, os "layoffs" dos bancos norte-americanos e associados, parecem um rol de vítimas de guerra. Um novo Vietname. Ou seja, as tácticas agressivas de despedimento estão, novamente, em jogo. Caso para perguntar, será que em Portugal estariamos preparados para lidar com esta faceta do capitalismo puro e duro? Não acredito. E de certa forma, ainda bem.

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