09 março 2006

a que direita pertence paulo portas?

Um interessante «post» de Pedro Marques Lopes, publicado n' O Acidental, sobre a direita partidária portuguesa e o provável ressurgimento de Paulo Portas na liderança do CDS, termina com a afirmação de que «não pode ser Portas a fazer renascer a Direita porque a Direita dele já morreu».
Embora com muitas reservas, eu poderia até concordar com o sentido da conclusão, se soubesse que direita imputa o autor a Paulo Portas. Será a direita liberal dos tempos do velho Semanário, da apologia de Michael Novak e do liberalismo conservador anglo-saxónico, ou a direita democrata-cristã e keynesiana do Congresso de Braga? Será a direita anti-sistémica dos tempos do Independente e da épica conferência de imprensa contra o aparelhismo do CDS (que não tinha emenda), ou será a direita da «Jota» e do caciquismo partidário? Será a direita da «justiça social», do discurso dos pobrezinhos, dos pensionistas e reformados, ou será também a direita da classe média explorada pelo Estado? Será a direita que quer desenvolver a economia nacional sustentada na iniciativa privada, na livre-empresa e no mercado aberto, ou será a direita do estatismo e dos ataques à classe média? Será a direita europeia, desprovida de fronteiras e barreiras comerciais, ou será a direita das nações, a direita patrioteira de de Gaulle e do hino nacional ao pequeno-almoço? Será a direita da descentralização, das privatizações, da desburocratização, ou será a direita do tachismo, do despesismo, das empresas públicas e dos lugares públicos para os amigos e para as clientelas partidárias?
Diga-se, em abono da verdade, que Paulo Portas é, por enquanto, na direita portuguesa, a única personagem com carisma, inteligência e dimensão mediática para a projectar no futuro próximo. Que quer voltar, não restam dúvidas. E afirmou, ainda há pouco na SIC-Notícias, que pretende contribuir para a definição de uma «cultura política de direita» que se coadune com a sensibilidade da sociedade que quer servir como político. Convém, então, que desta vez não se volte a enganar e que diga, em tempo útil, ao que vem, com quem vem e o que efectivamente quer.

5 comentários:

Willespie disse...

Desconheço totalmente a carreira política do Paulo Portas anterior à ascenção à liderança do CDS-PP.

Devo dizer que apesar de eu não ser cristão, conservador ou manifestamente de direita, e de nunca ter votado nele, admiro o Paulo Portas e a postura que ele teve enquanto líder partidário. Pelo discurso, pelo estilo, e pelo patriotismo em medidas salutares. E também por ter aproximado o CDS um pouco mais ao centro-direita. Houve quem não gostasse, mas enfim.

Por vezes dá-me a impressão que a extrema-direita portuguesa faz questão de ser desagradável. Para quem gosta e perde tempo em discutir possíveis simpatias com essa direita acho que o Portas tornou-a bastante mais viável. Agora chamar a isto ou a estes, liberalismo e liberais respectivamente é que é de partir a moca a rir.

Anónimo disse...

...

Paulo Alves disse...

Excelente reflexão. É exactamente por aqui que interessa começar a analisar. Cada vez mais me convenço que a Direita não precisa de Paulo Portas, depende dele. E não é só a direita Liberal que se revê em Raymond Aron.

Willespie disse...

Qual Raymond Aron?
O simpatizante nazi?

Enfim...

Há individualidades que ficam na história como futuristas e visionários.
Há outras figuras que dão um contributo importante mas que vêm as suas ideias sendo ultrapassadas.

Esse será lembrado por mim pela sua visão retrógrada e ultrapassada mesmo no seu tempo. Nada de novo. Nada de útil.

Anónimo disse...

Portas foi um digno e bom ministro da Defesa e de Estado, reconhecido até pelos jornalistas rosas, como os do "Público", por exemplo. Foi um garante de estabilidade da coligação, ao contrário do que vaticinavam os "envenenadores" do PSD e da esquerda. Não foi por ele e pelos seus actos que o Governo de Santana acabou como sabemos.

Portas tem um papel a desempenhar e há-de desempenhá-lo. Irá conseguir sintetizar numa Direita, umas quantas direitas que se digladiam neste momento. Uma Direita clara, clarificada, assumida, activa e dinâmica. Que vá ao encontro dos problemas da sociedade e apresente soluções crediveis.
Portas tem uma dimensão superior à do CDS e irá fazer esse espaço político crescer.
E uma OPA sobre o O Independente?