25 agosto 2022

Dra. Manuela Estêvão

 


As notícias desta semana sobre o Chega têm servido para gáudio dos seus detractores, a começar pelo jornalistas do Público que, depois de um editorial do seu director há três dias (cf. aqui), voltaram hoje à carga (cf. aqui).

A destituição do deputado Mithá Ribeiro da coordenação do Gabinete de Estudos e a sua subsequente demissão da vice-presidência do partido, são manifestações de um problema que está associado ao grande crescimento que o partido teve no último ano e cujo mérito é devido, em primeiro lugar, ao seu presidente, André Ventura. Neste curto espaço de tempo, o Chega passou de uma representação parlamentar de um para doze deputados, tornando-se o terceiro maior partido do espectro político português.

E qual é esse problema?

É um problema de organização. O Chega é um partido desorganizado para as exigências que tem hoje pela frente, um partido em que os seus órgãos não funcionam ou, quando funcionam, funcionam geralmente mal, dando lugar a uma conflitualidade interna perfeitamente evitável e que muito prejudica o partido. Procurarei ilustrar com dois exemplos utilizando informação que é pública.

Primeiro exemplo ("Os órgãos não funcionam..."). A destituição esta semana do deputado Mithá Ribeiro da coordenação do Gabinete de Estudos foi uma decisão pessoal do presidente do partido, André Ventura. Então, e a Direcção não reuniu? Não, porque se tivesse reunido, o desfecho teria sido quase de certeza diferente. O assunto que motivou a destituição (a reprodução no facebook do deputado de um artigo publicado neste blogue, cf. aqui), teria sido discutido, o deputado Mithá Ribeiro, como vice-presidente, teria estado presente, teria apresentado os seus argumentos e tudo se teria resolvido internamente. Mas como, aparentemente, é hábito no partido a Direcção não reunir, e o presidente decidir por ela, foi o presidente que, sem qualquer aconselhamento ou travão, saiu destemperadamente com um comunicado oficial no portal do partido que, fazendo uso da mais bruta forma de exercício do poder, destituía e, ao mesmo tempo, humilhava publicamente o seu colega de partido e seu vice-presidente.

Segundo exemplo ( "...ou funcionam geralmente mal"). O Chega defende enfaticamente no seu programa para Portugal a separação do poder judicial do poder executivo, a fim de evitar que a justiça seja utilizada para perseguir adversários políticos. Ora, a nível partidário, a Comissão de Ética é  um dos órgãos de justiça do Chega, que ainda ontem suspendeu mais um militante, curiosamente um ex-vice-presidente (cf. aqui). Porém, quem for ver a composição da Comissão de Ética verá que o seu presidente é também secretário-geral do partido (cf. aqui), um lugar dependente da direcção. Quer dizer, no Chega, como em Portugal, sob a aparência de se estar a fazer justiça, pode-se estar, na realidade, a perseguir adversários políticos. E, não raro, é isso mesmo que acontece. "Bem prega Frei Tomás..."

No seguimento da turbulência desta semana em torno do deputado Mithá Ribeiro, o presidente do partido, André Ventura, depois de dizer que iria assumir a direcção, não apenas do Gabinete de Estudos, mas também da Comissão Política Nacional, veio a público anunciar que iria realizar uma  "profundíssima reestruturação do partido" (cf. aqui).

Tenho de admitir que tenho tanto entusiasmo pela profundíssima reestruturação do partido prometida pelo presidente como tenho pela profundíssima reforma da justiça que ele prometeu há ano e meio, e que esteve na base dos acontecimentos desta semana. E porquê?

Porque o presidente André Ventura, sendo um homem de muitos talentos - o principal dos quais é a sua qualidade de tribuno e a sua capacidade para  fazer manchetes na comunicação social - , não tem talentos de organizador. Na realidade, ele é o principal responsável pelo actual caos organizacional em que vive o partido, e pela consequente conflitualidade interna, resultado do poder absoluto que herdou dos tempos de deputado único e que lhe tem custado a abandonar.

A tarefa de organizar o partido é uma tarefa que compete ao secretário-geral, o equivalente partidário do CEO ou director-executivo de uma empresa. Das pessoas que conheço dentro do partido, a mais capaz, na minha opinião, para empreender essa gigantesca tarefa de reorganização do Chega é uma pessoa com provas dadas a organizar o partido no distrito de Santarém, que é o distrito emblemático do Chega. Trata-se da presidente da distrital, Dra. Manuela Estêvão.

A Dra. Manuela Estêvão é farmacêutica e uma pequena empresária do sector farmacêutico, com algumas dezenas de empregados. Não apenas sabe o que é organizar e gerir, nas suas múltiplas dimensões, uma organização empresarial, como é a líder do Chega no distrito onde o partido tem maior implantação e maior sucesso, em primeiro lugar por mérito dela. Além disso, a Dra. Manuela Estevão projecta uma imagem de credibilidade e respeitabilidade pessoal que muita falta faz ao Chega para temperar a sua imagem de marca que é, por vezes, excessivamente masculina, truculenta e agressiva.

A Direcção do partido faria bem em convidá-la, restando saber se ela estaria disposta a aceitar.

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