13 abril 2022

Ou talvez não (4)

 (Continuação daqui)



4. A fada

O mistério viria  a ser desvendado nas vésperas das eleições legislativas de 2019 quando os jornais noticiaram em catadupa:

Observador: "Juízes conselheiros vão ter aumentos de 700 euros" (cf. aqui)

Jornal Económico: "Marcelo aprova aumentos salariais de 700 euros para os juízes mas critica fosso salarial para os polícias e militares" (cf. aqui)

Sábado: "Marcelo promulga aumentos salariais de 700 euros para juízes conselheiros" (cf. aqui)

Expresso: "Marcelo promulga 16 diplomas mas diz que salário de juízes acentua desigualdades" (cf. aqui)

Observador: "Além dos juízes quem é que recebe do Estado um salário superior ao de primeiro-ministro?" (cf. aqui)

Foi um aumento e pêras para os juízes, especialmente para os juízes no topo da carreira, os juízes conselheiros.

Foi um aumento dado em vésperas de eleições e que causou compreensível indignação pública, especialmente em outros sectores do Estado, como os miliares e os polícias.  O próprio Presidente achou aquilo um exagero. No topo da carreira, os juízes conselheiros passavam a ganhar mais do que o primeiro-ministro.

O mistério estava agora mais ou menos desvendado e só faltava responder à questão mais fácil: Será que os juízes tinham no Conselho de Ministros alguma fada que os representasse e que tivesse proposto e feito aprovar uma lei tão generosa para a corporação de que ela própria agora fazia parte?

O aumento foi extensivo aos procuradores do Ministério Público:

Jornal Económico: "Magistrados do Ministério Público também vão ganhar mais que o primeiro-ministro" (cf. aqui),

significando que a fada não se esqueceu sequer da sua antiga corporação.

Perante a indignação geral, a fada sentiu necessidade de vir a público justificar-se: "Salário de juízes sem tecto do primeiro ministro repõe remuneração "a que tinham direito", diz ministra"(cf. aqui)

A justificação para aqueles aumentos desproporcionados era, afinal, uma questão de justiça. 

(Continua)

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