20 fevereiro 2019

padrões

Não há nada que mais atrapalhe um político - no sentido dos "politiqueiros" que são a maioria que nos governa - do que meter Deus no meio da conversa, ou a religião, ou Cristo.

Falo por experiência própria.

Jair Bolsonaro não hesitou em invocar Deus no momento da vitória, mas ele é uma excepção, e foi precisamente essa invocação que fez os flahes das televisões e as capas dos jornais acerca do seu discurso de vitória (cf. aqui).

Que significado tem a sua invocação de Deus?

Que ele se propõe obedecer a todos aqueles valores que Deus representa e de que Deus é o padrão, como a verdade, o bem, a justiça, o serviço aos outros.

Se algum dia ele mentir, praticar o mal ou cometer deliberadamente uma injustiça, as pessoas deixarão de acreditar nele. Além disso, terá cometido um pecado, a invocação do nome de Deus em vão.

Pelo contrário, os politiqueiros abrigam-se sob a laicidade do Estado para nunca invocarem Deus. Não o fazendo, ficam isentos de obedecer a qualquer dos padrões que Deus representa. Para eles, não há padrões, porque eles não se vincularam a nenhum. Vale tudo.

Podem mentir à vontade, fazer o mal, servirem-se a si próprios, cometerem injustiças utilizando a própria justiça, que ninguém lhes pode levar a mal. Ao contrário de Bolsonaro, eles não prometeram obedecer a nada nem a ninguém.

A laicidade do Estado esconde frequentemente a liberdade dos safados. Às vezes imagino um politiqueiro frente-a-frente com Cristo. É difícil imaginar duas personalidades mais diferentes. É por isso que o politiqueiro quer sempre ver Cristo pelas costas.

O Papa Bento XVI escreveu um dia que a verdadeira liberdade está na obediência, uma frase que na aparência parece encerrar uma contradição insanável. Espero ter contribuído agora para que o seu significado se torne claro.

1 comentário:

jcg disse...

Estes temas são complicados e,por isso, vou fazer dois comentários, que aparentemente apontam em sentido contrário:

1. um cristão pretende descobrir (ir descobrindo) a vontade de Deus para si e cumpri-la (ir tentando). Ao fazê-lo está-se santificando (divinizando). Neste sentido fazer a vontade de Deus, que é amor, por amor, não aprisiona, antes liberta.
a) uma realidade humana onde esta realidade se vive é família: marido e esposa, que se amem, dependem um do outro...dependem por amor... esta dependência aumenta a liberdade de cada um e os desenvolve como pessoa (no sentido personalista cristão).
b) obviamente, os governantes governarão melhor se tentarem fazer a vontade de Deus (revelada em Jesus Cristo)

2, apoiar o Estado e a governação na figura de Deus e em nome de Deus pode levar às maiores atrocidades, porque, quem governa se considera dotado de um poder superior, agindo em nome de alguém superior, e, portanto podendo cometer as maiores atrocidades em nome de Deus. Por esta razão defendo o estado laico e critico as teocracias. Quando ouço um governante invocar o nome de Deus, fico sempre preocupado. Por alguma razão, Jesus afirmou a "César o que é de César, a Deus o que é de Deus"
a) pode-se contrariar que o argumento do Pedro Arroja só se aplica aos governantes que sejam cristãos, digamos, de verdade. Mas que isso se veja mais pelas obras do que pelas palavras... Acresce que é tão fácil estarmos convencidos que fazemos a vontade de Deus e... já o Pai Nosso nos alerta para "não nos deixei cair em tentação"

Em suma o estado laico pode ser uma condição para a paz... se os governantes forem cristãos, melhor ainda. A laicidade do Estado, é, a meu ver, uma conquista do cristianismo.