09 abril 2018

Os olhos azuis (I)

I. Inocência


É simpatia.

É simpatia aquilo que eu sinto como homem em relação ao Dr. Avides Moreira.

Aquela ingenuidade que parece transparecer nos seus reluzentes olhos azuis parece-me, em muitos aspectos, uma ingenuidade verdadeira, embora ele às vezes a procure disfarçar armando em chico-esperto.

Será que ele está preparado para o que aí vem? E poderei eu ajudar, e com que autoridade?

Eu ainda não tinha visto a advogada de defesa neste processo sair do tribunal tão indignada, como na última Quarta-feira, após o seu depoimento. Fiquei surpreendido porque eu próprio não sentia indignação nenhuma.

Saberá ele o que o espera no próximo dia 4 de Maio - um homem a enfrentar uma mulher profundamente indignada? É que a advogada, antes de ser advogada, é uma mulher, e ele próprio, antes de ser advogado e testemunha neste processo, é um homem.

Como é um homem enfrentar uma mulher profundamente indignada? E como é que eu posso ajudar? São estas as questões que eu tenho mantido no espírito desde há dias.

Decidi começar por legitimar a minha própria autoridade nesta matéria com uma reflexão - uma verdade de vida -, e que é a seguinte.

Um homem e uma mulher que vivem muitos anos em comum, ao fim desse tempo todo não se tornam mais iguais, como as aparências poderiam sugerir. Tornam-se mais diferentes. Ele torna-se mais homem e ela torna-se mais mulher. Nele vão sobressaindo cada vez mais as suas características masculinas e nela as suas características femininas.

Uma consequência desta realidade é que um homem precisa de uma mulher para saber o que é um homem e também o que é uma mulher. E a recíproca é igualmente verdadeira para a mulher. Neste caminho em comum, em que o homem e a mulher, se vão conhecendo melhor a si próprios e ao outro, a mulher leva sempre vantagem, vai sempre ligeiramente à frente.

É que um homem e uma mulher nascem ambos de mulher.

É sobre este ponto que eu reclamo uma certa autoridade sobre o Dr. Avides Moreira. O caminho que ele ainda parece ter agora começado a percorrer, eu já o percorri há muito

Neste ponto, os olhos azuis dele sugerem-me inocência. Ele não imagina aquilo que o espera.

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