15 fevereiro 2018

máscaras (II)

No post anterior, utilizei a pessoa do Paulo Rangel do meu case study para mostrar como um advogado que é também político consegue obter vantagens económicas para a sua empresa, quando se apresenta com a máscara de político, mas age realmente como advogado a promover os interesses da sua empresa de advocacia.

Anunciei também que mais chocante ainda é o caso em que o advogado que é também político se apresenta como sendo um advogado, mas age realmente como um político. É o caso em que o político (que também é advogado) contamina a justiça, pondo em causa a sua imparcialidade.

Continuarei a usar o Paulo Rangel do meu case study.

Na queixa que apresentou contra mim, ele identifica-se escrevendo "O denunciante é advogado desde 14-03-1994, data em que foi inscrito na ordem dos Advogados", para logo de seguida acrescentar que também é professor em duas instituições de ensino superior.

Aquilo que ele nunca diz é que também é político - e, na realidade, um político importante, vice-presidente do Partido do Governo, para além de eurodeputado. Ao longo de toda a queixa, que tem 13 páginas, sempre que se refere à sua pessoa, identifica-se como advogado (e ocasionalmente também como professor), jamais como político (que também é).

O pior vem, então,  no parágrafo 18 que, para ser perfeitamente entendido - é a política a contaminar a justiça, pondo em causa a sua imparcialidade -, necessita também que se mencione o parágrafo anterior:

"17. O reconhecimento pessoal, profissional e académico que lhe é dispensado  não se circunscreve à cidade do Porto, onde tem sediada a sua actividade profissional e académica e onde reside, mas estende-se a todo o pais".

"18. Reconhecimento esse de que goza nos meios académico e forense, entre Advogados e Magistrados, e também junto dos seus clientes e público em geral".

O que é que ele me pretende transmitir com esta mensagem?

Intimidar-me: "Estás tramado, os Magistrados (procuradores do MP e juízes) gostam muito de mim".

Mas isso não é o pior. Está a pôr uma pressão inaceitável - ele que é vice-presidente do partido do Governo - sobre o procurador do Ministério Público que decide se dá ou não seguimento à queixa e sobre o juiz que me vai  julgar.

Se ele é tão apreciado e próximo dos "Magistrados" - coisa que eu não sou -, é praticamente certo de que serei acusado (como, na realidade, fui) e acabarei condenado (ainda não se sabe). A imparcialidade dos "Magistrados" fica comprometida.

Este é o Rangel político. O verdadeiro Rangel desta queixa é o político que, não obstante, se apresenta sempre como advogado. Na aparência é advogado, na realidade é político.


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