21 novembro 2017

o teste

O processo independentista na Catalunha representa aos meus olhos a única e verdadeira revolução democrática na Península Ibérica dos últimos 50 anos. É o único caso em que uma fracção significativa do povo - cerca de metade dos catalães - decide enfrentar um Estado autoritário e paternalista - que, em parte, é democrático apenas no nome -, reclamando a liberdade para decidir o seu próprio destino, e oferecendo o corpo às balas em nome desse ideal.

Em nenhum outro momento nos últimos 50 anos, o povo espanhol (ou português) - ou uma fracção significativa dele - se bateu pela democracia. Em 1975, o regime franquista entregou a democracia ao povo espanhol, sem que este se tivesse batido por ela. Um ano antes, em Portugal, os militares fizeram a mesma coisa ao povo português - entregaram-lhe a democracia numa bandeja.

Será que o povo a queria?

Olhando em retrospectiva, não estou nada certo que a quisesse na altura ou a queira agora. As instituições com que a ditadura eliminava os opositores mantiveram-se, a mentalidade autoritária e paternalista pouco foi alterada, a comunicação social é a voz do poder político como nunca foi nos tempos da ditadura. Na Justiça (que é a instituição mais forte e confiável de um país democrático), nem espanhóis nem portugueses confiam nela

O teste - democracia ou ditadura? - virá em breve da Catalunha. De hoje a um mês realizam-se as eleições regionais. Os partidos independentistas continuam a ser dados como maioritários, e existe um aspecto em que todos parecem concordar - querem um referendo para decidir o seu destino.

Será que o Governo de Madrid vai permitir?

É na resposta a esta questão que se vai decidir o futuro democrático (ou não) de Espanha (e, por arrastamento, também de Portugal). O "Sim" é a opção pela democracia. O "Não" é a opção pela ditadura, porque só então pela força o Governo de Madrid vai poder calar os catalães.

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