17 julho 2017

uma senhora

O escrivão chamou-nos e entrámos os três para a sala de audiências. A mim, sentou-me no lugar reservado aos arguidos. Aos advogados, sentou-os em secretárias, uma de cada lado. Ele próprio sentou-se ao meio da sala, junto de um equipamento de gravação e de vários documentos.

Preveniu-nos:

-Por favor, quando o juiz entrar levantem-se.

Poucos minutos depois entrou a juíza, seguida de um cavalheiro, que presumi ser o magistrado do Ministério Público. Sentou-se ao centro, na tribuna, e ele à direita dela.

Inquieto com a observação do meu amigo dias antes, passei imediatamente a observar os primeiros sinais. Aparentava cinquenta anos. O cabelo arranjado. Vestia de maneira discreta, mas elegante, apropriada à sua função. Chamou-me a atenção o belíssimo anel que usava na mão esquerda.

-É uma senhora..., pensei

Confirmou-se durante audiência. Exprimindo-se num tom de voz sempre sereno, deixou-me falar tanto quanto quis e tratou-me sempre de maneira educada e respeitosa.

No fim, quando saí cá para fora, o primeiro comentário que fiz foi:

-Gostei muito da juíza.

Não fosse aquele episódio final que - creio eu - desagradou tanto a ela como a mim, e tudo teria sido perfeito.

Chama-se Catarina Ribeiro de Almeida.

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