22 julho 2017

o número

A sessão começou com todos os presentes sentados e somente eu de pé a ser identificado pela juíza:

-Nome completo...
-Data do Nascimento...
-Local do Nascimento...
-Nome do Pai...
-Nome da Mãe...
-Morada...
-Profissão...

e por aí adiante, tudo ao mais ínfimo detalhe.

Custou-me especialmente o momento em que tive de pronunciar o nome (completo) do meu pai e o da minha mãe. Custou-me imaginá-los a ver o filho naquela situação.

A minha morada é um pouco extensa, inclui rua, número, bloco, andar, lado, cidade.

O bloco é um detalhe dispensável que nunca uso, e presumo acontecer o mesmo com a maior parte dos meus vizinhos. Por isso, omiti-o, como sempre faço.

Pois nem esse detalhe escapou ao escrutínio:

-Bloco B1?

-Sim... Bloco B1.


Foi então que, por um momento,  me veio  ao espírito aquela fotografia típica do criminoso americano.

Eu próprio vivi na América e visitei Alcatraz, hoje uma prisão-museu, e um dos mais marcantes museus que visitei na minha vida.

Senti que só me faltava a farda e o número estampado no peito.


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