21 julho 2017

estragava tudo

-Mas, então, eu sou o único cidadão no país que não pode ofender políticos?...  perguntei eu à juíza (*).

E prossegui:

-Abre-se a página de comentários de um qualquer jornal online e lá estão cidadãos a ofender políticos ... vai-se a um blogue e a mesma coisa... nas redes sociais nem se fala... liga-se a televisão e lá aparece um cidadão a ofender um político...os próprios políticos se ofendem uns aos outros... E eu não posso ofender um político?...

A juíza parecia sobretudo preocupada com a expressão politiqueiro.

Expliquei:

-Um político, um verdadeiro político, é aquele que se dedica exclusivamente à causa pública...Um politiqueiro é aquele que utiliza a causa pública para promover interesses privados, incluindo os seus ... como é o caso do Dr. Paulo Rangel.

Era uma ofensa muito suave, se é que era ofensa de todo. Nada que se compare com aquelas que aparecem nos jornais e praticadas entre os próprios políticos. E acrescentei:

-Ainda a semana passada houve dois casos exemplares... Um eurodeputado do PS que chamou cigana a uma sua colega deputada do mesmo partido, que por acaso até é candidata aqui à Câmara de Matosinhos...

Nessa altura a juíza fez um ar de desagrado e pediu-me:

-Por favor, não traga isso para aqui...

Mas era precisamente isso  que eu queria levar para ali. E continuei,

-Noutro caso, um deputado do PS, que é o Partido do Governo, chama aldrabões aos seus colegas do PSD...  Até os próprios deputados  se ofendem uns aos outros...E eu sou o único cidadão do país que está a responder por ofensas a um político?...

-Mas isso é lá na Assembleia... , observou a juíza.

-Mais uma razão...eles é que fazem as leis e têm de dar o exemplo do seu cumprimento...Se não é crime para eles ofenderem-se uns aos outros, por que é que há-de ser crime para mim?...


De nada valeu. E nada foi tomado em consideração. Porque, se fosse, estragava tudo e o Processo-crime ia dali directamente para o lixo.

Assim, duas sociedades de advogados, sete testemunhas de acusação, toda esta tropa sob o comando supremo do Ministério Público - quer dizer, do Estado português - , e com uma juíza de instrução criminal assinando por baixo, pode continuar a roer-me os calcanhares - por mais algum tempo e sabe-se lá até onde.

Agora, quando for o julgamento, já não é só o meu amigo. Sou eu também que fico à espera de uma juíza do Bloco de Esquerda.



(*) As declarações foram gravadas. Cito de memória.


Sem comentários: