29 novembro 2014

em menos de um fósforo


Uma das piores características da cultura portuguesa é a subserviência aos que ocupam lugares de poder, seguida de desprezo e represálias quando essas pessoas abandonam esses lugares.
Na realidade este processo decorre no íntimo de cada um. A subserviência é acompanhada de sentimentos de humilhação e de inferioridade que alimentam depois a sede de vingança.
É assim que os poderosos passam de bestiais a bestas em menos de um fósforo, podendo acabar linchados na praça pública por nada.
É útil recordar esta perversidade portuguesíssima, no momento actual, para incutir pudor aos que comentam em público a queda de ex-poderosos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tambem acho.
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Ele até há um opinion maker, cujo nome me escapa, elevados à idolatria em alguns blogues, que defendem que não não tem o dever ético e moral de presumir inocência só porque lhes apetece presumir a culpabilidade dos mesmos. Dizem que se fartaram de presumir a inocência por 5 ou 6 vezes e que à sétima já não pode ser.
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Ora, é precisamente na sétima que está o busilis da questão, porque é justamente na sétima que o suspeito foi impedido de se defender para poder provar a sua eventual inocência.
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É, pois, um raciocinio inviesado desse jornalista. É como se a repetição de uma hipotética calúnia pudesse ter provimento pela quantidade de vezes que é proferida.
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E espanta-me como pessoas inteligentes abocanhem o engodo sem tentar intuir se não haverá por ali um anzol.
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É a verdadeira populaça a fazer julgamentos previos. O linchamento. OS ajuntamentos.
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Esse jornalista pensa que está no estadio da luz. Como adepto do benfica ele pode achar que há gamanço no jogo porque não foi assinalado um fora de jogo, mas se vier para a praça pública presumir que o arbitro é um corrupto vai ter que provar o que diz. Não basta dizer que ouviu falar de alguém e que viu um fora de jogo mal assinalado. Na praça pública ele tem de presumir inocencia até demonstrar o contrario.
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Com o Socrates é a mesma coisa. A ser verdade há indicios fortes para o interrogar. Mas um gajo não faz a mais pálida ideia se o que se diz é verdade. E o juiz não o prendeu preventivamente pela prática de crimes. Prendeu-o por haverá perigo de fuga, tumultos sociais e perturbação da investigação.
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Ora, é admissivel que se faça uma detenção com base nesses pressupostos, mas só é justificavel se praticada com diligência e discrição. Uma semana de preventiva no máximo no maior dos segredos para não prejudicar o seu nome em caso de inocencia.
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Como diz o Papa, e bem, a preventiva tratasse de um 'verniz de legalidade', uma "forma contemporânea de pena ilícita oculta", uma 'antecipação de pena', que pode muito bem ser substituida por medidas alternativas.
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Rb

Anónimo disse...

O problema é que se formaram grupos.
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O mais assanhado é uma parte do grupo daqueles que sempre detestaram o Socrates e aproveitam para exercer em todo o seu esplendor a vingançazinha alimentada pelo ódiozinho de estimação.
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Não aplaudem porque se faz justiça. Porque isso só aconteceria se fosse julgado. Aplaudem por sentimentos de ódio. Se lhes fosse possivel botavam o fosforo na fogueira só para o ver estrebuchar.
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Eles não pretendem um julgamento justo. Eles pretendem um linchamento exemplar.
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Estás-lhes na boca a memória do sabor do sangue fresco. Deve ser assim que os animais se sentem quando miram uma presa. O processo de salivação nos animais corresponde nos humanos a este de tipo de comportamento.
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Rb

Anónimo disse...

Se num grupo de leões já saciados que miram as hienas inimigas à volta de uma carcaça, um deles não saliva como os outros perante o quadro assim colocado, respondem com agressividade que o leão anda a brincar com a hiena nas horas vagas e que até é amigo dela.
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O único que tem o discernimento de perceber que aquela hiena tem o direito a sobreviver torna-se no alvo a abater. Desatam todos a desancar no pobre leão. Ofendem-no e até burilam formas de o maltratar.
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Um leão que tem nobreza de espirito e candidato a rei da selva não tem medo algum das malfeitorias dos outros. É a oportunidade que tem de levantar a juba e mostrar que a deles não passa de uma penugem comprada nas lojas dos leões chineses.
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Rb