06 outubro 2014

Deixe-se disso

Comemorou-se ontem o 5 de Outubro.

Na realidade, existem dois 5's de Outubro em Portugal, e aquele que mais se comemorou ontem é o menos importante.

Em Lisboa, o Presidente da República fez a crítica dos partidos políticos, salientando que ou eles se reformam ou o sistema partidário entra em colapso.

Embora o Presidente da República - que fez a sua vida política às costas de um partido e, ocasionalmente, de dois, e por largo tempo foi presidente de um deles - não seja, por isso, uma pessoa particularmente credível para criticar os partidos - aquilo que é hoje o PSD deve-lhe muito a ele -, o diagnóstico não é desacertado.

Excepto na esperança de que os partidos políticos se possam reformar. Vivem do Estado e são pagos pelo Estado, o dinheiro é certo e seguro. Por que haviam de se reformar? O mais certo é que entrem em colapso, e os sinais já abundam por aí.

Enquanto isto, em Coimbra, o Dr. Marinho e Pinto criava mais um partido ... como se já existissem poucos. (e maus)

Nas palavras do próprio fundador, aquilo que distingue o novo partido de todos os outros já existentes, é que os outros são todos maus, ao passo que o dele vai ser bom. É esta ideia de que "Eu sou bom e tu és mau" que define o espírito sectário ou partidário. Daqui decorre que "Se és bom juntas-te a mim, se não te juntas a mim é porque és mau" que converte a vida em sociedade numa luta entre amigos e inimigos.

Para começar, o Dr. Marinho e PInto não podia ter começado pior. É apenas uma questão de tempo, até que o seu partido se torne igual aos outros, ou ainda pior - a  julgar pela veemência com que ele considera que o seu partido é bom e os outros são todos maus.

O novo partido tem o nome sugestivo de Partido Democrático Republicano. Como todos os republicanos, o Dr. Marinho e Pinto é democrata. A verdade, porém, é que nós vivemos numa república que não foi decidida por via democrática. Foi uma revolução que a impôs ao povo, feita por um pequeno número de homens, e sem que o povo alguma vez tenha tido uma palavra a dizer acerca dela.

E isto leva-me ao segundo 5 de Outubro, o legítimo e o verdadeiro. É o dia do nascimento de Portugal, o dia do seu aniversário. Portugal fez ontem 871 anos. Foi a 5 de Outubro de 1143 que foi assinado o Tratado de Zamora, em que o rei Afonso VII de Castela reconheceu a independência de Portugal e D. Afonso Henriques como seu legítimo rei.

Portugal nasceu monárquico. Quase oito séculos depois, no mesmo dia 5 de Outubro, ficou republicano.

Dizem os republicanos - como, certamente,  o Dr. Marinho e Pinto -, que a grande vantagem da República é ela ser democrática, e ser o povo a escolher o seu Chefe de Estado (Presidente da República).

Mas não é. É precisamente o seu pior defeito. E a grande vantagem da monarquia - a de não ser ninguém a escolher o Chefe de Estado (Rei).

Você sabe escolher um pai, você está certo que se fosse você a escolher o seu pai teria um  pai melhor do que aquele que tem e que não foi você a escolher?

Não teria. Uma pequena reflexão leva-o a esta conclusão irrefutável.
(Você quereria um certo homem para pai, os seus irmãos outros homens. Em breve, os irmãos estão divididos em partidos acerca do pai a escolher. Organizam eleições e escolhem democraticamente o pai. O homem escolhido pode ter alguma simpatia pelos filhos que votaram por ele, nenhuma pelos filhos que votaram contra ele, e que não o querem como pai. O amor nesta família - o célebre amor de pai - desapareceu. Esta família vai viver no conflito e na discórdia. Pior ainda tratando-se de escolher a mãe).

Você não sabe escolher um pai.

Mas se você não sabe sequer escolher um pai - uma figura muito importante na sua vida e em cuja escolha você poria o melhor das suas energias e talentos - como pretende você saber escolher o seu Chefe de Estado (uma figura mais distante na sua vida e em cuja escolha você se aplicaria consideravelmente  menos)?

Deixe-se disso.

(E já agora uma pergunta: Você sabe ao menos quem é que escolheu o seu pai?)

11 comentários:

Rui Alves disse...

Uma vez, numa entrevista, o Dr. Medina Carreira foi questionado se não pensara alguma vez em fundar um novo partido político. Ele respondeu laconicamente que sim, que já recebera propostas para tal.

"E então?...", insistiu o interlocutor.
"Então", replicou ele, "eu respondi-lhes que casas de mulheres de má vida já temos muitas. Não precisamos de mais uma."

Narro de memória, o entrevistador seria provavelmente Vítor Crespo. A entrevista, já com alguns anos, é fácil de encontrar na Net.

Unknown disse...

Então como se transita do actual sistema para um sistema melhor?

Aguarda-se pacientemente pela sua implosão? Depois venham as revoluções e a desgraça!

Ou esperam que alguém vos entregue o poder embrulhado numa caixinha bonita?

Diogo disse...

«Excepto na esperança de que os partidos políticos se possam reformar. Vivem do Estado e são pagos pelo Estado, o dinheiro é certo e seguro. Por que haviam de se reformar?»

Mas será mesmo assim?


Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:

[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]

Unknown disse...

O seu argumento lógico é algo estranho, simplesmente a escolha porque não é apenas lógico mas emocional.

Eu "escolho" o meu pai, porque o amo e continuo a amar, não pela lógica mas pelo amor entre pai e filho, ora isso não existe entre um Governante e o governado e o que não falta na história das civilizações é exemplos de pouco amor entre reis, imperadores e afins pelos seus súbditos.

Eu compreendo que a questão da escolha e do igual poder de escolher levante muitas questões, até porque nem todos teriam o mesmo mérito para votar, por isso a solução, a não ser que queira castrar intelectualmente os homens e mulheres, NESTE MOMENTO é absurdo retirar-lhes esse poder, o da escolha. Mais provável será que decidam abandoná-lo( como se vê pelas cada vez maiores abstenções) mas nunca retirado.

Podia, ao invés, não tentar ser revolucionário, mas sim entrar no sistema e reformá-lo. Melhorar o sistema político.

É necessária a ilusão da Escolha! Retire-a e crescerão tensões internas, vontade de dissidência e comportamentos anti-nacionais.
Melhore o sistema de tomada de decisões... Não queira decidir por mim o que só a mim e aos meus diz respeito.


Euro2cent disse...

> Eu "escolho" o meu pai, porque o amo e continuo a amar,

Mais um triste exemplo dos estragos que o romantismo fez.

Haviam de ir com estas lérias para um pater familias romano para ver a corrida em osso que levavam. Como o cujo dito tinha direito de vida ou de morte sobre todos os membros da família (filhos adultos incluídos), era uma conversa curta.

Auctoritas, dignitas, gravitas, sim, beijinhos, abraços e reforço da auto-estima nem por isso. Agora estamos muito mais esclarecidos, e tudo corre sobre rodas, excepto que já quase não há família de espécie nenhuma ...

(Mais um caso de destruir a aldeia para a salvar, um fenómeno comum.)

Euro2cent disse...

(destruir a aldeia para a salvar)

Ah, tem graça que metade das ideias vigentes sobre a educação, etc., vêm do camarada Rousseau, que deu todos os filhos que gerou para adopção.

Se não fosse trágico era para rir.

Vivendi disse...

O que é a Monarquia?
A Monarquia é um regime político em que as instituições derivam da experiência histórica da nação. Por esta ordem de ideias, para nós, os fundamentos do regime monárquico são aqueles que se baseiam na Família, no Município, na Província e na Nação.
A nossa a proposta de organização da sociedade tem como bases a reorganização do núcleo familiar, para além da organização das classes trabalhadoras pelo modelo de representação profissional corporativa, acompanhada por uma política de descentralização municipal na qual o mérito tem de ter um papel relevante. Esta norma social, como é evidente, constrói-se a partir da autoridade Real, da garantia da propriedade, das liberdades da Igreja Católica, da ordem pública e do culto da Tradição.
Só desta forma a Nação Portuguesa pode algum dia merecer a consideração que lhe é devida pelas outras nações.
Para os tradicionalisas não é a pessoa do Rei que é essencial, mas a doutrina, pois na legitimidade da pessoa apenas se pretende resguardar a validade do princípio. Como escrevia Hipólito Raposo, “Nós somos monárquicos pela monarquia e não monárquicos por dedicação pessoal ao Rei (...) Afirmado este elementar princípio da superioridade da
Instituição sobre aquele que é o seu órgão mais alto, facilmente se compreende que, neste momento, a questão da legitimidade
não tenha para nós importância (...) No ponto de vista positivo em que nos colocamos, o nosso rei é aquele que melhor servir a utilidade colectiva, aquele que os interesses da Grei reclamaram para os tutelar”.
É preciso "ser intransigente quanto aos princípios" porque “são os princípios e não os homens, quem reconcilia ou desagrega."

Guilherme Koehler

Unknown disse...

Euro2cent: Então ainda bem que já não estamos na República Romana!

E também não estou a ver em que é que isto tem a ver com salvar ou não a aldeia.

Acaso há algum problema que exista uma boa relação pai-filho?

Anónimo disse...

Quem escolheu o meu pai?

- Eu sei bem quem o escolheu. Sendo cristão, tenho para mim que foi Deus quem colocou o meu pai na vida da minha mãe.

Portanto, o meu pai foi escolhido pela minha mãe, mas foi Deus que o colocou um na vida do outro.

Concorda comigo, prof?

Anónimo disse...

Libertas.
É essa a resposta certa - certamente aquela que eu também daria.
PA

Pedro Sá disse...

E também a mãe foi escolhida pelo pai, ora.