À superfície, o genial golo de
Maradona pode ser interpretado como o resultado de um dom, de uma intuição
primária que nesse dia se manifestou superiormente, uma arte mágica, habilidosa
como “a Mão de Deus”, realizada por um indivíduo cuja imagem e a vida pareciam
negar qualquer sofisticação. E no entanto, mais do que um malabarismo
espectacular, o seu gesto revelava o modo como o futebol se constituía como uma
construção colectiva depurada por uma experiência sedimentada no tempo e
interpretada por corpos dotados de uma evidente inteligência prática.
Há uma tendência moderna para atribuir o
sucesso individual ao colectivo, em vez de reconhecer o génio, o esforço e o sacrifício
do agente do sucesso. O presidente Obama, por exemplo, expressou esta
perspectiva quando afirmou que os empresários nada mais fazem do que “cavalgar”
os recursos que a sociedade lhes disponibiliza: ‹‹If you've got a business—youdidn't build that. Somebody else made that happen››.
O passo seguinte é taxar o sucesso individual
e redistribuir a riqueza gerada por esse sucesso pelos “mais desfavorecidos”. A
lógica subjacente é que todas as mais-valias são moralmente do colectivo porque
o sucesso dos ricos é fruto do contributo de todos.
Nesta óptica, um jogador como o Maradona não
deve receber mais do que qualquer um dos seus colegas porque ‹‹mais do que um malabarismo
espectacular, o seu gesto revelava o modo como o futebol se constituía como uma
construção colectiva››.
Pois em verdade vos
digo que esta tendência para sobrepor o colectivo ao mérito individual só pode
ter um desfecho: acabar com os Maradonas deste mundo. É isso que querem?
9 comentários:
Que bela mixórdia de conceitos se lembrou o Joachim de arranjar.
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No campo do futebol como é que vc compara a genialidade individual se fizer de conta que não existe uma equipa?
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Se as bolas não chegassem ao génio ele não sairia da lampada. Parece-me tão evidente quanto básico.
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E se não sai da lampada um gajo desconhece que ele existe. Se desconhecemos que existe, ele não deixa de existir, mas não se revela.
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Daí que, meu caro Joachim, meritosos existem às paletes por esse mundo fora. Apenas alguns conseguem sobressair.
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O mérito está quase sempre noutros considerandos e muitas vezes tambem associado às sortes. O mérito de quem o captou (pinto da costa era bom nisto), o mérito de quem o formou e ensinou (escolas do sporting), e o mérito individual (habilidade fisica e psicologica).
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Rb
Por acaso não acho nada que existam casos destes às paletas.
Nunca existiram. São casos fora de série, como se costumava dizer.
O erro é acreditar que tudo tem de ser caso fora de série, bastando para isso baixar as exigências.
Não são nem têm de ser e nem é o mérito vem ao caso.
A natureza tende para o equilíbrio. O Maradona era excepcional numas coisas mas lá tinha o vício da droga que chegou para desbaratar tudo.
Não é com esta tara dos "atlas de investimento" que se podem fazer planos sensatos para sociedades viáveis.
Eles têm de existir, o resto também e não são precisas engenharias sociais para alaterar o que a Natureza não proporciona.
O Birgolino acredita que bastava mudar a genética para termos machos alfa a comandar.
Tramava-se...
ehehehe
"É isso que querem?" Sim, é isso que a INVEJA quer!
"A lógica subjacente é que todas as mais-valias são moralmente do colectivo porque o sucesso dos ricos é fruto do contributo de todos."
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só as dividas é que são para o colectivo...
Por outro lado nós temos o melhor jogador do mundo, mas sem uma equipa e um treinador capazes de construir jogo sólido andamos às aranhas. hehe
Já a Argentina a não jogar nada de especial, lá vai aguentando com o Messi a carregar a equipa às costas.
A única conclusão possível desta análise político-futebolística é que o individualismo puro funciona na Argentina, mas não funciona em Portugal :)
> é isso que a INVEJA quer!
Ora, ora, vamos lá, a inveja também é "uma construção colectiva depurada por uma experiência sedimentada no tempo e interpretada por corpos dotados de uma evidente inteligência prática", como muito bem disse o camarada Nuno Domingues, tirando-me as palavras da boca (também costumo dizer coisas muito parecidas quando dou uma topada com um dedo do pé).
Ou seja, faz parte da negociação entre o individuo "dominante" e os individuos "dominados" ver-se de quanto é que o primeiro está disposto a abrir mão para não levar uma pedrada que lhe estrague o "domínio".
Só povos completamente castrados (por força ou persuasão, gasta-se mais da última nos regimes modernos) é que se deixam dominar e gostam. Os portugueses ainda vão tendo a reacção salutar do anarquista de boca pequena - ressentem-se, e têm inveja, dos "dominadores".
No dia em que os portugueses perderem a sua costela invejosa, podem ter medo, porque o resto da alma também se foi, e estão a lidar com outra gente.
(Veio-me à memória esta do La Rochefoucauld: "Hypocrisy is the homage vice pays to virtue"; se pensarem na inveja como um preço, desarrinca-se bem qualquer coisa do género.)
(Nem acredito que venho para aqui semi-defender um dos pecados mortais, mas como já quase ninguém sabe quais são, e a imprensa recomenda entusiasticamente a maioria dos outros, lá terá que ser ...)
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