27 abril 2014

a lógica da batata


Quanto deve custar 1 Kg de batatas? Não faço a mínima ideia. Antes de escrever este post pensei que o preço de venda ao público estaria entre um mínimo de 10 cêntimos e um máximo de 1,00  € - confirmei que anda à roda dos 30 cêntimos.
Quando nos dirigimos ao super, constatamos o preço das mercadorias mas ninguém está em condições de dizer quanto devem custar. O preço resulta do equilíbrio entre a oferta agregada e a procura agregada e estas, por sua vez, resultam de milhares de circunstâncias e de decisões individuais. É assim, não há que filosofar sobre este assunto.
Se eu tentasse fixar o preço de venda ao público da batata, acabaria sempre por errar o alvo, que aliás se move constantemente, com as consequências que o Sr. Maduro, da Venezuela, está a demorar a compreender.
Passa-se o mesmo com os elementos da nossa cultura. O destaque ou protagonismo das ideias resulta também de um equilíbrio entre os seus defensores e detratores. Hoje em dia, por exemplo, há pouca procura para o comunismo e para o fascismo. O ideal da democracia, porém, continua a “vender”.
A democracia é, por assim dizer, o grande mercado das ideias políticas. Em liberdade, os seres humanos sabem encontrar pontos de equilíbrio. Pontos de equilíbrio que nenhum ditador iluminado consegue determinar porque esse ponto de equilíbrio também é um alvo em constante movimento.
Os inimigos da liberdade e da democracia não convivem bem com os mercados. Querem ser eles a definir o rumo, a definir objectivos. Este propósito, porém, revela ignorância sobre o funcionamento das sociedades.
Os candidatos a ditadores deviam fazer um tirocínio de um anito a adivinhar o preço da batata e só depois é que poderiam apresentar as suas ideias ao público. Desse modo perdiam logo o paleio porque os seus concidadãos diriam:
-       Ó pá, tu nem consegues determinar o preço da batata, como é que nos queres pastorear? Vai mas é pentear macacos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Joaquim! O preço da batata anda completamente distorcido, como o de muitas outras coisas (lagosta!) por diversos motivos.
Esta espécie de metáfora quase que era boa! Mas diga-nos uma coisa, não vou dizer nomes, mas entre ditadores como Salazar ou Caetano e grandes democratas como Soares, Cunhal ou Alegre (o grandes é ironia da fraca!), onde se está mais próximo desse tal ponto de equilíbrio? -- JRF

Anónimo disse...

Pois, é verdade, o preço da batata deve fluir de acordo com a procura e oferta.
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Mas na vida real há muitas excepções ao mercado.
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Por exemplo, ideias como 'independência alimentar' deve ser um principio na mente dos governantes. Não vá o diabo tece-las. O mercado não responde a casos destes e se responde fa-la atraves de um preço incomportavel.
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Por isso, mercado sim, mas em determinadas áreas vitais deve se estar com um pé no mercado e outro fora dele.
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Salazar percebia isso bem.
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Rb

Vivendi disse...

Democracia & inflação e lá se foi a tese do Joaquim.

marina disse...

pode fixar margens de lucro... penso que o salazar fez usso. e fez bem. contenção da avidez , como aconselhava mestre maquiavel :)

Anónimo disse...

Em termos puramente economicos o mercado poderia gerar preços da batata melhores se, por exemplo, a UE ou mesmo os USA não levantassem barreiras à importação de generos alimenticios. Os consumidores seriam beneficiados, afiançam, porque os preços baixariam.
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Mas não é isso que acontece. Existem, e bem, algumas barreiras à entrada. Em causa está o futuro. E o futuro é uma incognita.
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Colocar-mo-nos nas mãos de terceiros para produzir alimentos parece-me mal. É uma fraqueza tremenda ficar dependente de outros de certas áreas vitais.
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Assim, a UE subsidia preços aos agricultores europeus. Pelo menos em alguns produtos de base existirá produção na europa que assegura a sobrevivencia futura.
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Embargar um país com alimentos é extremamente eficaz. A capitulação é imediata.
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Em suma, o preço da batata no dia-a-dia é importante, mas mais importante é o preço da batata no futuro.
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O mercado não responde, nem podia responder, a questões como estas e o bem comum porque o interesse é individual e o individuo está se marimbando para um futuro.
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A mesma coisa acontece com a energia e com a saúde. São áreas vitais onde o Bem Comum e a cautela devem estar acima do mercado sem prescindir dele.
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Em termos economicos o sistema que melhor se adequa a portugal é o mercantilismo. Salazar era um mercantilista. E o mercatilismo não tem ideologia. É o que for melhor para os interesses da nação a cada momento. Se for melhor ter uma moeda fraca, pois tem-se uma moeda mais fraca; mas se for melhor ter uma moeda forte para dar confiança e atrair investimento estrangeiro isso não tem qualquer problemas. Só mesmo as sagradas escrituras liberais e marxistas é que se preocupam com as respectivas tabuas de leis. Salazar por exemplo, tomou a opção a certa altura de valorizar e estabilizar o escudo. A ideia dele era ser uma opção credivel ao investimento externo porque precisava dele. Mas nem sempre foi assim. Quando viu que a moeda tinha de desvalorizar e fazer par com a libra que estava a desvalorizar bastante ele não teve problemas em fazê-lo. E bem. Os interesses da nação acima de tudo.
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Rb

Rui Alves disse...

Muito bem dito, caro Rb. De ideologias andamos nós fartos até à medula. O mercado e o estado existem para servir a nação,e não o contrário.