05 março 2014

ADSE: a intenção, a consequência e a falácia


Não é fácil encontrar um artigo de opinião em que o autor alicie o leitor numa direção e depois lhe dê razões para tomar a direção oposta. Contudo, o meu ilustre colega Dr. João Araújo Correia conseguiu esse improvável feito, no seu artigo de hoje, no Público: ‹‹ADSE: a intenção, a consequência e a falácia››.
Não vou perder tempo com os argumentos a favor da Troika e do fim da ADSE. A Troika está mais do que desacreditada e o “coro das velhas” contra a ADSE entoa sempre o mesmo refrão.
Vamos apenas ao parágrafo que obteria um Pulitzer num certame de literatura surrealista. Diz o meu caro colega:
‹‹Os doentes do foro oncológico ou reumatológico, muitas vezes com necessidade de uso de terapêuticas muito caras, têm tratamento diferenciado no hospital público e privado. No primeiro, o doente é apresentado em consultas de grupo e ponderado caso a caso o custo-benefício da opção terapêutica. No hospital privado o especialista prescreve e, sem mais delongas, o doente acede à terapêutica››
-       Caro colega, não ponha mais na carta – se eu fosse beneficiário da ADSE, bastava-me ler este parágrafo para me agarrar ao meu cartão, com mais afinco do que um sócio do Benfica se agarra ao seu.
Entre o custo para o SNS e o benefício para mim, eu ia a correr ao especialista do privado para aceder, sem mais delongas, à terapêutica. Sem desprimor, penso que o meu ilustre colega faria o mesmo, uma vez que sendo funcionário público também é beneficiário da ADSE.

PS: Qualquer comentário do Dr. João Araújo Correio será tratado como direito de resposta.

 

12 comentários:

Luís Lavoura disse...

No primeiro, o doente é apresentado em consultas de grupo e ponderado caso a caso o custo-benefício da opção terapêutica. No hospital privado o especialista prescreve e, sem mais delongas, o doente acede à terapêutica

O problema é que o ponto de vista do doente é distinto do ponto de vista da sociedade.

Para o privado, aceder à terapêutica é essencial e é sempre justificado. Para a sociedade, tem que se estimar o custo-benefício da terapêutica.

Portanto, o SNS é racional. Estima o custo-benefício.

É claro que a ótica do Joaquim, como utente, é distinta. Para ele, o que interessa é aceder sempre à terapêutica.

Anónimo disse...

Caro Luís Lavoura,

Eu não estou a falar da minha perspectiva pessoal.

O autor porpõe o fim da ADSE e acaba a dar argumentos aos beneficiários para a manterem.

Joaquim

Anónimo disse...

A ADSE não pode ou deve acabar pela simples razão que ela própria é o garante de subsistencia de várias clinicas e médicos que projectaram investimentos circusntaciados a essa realidade.
.
Ainda se a ADSE desse prejuizos ao estado... mas parece que não. Apesar de que ainda não está bem claro para mim se a ADSE é autosustentavel ou não.
.
Sendo autosustentavel não vejo porque haveria de acabar. Não faz sentido prático algum. O SNS já tem gente que chegue e não precisa que lá desaguem mais um milhão e tal de utentes da ADSE.
.
Quanto às doençazinhas, eu ainda creio que nas intervenções mais importantes o pessoal prefere o hospital publico. Um gajo pensa numa operação ao coração e logo de imediato nos ocorre o hospital de coimbra e não qualquer outro privado.
.
Rb

Anónimo disse...

Os hospitais privados vão ter que andar muito da perna para convencer os doentes que são muito melhores do que Coimbra. Provas conssubstanciadas em exitos, claro.
.
A minha experiencia pessoal é profundamente desfavoravel aos privados. Pode ser que tenha tido azar. Mas a realidade é que quando a coisa deu para o torto a clinica privada enviou o meu familiar para o público. Talvez para morrer lá, porque as estatisticas são importantes.
.
Seja como for, essa clinica, reputadissima, pagou pela atitude que teve. Em tribunal. E bem caro. Não podia fazer outra coisa, infelizmente.
.
Rb

zazie disse...

Mas se quem tem ADSE também usa SNS, afinal como é que a ADSE é auto-sustentável?

zazie disse...

O que existe são 23 serviços- um para privilegiados da função pública e que ainda carrega às costas os encostas do privado e outro do Estado, para todos e que carrega todos.

zazie disse...

Queria dizer 2

23 era pouco.
Agora no meu bairro andam a abrir uma vigarice de Análises Clínicas do Doutor não sei quantos.

Já compraram duas lojas seguidas. Isto numa rua onde já existe um laboratório de análises clínicas,

Nunca lá vi entrar ninguém. Há-de ser para lavagem de dinheiro e, aposto, com participação estatal.

zazie disse...

Aquilo é uma coisa anormal.

Até rebentaram com a entrada de um prédio lindo, do Ventura Terra, para colocarem lá um vidro e uma menina sentada numa cadeira.

Parece cena de Amesterdão. Só tem menina na loja e fotografia com tubinhos por trás.

Não entra ninguém

Anónimo disse...

Zazie, parece que se um tipo da ADSE usar o SNS, a ADSE tem que pagar ao SNS esse serviço.
.
Eu oiço falar de que a ADSE está até superavitária, quer dizer que tem mais receitas do que despesas. Mas ainda não vi mesmo os numeros. Por isso não sei.
.
Eu não tenho nada contra o sistema da ADSE ou da existencia de outros sistemas particulares como o dos bancários - o SAMS.
.
Nada contra, desde que o país tenha um SNS capaz de responder a quem não tem a possibilidade de os ter. Desempregados, velhos, crianças etc.
.
Como sabemos pela, experiencia gringa, quem não tem massa para suportar um seguro morre à porta dos hospitais. E isso é inaceitável. Há que haver solidariedade entre gentes do mesmo país. E essa solidariedade só pode ser conseguida com alguma eficácia através dos serviços do estado. O sistema gringo já provou que não existe solidariedade quando o sistema é todo ele privado.
.
Rb

Luís Lavoura disse...

acaba a dar argumentos aos beneficiários para a manterem

Não são os beneficiários quem mantem a ADSE, é o Estado.

(É claro que os beneficiários têm interesse em que o seu benefício continue a existir. Não precisam de ler o texto lincado para entenderem isso.)

zazie disse...

O Luís Lavoura falou certo- quem mantem a >ADSE é o Estado.

e nem há a menor comparação com o SAMS.

A ADSE não é nenhum sistema privado de saúde.

É paga pelo Estado para funcionários do Estado e para clínicas que têm contrato com eles.

Mas, é claro, que serve apenas para um leque restrito de coisas pelo que o SNS continua a arcar com tudo.

Anónimo disse...

Parece que o tempo de espera para consultas na ADSE é bem diferente da consulta privada.Um factor a considerar.