26 janeiro 2013

Se eu mandasse

No pico da crise, quando retiraram os 2 meses de salários aos funcionários públicos e pensionistas, essa medida deveria ter sido aplicada analogamente aos privados por alteração do código do trabalho. Disse-o na altura, quando da decisão do Tribunal Constitucional. Dessa forma o esforço seria "repartido". Evitando-se assim, o aumento de impostos, ou pelo menos menorizando a sua necessidade (em especial evitar o fim ou diminuição dos chamados benefícios fiscais para gastos de educação e saúde - compensação muito parcial para quem paga impostos de um serviço universal e depois recorre a serviços privados). Na altura haveria condições para as pessoas aceitarem esse choque em especial se enquadrado com outras medidas de forma consistente. E de resto, caberia às empresas decidirem se depois procederiam a algum tipo de ajustamento compensador nos salários mensais.

Embora economistas de diversas estripes tudo façam para deturpar leis económicas simples e intuitivas e a própria história, sempre foi a queda de salários e preços (acompanhado por um processo de liquidação de endividamento - as falências) que permitia uma recuperação mais rápida (note-se que a primeira crise prolongada com grande taxa de desemprego foi a Grande Depressão - a primeira onde se procurou - Hoover e Roosevelt - politicamente evitar a queda de salários e preços).

A rigidez legal dos salários e do mercado de trabalho, em crises, é particularmente perniciosa e a minha sentença sobre o assunto tem sido:

- para se proteger (legalmente)  a totalidade do salário de uns, muitos perdem a totalidade do seu salário.

A solidariedade pode manifestar-se de muitas formas. Mas em geral manifesta-se à custa de outros. A rigidez (contratual e de salários) faz com que o processo de ajustamento se faça de forma muito mais dramática, com mais falências e despedimentos que provavelmente o necessário e arrastando pelo tempo esse processo.

E quanto ao argumento de que a baixa de salários como que retira dinheiro da economia (sempre a falácia do perigo da diminuição do consumo ou procura agregada do keynesianismo)? A baixa de salários retira pressão sobre os despedimentos, ajuda a repor rentabilidades normais nas empresas e o refazer da sua poupança recompondo a confiança ao investimento, se bem, que nos primeiros momentos de uma crise, trata-se é de aguentar melhor os prejuízos. A baixa de salários, onde retira rendimento aos assalariados pode ter 2 efeitos equilibradores: ajuda a repor os lucros nuns e diminui prejuízos noutros e em outros casos permite a baixa de preços. Em qualquer caso, não é "poder de compra que desaparece".

6 comentários:

João Mezzomo disse...

Tornei-me acadêmico de economia ontem http://listao.ufrgs.br/listao/letra_J.html
de modo que agora posso chutar também...Concordo que os economistas distorecem as verdades simples...Contudo discordo na essência...Acho que o preço das mercadorias tem 3 componentes, ligadas a 3 setores ideológicos da sociedade...Nenhum deles está certo ou errado, apenas eles existem...Os 3 componentes são: salários, impostos e lucro....uma sociedade é determinada pela participação desses 3 componentes....Os dois primeiros desconcentram renda e o terceiro a concentra....Os empresarios não investem por ter mais lucro, mas por ter demanda...Se não tem demanda eles acumulam e mandam pros paraisos fiscais...Se tem eles investem até sem ter dinheiro, tomam nos bancos...Mas hei, eles não são maus, só são empresários...No lugar deles eu faria o mesmo...

Anónimo disse...

Oi CN, antes de mais e um prazer ver o caro a assinar pelo PC.

Peco perdao pelo offtopic e ja que sei o seu entusiasmo pelo padrao ouro, gostaria de deixar aqui umas perguntas que se tiver tempo gostaria de ver respondidas nao pessoalmente ou directamente mas em post que elucidassem o problema.

O actual Sistema financeiro a meu ver tem dois problemas, esta sujeito a bolhas porque a emissao de dinheiro nao e controlada, e porque assenta no pressuposto que a economia cresce para sempre, divida gera mais divida etc.

Como e que o padrao ouro ou qualque outro padrao resolveria estes problemas?

Cumprimentos

Elaites

PS:Como ja disse nao quero tornar o PC num Dr Phil, mas penso que ha aqui alguns leitores tb interessados numa explanacao sobre o padrao ouro

João Neto disse...

A descida dos salários retira pressão sobre despedimentos e tem outros benefícios, mas deve ser ditada pelo mercado (que tanto gostamos - e bem - de defender) e não pelo planeador central...
Pergunto (porque não estou a perceber, mas admito que tenha) qual o impacto positivo na dívida do estado de retirar 2 salários ao privado (para além de uma hipotética aprovação pelo TC)?

Anónimo disse...

Os trabalhadores a pão e água a cisa fica mais simpática. Nem sei como essa gente precisa de comer.
Vá dar banho ao cão.

Unreal disse...

Claro. A solidariedade costuma ser a mesma quando a situação é a inversa, não é?
Durante anos os funcionários públicos beneficiaram de um sistema em tudo melhor que os funcionários privados. Se a igualdade impõe que o privado tenha os mesmos cortes que o público, a igualdade tem mesmo de ser igualdade, tanto em cortes e deveres como em benefícios e direitos. Ou esquece-se a igualdade quando se fala em benefícios e direitos?
Sabendo que, àparte poucas fontes de financiamento próprias, a única fonte de financiamento do estado vem da taxação do que é privado. Desculpe, mas foi o "patrão" deles que faliu e quando isso acontece, é o "patrão" deles que tem de se ajustar, antes de ir tocar (ainda mais) no que é dos outros. Que ajustamentos houve, até agora para além de cortes em subsídios, que um dia serão repostos? Que medidas foram tomadas para que a coisa se sustente?
Malditos subsidios. Se estivessem diluidos nas 12 mensalidades, não serviam de arma de arremesso contra ninguém. E aí tinham de começar pela ADSE, aposentações após 8 anos de trabalho acumuladas com outras, trabalhadores a mais, ineficiências e burocracias que empregam mais gente, etc, etc, etc.

Pedro Sá disse...

Que perfeita estupidez. Eu a seguir era empresário e no dia seguinte, como seria minha total liberdade, aumentava-lhes os salários outra vez, se me apetecesse!!!!!!