31 março 2012

protecção

Nos últimos posts tenho utilizado a figura da minha mãe para desenvolver vários argumentos.

Ora, acontece que faz hoje exactamente quatro anos que a minha mãe faleceu. Ao evocar o acontecimento, eu não pretendo  gerar em ninguém uma atitude de "cara de enterro". É diferente o que me anima.

Aquilo a que pretendo responder é à questão seguinte: "Qual é o sentimento principal que uma mãe inspira, e ao qual todos os outros se resumem? Qual é o significado da mãe? Em síntese, o que é isso de ser mãe?"

Sucedeu que, nesse dia,  as primeiras palavras que eu escrevi após receber a notícia do falecimento da minha mãe, deixei-as registadas neste blogue. (Nessa altura eu escrevia em estrangeiro). Estão aqui: "Mãezinha, onde é que vais?".

Olhando para trás, à distância de quatro anos, porque é que eu escrevi aquilo, que sentimento espontâneo me terá inspirado para me exprimir daquela maneira?

Quando eu era criança, eu devo ter-lhe feito aquela pergunta centenas de vezes, presumo que sempre que ela saía de casa para tratar dos outros afazeres da sua vida. Por que é que eu haveria de querer saber  onde é que a minha mãe ia? Na realidade, aquilo que eu devia querer saber não era tanto onde é que ela ia e o que  ia fazer. O que eu devia querer saber é se ela voltava. Porque sem ela ao pé de mim faltava-me alguma coisa importante. E, agora, que ela partia definitivamente, essa mesma coisa iria faltar-me definitivamente. 

obediência e liberdade

Na sua crónica de ontem no Público, o Miguel Esteves Cardoso discute uma frase que o Papa disse em Cuba: "A obediência na fé é a verdadeira liberdade". O MEC diz tratar-se de uma frase que parece saída do Newspeak de 1984 de Orwell e que o Papa deveria saber que o ser humano desconfia quando ouve dizer que a "verdadeira liberdade" é qualquer coisa que não se associa imediatamente à liberdade, neste caso a obediência. E conclui assim: "Por outro lado, é verdade, quando se obedece a uma fé, abdica-se dessa liberdade, e fica-se livre para fazer outras coisas".

Eu não estou certo que quem não compreendeu a afirmação do Papa tivesse ficado a compreendê-la depois da explicação do MEC. Em particular, aquela ideia de que para se ficar livre tem de se abdicar da liberdade, não lembraria ao próprio Orwell. O milagre é que não se tem de abdicar de nada.

O propósito deste meu post é procurar explicar a frase do Papa. O assunto tem para mim um interesse mais do que incidental, e respeita a saber qual é o lugar do pensamento concreto e do pensamento abstracto para chegar à verdade. O Papa exprimiu um pensamento abstracto - nem podia ser de outro modo nas circunstâncias em que se encontrava -, um pensamento que se refere à liberdade de todos e não concretamente à  de ninguém, e um pensamento que  generaliza, aplicando-se, em princípio a todos.

Ora, a maior parte das pessoas não tem capacidade para captar o significado de um pensamento abstracto porque não está treinada para isso, a sua vida faz-se de pensamentos concretos. Por isso, para chegar ao abstracto é preciso começar com  um exemplo concreto, e só a partir daí, sendo legítimo, generalizar, isto é, passar ao abstracto. Está aqui talvez a razão por que Cristo falava ao povo em parábolas, as quais se referiam a  situações concretas da vida e com as quais o povo estava familiarizado.

Passemos agora à explicação da frase do Papa. Como é que eu faria para explicar  o que é que o  Papa quis dizer? Começaria por remeter para este  post onde descrevo o processo pelo qual eu próprio me tornei livre ou autónomo. E o que é que há de essencial nesse processo? Obediência. Foi obedecendo à minha mãe e a muitas outras pessoas, mas principalmente a ela, que eu me tornei livre. Um dia, ela terá decidido que era altura de me ensinar a comer sozinho. Ter-me-à sentado à mesa e dito: "Agora, pegas no garfo com a mão esquerda, na faca com a mão direita ...". Foi assim, através de múltiplos episódios como este - obedecendo -, que eu me tornei livre.

O Papa fala em "obediência na fé" e era por fé que eu obedecia à minha mãe - a fé de que ela era, na verdade, a minha mãe, algo que eu nunca conseguiria provar só pela razão. Eu acreditava que ela era a minha mãe porque ela me disse muitas vezes que era a minha mãe. Esta crença era, em última instância, um acto de fé da minha parte.

Eu tornei-me livre obedecendo na fé. E você? Você, se é livre, fê-lo por um processo semelhante, obedecendo àqueles que lhe queriam bem e que tinham a liberdade para lhe dar - a sua mãe, o seu pai, os seus outros familiares, os seus professores, os seus amigos, etc.   Por isso, está certa a afirmação do Papa: "a obediência na fé é a verdadeira liberdade". 

Neste processo de obediência na fé, e  que me tornou livre, onde é que está Deus?

Esta é a pergunta mais fácil de responder. Está, em primeiro lugar, na minha mãe (mas também em todas as outras pessoas e coisas da vida que participaram neste processo). Pois foi ela que, em primeiro lugar, e em relação a mim, deu realidade a Deus: "ama o teu próximo como a ti mesma".  

conservatism is our default ideology

Eidelman and his colleagues’ paper will surely outrage many on the left (who will resist the notion of conservatism as somehow natural) and the right (who will take offense to the idea that their ideology is linked to low brainpower). The researchers do their best to preemptively answer such criticism.
“We do not assert that conservatives fail to engage in effortful, deliberate thought,” they insist. “We find that when effortful thought is disengaged, the first step people take tends to be in a conservative direction.”

Este estudo não aponta para que os conservadores sejam menos inteligentes, pelo contrário. O que este estudo demonstra é que quando as pessoas têm menos tempo e energia para analisar qualquer assunto, fazem escolhas com menos risco.
Ora, na minha opinião, essa é a atitude mais inteligente. O que é implicitamente reconhecido pelo autor do estudo quando este afirma que "o conservadorismo confere uma vantagem psicológica".

PS: Ler também este post do Filipe Faria, do Insurgente, para contextualizar melhor o tema.

184.000.000.000,00 €

O Estado fechou 2011 com uma dívida superior a 184 mil milhões de euros, mais 23,1 mil milhões de euros que o valor registado no final de 2010 e bem acima das previsões do governo na versão inicial do Orçamento do Estado para este ano. Assim, e nos 12 meses do ano passado, o país endividou-se a um ritmo mensal de quase 2 mil milhões de euros, ou 65 milhões/dia.

Na versão rectificada do OE2012, apresentada esta semana, o executivo não avançou com qualquer estimativa para o valor desta rubrica no final de 2011 ou para o corrente exercício.

Contudo, e de acordo com a primeira notificação do ano do procedimento dos défices excessivos enviado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para Bruxelas, as contas públicas chegaram ao final do ano passado com uma dívida equivalente a 107,8% do produto interno bruto (PIB), ou seja, um peso de mais 14,4 pontos percentuais sobre o PIB que em Dezembro de 2010 – quando equivalia a 93,3%. O salto de 2011 foi assim bem maior que o registado de 2009 para 2010 – quando o endividamento público cresceu 17 mil milhões de euros –, e desse ano para 2011, período em que a dívida aumentou perto de 21,2 mil milhões de euros.

Ionline

30 março 2012

pior a emenda que o soneto

Se as chefias puderem ser despedidas por não cumprirem objectivos e os subordinados estiverem isentos deste requisito, deixem-me dizer-vos o que vai acontecer:

Os chefes ficam nas mãos dos índios.

uma legislação muito problemática

Os advogados afirmam que as alterações ao despedimento por inadaptação, que é muito pouco utilizado, são cosméticas. É essa a sua leitura?

Há, ao nível do despedimento individual, um distanciamento muito pronunciado entre a situação portuguesa e a de outros países da União Europeia. As alterações ao nível da inadaptação vão contribuir para reduzir esse posicionamento negativo. Uma alteração importante que vai dar maior alcance a esta medida prende-se com a questão do incumprimento de objectivos.

Mas o despedimento por falha de objectivos só será aplicado às chefias.

A cargos de direcção e de complexidade técnica.

Os juristas têm dúvidas sobre o conceito de "complexidade técnica". 

São cargos que envolvem decisões mais sofisticadas, profissionais com maior nível de qualificação.

Quem pode ser abrangido?

Muitos dos nossos desempregados, em particular os mais jovens, têm perfis mais apropriados para cargos dessa natureza. Os constrangimentos ao despedimento têm criado restrições na contratação destes desempregados. Esta formulação poderá dar melhores perspectivas para que as empresas passem a contratar.

Pode dar exemplos?

Qualquer licenciado, se tiver uma ocupação compatível com a sua escolaridade, vai desempenhar um cargo de complexidade técnica.

Entrevista a Pedro Martins, Secretário de Estado do Emprego

anti-business

O que é que levará o JN a pretender "criar um conflito" entre o governo e o BP? "Your guess is as good as mine".

Na mesma semana em que o Governo aprova no Parlamento a sua reforma do código laboral, e a poucos dias da entrada em vigor das novas regras do subsídios de desemprego, o Banco de Portugal desfere um duro golpe sobre a estratégia que o Governo está a adoptar nesta área.
Um artigo assinado por Mário Centeno e Álvaro Novo, dois dos seus economistas seniores do banco central, apresentam propostas minuciosas para o mercado de trabalho que diferem, em muito, dos planos do Executivo, nomeadamente por reclamarem a urgência da abolição dos contratos a prazo, uma reforma nas relações de protecção das empresas e trabalhadores e uma revolução nas regras de subsídio de desemprego.

Jornal de Negócios

abstract

Esta notícia do Jornal de Negócios despertou-me a curiosidade para ler o estudo que Mário Centeno e Álvaro Novo, do Banco de Portugal, elaboraram para o Forschungsinstitut zur Zukunft der Arbeit.
Aqui fica, para os interessados, o abstracto do estudo:

Portuguese firms engage in intense reallocation, most employers simultaneously hire and separate from workers, resulting in high excess worker turnover flows. These flows are constrained by the employment protection gap between open-ended and fixed-term contracts. We explore a reform that increased the employment protection of open-ended contracts and generated a quasi-experiment. The causal evidence points to an increase in the share and in the excess turnover of fixed-term contracts in treated firms. The excess turnover of open-ended contracts remained unchanged. This result is consistent with a high degree of substitution between open-ended and fixed-term contracts. At the firm level, we also show that excess turnover is quite heterogeneous and quantify its association with firm, match, and worker characteristics.


Desculpem o inglês técnico.

Puerta del Sol - 29M


29 março 2012

lol

  • O deus cristão encontra-se em fase histórica moribunda. Dentro de dois ou três séculos a sua adoração será reduzida a uma seita europeia.
  • Hoje, na Europa, à entrada do Séc. XXI, só espíritos pobres... se apresentam como teólogos e sacerdotes.
  • ... descristianizar a Europa... é ultrapassar a fase infantil e bárbara da humanidade e entrar na fase adulta.
Miguel Real, Nova Teoria do Mal

Gostaria de recomendar ao filósofo Miguel Real uma viagem a Lloret de Mar para adorar Baco e praticar "balkoning".

o que é o Mal

É a irracionalidade - Ayn Rand

O Mal não é a escassez de recursos, a dor e a morte. O Mal não são as tragédias naturais, os acidentes inevitáveis e as pestes. Todos estes problemas e eventos são males, mas não são o Mal. O Mal resulta sempre de um acto humano deliberado com a intenção de prejudicar o outro ou a comunidade. É um atentado ao Bem Comum, é (em termos filosóficos) uma irracionalidade pura.

sobre o monoteísmo

Certainly the world without the Jews would have been a radically different place. Humanity might eventually have stumbled upon all the Jewish insights. But we cannot be sure. All the great conceptual discoveries of the intellect seem obvious and inescapable once they have been revealed; but it requires a special genius to formulate them for the first time. The Jews had this gift. To them we owe the idea of equality before the law, both divine and human; of the sanctity of life and the dignity of the human person; of the individual conscience and so for personal redemption; of the collective conscience and so of social responsibility; of peace as an abstract ideal and love as the foundation of justice...Above all, the Jews taught us...Monotheism.

Paul Johnson, A History of the Jews

Um Deus, uma verdade. Sem este conceito não existiria filosofia, nem ciência, e não se teria desenvolvido a civilização Ocidental.

Joaquim Sá Couto

O deus uno (com minúscula no texto original) ...    É um deus perverso, que perverteu o Mediterrâneo, depois a Europa e finalmente, através da Expansão Marítima, toda a terra (também com minúscula).
... apenas um neo-paganismo findará com toda a hipostasiação do mal, reintroduzindo o homem no coração do ser.

Miguel Real, Nova Teoria do Mal

já não me ria tanto há muito tempo

É o cristianismo um retrocesso civilizacional? Se medirmos o cristianismo pela bitola do domínio que o homem possui sobre a morte, a dor, o sofrimento e a escassez de bens... , o cristianismo é um violentíssimo retrocesso material e espiritual face à civilização greco-romana e constitui uma absoluta desvalorização...

Miguel Real, professor de filosofia (novas oportunidades?)

euro-caines

O secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, disse ontem no programa da SIC Notícias "Negócios da semana" que a União Europeia pode vir a pagar até 95% do projecto que o Governo pretende desenvolver para a construção de uma linha de mercadorias em alta prestação, e bitola europeia, que ligue os portos nacionais à Europa.
"É esse o esforço que estamos a prosseguir, que até 95% do investimento seja coberto por fundos comunitários", afirmou o responsável.

JN

Fixe, os portugueses ainda acreditam em almoços grátis.

os humanistas

Ao longo dos últimos milénios é incontável o número de "humanistas" que se propôs salvar a espécie humana. Paradoxalmente, os que mais se empenharam nesta tarefa são quase sempre os que exterminaram  mais seres humanos. O único que se propôs salvar-nos e que não matou ninguém foi Jesus Cristo que, pelo contrário, se ofereceu em sacrifício por nós.
Um cristão sincero nunca poderia portanto aliar-se a carrascos como Fidel Castro. Os cristão sinceros não sacrificam, sacrificam-se.

o humanista com a guilhotina II

Qual é o objectivo de Fidel Castro?

Salvar a espécie humana da extinção. Ahahahah

o humanista com a guilhotina

Personalmente no me percaté de estas realidades por simple casualidad. Fueron las experiencias vividas durante más de 15 años desde el triunfo de la Revolución cubana —tras la batalla de Girón, el criminal bloqueo yanki para rendirnos por hambre, los ataques piratas, la guerra sucia y la crisis de los cohetes nucleares en octubre de 1962 que puso al mundo al borde de una siniestra hecatombe—, cuando llegué a la convicción de que marxistas y cristianos sinceros, de los cuales había conocido muchos; con independencia de sus creencias políticas y religiosas, debían y podían luchar por la justicia y la paz entre los seres humanos.
Así lo proclamé y así lo sostengo sin vacilación alguna. Las razones que hoy puedo esgrimir son absolutamente válidas y aun más importantes todavía, porque todos los hechos transcurridos desde hace casi 40 años lo confirman; hoy con más razón que nunca, porque marxistas y cristianos, católicos o no; musulmanes, chiítas o sunitas; libre pensadores, materialistas dialécticos y personas pensantes, nadie sería partidario de ver desaparecer prematuramente a nuestra irrepetible especie pensante, en espera de que las complejas leyes de la evolución den origen a otra que se parezca y sea capaz de pensar.

Fidel Castro

O que é um cristão sincero? Para Fidel Castro penso que é um cristão que concorda com ele. Os que não concordam com ele são o quê? Para Fidel, os que não concordam com ele são carne para canhão.

nesta roda

Emídio Rangel, antigo director da SIC e da RTP, acusou os juízes de violarem o segredo de justiça ao facultarem aos jornalistas documentos classificados, numa comunicação altamente crítica sobre o estado do jornalismo em Portugal, na Comissão Parlamentar de Ética Assembleia da República.
Referindo-se em concreto ao problema da violação do segredo de justiça, disse então: "Nesta roda entraram há pouco tempo a Associação Sindical dos Juízes e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público: obtêm processos para os jornalistas publicarem, trocam esses documentos nos cafés, às escâncaras", afirmou.
Considerando a acusação de Rangel "falsa e difamatória", a Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) reagiu às declarações de Emídio Rangel com um processo. Igual iniciativa teve o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.

No Público

28 março 2012

está na Comunidade

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.

Nesta frase, uma das mais citadas da Declaração de Independência dos EUA, a Liberdade é um dom que Deus dá a cada homem. A frase tem a sua demagogia e é dela que eu pretendo tratar em primeiro lugar. Num post anterior referi que uma ideologia amputa sempre a realidade - e no caso da ideologia liberal anglo-saxónica, de que a frase citada é frequentemente apresentada como slogan, a parte amputada da realidade, ou fortemente desvalorizada, é a Comunidade. Daqui resulta que o discurso ideológico, partindo de uma omissão - a da Comunidade, neste caso - constrói uma realidade aparente, às vezes muito apelativa, mas que é falsa.

Daquela frase, segundo a qual a liberdade está em cada homem, e foi-lhe dada por Deus, os pais fundadores americanos passam à construção de um edifício político em que uma da prioridades principais é defender a liberdade de cada homem das instromissões indevidas da comunidade, ou da instituição que a representa - o Estado. Liberdade e Comunidade opõem-se, a Liberdade é defendida não já contra a  Igreja, mas contra a Nação.

É uma verdade evidente para os pais fundadores americanos que a Liberdade existe em cada homem e que foi lá colocada por Deus. Mas como, como é que Deus fez isso? Esta questão nunca foi posta e portanto também nunca foi respondida. Talvez eles respondessem que a questão não interessava. Mas eu se lá estivesse no meio deles, tê-la-ia levantado. A questão interessava-me, para saber como é que Deus pôs a liberdade em mim próprio. Concordando embora que a Liberdade existe em cada homem e foi dada a cada homem por Deus, eu teria levantado o braço e perguntado: "Mas como é que Deus lhe deu a Liberdade?". E enquanto esta questão não fosse respondida, eu não consentiria que o texto saísse a público. É talvez por esta razão que os ideólogos nunca gostaram de ter católicos por perto.  

Aquele texto da Declaração de Independência é um texto profundamente masculino, só poderia ter sido pensado e escrito por homens. É que se fica com a ideia de que Deus colocou a Liberdade em cada um de nós de sopetão, por um acto súbito e definitivo, uma espécie de orgasmo divino. E, na verdade, a participação masculina na criação resume-se a um acto - o orgasmo. Para uma mulher é diferente, é um processo - um processo de gestação - longo e demorado, cheio de peripécias e de transformações, e também de algumas dores. Aquilo que ressalta daquele trecho da Declaração de Independência é que existe um Pai que dá liberdade e existem filhos, que a recebem. Mas não existe  Mãe, não há rasto de mulher. 

A Liberdade existe em cada um de nós, foi o Pai Criador que a deu. Mas como?

Eu sou um homem livre - autónomo, que é o significado moderno de liberdade -, mas como é que eu recebi essa liberdade, essa autonomia? Para responder, tenho de voltar ao ventre da minha mãe. Imagino que tinha lá alguma autonomia, mas não muita. Podia mexer-me e pouco mais. Quando nasci, foi  um  passo em frente na minha autonomia ou liberdade, fiquei separado fisicamente da minha mãe, e não mais fechado dentro dela. Eu não estou mais recordado do que fiz logo depois de nascer. Mas, observando  ao longo da minha vida - a mais recente observação foi este fim de semana -  o que fazem aqueles que são feitos da mesma massa do que eu, presumo que tenha procurado as mamas da minha mãe e que as tenha chupado com quanta força tinha. Para quem estivesse de fora a observar, não poderia concluir que estava ali um ser humano de quem se pudesse propriamente dizer que era livre ou autónomo.

Mais tarde, a minha mãe ter-me-à ensinado a comer sozinho, papas, pão, manteiga, a beber leite. Ao longo de muitos anos, através de muitos epísódios, muitas pessoas, sempre com a  minha mãe à frente e o meu pai em segundo lugar, ensinaram-me a cuidar de mim, a ler e a escrever, a ter uma profissão, e até me ensinaram a cuidar dos outros. Foram professores, outros familiares, amigos, pessoas que eu conheci ao longo da vida e que me queriam bem. Até que eu cheguei a esta situação em que estou hoje, sou autónomo, livre como um pássaro, tenho a liberdade em mim, a liberdade de Deus.

Mas o caminho que Deus escolheu para me dar a Liberdade foi o da  Comunidade - a minha família em primeiro lugar, depois a família alargada, os amigos, os professores, os portugueses, outras pessoas do mundo. Eu próprio contribuí neste processo, desejando tornar-me autónomo. Mas não seria hoje o homem livre que sou se não fosse a Comunidade, desde a mais pequena até à maior.  Eu sou livre porque nasci numa comunidade livre, e foi assim  - livre - que essa comunidade me educou. E, à frente dessa comunidade que Deus escolheu para me dar a liberdade, estava a minha mãe, que era uma mulher livre.  Eu não seria nunca um homem livre se a minha mãe fosse uma escrava e se eu tivesse sido educado numa comunidade de escravos.

A Liberdade está na Comunidade e só em segundo lugar em mim, ou em qualquer outro homem. É primariamente um valor comunitário,  não individual. E qualquer que seja o ângulo por que se encare a  Liberdade vamos sempre dar de caras com uma figura de Mulher. A  Liberdade é também,  em primeiro lugar, um valor feminino e por isso é sempre simbolicamente representada por uma figura de Mulher.

Aquela Liberdade de que falavam os pais fundadores americanos era, em parte, propaganda e demagogia, era uma liberdade falsa, não era a verdadeira Liberdade. Como facilmente se comprova. Os católicos estavam proibidos  na maior parte dos Estados americanos na altura em que aquela Declaração foi produzida, e continuariam proibidos por muitos e bons anos. Eles não foram perfeitamente sinceros naquela Declaração, não acreditavam inteiramente naquilo que estavam a dizer. Alguns até tinham escravos, e a discriminação dos negros manteve-se até há poucas décadas. Que Liberdade era essa que eles apregoavam?  Era uma liberdade parcial, uma liberdade para alguns, mas não para todos. Não era a verdadeira Liberdade, porque esta, sendo um dom de Deus, é como o Sol, é para todos - excepto, naturalmente, para os seus próprios inimigos porque esses não a querem para nada. 

liberty and freedom

A Liberdade é a ideia mais importante da idade moderna, o verdadeiro slogan da modernidade.  É esta  ideia moderna de Liberdade que eu pretendo analisar, e constrastá-la com a ideia tradicional (ou medieval ou católica) de Liberdade.

A ideia moderna de liberdade começa, obviamente, no texto de Lutero de 1520, "Sobre a Liberdade de Ser Cristão". A liberdade surge aqui como uma prerrogativa que eu tenho, uma reivindicação da minha autonomia para chegar à Verdade, sem a tutela da autoridade (da Igreja, uma palavra que, não é de mais relembrar, significa Comunidade). Embora Lutero pareça ter desejado que esta reivindicação se mantivesse dentro do domínio religioso, a realidade é que ela rapidamente saltou as fronteitas da religião, e se tornou a bandeira de todo um programa político.

A língua inglesa tem duas palavras para designar liberdade, uma  - liberty - refere-se à liberdade tradicional, a outra - freedom - refere-se à liberdade moderna. Em português - e talvez por os nossos antepassados nunca terem acreditado na liberdade moderna - existe apenas uma palavra - liberdade - que é usada nas duas acepções.

A palavra freedom, como a sua composição indica,  significa "livre de". Livre de quê? Da autoridade. Em português, o sentido mais próximo é autonomia. É livre aquele que é autonómo, que não depende de qualquer autoridade e, no seu sentido inicial, é livre aquele que não depende da autoridade da Igreja (Comunidade).

A palavra liberdade, em latim libertas, de liber, também significa  "livre de". Mas a palavra tem um sentido ainda mais antigo que possui uma natureza comunitária. Designa nação ou povo que não está sujeito à escravatura. Libertas é, neste sentido, a comunidade daqueles que são livres, que não são escravos. Este sentido comunitário da palavra Liberdade (Libertas) é decisivo para o meu propósito.

No post seguinte, começo por analisar uma das diferenças principais entre a concepção moderna de liberdade a  concepção tradicional. A liberdade reclamada por Lutero é uma liberdade que tem por oposição a Igreja (Comunidade); na realidade, a autoridade da Igreja (Comunidade) é apresentada como o protótipo da anti-liberdade. Para Lutero e a modernidade, a liberdade está no indivíduo. Pelo contrário, a Igreja, não negando que a liberdade esteja no indivíduo,  afirma que a liberdade está, em primeiro lugar na Comunidade (Igreja). Na acepção moderna, a liberdade é um valor primariamente individual, ao passo que na acepção tradicional a liberdade é um valor primariamente comunitário.

Quem tem a verdade nesta matéria?

É a esta questão que procuro responder no próximo post.

que País este

Carlos Costa: "Um banco não é diferente de uma fábrica de automóveis".

Uma afirmação surpreendente, mesmo nos tempos que correm. Se um banco é "como uma fábrica de automóveis" para que serve o Banco de Portugal?

non sequitur

O Governo alemão chegou a um acordo para reduzir o salário mínimo dos trabalhadores qualificados naturais de países fora da União Europeia e que são contratados por empresas da Alemanha, dos actuais 66 mil euros anuais para 44.800 euros.
O diário "Financial Times Deutschland" revela hoje que os partidos da coligação governamental, liderada pela chanceler Angela Merkel, decidiu adoptar esta medida devido à falta de mão-de-obra qualificada no país e à forte procura das empresas locais.
Para os profissionais muito requisitados na Alemanha, como engenheiros, informáticos e médicos, o salário anual mínimo será reduzido até aos 34.200 euros anuais.

PS: Eis uma notícia do JN sem qualquer lógica económica. Então se a procura é superior à oferta como é que os salários descem em vez de subirem? A verdadeira notícia é que o governo alemão quer diminuir os salários dos trabalhadores alemães qualificados através da importação de mão-de-obra mais barata.

ir às meninas

Quando os amigos vão às meninas:
  1. Coitado, estava muito solitário
  2. Precisava de desabafar
  3. Tinha bebido uns copos
Quando os inimigos vão às meninas:
  1. É um libertino e um imoral
  2. Cúmplice de proxenetismo agravado sob a forma de bando organizado
  3. Ajudou à prostituição de outros

bando organizado?

Achei piada à acusação que recai sobre o DSK, em particular ao pormenor do bando organizado. Ou será que queriam dizer desorganizado?

um passaporte para a morte

16 bebidas? Alcoólicas?
Passaporte para a noite morte!

AA

Câmara pondera apoio psicológico a colegas de rapaz que morreu em Lloret del Mar.

PS: Não seria melhor inscrevê-los nos Alcoólicos Anónimos.

a ética protestante

Eis o que dizem os autores deste livro sobre a ética protestante:

Embora seja verdade que países predominantemente protestantes, como a Holanda e a Inglaterra, foram os primeiros casos de sucesso económico da era moderna, há pouca relação entre a religião e o desenvolvimento económico. A França, um país predominantemente católico, rapidamente acompanhou o crescimento económico dos holandeses e dos ingleses no século XIX, e a Itália é hoje tão próspera como qualquer uma dessas nações.
Olhando mais para Oriente, vemos que nenhum dos casos de sucesso da Ásia Oriental está relacionado com religiões Cristãs, portanto não há muita evidência para relacionar o protestantismo com o sucesso económico.

27 março 2012

Los Nogales

Uma cidade que é metade americana e metade mexicana. Com populações idênticas e a mesma cultura, a metade norte-americana é rica e a mexicana é pobre.
Exemplo dado no livro que citei no último post.

empowerment

A razão pela qual o RU é mais rico do que o Egipto é porque em 1688, o RU (ou a Inglaterra, para ser mais preciso) passou por uma revolução que transformou a política e portanto a economia da nação. O povo conquistou mais direitos políticos e usou-os para expandir as oportunidades económicas. O resultado foi uma trajectória política e económica diferente, que viria a culminar na revolução industrial.

Os marxistas perceberam a relação entre a economia e o poder, mas chegaram à conclusão errada. Não é a economia que determina a política, é a política que determina a economia.

Judging Under Uncertainty

Obrigado Ricardo.

crise, qual crise?

Enquanto a populaça tiver massaroca para os putos se embebedarem em Lloret de Mar, não há crise.

férias das populacinhas

26 março 2012

encaixa perfeitamente

O capitalismo para os portugueses é apenas um socialismo rico. Um socialismo onde te dão uma habitação luxuosa, um carro luxuoso, uma comida sumptuosa, férias mais longas, sem que tu faças nada demais ou de diferente daquilo que fazias antes.

Adaptado de um texto do Francesco Alberoni, que se referia aos alemães de Leste.

ora mostra aí o perfil

Cada vez mais, as empresas estão a exigir aos candidatos a postos de trabalho o username e a password de redes sociais como o Facebook.
Se bem conheço este País, a primeira entidade em Portugal a exigir essa informação vai ser o fisco e dar usernames ou passwords falsos irá ser criminalizado.
Esperem para ver.

Liberdade é Escravidão

Pode-se escolher a profissão e até se tem a liberdade de mudar de patrão, as condições de mercado permitindo. Mas, à parte estas diferenças, a realidade permanece que a instituição moderna mais próxima da escravatura é a instituição do trabalho assalariado.

Nos últimos 40 anos, em Portugal . um país onde todos os exageros são possíveis - a taxa de participação das mulheres na força de trabalho passou de 10 ou 15% (não tenho o número exacto à mão) para 55%. Eu não me posso pronunciar, em concreto, se isto é bom ou mau, porque só cada mulher envolvida no processo é que o pode dizer.

Mas eu posso pronunciar-me, ou pelo menos tentar descobrir, o significado desta tendência. E o significado desta tendência é o de que se passou, em poucos mais de uma geração, de uma sociedade em que eram os homens maciçamente a servir as mulheres - no sentido em que eram eles maciçamente que trabalhavam fora de casa a angariar um rendimento  que depois repartiam com elas -, para uma sociedade em que são  maioritariamente as mulheres a servir os homens - no mesmo sentido de serem elas agora maioritariamente a trabalharem fora de casa, angariando um rendimento que depois partilham com eles.   

Aquilo que eu pretendo salientar é que esta alteração foi acompanhada de um discurso, segundo o qual  esta nova tendência representava a emancipação ou a libertação das mulheres. Libertação, quando a instituição do trabalho assalariado é, de todas as instituições modernas,  a mais parecida com a escravatura? Temos de voltar ao Orwell, para reinterpretar o significado das palavras: Liberdade é Escravidão.

Foi o próprio Lutero que declarou que a principal função das mulheres era servir os homens, e esta declaração inseriu-se no movimento de revolta que ele liderou contra o catolicismo. A tendência crescente para as mulheres participarem no mercado de trabalho, em medida até superior à dos homens, de tal modo que se pode agora dizer com propriedade que são elas, predominantemente, a servir os homens, e não o contrário, é uma tendência moderna que, como todas as tendências modernas, teve origem no protestantismo. A Igreja católica, pelo contrário, sempre defendeu que era a missão dos homens servir as mulheres.

O problema com as teses protestantes, com as teses da modernidade (como por exemplo, as ideologias) é o de que são sempre apresentadas e defendidas de forma abstracta, e o pnesamento abstracto,  tendo o seu lado bom, tem também os seus perigos, e o principal é o de que, referindo-se a todos, e não particularmente a ninguém,  às vezes esconde mais do que aquilo que revela.

Se o Lutero tivesse, ao menos, indicado uma comunidade concreta onde são as mulheres a servir os homens, para nós podermos avaliar se gostaríamos ou não de viver nessa comunidade, o julgamento seria mais fácil. Mas o Lutero não indicou nada. Existe notícia de algumas destas comunidades em África - comunidades onde as mulheres trabalham para servir os homens -, mas, francamente, eu não estou impressionado. Eu não gostaria de lá viver.

E esta é uma diferença importante em relação ao catolicismo. É que o catolicismo não se limita a enunciar opiniões ou a procalmar princípios em abstracto. Tudo aquilo que o catolicismo anuncia como verdade, apresenta em seguida exemplos concretos, de carne e osso, para atestar que essa é a verdade. Então, e onde é que eu posso ver uma comunidade em que são os homens a servir mulheres?

Na própria Igreja Católica. O que é a Igreja Católica senão uma comunidade em que  homens dedicam a sua vida, ao ponto da escravidão, ao serviço das mulheres,  todas elas simbolizadas pela figura de Maria? A promessa que o padre católico faz no momento da sua ordenação, vista de fora, é uma declaração em que livremente se submete a uma vida de escravidão ao serviço da Igreja, que é uma figura de mulher, Maria. (A missão principal de Maria foi dar à luz Cristo, a missão principal da Igreja é dar à luz ou produzir cristãos).

Uma comunidade onde os homens são capazes de se escravizarem pelas mulheres funciona, parece até eterna, como a Igreja Católica está aí para atestar (Maria e a Igreja sendo os símbolos da fecundidade procriadora das mulheres).   Pelo contrário, uma comunidade em  que são as mulheres a escravizarem-se pelos homens também parece poder funcionar, mas não por muito tempo. Vai empobrecer, e acabará por desaparecer, como os exemplos de certas tribos africanas claramente ilustram.

a crise e a família

Ler notícia no El País.

discriminação inaceitável

A lack of treatment or insufficient treatment is contributing to 14,000 deaths a year in people over the age of 75, Macmillan Cancer Support has found, in what it called an ‘unacceptable act of discrimination’.
Deaths from cancer are reducing in most age groups but at a slower rate in those aged 74 to 84 and are increasing in people aged 85 and over, the report said.
The report, The Age Old Excuse: the under treatment of older cancer patients, said treatment options are too often recommended on the basis of age rather than how fit the patient is.
Professor Riccardo Audisio, Consultant Surgical Oncologist at St Helens Hospital, said: “It is despicable to neglect, not to offer, not to even go near to the best treatment option only on the simple basis of the patient’s age.
“This has been a horrible mistake that, particularly in the UK, we have suffered from.”

Telegraph

25 março 2012

uma amputação



Uma das questões que nos últimos tempos mais me tem intrigado consiste em saber por que é que os países onde nasceram as ideologias modernas, o liberalismo e o socialismo (Grã-Bretanha e Alemanha, respectivamente), bem como aqueles por onde estas ideologias se espalharam (como os EUA no caso do liberalismo, os países escandinavos no caso do socialismo), por que é que estes países - dizia - tiveram sempre, como condição prévia ou simultânea,  de suprimir o catolicismo, seja perseguindo-o, seja proibindo-o, seja impedindo-o de entrar? O que é que há de incompatível entre ideologias e catolicismo?

Eu julgo que estou agora no caminho certo para responder a esta questão, e esse caminho é o que segui no post anterior, a que dei o título de anarquismo. O catolicismo é a realidade, não exclui nada. Uma ideologia amputa uma parte da realidade, e pretende depois construir uma sociedade humana sobre uma  realidade amputada. No caso do anarquismo, a verdade amputada é a autoridade. Ora, uma ideologia é incompatível com o catolicismo porque o catolicismo lhe traz sempre a verdade de volta.

São diferentes as razões que tornam o anarquismo incompatível com o catolicismo daquelas outras razões que tornam quer o liberalismo quer o socialismo incompatíveis com o catolicismo - e que tratarei a seguir -, mas, para usar a fórmula do Chesterton, todas se resumem numa só: é que as  ideologias são falsas e o catolicismo é verdadeiro.

O socialismo amputa a realidade do valor da personalidade, a ideia de que existindo embora semelhanças entre os seres humanos, a diferenças são mais importantes que as semelhanças, e são essas diferenças, especialmente as de ordem espiritual - a sua personalidade - que fazem de cada ser humano um ser único e irrepetível, diferente de todos os outros. O socialismo amputa a realidade desta verdade e prossegue para construir uma sociedade onde todos sejam iguais.

No caso do liberalismo, é a ideia de comunidade que é retirada do domínio da realidade, pretendendo-se em seguida construir uma sociedade onde cada pessoa define o seu próprio destino e constrói a sua própria vida exclusivamente por si, e  independentemente da comunidade e de quaisquer laços comunitários. Que isto é uma impossibilidade prática, que nenhum homem se faz por si próprio e independentemente da comunidade , que ele precisa, pelo menos, de ter um pai e uma mãe, e que mesmo um empresário de sucesso precisa de ter uma comunidade para lhe comprar os produtos, é uma verdade tão óbvia que não vou escrever mais sobre ela.

Para o socialismo, o pior que lhe pode acontecer é aparecer-lhe pela frente um homem desconcertante, uma personalidade invulgar, um homem que não seja politicamente correcto. Ora, este tipo de homens não faltam entre os de cultura católica. Os socialistas não sabem como lidar com um homem assim, este homem destrói-lhes a fantasia de que todos somos iguais, é o iconoclasta por excelência,  capaz sozinho de deitar abaixo todo o edifício socialista. O melhor, por isso, é mantê-lo à distância, excluí-lo.

Dito isto, e no seguimento do que fiz em relação à autoridade, eu gostaria agora de me interrogar, acerca da seguinte questão: o valor da comunidade, que o liberalismo exclui,  e o valor da personalidade, que é excluido pelo socialismo, são valores, em primeiro lugar, femininos ou masculinos?

Qual é a figura central da comunidade, começando pela comunidade de base, a família, sobre a qual assentam depois todas as outras, é um homem ou uma mulher? Eu elaborei tanto sobre este tema nos últimos posts que não vou dedicar-lhe mais atenção aqui. É a mãe, portanto uma mulher.

E quanto à pesonalidade, esse valor da diferenciação entre os seres humanos, quem é mais arreigado a ele, quem recusa mais a igualdade, quem é mais propenso a fazer tudo para se diferenciar do seu semelhante, o homens ou a mulher? Também em tempo tratei este assunto extensivamente - a mulher.

Não vou, por isso, voltar ao assunto, excepto para adicionar uma nota pessoal. Eu tenho dois filhos e duas filhas. Um dos meus filhos dá bastantes ares a mim, e por vezes as pessoas fazem notar isso: "Vi o seu filho na televisão. Vi logo que era seu filho". Nunca senti o meu filho amofinado com esta observação, muitas vezes feita à frente dele ou a ele directamente; pelo contrário, sorri e aceita. Mas experimente-se dizer a alguma das minhas filhas que ela é parecida com a mãe. Ela recusa veementemente qualquer semelhança e até fica ofendida. Ora, eu já vivi o tempo suficiente com a mãe delas para saber que, quando ela própria era jovem, também o pior que lhe podiam dizer é que era parecida com a mãe. Uma mulher não aceita semelhanças sequer com a sua própria mãe, quanto mais com a vizinha do lado.

Quer dizer, aquilo que as ideologias amputam da realidade - a autoridade no caso do anarquismo, a personalidade no caso do socialismo, a comunidade no caso do liberalismo - são, em primeiro lugar, valores femininos. E isso significa que toda a filosofia política da modernidade, que está assente em ideologias, representa em primeiro lugar um ataque, uma desvalorização, uma amputação da condição de ser mulher.

É com esta conclusão no espírito que eu pretendo em seguida comentar este post do Joaquim.

fim de festa?

La socialdemocracia está en ebullición en casi toda Europa. Proliferan los think tanks, las fundaciones, los blogs y los grupos de debate en los que se intenta poner en marcha programas e iniciativas y donde, sobre todo, se aspira a recuperar el optimismo e identificar los más pequeños “brotes verdes” de su ideología. La debacle de los últimos años fue tan imponente (perdieron el Gobierno en prácticamente todos los países en los que tenían el poder, desde Suecia a Grecia, pasando por Alemania, Francia, España y Reino Unido) que lo primero es convencerse ellos mismos de que el declive no es algo definitivo. El Proceso de Ámsterdam, The Next Left, The Good Society son solo algunos de esos centros de discusión, que se van extendiendo por toda la UE, incluida España, donde, además de la Fundación Ideas, que dirige Carlos Mulas, han empezado a aparecer otros foros más pequeños. Un grupo de 25 jóvenes militantes y simpatizantes del PSOE acaba de lanzar, en medio de la dramática campaña electoral andaluza, un blog que quiere alimentar el debate.

El País

mulheres e católicos



Se você é homem, se julga um verdadeiro anarquista, e sonha um dia ir viver para uma comunidade anarquista, eu espero que tome a sério os dois conselhos que deixei implícitos no post anterior.

Primeiro, vá só, não leve a sua mulher. Porque se você levar a sua mulher, não vai passar muito tempo até que ela lhe faça a vida num inferno para que se venham embora de lá. Porquê?

Porque uma mulher ganha autoridade, em primeiro lugar, ao ter filhos, e uma autoridade que é superior à do homem. Agora, nessa comunidade vão permitir à sua mulher ter filhos, não lhe vão é permitir ter autoridade. Ela não vai ter autoridade sobre os filhos, por implicação não vai ter autoridade sobre si, não vai ter autoridade sobre ninguém. Não existe mulher feliz nestas condições - uma mulher que não possa mandar em alguém.

Segundo, permaneça vigilante. Nunca admita católicos nessa comunidade. Os papistas acreditam na autoridade, alguns são mesmo fanáticos da autoridade, e darão cabo da sua comunidade anarquista em três tempos.

Mulheres e católicos são do pior que há para dar cabo do anarquismo. Mas não apenas do anarquismo, de todas as ideologias, como procurarei demonstrar mais adiante. Mulheres e católicos ... não existe grande diferença, porque o catolicismo é uma cultura feminina, uma cultura à imagem de Maria.

anarquismo



Agora que falei no anarquismo, eu gostaria de o utilizar como exemplo para explicar por que é que  as ideologias são falsas.

Começo por perguntar, no seguimento do post anterior, se o catolicismo exclui o anarquismo? Não, o catolicismo não exclui o anarquismo, a inversa é que é verdadeira, o anarquismo é que exclui o catolicismo. E o catolicismo não exclui o anarquismo porque o catolicismo começa por afirmar que Deus está em todas as obras da criação, e portanto, também está no anarquismo. É esta mesma razão que leva o catolicismo a não excluir mesmo o diabo, porque o diabo também é uma criatura de Deus (Cat: 391). O catolicismo não exclui nada nem ninguém.

O anarquismo é que exclui - exclui a autoridade. Mas ao excluir a autoridade, o anarquista tem de excluir uma parte dos católicos - todos aqueles que acreditam na autoridade. Se eu quiser construir no meu bairro uma comunidade católica, eu abro a porta a todos aqueles que quiserem entrar. Mas se pretender construir uma comunidade anarquista, eu tenho de exercer um escrutínio apertado e deixar de fora todos os católicos que acreditam na autoridade - e que são a esmagadora maioria. Na realidade, aos olhos do mundo, a característica distintiva dos católicos é a de eles acreditarem na autoridade do Papa e, por isso, são frequentente referidos por papistas.

Questão diferente é a de saber se a autoridade é uma realidade ou uma fantasia e, portanto, se neste diferendo, quem tem razão são os católicos ou os anarquistas. No post anterior, deixei claro que a autoridade é uma realidade, não uma fantasia. Tudo tem um autor, e cada um de nós também tem. Mesmo deixando de lado considerações teológicas, cada um de nós tem dois autores terrenos - o pai e a mãe. E aquele dos dois autores que se envolveu mais a compôr a obra, e que passou mais tempo a fazê-la, foi a mãe. A mãe é um autor mais importante do que o pai, e por isso a autoridade é, em primeiro lugar, um atributo feminino.

Mas se a autoridade é uma realidade e uma verdade, e se o anarquismo desconsidera a autoridade, então o anarquismo não é nem realista nem verdadeiro.

Eu posso chamar agora uns quantos intelectuais muito inteligentes para elaborarem detalhadamente sobre a descrição de uma sociedade anarquista, e muitas pessoas podem ser seduzidas por essa descrição. Mas uma coisa é certa, se algum dia esta sociedade anarquista fôr posta em prática, ela não vai durar muito tempo, porque ela está construída sobre uma realidade amputada e nela as pessoas vão ter viver com a sua razão amputada - amputada da verdade da autoridade.

E sabe quem é que vai desencadear a revolta contra esta sociedade anarquista? As mulheres, porque esta sociedade lhes nega um atributo que é, em primeiro lugar, delas, e não dos homens - a autoridade.
 

24 março 2012

porque eu te digo

Eu gostaria aqui de retomar  a última frase do meu post anterior para elaborar sobre a diferença entre anarquismo metolodológico e catolicismo metodológico, de que já mencionei a diferença essencial, que é a de que o anarquismo exclui.

O anarquismo caracteriza-se por rejeitar todas as formas de autoridade, e portanto ele exclui todos os métodos ou caminhos para chegar à verdade que estejam baseados na autoridade.

Um exemplo? O da minha mãe.

Se algum dia eu tivesse posto em dúvida que  aquele homem, o tal de nome Manuel, era o meu pai, eu sei muito bem o que ela me diria, parece até que a estou a ouvir: "Ora essa ... é o teu pai, sim senhor ... é o teu pai porque eu te digo que ele é o teu pai...".

Ora, o anarquismo não rejeitaria esta afirmação da minha mãe. O que o anarquismo faz é dar tanta importância ou autoridade - isto é, nenhuma -   à verdade da minha mãe, como à  "verdade" da D. Maria dos Anzóis que diz que o meu pai é o lojista da esquina, ou para o efeito, à "verdade" de qualquer outra pessoa que decide atribuir a minha paternidade a qualquer outro homem deste mundo.

O catolicismo, pelo contrário,  acredita na autoridade e portanto estabelece hierarquias. Entre estas "verdades" concorrentes, cada uma atribuindo a minha paternidade a um homem diferente, o catolicismo privilegia a da minha mãe como sendo a verdade. Porquê? Porque nesta matéria, ela é a autoridade.

A ideia de autoridade - a palavra deriva de autor, aquele que produz algo, e resulta do verbo latino augere, que significa fazer crescer - exprime-se, não por acaso, através de um substantivo feminino. E isto é assim porque a autoridade é, em primeiro lugar, um atributo feminino - o atributo da mãe, a autora, aquela que faz crescer.

Para o catolicismo, não estão no mesmo plano, como estão para o anarquismo,  as "verdades" proclamadas pela minha mãe, pela D. Maria dos Anzóis ou por qualquer outra pessoa. Prevalece a verdade da minha mãe, porque ela é que é a autora da minha pessoa, ela é que tem autoridade.

Pelo contrário, no anarquismo existem tantas verdades, uma por cada pessoa, que na prática não existe verdade nenhuma.  

  

catolicismo metodológico

A Carolina já nasceu, passavam 24 minutos da meia-noite. Imagine-se agora que se pegava nesta criança e se a levava a um painel de cientistas nos EUA a quem, sem lhes dar qualquer informação adicional, se  pedia: "Agora, determinem lá quem é o pai desta menina". Nunca mais lá chegavam.

E, no entanto, quem perguntar à mãe da Carolina chega logo à verdade. O pai é o meu filho B.

Um dos pontos que eu pretendi ilustrar em posts anteriores é o de que não existe um método único para chegar à verdade e, em particular, que o método da ciência  - que faz assentar a verdade em factos observáveis - nunca chega a certas verdades. Que há verdades que estão para além da ciência, que a ciência não é um método universal para chegar à verdade.

A ciência não é capaz sequer de chegar ao pai da Carolina, como é que ela seria capaz de chegar ao pai de todos nós, Deus?

Eu não pretendo desvalorizar a ciência porque eu próprio, a essa luz, sou um cientista. Aquilo que pretendo dizer é que a ciência é uma forma restritiva de pensar, uma ideologia, que pode chegar a certas verdades, mas não a outras. E, por isso,  é uma grande pretensão na qual tendem a cair muitos cientistas - e sobretudo aprendizes de cientistas -  se a ciência disser, em relação às verdades a que não consegue chegar, que elas não existem, ou que são falsas ou que pura e simplesmente não interessam. Como é que ela sabe, se ela não consegue lá chegar?

O painel de cientistas que analisou os meus argumentos acerca da minha paternidade - e que referi em posts anteriores -, não conlcuiu que eu não tenho pai. O seu veredicto é o de  que, com base na evidência factual que eu produzi, não se pode concluir que o tal homem de nome Manuel é meu pai.  Seria uma abuso, e uma óbvia falsidade, passar daqui à conclusão de que eu não tenho pai.

Claro que tenho pai, e é o tal homem de nome Manuel, porque foi isso que  a minha mãe sempre me disse. Para ser muito específico, a ciência não está preparada para chegar a verdades que assentam em factos únicos e íntimos, factos acerca dos quais só uma única pessoa tem a certeza - e essa pessoa é, no caso, a minha mãe. Mas precisamente por não estar preparada para chegar a essas verdades, a ciência não tem autoridade para as negar.

"A ciência não está preparada para chegar a verdades que assentam em factos únicos e íntimos, factos acerca dos quais só uma única pessoa tem a  certeza". Esta parece ser a definição de milagre. Na realidade é isso que eu sou - um milagre - e na minha família, hoje, ocorreu outro.  Que a ciência não possa provar os milagres deve-se às limitações da ciência. Que eles existem, existem. Na realidade é a própria ciência que atesta a existência de milagres, que são todas as verdades que ela não consegue provar. 

Quando há uns anos atrás me interessei pela obra do cardeal Ratzinger, uma das descobertas que fiz foi a de que ele lia - e até citava - o Paul Feyerabend, e isso estabeleceu logo, da minha parte, uma ponte de simpatia para com ele. Um Papa da Igreja a citar o Feyerabend?

O Paul Feyerabend nunca foi um filósofo da ciência popular, nada que se compare com o seu mestre Karl Popper. Mas ele foi um grande iconoclasta. Na altura, e depois de muitos anos de admiração, eu já não conseguia tolerar o Popper. Já não havia nada de novo nos escritos mais recentes do Popper, tinha-se tornado um verdadeiro chato pretensioso, com aquela mania de que o seu método das conjecturas e refutações era o único método, e o método universal, para se chegar à verdade da ciência. Quando, ainda na década de 80, descobri o Feyerabend foi uma lufada de ar fresco.

Mas o que é que levaria um Papa a considerar o Feyerabend? Talvez, em primeiro lugar, a célebre querela entre o Galileu e a Igreja. O Feyerabend, que nem sequer era católico, tinha estudado a questão e chegado à conclusão de que quem tinha razão nessa querela, e quem se comportou de forma responsável acerca dela, foi a Igreja, não o Galileu. Hoje, eu penso que poderá ter existido outra razão, mais vasta, mais difusa, mas também mais importante.

O Feyerabend tinha sofrido um ferimento na Guerra que lhe afectou a coluna, e que toda a vida lhe causou imensas dores e o impedia de andar normalmente. Nunca conseguiu tratar-se, ou sequer melhorar, usando os métodos da medicina ocidental. Passou uns tempos no Oriente e submeteu-se a terapias orientais, que não passavam nos critérios científicos ocidentais, mas que lhe trouxeram melhorias consideráveis. Quando regressou, tornou-se um crítico do método científico ocidental, largamente assente na ortodoxia do Popper, argumentando que  não era o método único, e muito menos o método universal, para se chegar à verdade (científica).

A sua célebre frase, que ele produziu em certo contexto, de que "anything goes" criou-lhe a reputação de ser um anarquista do método. Mas ele negou que sustentasse o "anything goes" como princípio (veja aqui, incluindo a citação que dele faz Joseph Ratzinger). Aquilo que o Feyerabend defendia era a pluralidade dos métodos, a ideia de que não existia um método único, mas muitos e variados métodos, para se chegar à verdade (científica), e que nenhum podia ser excluído.

Ora, isto não é anarquismo metodológico nenhum, porque o anarquismo exclui. Isto é catolicismo metodológico.  

novos modelos

O Papa Bento XVI disse hoje, a bordo do avião que o transporta ao México (e depois a Cuba, na segunda-feira), que a ideologia marxista “tal como foi concebida, já não responde à realidade” e que é importante “encontrar novos modelos” com paciência e de modo construtivo”.
Em declarações aos jornalistas durante a viagem, Bento XVI acrescentou, citado pela Reuters e AFP, que a Igreja quer “ajudar” nessa procura de modelos, sem qualquer “trauma”.

Conceitos a reter do discurso do Papa Bento XVI, fulcrais para uma linguagem de resgate:
  1. É necessário desmascarar o mal e a mentira.
  2. É necessário acabar com a idolatria do dinheiro que torna os homens escravos.
  3. A nossa grande responsabilidade é educar as consciências, educar para a responsabilidade moral.
  4. A fé católica tem uma grande dimensão popular.

23 março 2012

ocupado

Obrigado, Joaquim, por tanta esperança.

Hoje não pude contribuir.

Estive ocupado a ser avô. Está por poucas horas.

Hospital de S. André, Leiria. 

É uma rapariga. Vai chamar-se Carolina.

Passei o dia a desaluar.

Já viu o que era a menina nascer, olhar para mim e perguntar: "O quê, este  aluado é que é o meu avô?"

Era uma vergonha.

Abç.

PA

Movimento e Instituição

...

Também o Cristianismo se está a revitalizar. Pelo menos na Polónia. Não pode imaginar-se o Solidarnosk sem a Igreja Católica. Foi o catolicismo polaco que, trabalhando durante decénios na oposição de uma forma obscura, a um certo ponto, deu a sua linguagem de resgate ao movimento sindical de Gdansk e lhe atribuiu, também, uma força que desafia o império soviético.

Uma religião antiquíssima, a Cristã, dada como destroçada, acabada, sepultada - acorda de novo e dá a sua linguagem a um movimento político que se revolta contra o comunismo, contra o marxismo, contra a União Soviética e vence. (Parágrafo adaptado por mim).

Está iniciada uma nova fase da história.


Francesco Alberoni, 1979

PS: É possível que o mesmo venha a acontecer em Portugal e o contributo do PA pode ser fundamental para desenvolver essa linguagem.

deseconomias na saúde

Deseconomias são externalidades negativas. São custos que um determinado agente económico imputa aos restantes, sem que exista qualquer incentivo que trave esse comportamento. Uma fábrica poluente, por exemplo, pode estar a provocar externalidades negativas aos vizinhos que têm de suportar o impacto da poluição e dos respectivos custos associados.

Do mesmo modo, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) gera externalidades negativas que afectam o crescimento económico e a produtividade do País de forma muito significativa. Algumas destas deseconomias resultam da rigidez própria de uma estrutura burocrática, outras resultam de uma má alocação de recursos e da ausência de mecanismos de mercado.
Cont.

O meu artigo de hoje no semanário Vida Económica

notícia do 1º de Abril?

A Caixa Geral de Depósitos deverá indicar o ex-ministro das Finanças como administrador não executivo para a Portugal Telecom.

Será que o JN antecipou uma notícia do 1º de Abril?

luz verde política

Mohamed Merah desejava morrer em combate e os comandos do RAID acabaram por lhe fazer a vontade. Após 32 horas de cerco, receberam luz verde política para um assalto que não correu nada bem.
Não sei se Sarkozy seguiu a operação em directo, como o Obama seguiu a execução do Bin Laden, o que sei é que estas operações eliminam a possibilidade de julgamentos que contribuam para desmistificar as alegadas razões dos criminosos.
O Sr. Merah, para os seus correligionários, tornou-se um herói - um jihadista que tombou em combate. A sua fotografia vai começar a aparecer em T-shirts e em "outdoors" e milhares de jovens vão sentir-se inspirados por ele. Inspirados para matar.

22 março 2012

porque a minha mãe me disse

Nos últimos dias, eu gastei tanta  energia a procurar responder a esta questão da minha paternidade que até a minha família me informou que eu ando aluado. Eu não ligo muito a isto porque, desde há muitos anos a esta parte, e ao menos uma vez por mês, existe alguém na minha família que diz que eu estou aluado.

Imaginei-me a falar com a minha mãe, a imaginar o que é que o meu pai - onde quer que ele esteja - estaria a pensar de tudo isto, comovi-me com a recordação daquela história do capacete, vi-me diante de uma painel de cientistas a tentar provar que ele era meu pai, e a chumbar, revoltei-me contra o cientista que pôs em causa a palavra da minha mãe, discuti testes de ADN.

É altura de resumir tudo isto de uma forma breve, autoritária e definitiva, para lhe pôr termo.

Nas primeiras linhas do seu célebre ensaio, o Chesterton escreveu assim: "A dificuldade em explicar por que é que sou católico radica no facto de que existem dez mil razões para isso, mesmo se todas se resumem numa só: porque a religião católica é verdadeira".

A explicação é justa e inspiradora. Como é que eu responderia a alguém que, estando eu num ambiente informal à volta de uma mesa a falar do meu pai, me pusesse racionalistica e rasteiramente a questão: "Como é que você sabe que esse homem era o seu pai?".

Responderia assim: "Olhe, existem dez mil razões que eu posso invocar para provar que aquele homem era o meu pai, mas todas elas se resumem numa só: porque a minha mãe me disse".

pergunta-se à Mãe



Na próxima semana, se tudo correr como previsto, serei avô pela terceira vez. É natural que daqui por cem anos tenha muitos descendentes espalhados por aí. Se algum deles quiser saber se descende mim, como é que faz? Pergunta aos pais. E como é que os pais sabem? Porque perguntaram aos seus respectivos pais. É por este processo regressivo que os meus descendentes chegarão a mim e à verdade sobre a relação que eu tenho com eles.

Foi um processo todo baseado na palavra dos pais e de fé na palavra dos pais que permitiu chegar à verdade. Não houve necessidade de quaisquer testes científicos porque a ciência, nesta matéria, não acrescenta nada à verdade - apenas confirma a verdade que cada mãe já conhece.

Olhando de forma descendente, assim se formou - na realidade continuou, porque não fui eu que a iniciei - uma tradição familiar, caracterizada por laços de família, um nome de família, mas muitas outras coisas também em maior ou menor grau como, por exemplo, um certo tipo de profissões comuns aos membros da família e às sucessivas gerações, às vezes certa propriedade ou negócio ligado à família, datas festivas e modos de as celebrar, etc.

Nesta linha descendente em que ocorre a tradição, quem são prioritariamente as pessoas que a guardam e a transmitem? São as mulheres porque, como argumentei no post anterior, sem a presença central e decisiva da mãe, não há certezas nenhumas acerca dos laços familiares. É claro que os homens também têm lugar na guarda e transmissão da Tradição. Aquilo que pretendo salientar é que as mulheres são mais importantes do que eles.

Pode dizer-se com propriedade e genericamente que a Tradição é uma figura de Mulher.

Por isso, todas as comunidades humanas - e não apenas a família - que assentam na tradição e prezam a tradição atribuem um papel preponderante à Mulher. Porquê? Porque, em caso de dúvida ou de ignorância ou de descrença ou de confusão, pergunta-se à Mãe, porque ela é que guarda  a Verdade.

os testes de paternidade


No post anterior, escrevi que cheguei à verdade acerca da minha paternidade assentando em dois pilares - o pilar da razão e o pilar da fé.

Qual destes pilares é o mais importante, qual deles - se algum - é indispensável para chegar à verdade, mesmo que se possa prescindir do outro?

No meu depoimento perante o painel de cientistas, à medida que fui contando episódios da minha relação com aquele homem de nome Manuel - episódios baseados em factos reais, mas que não deixaram traço senão na minha recordação - eu fui-me apercebendo da incredulidade crescente dos membros do painel.

Nada daquilo que eu dizia parecia convencê-los porque eu nunca fui capaz de produzir os factos que eles pudessem confirmar para credibilizar a minha argumentação. Em certo momento, um dos membros do painel, mais agressivo, quando eu contava a história das idas ao futebol a partir dos 5 anos, interrompeu-me para me dizer: "Você está a mentir, porque já nessa altura o futebol era um espectáculo para menores de 6 anos". (A verdade é que ia ao futebol a partir dos 5 anos, e nunca fui impedido de entrar, porque o meu pai conhecia alguns porteiros e, se bem me lembro, até lhes dava uma gorgeta). O ambiente degradava-se na sala a olhos vistos.

Mas as coisas atingiram o auge, quando eu já desesperado perante a incredulidade dos membros do painel - excepto o Joaquim - disparei assim como argumento de último recurso: "Aquele homem de nome Manuel é o meu pai porque a minha mãe me disse muitas vezes que ele é o meu pai". Foi aí que os membros do painel científico se desmancharam a rir e foi só quando se recompuseram que um deles, com ar de soberba, voz mansa e um ligeiro sorriso nos lábios me perguntou: "Mas você é daqueles que ainda acredita nas coisas só porque lhe disseram?". Foi aí que eu percebi que estava definitivamente chumbado na tentativa de provar cientificamente que o tal homem de nome Manuel era o meu pai. Como veio a acontecer.

Se fosse hoje, e o meu pai estivesse ainda vivo, eu teria mandado fazer um teste de paternidade, baseado no ADN. Eu posso mentir, e os testes de ADN podem falhar. Mas os cientistas iriam muito mais facilmente acreditar nos testes de ADN do que em todos os episódios que, aos meus olhos - mas não aos deles - demonstravam conclusivamente que aquele homem era o meu pai. Deixarei para outra ocasião a discussão deste tópico - por que é que o avanço da ciência é acompanhado de uma desvalorização da pessoa humana - para admitir prontamente que os testes de ADN podem substituir o pilar da razão em que se baseia a verdade acerca da minha paternidade.

Mas não podem substituir o pilar da fé, não podem substituir a palavra da minha mãe. Sem confiança na palavra da minha mãe não há testes de ADN que consigam chegar à verdade acerca da minha paternidade. Pois suponha, como caso extremo, que   fiz hoje 18 anos e não sei quem é o meu pai. Suponha mais que, tendo atingido a maioridade, eu estou firmemente decidido a saber quem é o meu pai. Como é que faço, mando fazer testes de ADN a todos os homens deste mundo que têm idade para ser meu pai? Impossível, eles não iriam aceitar, nem ninguém, como um tribunal, os iria obrigar.  Excepto se houver uma suspeita fundamentada.

E quem é que me pode fornecer o suspeito ou a lista dos suspeitos? A minha mãe (ou, como substituto imperfeito, alguém que a conhecesse na altura da minha concepção e saiba o homem ou homens que a acompanhavam nessa época).

Aquilo que é certo é que sem a figura central e decisiva da minha mãe, e sem fé na sua palavra, não há ciência que me permita chegar à verdade acerca da minha paternidade. A ciência e os testes de ADN, neste caso como eu muitos outros, apenas provam que o rio corre do monte para o vale. Eles apenas confirmam a verdade que a minha mãe possui acerca de ser Fulano ou Beltrano o meu verdadeiro pai.

Eu posso até dispensar o pilar da razão para chegar à verdade sobre a minha paternidade. Posso admitir, por exemplo,  que o meu pai morreu ainda antes de eu nascer, e eu não tenho nenhuns episódios para recordar acerca dele - como aqueles do futebol - e que racionalmente me ponham no caminho da verdade.

Bastará neste caso a palavra da minha mãe - a de que aquele homem que esta ali na fotografia e que já morreu é o meu pai - para eu acreditar que ele é verdadeiramente o meu pai. Não só, em geral, não tem interesse, como dificilmente uma mulher consegue mentir em relação à paternidade dos seus filhos sem ser facilmente apanhada. Porque a primeira coisa que eu faria em relação ao homem que a minha mãe falsamente me indicou como sendo o meu pai, seria ir ter com ele e chamar-lhe pai, ao que ele me responderia: "Vai chamar pai a outro". (Nesta matéria,  os testes de paternidade tornam a mentira ainda mais fácil de esclarecer, mas são  acessórios porque à mentira, em primeiro lugar, já tinha chegado o homem a quem eu fui chamar pai).

Mas a conclusão principal que eu pretendo salientar aqui é a de que o argumento que o painel de cientistas mais desvalorizou no meu depoimento para chegar à verdade sobre o meu pai - a palavra da minha mãe, a fé que eu expressei na palavra da minha mãe - é precisamente o pilar sem o qual não é possível chegar a verdade nenhuma.

a ditadura da factibilidade

Eu fiquei surpreendido quando, há certo tempo, ao ler o Prefácio do seu livro Jesus de Nazaré, já próximo do final, o Papa escreveu: "Certamente não preciso de dizer expressamente que este livro não é de modo algum um acto do magistério, mas unicamente expressão da minha busca pessoal «do rosto do Senhor». Por isso, cada um tem a liberdade de me contradizer. Peço apenas aos leitores aquela pressuposição de simpatia, sem a qual não há qualquer compreensão". Não me recordava de alguma vez ter visto um autor apelar à simpatia dos leitores para se fazer compreender.

No último post, eu admiti explicitamente que a questão que me mais me tem ocupado o espírito nos últimos  tempos é a da minha própria paternidade. E quem me acompanhou decerto já terá concluído que eu acredito que o homem a quem eu sempre chamei pai - de nome Manuel - era o meu verdadeiro pai. Eu cheguei a esta verdade através de dois pilares, um montado sobre o outro.

O primeiro pilar  foi o da  razão. Eu posso recordar centenas de episódios da minha relação com aquele homem, e todos convergem para a mesma conclusão racional - a de que ele era o meu pai. Vou aqui mencionar apenas dois, a título ilustrativo. Primeiro, desde os 5 anos era ele quem me levava ao futebol, ver o Eusébio e o Benfica, a minha maior alegria de criança; e, quando me queria castigar, não me levava ao futebol, o meu pior castigo de criança. Ele tinha uma mota e, embora não fosse obrigatório, usava capacete. Quando o tempo permitia, levava-me na mota ao futebol. Ele sentava-me à frente, entre as pernas dele, e nessas alturas punha-me a mim o capacete, seguindo ele de cabeça descoberta. A conclusão que eu tirei mais tarde deste episódio é que ele prezava mais a minha vida do que a dele. Este homem devia ser o meu pai.

Segundo, à medida que os seus quatro filhos foram crescendo foi-se gerando o consenso entre nós,  hoje reafirmado a título póstumo, de que o nosso pai era um grande teimoso. Era um daqueles homens que, quando julgava que tinha razão, se tornava obstinado, talvez obsessivo. Era um homem muito convicto, quer na verdade quer no erro, daqueles homens que, quando estão certos, acertam em cheio, mas que, quando estão errados, erram também em cheio. Ora, não é que eu descobri recentemente que os meus  filhos - também são quatro  e parece que de forma também consensual -acham que eu sempre fui um grande teimoso? Quando fiz esta descoberta, encolhi os ombros e disse: "Saio ao meu pai".

O segundo pilar foi o da fé - uma confiança inquestionável na palavra da minha mãe, que sempre se me referiu àquele homem como  "o teu pai". Aquilo que eu gostaria de salientar é que esta fé não é uma fé cega, uma crença sem mais nada. Não. É uma fé racional, é uma fé que assenta na razão. A palavra da minha mãe é  a confirmação da conclusão a que os milhares de episódios, como aqueles que referi acima, já me tinham racionalmente conduzido - a de que aquele homem era o meu pai. A fé surge aqui como o último passo da razão, o pináculo da razão e, portanto, é um acto profundamente racional.

Posto isto, eu queria agora imaginar-me perante um tribunal de cientistas, entre eles o Joaquim, que me pedem para demonstrar cientificamente que aquele homem, de nome Manuel, era na verdade o meu pai. Aquilo que se entende por cientificamente é a capacidade para produzir provas factuais suficientes que convençam o painel de cientistas, ou pelo menos a maioria deles, de que aquele homem era, de facto, o meu pai. Factibilidade é o que se exige.

Não vou ser capaz de fazer tal prova. Eu não tenho os factos, certamente que não o facto decisivo - uma relação sexual entre o meu pai e a minha mãe. Eu não estava lá para o testemunhar e aqueles que participaram nele  já cá não estão. Eu posso referir-me a factos que efectivamente ocorreram mas não deixaram rasto, excepto na minha memória, como os episódios das idas ao futebol. E isso prova o quê? Afinal, qualquer homem poderia ter feito aquilo por mim, não necessariamente o meu pai. Poderia dizer que sou tão teimoso como ele, mas, mais uma vez, isso prova o quê? Poderia apresentar a  certidão de nascimento e de  baptismo onde ele assume a minha paternidade. Mas a ciência não se faz de papelada e de burocracia. Faz de factos, hard facts.

No fim, o painel de cientistas irá votar por larga maioria (o único voto contra foi o do Joaquim) que eu não produzi prova factual suficiente de que aquele homem, de nome Manuel, é o meu pai. Portanto, à luz da ciência, eu fico sem pai. Cientificamente falando, eu não tenho pai.

O Joaquim ainda fez uma declaração de voto. Nessa declaração o Joaquim começou por concordar com os seus colegas cientistas de que eu não produzi evidência factual suficiente - nem de longe - para provar que aquele homem, de nome Manuel, era o meu pai. Mas ele conhecia-me há muitos anos, acreditava em mim, e se eu dizia que aquele homem era meu pai é porque era verdade. De nada valeu a declaração do Joaquim. O veredicto científico permaneceu - não existe evidência científica suficiente que prove que aquele homem era o meu pai.

Existem aqui duas conclusões principais a tirar. A primeira é aquela à qual o Papa já chamou a "ditadura da factibilidade", segundo a qual só é verdade aquilo que se possa traduzir em factos, e em factos que sejam comprováveis por todos ou, pelo menos, por uma maioria. Tudo o que não passe este critério científico, não existe, não tem realidade. E é por isso que a conclusão que ressalta da decisão do painel de cientistas mencionado acima, é a de que eu não tenho pai, pelo menos até ao dia em que possa produzir evidência factual suficiente de que aquele homem, de nome Manuel, ou qualquer outro homem, é, de facto, o meu pai.

Segunda, o único homem de entre o painel de cientistas que se mostrou disponível para receber a verdade - a saber, a de que aquele homem de nome Manuel é o meu pai - foi o Joaquim. E fê-lo pela simpatia que tem por mim - a tal simpatia a que se refere o Papa e sem a qual não existe qualquer compreensão. E o Joaquim chegou à verdade pela fé, acreditando na minha palavra. Não uma fé cega. Mas uma fé  racional. Ele conhece-me há muitos anos e sabe que tudo aquilo que eu disse perante o painel de cientistas só podia ser verdade, e portanto, que aquele homem de nome Manuel tem de ser o meu verdadeiro pai. 

a gaivota coxa

Quando atirámos um carapau inteiro, houve uma gaivota tirana, coxa, que se apoderou dele e que, emitindo gritos fadistas de "que ninguém se atreva a aproximar-se do que é meu", confirmou o que mais receávamos: que aquilo que Christopher Bollas diz sobre os Estados fascistas da mente não diz apenas respeito aos seres humanos. Está na existência.
Somos piores do que as gaivotas.


MEC, O fascismo com asas

Não sei se o MEC, na sua crónica de hoje, pretendeu evocar a greve geral. O que sei é que a greve, em sentido metafórico, bem parece uma manifestação de um bando de "gaivotas" em luta pela sobrevivência, por uma  ideologia "coxa".

UK

Nenhum ministro pode justificar um escalão fiscal que danifica a economia e não recolhe quase dinheiro nenhum.

George Osborne

são centenas

O perfil de Mohamed Merah é típico de centenas de imigrantes franceses de segunda e de terceira geração, do Norte de África, que visitaram o Afganistão e o Paquistão nos últimos 20 anos, atraídos por grupos de militantes islâmicos, afirmam as autoridades francesas.

MSNBC

21 março 2012

a hit

Dear Joaquim,

It was really a hit your tinkering with the blog.
Did you ever receive so many compliments in your life?
I guess not. Certainly not from the Portuguese people who cannot agree even on the Ten Commandments.
Congratulations.
PA

pós-socialismo

Trabalhadores da EDP com aumento salarial de 1,7%.

Crédito malparado na habitação e no consumo bateu máximos de sempre em Janeiro, revelou o Banco de Portugal.

A gestão da EDP está a cometer um erro estratégico monumental. Não é possível manter a sua renda num clima de profunda recessão económica. Quando se aperceberem deste problema já vai ser tarde demais.

tinkering

Literalmente "tinker" significa funileiro. É aquele tipo que remenda utensílios de cozinha e que afia facas e tesouras. O termo "tinkering", muito utilizado no inglês corrente, significa remendar ou reparar de forma grosseira. Eu utilizo o "tinkering" no sentido um pouco mais lato de tentar resolver qualquer problema de forma desajeitada e temporária.
Não sei bem como traduzir este "tinkering"... a Isabel sugeriu-me engonhar, mas engonhar não transmite todo o sentido do termo. Sugeriu-me ainda atacoar que significa atamancar.
Não estou certo da melhor tradução possível, o que estou certo é de que:
"Our government has been tinkering with the financial crisis"... tem andado a tentar remendar os problemas, a atamancar ou atacoar, em vez cortar o mal pela raíz.
A queda da receita fiscal e a diminuição quase simbólica da despesa pública demonstram que os remendos não estão a resultar. O melhor é o funileiro amolar melhor a tesoura para cortar onde se tem de cortar e deixar-se das mezinhas que não estão a dar efeito nenhum.
"Stop tinkering, dammit"!

the Greek way

A receita de IVA (imposto sobre o valor acrescentado) caiu nos dois primeiros meses do ano 1,1% face ao período homólogo de 2011. Mas não foi apenas o IVA que perdeu colecta. O IRC, imposto sobre o rendimento colectivo, acusou um decréscimo de 46%. A receita fiscal recuou globalmente 4,3% face ao período homólogo, para um total de 6259 milhões de euros.
...
Com a receita em queda, a despesa do Estado cresceu 3,5% face ao mesmo período do ano anterior, embora a despesa primária – que não incluiu os gastos financeiros, nomeadamente, o serviço da dívida – tenha caído 0,3%. A redução significativa de pessoal nos estabelecimento de ensino não superior é apontada como uma das principais razões para este decréscimo.
Globalmente, o défice do subsector Estado atingiu os 799 milhões de euros em Fevereiro, 191,1% mais que no mesmo mês de 2011. Os subsectores da administração regional e local apresentaram saldos globais positivos, sendo, no primeiro subsector, de 16 milhões de euros e, no segundo, de 32,9 milhões de euros.


Público

One Nation Under Socialism

Pintura de Jon McNaughton.

o caminho

O Joaquim fez um excelente trabalho a recuperar as caixas de comentários do PC. Ao fazê-lo, porém, desapareceu um comentário a este meu post - que era único na altura - e que eu gostaria de recordar. Era um leittor, que assinava MAC, e que me punha a questão de Dostoiewski, brevemente: "Pode um homem moderno, culto, educado no espírito científico, acreditar que Cristo é filho de Deus?".

Esta é uma questão verdadeiramente interessante. Procurarei dar-lhe uma resposta, não toda de uma vez, porque não sou capaz, mas por partes. E a primeira parte vai parecer decepcionante. Nos últimos tempos, o meu espírito tem andado ocupado em procurar saber, não se Cristo é filho de Deus, mas numa questão muito analógica: se eu sou verdadeiramente o filho do homem a quem sempre chamei pai, de nome Manuel.

Até dediquei um post ao tema (aqui). E dois dias depois verifiquei que tinha cometido uma omissão importante nesse post. Foi quando me referi à minha mãe e disse que, em muitas ocasiões em que ela me queria pôr na ordem, invocava a sua autoridade dizendo-me: "Fazes o que eu te digo porque eu sou a tua mãe...".

Ora, o ponto importante e que eu queria salientar é que esta mulher foi a única em toda a minha vida que reclamou este estatuto - o de minha mãe. É um caso único, extremo, absolutamente excepcional, a comprovar que a verdade se revela nos extremos. Nenhuma outra mulher, em toda a minha vida, reclamou idêntico estatuto. E por boas razões. Ser minha mãe era um fardo, qualquer mulher que reclamasse esse estatuto em relação a mim só ia ter trabalhos (ou prejuizos, na linguagem dum economista), como aconteceu com aquela. E, no entanto, reclamou-o reiteradamente. Porquê? Certamente que não por interesse. Fê-lo pela verdade, fê-lo por amor a mim.

Voltando ao tema central desse post, eu estou hoje absolutamente certo que o tal homem, de nome Manuel, a quem eu sempre chamei pai era o meu verdadeiro pai. Mas ficou igualmente claro que para chegar a essa verdade eu tive necessidade de uma figura central - a figura da minha mãe. O caminho para a verdade acerca do meu pai passou obrigatoriamente pela minha mãe.

E, agora, acerca de Cristo, será Deus o seu verdadeiro pai? Se eu tivesse acesso à Mãe d’Ele, se estivesse por aí a figura de Maria, tudo seria mais fácil.

Então, e não é que está mesmo? É a Igreja Católica, teologicamente a figura de Maria. E não é que, tal como a minha mãe, também ela se reclama minha Mãe (Santa Madre Igreja), e Mãe de todos? Antes de prosseguir, será que Ela tem algum interesse em fazê-lo? Nenhum, tanto quanto a minha mãe tinha em reclamar a minha maternidade. Só lhe dei trabalhos, prejuizos e muitas ingratidões.

Por isso, eu hoje estou certo de pelo menos uma coisa. Só é possível chegar à verdade sobre a paternidade de Cristo através de Igreja Católica porque a Igreja Católica era a única que lá estava - na realidade, ela foi criada pelo próprio Cristo - ao tempo dos factos, do ambiente e das circunstâncias relevantes. Uma igreja luterana ou calvinista nunca me levará a essa verdade, porque estas são igrejas que apareceram somente a partir do século XVI. Não estavam lá na altura.

A Igreja Católica é como o tronco que segura  a árvore à terra. As outras igrejas cristãs são apenas pequenas ramificações. Só ela me pode levar às raizes, da mesma forma que só a minha mãe me pôde levar às minhas próprias raizes. Não há outro caminho. E, para começar, o mais importante para se chegar a   qualquer destino - no caso, a verdade acerca da paternidade de Cristo - é saber qual é o caminho a seguir. Tal como a minha mãe, a Igreja Católica é  uma caso único, extremo, absolutamente excepcional.

Portanto, eu julgo ter dado pelo menos uma parte da resposta ao meu leitor MAC e à questão de Dostoievski: Quem rejeitar a Igreja Católica nunca mais vai lá chegar.


 

 

no shame in the "walk of shame"




Women should not feel ashamed about walking home after a one night stand, the UK’s advertising watchdog has said.

20 março 2012

olá a todos

:-)


Não foi fácil mas parece-me que o problema com o "template" do Portugal Contemporâneo ficou resolvido.
Aproveitei para arrumar melhor a loja e eliminar o link para o Albergue Espanhol que está com uma virose daquelas.
Deixei as caixas de comentários abertas a comentadores anónimos, pelo menos por agora. A principal razão prende-se com a dificuldade de nos identificarmos nalgumas plataformas. Assim é mais fácil comentar e quem quiser pode sempre assinar.
Obrigado a todos os que se ofereceram para ajudar e que deixaram sugestões bastantes úteis.