31 dezembro 2011

the eve of the war

2012

A UE e o Euro não irão colapsar. Não que não mereçam, pelo contrário. Mas só porque, tal como o terrível Mr. Burns dos Simpsons se mantém vivo pelo equilibrio perfeito de todas as doenças que o afectam, as forças negras da Nova Ordem Mundial corporativa/financeira/tecnocrática se dedicarão, com inefável zelo, imaginação delinquente e cinismo, a manter vivo o corpo do zombie moribundo.
Devemos ficar gratos. Dá-nos mais algum tempo para armazenar ouro, moedas de prata, arame farpado, comprimidos para purificar água e munições.


James Delingpole, no Spectator

líderes Yanomami

Líderes como Kaobawa raramente dão ordens sem terem a certeza absoluta de que serão obedecidos. As mais das vezes fazem sugestões ou lideram pelo seu próprio exemplo. Avaliam as situações, analisam em privado todas as consequências possíveis e só quando estão plenamente convencidos de que uma determinada ordem será acatada é que a proferem.
Os líderes Yanomami compreendem que a desobediência compromete o seu estatuto.


Observações de N. A. Chagnon sobre a política nas tribos Yanomami.

igualmente bem

Encontrei a resposta em Tocqueville, ou assim eu julgava. Mas não durou muito. Passados poucos anos, deixei-a cair. Tocqueville estava errado, ou melhor, a sua fundamentação da democracia era de uma grande superficialidade.

Tocqueville tinha ido para a América durante dois anos observar a primeira experiência democrática da humanidade em toda a sua pureza. Por essa altura, já existia democracia em vários países da Europa, mas, como na sua nativa França, eram experiências ainda profundamente contaminadas pelas tradições, os hábitos, as estruturas do ancien régime.

Dir-se-ia que um aristocrata católico, como Tocqueville, representava tudo aquilo que a democracia americana radicalmente rejeitava - aristocracia e catolicismo. E poderia supôr-se também que Tocqueville ia à América para desancar num regime que era contrário a tudo aquilo que ele próprio representava - aristocracia e catolicismo. Mas não, nem uma coisa nem outra. Tocqueville comportou-se como um verdadeiro homem de elite e o livro tornou-se imensamente popular na América até aos dias de hoje.

Tocqueville julgou a democracia americana com uma extraordinária isenção e simpatia e, no final do livro, quando chegou a altura de pronunciar julgamento - ele próprio era juiz de profissão - absolveu-a. Mais difícil foi a fundamentação do julgamento: como justificar a democracia? Hesitou, mas no fim, não sem a dúvida no espírito, acabou por concluir: "Talvez porque Deus quer igualmente bem a todos os seus filhos".

A justificação parece poderosa. Vai às raizes cristãs da civilização buscar a racionalidade para a democracia, e apropriadamente assim, porque, em última instância, todas as civilizações estão fundadas numa religião.

Mas é superficial. É certo que Deus quer igualmente bem a todos os seus filhos. Mas trata-os a todos da mesma maneira, põe todos no mesmo plano, considera-os a todos pares? Não, longe disso. Cristo discriminava entre os homens, e não era pouco (v.g., aqui). Cristo não era nenhum democrata no sentido moderno de pôr todos no mesmo plano.

explique lá

Eu só me dei conta muito tarde na minha vida que acreditava na democracia (refiro-me à democracia moderna ou de sufrágio universal) sem saber porquê. Era uma espécie de fé kantiana ou protestante, em que se acredita sem saber porquê e sem nunca pôr questões. Na realidade, tal como a fé kantiana (protestante) em Deus, a minha fé na democracia estava para além da razão humana, era uma fé em que até ficava mal pôr questões. Estava fora do domínio da razão. Acredita-se, pronto!

Tenho de admitir que não gostei do que senti quando me dei conta disto. A minha vida de professor tinha-me sempre levado a procurar estar preparado para as perguntas que me pudessem surgir na sala de aula, numa conferência ou num seminário, ou até informalmente por parte de um amigo. E embora eu não fosse professor de ciência política, eu imaginava agora um estudante, um dia, a levantar o dedo, lá atrás, na sala de aula, e a perguntar: "Oh professor, explique lá por que é que a gente tem de viver em democracia, e não sob outro regime político qualquer, por que é que se diz que a democracia é o melhor, ou o menos mau, de todos os regimes políticos?"

Como é que eu iria responder?



a democracia liberal

A semana passada, a Imprensa noticiou um acontecimento que passou despercebido - o regresso do últimos contingente de tropas americanas do Iraque.

A experiência durou oito anos. Os americanos foram para o Iraque com o duplo objectivo de depôr o ditador e instituir um regime de democracia-liberal no país.

Destituir o ditador eles destituiram. Mas onde é que está a democracia-liberal?

A experiência merece reflexão, tanto mais que, neste período, ceifou a vida a centenas de milhar de pessoas, um número que continua a crescer todos os dias. Estava assente numa base teórica - a tese do Fim da História e do Nation Building. Segundo a tese do Fim da História, a democracia liberal, que na América provou tão bem para tirar o povo em massa da miséria, seria imitada por todo mundo, todo o mundo acabaria a desejar viver nesse regime, gerando-se um consenso sobre o regime político que poria fim a todos os conflitos que, tradicionalmente, tinham marcado a história da humanidade. Era o fim da História, uma espécie de orgia universal no salão da democracia-liberal.

Em lugar disso, porém, aquilo que os americanos deixaram para trás no Iraque foram os iraquianos aos tiros uns aos outros.

A democracia não é um regime político universal, e muito menos permanente.

Nenhuma catástrofe

No caminho em que Portugal se encontra – a que chamarei, por simplicidade, o caminho do Euro – a economia portuguesa está sujeita a uma lenta asfixia: cada ano será pior do que o anterior: mais desemprego, mais falências, mais austeridade. A Grécia está aí como exemplo vivo, para dizer aos portugueses, com um ano de antecedência, aquilo que lhes vai acontecer. Assim, por exemplo, daqui por um ano os funcionários públicos não estarão a lamentar, como agora, a perda dos subsídios de férias e de Natal. Estarão numa situação muito pior, como já estão os gregos: estarão a interrogar-se se o Estado terá dinheiro, no final de cada mês, para lhes pagar os salários.

A saída de Portugal do Euro, ou o desmembramento da zona Euro, tem sido por vezes descrita como uma grande catástrofe para Portugal. Mas não é. Catastrófico é o caminho actual – o caminho do Euro – porque é um caminho de empobrecimento progressivo e sem esperança. O Euro pode hoje ser considerado o mais colossal erro de política económica cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Não foi, porem, caso único.

No início dos anos 90, a Argentina decidiu ligar a sua moeda – o peso – ao dólar através de uma relação de paridade – uma política conhecida por peg e que, para todos os efeitos práticos, era equivalente à existência de uma moeda única entre os dois países. Não possuindo os níveis de produtividade americanos, aquilo que sucedeu à Argentina nos anos seguintes foi o mesmo que sucedeu a Portugal com referência aos países mais produtivos da zona Euro, como a Alemanha: um défice externo permanente, dinheiro que saía todos os anos do país para pagar esse défice, o recurso inicial ao crédito para o fazer, até que o crédito começou a escassear. Nessa altura o dinheiro começou a faltar no país, enquanto os argentinos apertavam o cinto e o desemprego aumentava, e até os bancos ameaçavam falência. As manifestações de rua sucederam-se e os governos foram contestados.

Até que, à beira do caos económico, social e político, a Argentina decidiu acabar com a política do peg. O peso caiu 30% face ao dólar, mas o emprego começou a subir imeditamente, primeiro nas indústrias exportadoras e nas de substituição de importações. Os rendimentos voltaram a aumentar, embora acompanhados de alguma inflação (cerca de 9%, em média, nos últimos cinco anos). Hoje, a economia argentina, que antes estava paralisada como a portuguesa, cresce a uma robusta taxa de 10% ao ano. Nenhuma catástrofe o abandono do peg. Antes, a salvação.
(Publicado no jornal A Ordem, Dezembro 2011)

a porca da política

Não pode haver maior ironia: apesar da sublimidade da arte, da física, da matemática e de todas as outras manifestações do génio humano, tudo depende da vulgar, frustrante e por vezes ordinária actividade chamada política (e da sua subespecialidade mais exigente – o “estadismo”). Porque se não acertarmos nas políticas correctas, tudo o resto corre o risco de extinção.

Estamos fartos da política. Mas temos de nos lembrar do seguinte: a política - com toda a sua grosseria, egoísmo, corrupção e tantas outras características desprezíveis – é rainha na sociedade. Tudo depende, em última instância, da política.


Charles Krauthammer

um telefone mal educado

A história desenrola-se num supermercado Tesco, no R.U.. Mãe e petiz de 12 anos experimentam o "assistente pessoal" Siri de um iPhone 4S:
- "How many people are there in the world?" - Pergunta o rapaz.
- "Shut the fuck up, you ugly twat" - responde o iPhone.

30 dezembro 2011

um grande número

2012: um grande número de portugueses vai migrar de Lisboa para a Província, tornando Portugal menos provinciano.

(Nota: o provincianismo português, no sentido genérico de apreço por tudo o que é estrangeiro (e grande), como Fernando Pessoa refere aqui, não se encontra na Província. Encontra-se nos provincianos que emigram para Lisboa - a única cidade do país, a par do Funchal, que é genuinamente cosmopolita. Desde a nossa adesão à UE em 1986, os dois primeiros-ministros que, na minha opinião, mais contribuiram para colocar Portugal no estado em que se encontra agora, um de cada partido PSD e PS, com a sua mania das grandezas e da modernização, vieram ambos da Província.)

democracia

2012: as palavras democracia e democrata ganharão um sentido crescentemente pejorativo.

a arte

2012: os portugueses vão recriar uma arte que é parte da sua tradição - a arte de viver sem dinheiro.

universidades

2012: iniciar-se-à um processo crucial para o relançamento económico do país - a redução do número de universidades. Anos mais tarde, quando o processo estiver completo, existirão talvez apenas quatro - Lisboa, Porto, Coimbra e a Católica.

equipamentos sociais

2012: Muitos equipamentos sociais (auto-estradas, centros culturais, hospitais, escolas, etc.) vão iniciar um processo de degradação que se prolongará por muitos anos.

não vai ser bom

Não vai ser bom ser político profissional em Portugal em 2012. A tradição portuguesa é radicalmente avessa à profissionalização da política.

economia informal

2012: o regresso à economia informal, uma trave mestra da tradição económica portuguesa.

2012

2012 vai ser o ano do regresso de Portugal à sua tradição, depois de trinta e tal anos de devaneios populares. Será um regresso forçado.

fazendo votos

De todas as instituições que Portugal importou do estrangeiro nos últimos anos, eu gostaria de eleger, neste final de ano de 2011, fazendo votos para que morra em 2012, a mais virulentamente anti-portuguesa de todas - a ASAE.

faliu

A principal conclusão de 2011 em Portugal, agora que o ano chega ao fim, é a de que o modelo social-democrata (que é de origem germânica) que se procurou instituir em Portugal nos últimos 25 anos, faliu.

a produção em massa é catastrófica para a saúde

No R.U., o governo reconheceu finalmente que a produção em massa de cuidados de saúde degrada a qualidade. O número de reinternamentos, por exemplo, aumentou 78% nos últimos 10 anos (31% nos últimos 5 anos).
Os responsáveis britânicos pretendem agora que o NHS se passe a focar nos resultados que os doentes procuram, em vez de se preocuparem apenas com o débito das linhas de montagem.
É um grande passo no sentido da adopção da produção por projectos na saúde, que eu fui dos primeiros autores a propor.

29 dezembro 2011

sendo estrangeiro

Dir-se-ia que, sendo estrangeiro o autor, a opinião é fiável. Mas não é. Portugal e a Grécia nunca quererão sair do Euro. Portugal e a Grécia vão sair do Euro. Mas não, querendo.

lei das rendas

Fisco vai ser o grande beneficiário da actualização das rendas antigas. Para já os senhorios vão ter de continuar a englobar as suas rendas no IRS. No futuro (?) poderão vir a pagar 25% ao Estado.
Com esta carga fiscal vai ser difícil libertar recursos para recuperar os edifícios degradados.

não lesisti

EDP - ELETLECIDADE DE POLTUGAL
A paltil de Janeilo pala sua maiol comodidade pague as fatulas da EDP num dos muitos milhales
de postos de coblança existentes no Pais .... A LOJA DO CHINÊS MAIS PLÓXIMA !!!!

2 notícias 2

O Presidente de Angola José Eduardo dos Santos reconheceu hoje em Luanda que a erradicação da fome, da pobreza, do analfabetismo e das injustiças sociais constituem "objectivos essenciais" que não foram ainda alcançados.

Angola tem de explicar ao FMI saída não justificada de 25 mil milhões de euros.

PS: José Eduardo dos Santos é um homem modesto, pelo menos não lhe ficava mal admitir que tinha acabado com a pobreza da sua própria família e da dos membros do governo.

28 dezembro 2011

o fenómeno político de 2011, em Portugal

... e um pouco por todo o mundo ocidental.

dívida monetarizada

O desconto a que foram vendidos os títulos pressupõe uma rendibilidade de 3,25% na maturidade (daqui a 179 dias), que compara com os cerca de 6,5% proporcionados por títulos semelhantes colocados num leilão efectuado a 25 de Novembro.
Foi submetido um total de ofertas no valor de 15.216 milhões de euros, o que representa um rácio de cobertura de 1,69 face aos nove mil milhões que foram colocados.
Itália e Espanha têm nas últimas semanas sentido um alívio nos custos de financiamento, uma tendência suportada pelas medidas de injecção de liquidez anunciadas pelo BCE, entre as quais uma injecção de liquidez a três anos que atraiu forte procura.


PS: O problema com esta "solução" é que estrangula o acesso ao crédito por parte do sector privado (PME's sem capacidade para contrair crédito na banca internacional) , o tal "crowding out".

crime de bata branca

estilo Sócrates

Bairro de lata na Colômbia facilita a vida com escadas rolantes. Agora já só falta distribuir os Magalhães.

27 dezembro 2011

but the sun is still in the sky and shining above you

soul-crushing

"(...) Bruce Charlton, professor of Theoretical Medicine at the University of Buckingham in England, wrote that 'that landing of men on the moon and bringing them back alive was the supreme achievement of human capability, the most difficult problem ever solved by humans' (...) So what happened? According to Professor Charlton, in the 1970's 'the human spirit began to be overwhelmed by bureaucracy'. The old can-do spirit? Oh, you can try to do it, but they'll toss every obstacle in your path. Go on, give it a go: invent a new medical device, start a company, go to the airport to fly to DC and file a patent. Everything's longer, slower, more soul-crushing. And the decline in 'human capability' will only worsen in the years ahead, thanks not just to bureaucracy but insufficient cash", Mark Steyn, "After America" (páginas 30 e 31).

anti-business

Um título indigno de um jornal de negócios:

Empresas dos Estados Unidos aproveitam oportunidades com as desgraças da Europa.

O título adequado seria: Crise cria oportunidades para investidores dos Estados Unidos.

O Jornal de Negócios, contudo, preferiu destacar que há empresas norte-americanas a aproveitarem-se das desgraças alheias. Um comportamento condenável, à luz da nossa cultura e que, na minha opinião, não corresponde à realidade. A realidade é que as desgraças da Europa desvalorizaram os activos que agora estão a ser vendidos com um risco adicional porque nada garante que a crise tenha batido no fundo.

Utilizando a lógica do Jornal de Negócios, poderíamos também afirmar, por exemplo: "Chineses aproveitam desgraça de Portugal para entrar no capital da EDP". Seria um título ridículo.

26 dezembro 2011

São estrangeiros, Joaquim!

Joaquim,

Também reparei na entrevista que menciona em baixo. Tinha acabado de ler uma outra notícia, um feito extraordinário, também de um belga, mas desta vez no Porto. O homem, de cronómetro na mão ao frio português de Janeiro, conseguiu reduzir em não sei quantos segundos o tempo de espera dos peões na Rua de Santa Catarina.

Mas tudo me pareceu imediatamente óbvio, e até achei graça. São estrangeiros, Joaquim! Se fossem portugueses não tinha graça nenhuma nem vinha no jornal. Mas, estrangeiro é outra loiça.

Aproveito para lhe recomendar um livro que o nosso Ccz teve a amabilidade de me sugerir numa caixa de comentários dum post em baixo. Vá lá e veja. O autor é estrangeiro (e judeu). Estrangeiro, Joaquim, é garantia certa de qualidade (sendo judeu, é a dobrar). Outro economista é mencionado, mas não ligue a esse. É português, o pior que se pode encontrar por aí nos dias que correm, e está encalhado.

Ao dois, ofereço o nosso Fernando Pessoa, com votos de Bom Ano, um abraço para ambos e muitos vivas ao estrangeiro.


manipulação da opinião pública II

O politólogo e professor universitário belga esteve recentemente em Lisboa para ajudar a lançar a Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública.

O fulano que o Público apresenta como "politólogo e professor universitário" é, na realidade, um destacado membro da Internacional Trotskista, que se deslocou a Portugal no âmbito de uma agenda política. Este facto, que o Público omite, é fundamental para compreender as opiniões expressas. Enfim!

a rectaguarda

Portugal está agora a iniciar um processo, que se acentuará nos próximos anos, e que o levará de volta a viver de acordo com as suas tradições. Trata-se, não de um processo deliberado, porque os portugueses nunca mudaram por força de argumento intelectual, mas por força das circunstâncias. O destino final deste processo é a tradição, e é uma questão de sobrevivência, porque só na tradição os portugueses conseguirão ser competitivos e sobreviver. O processo afectará a economia, mas também as instituições, como a justiça, a política, a educação, a saúde, etc.

Tratarei aqui da economia, começando por identificar alguns traços da tradição económica portuguesa.

É uma economia de proximidade - esta é a sua principal característica. Trata-se, predominantemente, de produzir para pessoas que se conhecem. É uma tradição de economia face-a-face em que o produtor e o consumidor geralmente se conhecem entre si. O mercado que os portugueses reconhecem e onde funcionam bem é o mercado local - como os célebres mercados do Bolhão no Porto ou da Ribeira, em Lisboa -, não o mercado nacional e menos ainda o mercado global, ideias demasiadamente abstractas para a sua cultura.

Esta característica pressupõe uma outra. Trata-se de uma economia de pequena comunidade. Vamos assistir em breve (na realidade, já está a acontecer) a uma forte corrente de emigração das grandes cidades - onde se gera o desemprego - para as pequenas cidades, vilas e aldeias do interior e do centro litoral - a rectaguarda, onde um grande número de portugueses mantém a sua casa (até aqui fechada) e uns terrenos, para além de uma teia de relações pessoais. A economia de Lisboa será, de longe, a principal vítima deste movimento. Portugal vai voltar a regionalizar-se, não por decisão política, mas por força das circunstâncias.

E quais os produtos que tradicionalmente os portugueses fazem bem? Tudo aquilo que diga respeito à gratificação do corpo. Em primeiro lugar, alimentos, significando um retorno crescente à agricultura, pesca e pecuária , mas também toda a gama de serviços ligados aos cuidados do corpo - serviços de cabeleireiro, desportivos, de enfermagem, de cuidado de velhos, etc.

Quanto às indústrias, aquelas em que os portugueses são bons, porque têm tradição nelas, são ainda aquelas que, directa ou indirectamente, estão ligadas à gratificação do corpo. Bebidas, vinho em primeiro lugar, indústrias de conservação e transformação de alimentos (conservas, secagem de bacalhau, etc.), roupas, calçado, joalharia, as indústrias ligadas ao espaço doméstico (mobiliário, vidros, sanitários, torneiras, etc.).

Nos serviços, manter-se-ão os serviços públicos, agora mais descentralizados pela necessidade de servir um maior número de populações locais, mas a nível global a provisão de serviços públicos diminuirá fortemente. O mesmo acontecerá com toda a outra espécie de serviços, como os financeiros.

Dentro de poucos anos a economia portuguesa será, sobretudo, uma economia de pequenas comunidades e de pequenas empresas (geralmente familiares) servindo mercados locais. O comércio tradicional voltará a florescer, especialmente fora das grandes cidades. Nas grandes cidades serão vítimas deste processo: os grandes centros comerciais e, em geral, as grandes superfícies de distribuição, bem como as lojas de marca, vendendo produtos geralmente importados.

As grandes empresas que subsistirão no país , incluindo bancos, serão sobretudo estatais e serão poucas as grandes empresas privadas a sobreviver a este processo, excepto se receberem ajuda estatal. Haverá certamente, no meio deste panorama geral, pequenas empresas inovadoras fora dos sectores tradicionais (v.g., em áreas tecnológicas de ponta), mas permanecerão como excepções e nunca constituirão massa. A principal fonte de inovação no país ocorrerá nos sectores tradicionais (a indústria vinícola é um excelente exemplo neste aspecto) e é daí que Portugal pode esperar restaurar a sua competitividade.

Tenho descrito este cenário a quem me pergunta o que vai ser o futuro. Quando termino, os meus interlocutores olham-me com horror: "Mas isso é regressar aos anos 60 ou 70!", exclamam. Em parte sim, em parte não. A parte não é que a revolução das telecomunicações, as auto-estradas e outros equipamentos sociais que não existiam na altura, uma parte do Estado Social também, estão aí para ficar. A parte sim é que esta é a nossa tradição e, com ela, nos anos 60 e 70 crescíamos a 6 e 7% ao ano (em 1973 atingimos mesmo 11%), na realidade éramos um verdadeiro milagre económico (segundo o Financial Times).

25 dezembro 2011

um rotundo falhanço

O défice das contas externas – basicamente, a diferença entre Importações e
Exportações – constitui o maior problema da economia portuguesa, e a origem de muitos outros (escassez de crédito, falências, desemprego). Os portugueses falharam de forma concludente, em termos de competitividade internacional, nesta época de globalização.

E, no entanto, foram os portugueses nos séculos XV e XVI, juntamente com os espanhóis, os pioneiros da globalização - entendida como a extensão do comércio à escala intercontinental -, e Portugal conheceu então o período mais próspero da sua história.

O que mudou no processo de globalização desde então, que diferenças existem entre a globalização dos séculos XV e XVI e a globalização actual, o que explica o enorme sucesso português no primeiro caso e o seu rotundo falhanço no segundo?

A globalização portuguesa dos séculos XV e XVI foi uma globalização relevando tipicamente da cultura católica, ao passo que a globalização actual provém da cultura protestante.

A globalização portuguesa (e espanhola) dos alvores da modernidade era uma globalização assente em relações pessoais. Os portugueses foram por esse mundo fora estabelecendo relações pessoais, e as relações comerciais eram depois assentes sobre as relações pessoais. Produzia-se para, ou comerciava-se com, o mandarim chinês ou o soba africano.

Pelo contrário, a globalização actual está assente em ideias, não em pessoas, e em particular nas ideias do economista britânico do século XIX David Ricardo, segundo as quais a liberdade comercial entre nações e continentes é benéfica para a generalidade das populações. A globalização actual realiza-se pelo esbatimento das barreiras alfandegárias e pela e remoção de todos os outros impedimentos à liberdade de circulação de recursos (v.g., trabalho, capital) entre nações e continentes. Cada um passa a ser livre de produzir para uma massa anónima de pessoas situada noutro país ou continente.

Esta globalização assente na ideia abstracta da vantagem comparativa (David Ricardo), e distintamente impessoal, briga directamente com duas características principais da cultura católica – primeiro, o seu ênfase no concreto em detrimento do abstracto; segundo, e mais importante, o seu carácter altamente pessoalizado.

Dizer a um português que agora pode produzir livremente para a Alemanha ou para a China, leva-o imediatamente a perguntar: “Mas produzo para quem?”. E sem que esta pergunta esteja respondida, ele não faz nada e a globalização não lhe diz nada.

(Publicado no jornal A Ordem, Outubro de 2011, sob o título A Globalização)

o gosto

"Pesam sobre nós defeitos tradicionais ... No fundo, dominando o quadro, o gosto doentio do que é estrangeiro, a ignorância ou o desprezo das coisas portuguesas"
(Salazar)

iguais às que vemos fazer

"Desde o começo do século XIX até ao presente, fizemos em Portugal numerosas experiências políticas semelhantes, senão iguais, às que vemos fazer noutros países. Tivemos a monarquia não partidária, as guerras civis, os pronunciamentos, o caudilhismo dos marechais, o rotativismo de dois partidos, a fragmentação partidária, a República sem partidos de 1910, de novo a divisão após a Constituição de 1911, as tentativas de aglutinação, o presidencialismo de Sidónio Pais, enfim o 28 de Maio".
(Salazar, 1 de Julho de 1958, in O Diário de Salazar, op. cit. p. 205)

liquidação nacional



"O movimento de integração europeia que muitos na Europa defendem e, fora dela, outros parecem acalentar, ainda se envolve de alguma obscuridade. Esse vago pensamento começa a revestir, aqui e além, formas jurídicas conhecidas, como a de federação ou confederação.
Não consegui ainda descortinar os motivos que impelem alguns a aceitar, senão a bendizer, esta sorte de liquidação nacional."
(Salazar, 19 de Janeiro de 1956, in António Trabulo (ed.), O Diário de Salazar, Lisboa: Parceria A.M. Pereira, 9a. Edição, 2007, pp.193-4)

manipulação da opinião pública

O discurso do Cardeal Patriarca:

Em jeito de apelo, o patriarca acrescentou: “Um dos frutos do presente sofrimento colectivo pode ser levar a sociedade a abrir-se a uma nova etapa da civilização.” Essa etapa deve caracterizar-se por dar “maior prioridade à pessoa, uma ordem económica que acentue o bem comum, vença os individualismos, as desigualdades chocantes, todas as formas de materialismo; que aprenda a dar prioridade aos valores do espírito e não apenas ao dinheiro”.

O título do Público:

Patriarca pede uma ordem económica que vença desigualdades.

livro recomendado

24 dezembro 2011

um político

O mais recente livro de Mário Soares, "Um Político Assume-se", está na minha mesa de estar à espera de ser lido...mas só por esta crítica do José António Barreiros acho que o vou passar para a "pole-position"...

à margem do mainstream

"The only way to bring about any of these changes is for the people to speak, and to speak clearly. Protests do a world of good (...) The most encouraging part is that truth is on the side of liberty. Prosperity and social well being are never a consequence of government's running the economy or regulating personal behaviour. Our goals can only be achieved with a society that respects and equally protects the rights of every human being, old and young, rich and poor, regardless of gender, color, race or creed. We must reject the initation of violence by individuals or governments are morally outrageous.", Ron Paul (em "End the FED").

Há algum tempo que sigo Ron Paul e considero-o, a larga distância de todos os outros, o mais cativante, o mais interessante, o mais desafiante personagem político da América. E a verdade é que, depois de uma carreira política que já leva quase 40 anos, Ron Paul, finalmente, começa a merecer a credibilidade que o pensamento "mainstream" lhe tentou negar décadas a fio. De lunático passou agora para os lugares cimeiros das sondagens relativas às primárias que o Partido Republicano, em breve, organizará, a fim de escolher o seu candidato às Presidenciais norte-americanas de 2012.

Paul, médico ginecologista de formação, começou a sua carreira política ligado às correntes libertárias. Hoje, por questões tácticas de elegibilidade, está encostado ao Partido Republicano, mas, apesar de tudo, diferenciando-se marcadamente do pensamento "mainstream" daquele partido, sendo que não é de excluir a sua candidatura independente caso perca as primárias. Em Ron Paul, há duas linhas de pensamento que o caracterizam: a) uma oposição férrea ao intervencionismo estatal, em defesa das liberdades individuais e b) uma oposição ainda mais férrea ao sistema de papel moeda, corporizado nos bancos centrais, e ao sistema bancário de reservas fraccionadas.

Ora, em 2008 e 2009, eu escrevi abundantemente acerca da origem da crise bancária que depois resultou na crise soberana. Por diversas ocasiões, defendi que o início da crise esteve na abolição do sistema de Bretton Woods em 1971, tal como Ron Paul defende. É uma tese que mantenho, de forma cada vez mais convicta, embora hoje, ao contrário de então, não vislumbre qualquer hipótese (a oportunidade perdeu-se) de se poder regressar a um sistema padrão-ouro ou afim. A fuga para a frente é aquilo que sucederá porquanto a desalavancagem, associada a um regime monetário assente numa base tangível, seria de tal ordem acentuada (tal como foi acentuada a euforia dos últimos 40 anos...) que nem a população o suportaria nem os interesses partidários o permitiriam. É que não o esqueçamos: sem a capacidade de imprimir dinheiro e conceder crédito "out of thin air", como Paul gosta de frisar, os políticos perderiam boa parte do seu indevido poder e as populações boa parte das suas desmesuradas ilusões.

É neste enquadramento que Ron Paul aparece como alguém que representa algo verdadeiramente diferente. Sobretudo à medida que cresce a animosidade contra o poder do Estado, contra os interesses público-privados e também contra a incapacidade de auto-regulação da política. Pelo contrário, em face de tudo aquilo, cresce o apoio à alternativa, às ideias, até aqui tidas como radicais e utópicas de alguns como Ron Paul. No mundo ocidental, as pessoas estão a deixar de acreditar no paradigma actual da política, mas não deixaram, nem (acredito eu) vão deixar, de acreditar na liberdade. É por isso que na América um crescente número de pessoas, nas quais eu me incluiria se fosse norte-americano, estão dispostas a dar a oportunidade a uma alternativa que seja verdadeiramente uma alternativa ao enquadramento que nos trouxe até aqui.

Ora, dito isto, devo também dizer que, no presente, não acredito na viabilidade de se regressar ao padrão ouro; à austeridade orçamental que actualmente é necessária, para regressar a uma trajectória saudável e sustentável, será necessário juntar-lhe alguma indisciplina monetária antes de, também, esta poder ser invertida. Mas acredito e muito na necessidade de devolver às pessoas a primazia que o Estado, mesmo que democraticamente, ganhou sobre o Indivíduo. Acredito na obrigatoriedade de rever (e reduzir drasticamente) o papel e a presença do Estado na nossa sociedade, remetendo-o essencialmente, na tradição libertária, para o domínio da Justiça enquanto zelador do cumprimento de contratos livremente estabelecidos. Considero crucial a eliminação da cobertura e relação institucional que o Estado concede ao "Big Business", eliminando o "too big to fail". E, por fim, penso ser indispensável que a política se torne executante da vontade popular e descentralizada dos eleitores, para a qual toda a transparência democrática e toda a relação directa entre eleitor e eleito serão necessárias. Contudo, e é aqui que reside o grande "appeal" de Ron Paul, só alguém fora do "mainstream" partidário, cá como lá, é que será capaz de assegurar tais desígnios.

um simulacro

"(...) Desde o início da Autonomia Política constitucional a Região Autónoma da Madeira já pagou um total de à volta de 9,2 mil milhões em despesas com a Educação e a Saúde (5,5 mil milhões na Educação e 3,7 mil milhões na Saúde), investimentos incluídos e não contando com o ainda em dívida nestes sectores. Isto significa que só o que a Região Autónoma da Madeira pagou destas despesas que pela Constituição e pela lei cabem ao Estado, representa mais de 3 mil milhões de euros acima da dívida que lhe é atribuída (...) Ora, é esta questão que a República terá de encarar com seriedade na revisão da lei de finanças regionais para breve, imposta pela troika, sem fazer como a avestruz, e sem cair no extremo de um litígio judicial entre o Estado e a Região Autónoma.", Alberto João Jardim, hoje no Jornal da Madeira (páginas 6 e 7).

Enfim, sempre que estou na Madeira, a leitura da propaganda jardinista, o "Jornal da Madeira", que apesar do preço de capa de 10 cêntimos é distribuído maciçamente pela ilha de forma gratuita, é um "must". É sempre uma leitura divertida e que me leva a questionar se estamos mesmo no século XXI ou se ainda estamos no tempo da guerra fria e das teorias da conspiração...

Hoje, véspera de Natal, Alberto João Jardim quebra finalmente o silêncio e num artigo de página e meia "explica" que, afinal, quem deve é o Estado português à Madeira e não a Madeira ao Estado português. Notável! A lógica é simples: é à Administração Central que cabe o financiamento do Saúde e da Educação no arquipélago, não obstante, como o próprio Jardim escreve, a Região Autónoma ter o direito de ficar com os impostos cobrados na ilha. Ou seja, dentro desta lógica, a Região Autónoma tem direitos mas não tem deveres. Quanto aos impostos retidos, imagino que sejam para, entre outras coisas, financiar o Jornal da Madeira e a promiscuidade público partidária que a não adopção de uma Lei de Incompatibilidades (adoptada em todo o território nacional excepto na Madeira) tem permitido ao longo dos anos.

Ora, ainda esta semana, foi amplamente difundido que Portugal já não qualifica como uma democracia sem falhas. Pois não, mas isso já não é de agora. O exemplo da Madeira, por oposição ao que ainda recentemente aconteceu nos Estados Unidos com a condenação de um senador e antigo governador do Illinois, é a prova provada de que a democracia nacional é plena de falhas. É que não esqueçamos o essencial: foi o Governo Regional que ocultou despesas e compromissos que por lei estava obrigado a comunicar a quem de direito, numa situação irregular que prosseguiu sem grandes consequências.

Quanto à extravagante interpretação que Jardim tem dos direitos e deveres da Autonomia Política, na qual alegadamente se apoia num parecer de Gomes Canotilho e de Vital Moreira, representa uma nuvem de fumo destinada a lançar um imbróglio jurídico e, assim, se perder o fio à meada. É lamentável. Mas isto acontece porque neste sistema não há ainda os "checks and balances" sem os quais, considerando-se a nulidade política que resulta da acção da Presidência da República, a acção dos políticos, por omissão ou por comissão, se sobrepõe aos processos democráticos. E este é o drama actual: ninguém tem mão nos representantes eleitos. A verdadeira Democracia, deste modo, não existe. Temos, sim, um simulacro democrático.

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Mais companhias chinesas irão investir em Portugal.

Portugal tem uma "democracia com falhas".

23 dezembro 2011

Inovar na tradição

A cultura portuguesa (católica) é uma cultura que se move entre extremos muito amplos. Admite tudo e o seu contrário, e normalmente os extremos tocam-se. Ao lado da tradição, que é uma coisa boa - podermos beneficiar da experiência daqueles que nos antecederam - existe o tradicionalismo, que é uma coisa má - ficarmos agarrados às formas de viver daqueles que nos antecederam.

Uma fina fronteira separa as duas ideias. A tradição é a voz viva dos mortos, o tradicionalismo é a voz morta dos vivos. A tradição permite inovar, e inovar de forma segura, porque está assente na experiência das gerações que nos precederam; o tradicionalismo é o apego irracional ao passado e às formas de viver do passado. A tradição é o cimento em que assenta o progresso sólido, enquanto o tradicionalismo é o atraso garantido.

Nos posts anteriores, eu fui defendendo que para sairmos da situação em que nos encontramos, é um erro andar aí por esse mundo fora a procurar soluções para os nossos problemas, e depois aplicá-las no país, sobretudo se elas vão contra as nossas tradições. Aquilo que temos de fazer é voltar às nossas tradições, e depois procurar inovar dentro delas.

É esta ideia - a de inovar dentro da tradição - a ideia a que eu pretendia chegar, porque frequentemente se pensa que é impossível inovar dentro da tradição. Confunde-se tradição com tradicionalismo. Aquilo que nós temos andado a fazer ao longo dos últimos anos - no Estado Social, nas leis, na saúde, na educação, na economia, etc - é inovar por imitação daquilo que se passa lá fora, porque consideramos que os países do norte da Europa é que são modernos e nós também queremos ser modernos como eles. Mas, como procurei mostrar no post anterior, cada vez que queremos ser modernos por esta via, atrasamo-nos.

Então, mas o que é isso - se, na realidade, isso é possível - de inovar dentro da tradição? Darei um exemplo com o sector da educação primária e secundária. Em primeiro lugar, de que é constituída a nossa tradição nesta área? É constituída, pelo menos, por duas instituições-chave. Primeira, e a mais importante, a autoridade suprema e absoluta do professor dentro da sala de aula. Segunda, o livro-único (o qual supõe, como é também nossa tradição, o controlo centralizado do ensino).

É possível inovar com o livro único? Claro que é. O livro único pode ser actualizado todos os anos com as mais recentes descobertas no seu domínio do saber, e com as mais modernas técnicas e métodos pedagógicos. E pode o professor, possuindo autoridade suprema e absoluta na sala de aula, inovar nos seus métodos de ensino? Então não pode? Tem a liberdade suprema e absoluta para o fazer. No regime actual, copiado dos países protestantes, onde se retira a autoridade absoluta e suprema ao professor, e se põem os alunos e os pais dos alunos ao nível do professor, é que ele não tem liberdade nenhuma. Só ensina aquilo, e da maneira, que uns e outros consentem. Caso contrário, recebe um rol de reclamações, corre o risco de perder o emprego e, pior que tudo, ainda por cima levar uma tareia.

A Tradição

Uma das diferenças principais entre aquilo que tenho designado por cultura católica e por cultura protestante respeita à tradição. Escandalizados por muitas tradições abusivas da Igreja Católica do seu tempo, os reformadores protestantes do século XVI rejeitaram a Tradição e afirmaram o princípio "Só as Escrituras" (Sola Scriptura) como a única fonte verdadeira da Palavra de Deus. Em reacção, logo no Concílio de Trento, a Igreja afirmou que a Verdade sobre a palavra de Deus está nas Escrituras tal como interpretadas pela Tradição. A Tradição referia-se aqui não apenas à fidelidade que cada Papa jurava manter em relação à interpretação das Escrituras dada pelos seus antecessores, mas também às tradições orais que existiam mesmo antes de a Bíblia, e em especial o Novo Testamento, terem sido coligidos e à luz das quais foram interpretados.

Para os protestantes, a Palavra de Deus está somente nas Escrituras. Para os católicos, a Palavra de Deus está nas Escrituras e na Tradição. Os protestantes rejeitaram a Tradição. Ao fazê-lo, rejeitaram o passado. Em termos laicos, a maior consequência que resultou daqui é que os povos que seguiram a via protestante não dão qualquer importância ao passado, ao passo que os povos que seguiram a via católica atribuem uma importância considerável ao passado.

Nesta disputa, Portugal ficou do lado católico. O respeito pela tradição, pelo passado, é um elemento crucial da sua cultura, e nunca nada triunfou duradouramente em Portugal que fosse contra a tradição, apesar das várias tentativas que se fizeram a este respeito, sendo a governação do Marquês de Pombal talvez a primeira de grande envergadura.

Em termos filosóficos, é esta atitude de rejeição do passado que marca o início, e é a pedra de toque, da filosofia moderna. Descartes, o primeiro filósofo moderno, começa por declarar que passa a rejeitar tudo aquilo que veio do passado, e que só acreditará naquilo que puder ser demonstrado pela razão. É curioso que mesmo este traço essencial da cultura protestante - a rejeição do passado - tenha sido formulado por um homem que era católico. Naturalmente, a Igreja não viu com bons olhos a filosofia de Descartes.

O apego ao passado levou os países protestantes a olharem para os países católicos como países atrasados. Assim, por exemplo, o presbisteriano Adam Smith, fundador da Economia, no seu livro "A Riqueza das Nações" (1776), quando se refere a Portugal e a Espanha do seu tempo é para os apresentar como exemplos de países atrasados. A geração de 70 em Portugal não fez outra coisa senão chamar atrasados a Portugal e aos portugueses, e o Vasco Pulido Valente nas suas crónicas semanais no Público não costuma fazer outra coisa.

A verdade é um pouco diferente porque tem nuances. Sempre que Portugal abandonou as suas tradições para tentar imitar os países modernos (protestantes), isto é, aqueles que valorizam o que é novo em detrimento do que é antigo, atrasou-se. Pelo contrário, sempre que viveu de acordo com as suas tradições, avançou. Assim, na Primeira República houve essa tentativa e o país afundou-se. No período do Estado Novo, respeitador das tradições portuguesas, o país teve um progresso extraordinário, crescendo a um ritmo superior a qualquer país da Europa Ocidental. A experiência democrática (moderna) está a afundá-lo outra vez. A tal ponto, que em 1975, o primeiro ano que a ONU coligiu o Indice de Desenvolvimento Humano, e coincidente com o fim do Estado Novo, Portugal era o 24º país mais desenvolvido do mundo, longe, portanto, de poder ser considerado um país atrasado. Hoje é 41º (entre 200), certamente um bocado mais atrasado, mas, ainda assim, não atrasado de todo.

No fundo, como homem formado nos ditames da modernidade, eu gostava que isto fosse tudo ao contrário. Mas não é. É assim.

Tu és Pedro...

Eu escrevo regularmente para um jornal católico. Há meses, um leitor escreveu uma carta ao director a queixar-se de mim. A carta estava bem articulada. O leitor começava por afirmar que era um assinante de longa data do jornal, o mesmo sucedendo com quatro ou cinco dos seus familiares. Mas que, tendo começado por apreciar as minhas contribuições, ultimamente estavam muito desencantados com elas. E a razão era que eu afirmava recorrentemente que os países de tradição católica, como Portugal, não tinham tradição democrática. O leitor sugeria mesmo que o director mostrasse os meus artigos a um sacerdote, para se saber se aquilo que eu dizia era verdade.

O director do jornal pediu-me então que escrevesse um próximo artigo a explicar o meu pensamento. Escrevi o seguinte:

Um verdadeiro democrata
Por: Pedro Arroja

Na sua obra filosófica e teológica, o teólogo Joseph Ratzinger, actual Papa Bento XVI, tem utilizado frequentemente o episódio de Pilatos para ilustrar o principal vício da Democracia moderna. Pilatos estava convencido da inocência de Cristo. Porém, comportou-se como um verdadeiro democrata quando entregou a decisão sobre a vida de Cristo à multidão para que esta decidisse democraticamente o destino a dar-lhe.

O ponto que o teólogo Ratzinger pretende salientar é que a democracia não é nem um critério de verdade nem um critério de justiça. É apenas uma maneira de tomar decisões, e que essas decisões não são necessariamente boas somente porque são democráticas. Não. Essas decisões são boas se, e somente se, se conformarem com a Lei de Deus. Tomada como um bem absoluto, a Democracia conduz ao relativismo moral e cultural, na opinião do Papa um dos maiores males das sociedades democráticas modernas. Assim, por exemplo, não é por uma sociedade decidir democraticamente legalizar o aborto que o aborto se torna um acto moral.

Serão o Papa Bento XVI, e a Igreja Católica em geral, adversários da Democracia? Não, claro que não. O próprio Papa é eleito democraticamente. Aquilo que o Papa e a Igreja são contra é uma Democracia que não conhece limites, uma Democracia ilimitada, uma Democracia tornada critério da Verdade e da Justiça, e uma democracia de massa que é desumanizante. Naquela que é talvez a primeira Encíclica onde a Igreja reconhece plenamente as virtualidades positivas da Democracia, o Papa Pio XII escreveu: “Pelo que fica dito, aparece clara outra conclusão: a massa – como nós acabámos de defini-la – é a inimiga capital da verdadeira democracia e do seu ideal de liberdade e igualdade” (Encíclica Benignitas et Humanitas, 1944).

Desde há muitos séculos que a Igreja pratica a Democracia na eleição do Papa, muito antes do advento da Democracia moderna, de massas ou de sufrágio universal. Mas a Democracia que a Igreja pratica é uma democracia limitada. É uma Democracia entre pares - a elite da Igreja -, em que cerca de 120 cardeais são chamados a eleger o Papa, e não uma democracia de massas em que um eleitor de 18 anos é posto no mesmo plano de um outro de 60 anos, que tem idade e experiência de vida para ser seu pai ou mesmo avô. A Igreja não chama a eleger o Papa nem sequer a generalidade dos bispos, menos ainda os presbíteros, para não falar nos fiéis.

E uma vez eleito o Papa, o exercício democrático termina, passando a Igreja a ser governada pela autoridade suprema e absoluta do Papa, que não tem de prestar contas a ninguém, nem sequer a quem o elegeu, mas apenas a Deus. Parece ter sido essa, na realidade, a vontade de Deus, que a Igreja seja governada por um Homem, e não pelo povo ou pelos representantes do povo, como é próprio da Democracia moderna.

A palavra Igreja (do grego Ekklesia) significa comunidade. Cristo poderia ter entregue o governo da sua Comunidade (Igreja), ao povo, para que este a governasse democraticamente. Mas não o fez. Entregou o governo da sua Comunidade (Igreja) a uma elite de doze homens, designados por Ele, e até começou por designar o primeiro dentre eles: “Tu és Pedro…”.

Não estava, não está ...

É claro que eu devia ter dado ouvidos àqueles que, há cinquenta anos, era eu criança, diziam de forma recorrente, em público, quando se falava de democracia: "Os portugueses não estão preparados para a democracia". Onde quer que eles estejam agora, eu imagino-os a dizer: "Nós não te dizíamos?...".

Por vezes, a história tende a repetir-se. Eu tenho mantido uma discussão com o Ricardo acerca da democracia. Ele está desiludido com a democracia representativa (aqui), mas acredita que a democracia directa em Portugal pode funcionar. Tem, pelo menos, essa esperança. Eu não tenho. Nem de longe.

O meu argumento corre assim: Mas se o povo não é capaz sequer de escolher, de quatro em quatro anos, bons políticos que o representem (como tu próprio admites), como seria ele capaz de decidir sobre os milhares de questões políticas que a democracia directa o chamaria a decidir? Além disso, a democracia directa não prescinde dos políticos, simplesmente porque não é viável chamar o povo a decidir sobre todas as questões de interesse para a comunidade.

E acrescento sempre a mesma explicação. O povo português, na sua cultura, tem imensas qualidades, a maior das quais é ser imensamente generoso, não deixar cair ninguém nem que ninguém fique para trás. Mas também tem os seus defeitos, e esses defeitos são fatais para a democracia. Os principais são os de ser intelectualmente bronco, interesseiro e sem nenhum espírito público. Não é apenas, como se dizia na minha juventude, que o povo não estava preparado para a democracia. Não estava, não está e, receio bem prever, nunca estará.

numa altura

Numa altura em que a globalização está prestes a falir, que os países vão regressar ao nacionalismo económico, que em Portugal vão ter de se adoptar políticas económicas nacionalistas, como as de controlo dos preços dos bens essenciais, como a electricidade, para proteger a população em crise, nesta altura, o povo vende a companhia de electricidade aos chineses.

a voz

A tradição é a voz viva dos mortos. Uma comunidade que respeita a tradição é a mais democrática de todas porque nela até os mortos têm voz: "Façam assim, não façam assado. Mas, então, até para tratar de pessoas, vocês andam por aí de nariz no ar a imitar tudo o que se passa pelo mundo? Até os Vikings? Isso vai sair-vos muito caro e vai resultar numa caldeirada. Nós não vos ensinámos a tratar de pessoas? De que é que estão à espera? Que cambada que vocês nos sairam..."

instant money

Chineses vão instalar bancos em Portugal.

Fantástico! Com umas centenas de milhões de Euros, os chineses vão ser capazes de alavancar investimentos de biliões e se a coisa correr mal, cá vão estar os contribuintes para aparar a jogada.

a frase do ano

Privatização da EDP não podia estar dependente de questões culturais.
Miguel Relvas

22 dezembro 2011

sra.

Eu tenho agora como certo que o povo português não sabe (nem nunca soube, olhando para a história da democracia em Portugal) governar o país. A ruína em que o país se encontra é apenas a confirmação desta verdade (que, infelizmente, só se tornou evidente para mim depois de assistir ao que está a acontecer). Eu tenho vivido nos últimos meses com a vergonha intelectual, perante mim mesmo, de ter sido necessário que a evidência me entrasse pelos olhos dentro para concluir aquilo que devia ter concluido meramente olhando a história de Portugal desde 1820. Que, sempre que o povo governou Portugal, arruinou o país.

Quanto a isto, já nada posso fazer, senão penitenciar-me. Por isso, o meu interesse passou a ser tentar descortinar as razões - ou factores - que tornam o povo radicalmente incompetente para governar o país. Ultimamente, tenho concentrado a minha atenção num tópico muito particular: a forma como o povo português trata Portugal e aquilo que é português relativamente à forma como trata o estrangeiro e aquilo que é estrangeiro. Reporto a seguir duas instâncias das minhas observações.

Há três ou quatro semana, assisti ao programa Prós-e-Contras, da RTP. O tema era a Sáude. Estavam presentes, o actual ministro da Saúde, Paulo Macedo, o ex-ministro Correia de Campos, o Prof. Daniel Serrão e uma gestora do grupo BES para a área da Saúde. Discutiram-se os problemas presentes e passados da Saúde em Portugal, e as soluções adoptadas para eles, ou que eram propostas. O grupo era de respeito, e a minha atenção concentrou-se em como é que eles justificavam as soluções que tinham adoptado, ou que propunham, para os problemas da Saúde em Portugal.

Invariavelmente, a justificação para cada solução era uma experiência estrangeira. Foram, para este efeito, invocados como exemplos, os sistemas de Saúde nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha, em França e por aí fora, até na Dinamarca. Fiquei pasmado, tanto mais quanto é certo que, se há área onde os portugueses têm uma excelente tradição, é a área da saúde (outra é a educação primária e secundária).

No Domingo passado, o Vasco Pulido Valente publicou um artigo no Público onde argumentava que Pedro Passos Coelho (sic) estava a lançar a confusão no país. A seguir referiu-se a António José Seguro (sic) com um adjectivo extremamente depreciativo, que ampliou a todos os que fazem parte da direcção do PS. A terceira pessoa que mencionou no artigo pelo nome foi a sra. Merkel (sic).

Pedro Passos Coelho, António José Seguro e sra. Merkel. Ser estrangeiro é outra coisa. Dá direito a ser tratado respeitosamente.

Que tristeza. O povo não tem confiança intelectual em si próprio nem convicções, e também não se respeita a si próprio. Que governação se pode esperar daqui? Imita aqui, imita acolá e no fim acabam todos a chamar-se nomes uns aos outros.

Vai correr mal

Vai correr mal esta entrada dos chineses na EDP. Vai correr mesmo muito mal. Para eles, chineses. Eles não sabem onde se estão a meter. Dentro de poucos anos, estão a vender a posição e a irem embora com elevados prejuízos. Nunca mais se meterão noutra.


E por que é que vai correr mal? Porque vai contra a nossa tradição. Não está na nossa tradição deixar a produção de um bem que é essencial a todos os portugueses nas mãos de estrangeiros. Os portugueses apreciam tudo o que é estrangeiro, e gabam o que é estrangeiro, ao mesmo tempo que denigrem o que é português, mas é só palavras. Na prática, é tudo ao contrário, são extremamente nacionalistas e arreigados às suas tradições e depois de muito falarem o que querem é que fique tudo na mesma, significando, no caso, que o capital da EDP ficasse em mãos portuguesas (e de preferência, do Estado).


Os chineses da Three Gorges acabam de cometer um erro colossal. Que lhes vai sair muito caro.

vamos ser precisos

Não me parece correcto falar-se de privatização da EDP quando 21,35 % do capital da empresa passa para o controle da República Popular da China. Que raio de privatização é essa?
Talvez seja mais correcto falar-se de uma transnacionalização.

uma equipa de luxo






Qual será a função do "Head of Discipline Inspection Group" ?

three gorges corporation

Amazing!

a emigração

Vão-se os dedos e fiquem os anéis.

salvar a face

EDP. Governo dividido entre chineses e alemães.

O que significa este título? A minha leitura é que a proposta dos brasileiros foi chumbada, como era de esperar, e que o governo quer transmitir a ideia de que está hesitante entre os chineses e os alemães. Mas como são os alemães que mandam cá no burgo, em última análise são estes que vão sair vencedores. Ou a lógica é uma batata!

21 dezembro 2011

o argumento irracional

A populaça imagina a riqueza nacional como um bolo que é partido e repartido. Se muita gente for "pastar para outras paragens", sobram mais fatias de bolo para repartir. É uma perspectiva irracional, mas foi esta a inteligência que Deus nos deu.

o argumento racional

O comissário europeu dos assuntos sociais, Laszlo Andor, mostrou-se hoje muito preocupado com a emigração de jovens europeus para outras paragens, nomeando "Brasil, Angola e Moçambique", numa mensagem que parece desenhada para chocar com o apelo à emigração feito pelo primeiro-ministro português, Passos Coelho. Andor não apenas critica a perda de uma "geração inteira" como também recorda o "custo financeiro" que isso acarreta.

"Alguns jovens já estão a sair da Europa para encontrar emprego em países como os EUA, o Canadá, Austrália ou o Brasil, Angola e mesmo Moçambique dependendo da sua língua de origem", lamentou o comissário. "Esta tendência não pode continuar: não apenas arriscamos perder uma geração inteira mas também há um custo financeiro. Há, aliás, um recente estudo europeu concluiu que o fardo dos actuais níveis de desemprego para a sociedade é de cerca de dois mil milhões euros por semana ou um pouco mais de 1% do PIB da UE". E por isso, a comissão de Durão Barroso "apela de forma urgente à acção europeia mas também nacional e local" para travar esta sangria geracional.

DE

insuficiência económica

Pagamento das taxas moderadoras depende de "atestado de insuficiência económica". É o renascimento do antigo atestado de pobreza.

a última

A cultura popular católica é uma cultura de imitadores. Tudo aquilo que existe no mundo, um povo de cultura católica ambiciona também ter, porque só assim a sua cultura se mantém católica ou universal. Desde o 25 de Abril, em que o povo passou a governar, não é fácil encontrar uma nova instituição no país que não seja uma imitação de alguma instituição estrangeira – normalmente dos países protestantes do norte da Europa ou da América do Norte, que, aos olhos do povo católico, são considerados os países avançados.

Está neste caso o Estado-Social ou Estado-Providência. O moderno Estado-Providência é uma criação do muito anti-católico chanceller alemão Otto von Bismarck.

Durante muitos séculos, foi a Igreja Católica que por toda a Europa, incluindo a Alemanha, assegurou grande parte das funções ditas sociais, como a assistência aos pobres e idosos, a educação e a saúde. Porém, no seguimento da reforma religiosa, que teve o epicentro na Alemanha, e com a perseguição à Igreja, sobretudo no norte do país, havia que encontrar uma instituição que substituísse a Igreja nessas funções. Assim nasceu o Estado-Social. Nos países protestantes, O Estado substituiu a Igreja nas funções sociais e tornou-se a principal instituição de assistência social.

Desde 1974 o Estado português foi aquele que mais cresceu em toda a Europa Ocidental, passando a sua despesa em termos do PIB de 20% em 1974 para mais de 50% actualmente, e isto ocorreu sobretudo pela expansão das suas funções sociais. Porém, a cultura popular católica não é apenas uma cultura de imitação. É também uma cultura de excessos e exageros. E o Estado-Social em Portugal rapidamente foi levado ao exagero, a tal ponto que se encontra hoje falido.

Inovar por imitação é a forma fácil e falsa de inovar. A verdadeira inovação é a inovação na tradição. E qual é a tradição de assistência social em Portugal? É uma tradição que põe o Estado como a última instituição de assistência social – a instituição subsidiária -, e não como a primeira, como faz a tradição luterana alemã.

A tradição católica, no seu realismo, parte do princípio de que quem conhece melhor as necessidades dos carenciados são aqueles que lhes estão próximos. Por isso, a primeira instituição de assistência social é a família, seguindo-se o grupo de amigos, a freguesia, as associações sociais, profissionais e recreativas, o concelho, e só finalmente o Estado. A Igreja cruza transversalmente todas estas instituições, a sua acção de assistência exercendo-se desde o nível mais local da paróquia até ao nível nacional, passando pela diocese.

Quando um país perde o rumo, só existe um caminho seguro – a tradição. É certamente um bom sinal que o Governo tenha anunciado recentemente a sua intenção de devolver às Misericórdias doze hospitais que tinham sido nacionalizados com o 25 de Abril. Num país profundamente católico como é Portugal, o Estado nunca será, nem de longe, um concorrente sério da Igreja no exercício de funções sociais. Falta-lhe a experiência. Falta-lhe a tradição.


(Publicado no jornal A Ordem, Novembro 2011)

Emissários culturais

O primeiro-ministro causou recentemente alguma indignação ao sugerir a emigração aos professores portugueses desempregados. Fez-me recuar trinta anos.

No início dos anos 80 conheci numa conferência em Nova Iorque um jovem economista brasileiro. Nessa altura, o Brasil passava por uma crise semelhante à crise portuguesa actual e os brasileiros emigravam em massa. Discutimos as causas da crise e no final ele comentou a propósito do seu próprio país: “Pobre país que não consegue dar de comer aos seus próprios filhos”. A frase, carregada de emoção, tocou-me, tanto mais que eu vinha de um país que, não apenas tinha dado origem ao Brasil, mas que, tal como o Brasil, tinha uma tradição de vagas recorrentes de emigração.

O choque foi tanto maior quando me dei conta que estava na capital económica do país ocidental que tem a maior tradição moderna, não de emigração, mas de imigração – os EUA. Eu próprio, nessa altura, vivia noutro país a norte – o Canadá – também ele com uma grande tradição de imigração, não de emigração. Mas tenho de admitir que nessa altura não consegui encontrar explicação para este fenómeno. Por que é que certos países da civilização ocidental ou cristã (Portugal, Itália, Brasil, etc.) têm tradição de emigração, e outros (EUA, Canadá, Alemanha, Suíça, etc.), a tradição oposta, a de imigração?

Hoje penso que conheço a resposta. Um país de cultura católica ou universal, para possuir dentro das suas fronteiras tudo aquilo que existe no mundo e assim fazer justiça à sua cultura universal, precisa de enviar regulamente ao estrangeiro emissários que depois venham contar o que se passa lá fora e reproduzir no país os modos de pensar e de fazer que existem pelo mundo. É essa a função cultural dos emigrantes. Os emigrantes são os emissários da cultura católica ou universal, sem os quais esta cultura nunca se manteria universal.

Qualquer país de cultura católica acaba por necessidade a gerar, a intervalos regulares de tempo, condições internas (políticas, económicas ou outras) que impelem a uma vaga de emigração por parte da sua população. Sem este mecanismo, eles perderiam a sua cultura católica ou universal.

Na realidade, e vendo o problema agora a esta luz, na civilização ocidental ou cristã, os países de emigração são os países de cultura predominantemente católica, enquanto os países de imigração são os países de cultura predominantemente protestante. A cultura protestante, ao contrário da cultura católica, não emigra. É uma cultura paroquial, que não se interessa por aquilo que se passa fora das suas fronteiras. O filósofo alemão Emanuel Kant, às vezes chamado o filósofo do protestantismo, permanece como um símbolo do paroquialismo da cultura protestante. Em 80 anos de vida (1724-1804) nunca viajou mais de cem quilómetros para além da sua terra natal, Konigsberg.


(Publicado no jornal A Ordem, Dezembro 2011)

em comprimento













Na mão direita vai o diploma das "Nobas Upurtunidades".

keynesianismo à moda do Porto II

Agência Nacional da Emigração
Observatório Nacional da Emigração
Formação Profissional para Emigrantes
Novas Oportunidades para Emigrantes
Plano Nacional de Saúde para Emigrantes
Centro de Apoio às Famílias dos Emigrantes
Casa do Emigrante
Museu Nacional da Emigração
Centro Etnológico do Emigrante
Dia do Emigrante
Caixa Geral de Depósitos dos Emigrantes

PS: Como acabei de demonstrar, a emigração pode criar emprego em Portugal

keynesianismo à moda do Porto

Paulo Rangel propõe investimento público para combater o desemprego. Como? Criando uma agência (+ 1) para ajudar os portugueses a emigrar.

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel sugeriu hoje a criação de uma agência nacional para ajudar os portugueses que queiram emigrar, considerando que essa pode ser uma "segunda opção" para quem não encontra trabalho em Portugal.

Trata-se de uma novidade absoluta em termos políticos e institucionais. Julgo que seríamos o primeiro país do mundo a investir dinheiro dos contribuintes na corrente da emigração.

o descalabro da política

O discurso político está cada vez mais deprimente. Por um lado, o actual Governo não manda nada. Por outro lado, a velha geração de políticos está gasta e comprometida com as más decisões dos últimos quinze anos. E, por fim, infelizmente o maior drama, o discurso da nova geração de políticos não augura nada de bom. Neste aspecto, os jovens turcos do PS, mas sobretudo os jovens turcos do PCP evidenciam uma desonestidade intelectual tão grande, mas tão grande, que dá vontade de perguntar se será de propósito ou se é mesmo resultado de uma profunda ignorância.

Há umas horas vi um programa da TVI24, chamado "Política mesmo", onde um tal de João Oliveira, deputado comunista, afirmava, entre outras pérolas, que o problema associado aos prejuízos das empresas públicas era o resultado da sucessiva desgovernação que sucessivos governos (presume-se, PS-PSD-CDS) tinham produzido, alegadamente de propósito, naquelas empresas a fim de as conduzir à necessidade da privatização. Mais, afirmava ainda aquele deputado, aparentemente indignado, que ao privatizar parte do Sector Empresarial do Estado se iria retirar ao Estado generosos dividendos, pagos por aquelas empresas, e que agora iriam parar aos bolsos de interesses privados! Enfim, seria conveniente que alguém explicasse ao ilustre deputado que, com excepção talvez da EDP (e somente, nos anos recentes, após a privatização do monopólio da EDP), aquilo que o Estado gastou em aumentos de capital superou e muito aquilo que recebeu em alegados dividendos. Seria uma clarificação importante, no mesmo dia em que outro jovem comunista, o "motard/pugilista" Miguel Tiago, acusou o Ministro Vítor Gaspar de uma agenda "fascizante" e de um ajuste de contas com Abril, não se percebeu bem a propósito de quê...Ora, é bom que se discutam as privatizações (por exemplo, folgo em saber que a privatização da Águas de Portugal, uma empresa rentável e gestora de um monopólio natural, foi adiada). E é bom que se discuta o papel e a presença do Estado na economia. Mas não é bom nem é aceitável que, intelectualmente, se tente aldrabar o eleitorado que ainda vai financiando este circo da nossa pequena política e destes pobres protagonistas.

Lamentavelmente, a insolvência de Portugal é o reflexo desta gente que, através do Parlamento, conduziu este nosso País, genericamente abúlico, a esta triste situação. Ora, como um dia escreveu Ludwig von Mises "the flowering of human society depends on two factors: the intellectual power of outstanding men to conceive sound, social and economic theories and the ability of these or other men to make these ideologies palatable to the majority" (Human Action, 1943). Por cá, nem uma coisa nem outra. E é por isso que, certamente por cá, eu deixei de acreditar na democracia representativa. Se é para esta miséria intelectual, então, poupem-nos a este espectáculo patético. Devolvam o poder político directamente ao eleitorado e logo se verá se esta gente é mesmo representativa do País, se é melhor ou se, afinal, é até bem pior.

19 dezembro 2011

pirem-se

Todos os portugueses têm o direito a viver e desenvolver a sua actividade em Portugal. Trata-se de um direito inalienável, este direito de cidadania. Podemos emigrar, mas no estrangeiro não somos cidadãos nacionais, somos residentes, com um estatuto de menoridade relativamente à população nacional.
Não fica bem, portanto, ao primeiro-ministro, sugerir a quem quer que seja que se pire daqui para fora, quaisquer que sejam as razões. Pelo contrário, os líderes nacionais devem manifestar desconforto com os níveis de emigração que atingimos.
Relativamente aos professores é necessário analisar o problema em duas vertentes:

  1. No mundo actual a formação académica não corresponde necessariamente a uma determinada carreira profissional. Um professor de português pode vir a trabalhar numa editora, por exemplo, ou um de matemática pode vir a trabalhar no controle de qualidade de uma têxtil.
  2. Não faz sentido que os quadros das escolas públicas estejam completamente fechados para os jovens. Tem de haver renovação, os professores menos competentes devem dar o lugar aos jovens e procurar outras actividades para que tenham mais jeito.

Ao sugerir a "porta da rua" aos jovens professores sem colocação, PPC revela grande insensibilidade e incapacidade para mudar o que realmente está mal.

18 dezembro 2011

um cenário de pesadelo

“Crise na zona euro: Relações Exteriores tem plano de retirada de expatriados” é a manchete do jornal The Daily Telegraph.
O jornal afirma que os britânicos que vivem em Espanha e em Portugal “podem ter ajuda do Governo para deixarem os países se a crise na zona euro arrastar os seus bancos” e eles deixarem de “ter acesso às suas contas bancárias”.
Segundo o jornal, vivem em Espanha cerca de um milhão de britânicos e 55 mil em Portugal.
Ao jornal Sunday Times, o Ministério das Finanças confirmou os planos, mas recusou-se a dar mais detalhes.
O Ministério das Relações Exteriores disse ao diário que se está a preparar para um “cenário de pesadelo”, com milhares de britânicos sem dinheiro a dormir nos aeroportos e sem meios para chegar a casa. Entre os planos de contingência que o Governo está a preparar consta o envio de aviões, navios e autocarros. Segundo uma fonte daquele ministério, os planos estão a ser debatidos para entrarem em ação caso se verifique o pior cenário.
Em causa está a crise da dívida soberana nos países da zona euro que tem estado sobre foco nos principais mercados.

mão de obra qualificada

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, admite hoje, em entrevista ao Correio da Manhã, que os professores portugueses podem olhar para o "mercado da língua portuguesa" como uma alternativa ao desemprego que afeta a classe em Portugal.“Em Angola e não só, o Brasil também tem uma grande necessidade, ao nível do ensino básico e secundário, de mão de obra qualificada”, respondeu o primeiro-ministro quando questionado se aconselharia os professores excedentários em Portugal a abandonar a sua zona de conforto e procurar emprego noutro sítio.

Paganismo II

Decorações de Natal em Madrid. Simbologia pagã?

Tem piada pensar que paganismo vem do Latim - paganus, significando provinciano, rústico. O paganismo é isso mesmo, uma proto-religião simplória e parola.

Paganismo

Uma religião como qualquer outra... no R.U.

17 dezembro 2011

uma história da província

Votos de “sexo incrível” resultam na suspensão do director da Polícia Municipal de Coimbra.

Era uma vez um polícia municipal de Coimbra A (ou seria Coimbra B ?) que causou alarido no burgo por enviar um email com "votos de sexo incrível".
Numa cidade cosmopolita ninguém se teria dado ao trabalho de enviar, ou de abrir, um ficheiro em Power Point, anexo a um email com a palavra "sexo", mas em Coimbra o sexo ainda comove os indígenas.
O polícia considera-se um tipo moderno, o presidente da autarquia considera-se um tipo austero e os funcionári@s consideram-se umas flores de estufa. Enfim, a província no seu melhor.
E o pior é que em Coimbra ninguém deve saber exactamente o que é o "sexo incrível". Nem o polícia, para quem o sexo incrível deve ser uma espécie de Euromilhões, nem o presidente da Câmara, nem os funcionários.
Ora deixem-me então explicar, aos conimbricences, o que é para mim, um verdadeiro cosmopolita com tirocínio tirado numa década em Nova Iorque, com mulheres de todas as cores e nacionalidades, o que é o sexo incrível:
Meus amigos, é quando um tipo está deitado de barriga para o ar com o cassetete na vertical e a "mula" desce do candeeiro, em posição de espargata e em rodopio, até se encaixar no dito e rodopiar durante um período mínimo de 15 minutos (1).
Boas Festas para todos os nossos amigos de Coimbra A e de Coimbra B e "votos de sexo incrível" para todos.

(1) O sexo incrível não deve ser practicado por pessoas com mais de 65 anos ou por doentes com vertigens.

16 dezembro 2011

Deus é grande

Como é que podemos conquistar a eternidade? Como é que podemos alcançar Deus?
A minha resposta a esta pergunta é que podemos conquistar a eternidade de dois modos: procriando ou dando contributos culturais relevantes para a sobrevivência da espécie.
Christopher Hitchens, que faleceu ontem, foi um actor importante do panorama cultural dos últimos anos, mas ficou aquém de dar qualquer contributo "imortal". Há milhares de ateus fundamentalistas por aí... cada um com as suas opiniões (este considerava-se um Marxista conservador !!!).
Sobra, portanto, a procriação. Felizmente Christopher Hitchens deixa três filhos que se não estiverem envenenados pelo pensamento maléfico do pai, ainda podem vir a fazer qualquer coisinha de útil. "Deus é grande", haja esperança!

o mister

"We have an atomic bomb that we can use in the face of the Germans and the French: this atomic bomb is simply that we won't pay," said Pedro Nuno Santos, vice-president of the Socialist Party in the parliament.
"Debt is our only weapon and we must use it to impose better conditions, because recession itself is what is stopping us complying with the (EU-IMF Troika) accord. We should make the legs of the German bankers tremble," he said.
Telegraph

o fim da história à portuguesa

Segundo Sampaio, "o capitalismo não tem alternativa depois do falhanço do socialismo soviético e de coisas parecidas" e, definiu, "o grande problema que se coloca é não haver um outro sistema "home made".
Mas, alertou, "tem que haver uma transição com o mínimo de razoabilidade" porque, disse, "as pessoas não podem de repente ficar sem sistema".


Estas observações de Jorge Sampaio parecem retiradas de uma revista do nosso querido Vilhena. Jorge Sampaio demorou umas dezenas de anos, mas finalmente chegou à conclusão de que não há alternativas ao capitalismo. Obviamente, Jorge Sampaio não leu "O Fim da História", do Francis Fukuyama, publicado há 20 anos.
Ao mesmo tempo, Jorge Sampaio assume que Portugal não é um país capitalista porque apostou em sistemas falidos ou em soluções utópicas "home made". E agora "tem de haver uma transição" com um mínimo de razoabilidade.
Mais uma vez, Jorge Sampaio deixa-nos com um sorriso nos lábios. Razoabilidade? Algum país acabou com o socialismo "razoabilidademente"?

15 dezembro 2011

chegou o Bento

Uma moeda alternativa.

2 notícias 2

Freitas do Amaral: "Alemanha e França querem expulsar-nos do euro".

Pedro Nuno Santos: "Estou a marimbar-me para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou".

A mesma maneira de pensar, a culpa é dos outros.

2 anos de cana

El expresidente francés Chirac, condenado por desvío ilegal de fondos.

muito engraçado

O "mercado político" é mais dinâmico do que o mercado financeiro. Fernando Ulrich, por exemplo, é CEO do BPI desde 2003, neste período as acções do banco desceram de 2,19 € para 0,45 € (uma perda de cerca de 80% do valor do banco). Entretanto, na arena política, desde 2003 tivemos Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e agora Pedro Passos Coelho.

person of the year 2011

Para mim, a Pessoa do Ano de 2011 foi Angela Merkel. Ela soube colocar-se no centro de todas as decisões importantes, a nível da UE e não só, e tornou-se numa verdadeira líder mundial.
A Time nunca a elegeria, por ser alemã e por ser mulher.

the protester

O Anders Breivik também se inclui na Pessoa do Ano de 2011 da Time. Ele também protestou, e não foi pouco...

14 dezembro 2011

molho de bróculos

O colectivismo no seu melhor, a pessoa do ano da Time não é uma pessoa é um colectivo de pessoas que não têm nada em comum, a não ser protestarem.

a populaça é que sofre

Quando os líderes não têm juízo a populaça é que sofre.

anti-keynesiano?

Na sua crónica de hoje no Público, Rui Tavares - o eurodeputado independente do BE (ex?) - afirma que Hitler era contrário às políticas de expansão económica, que agora se chamam "keynesianas". Penso que se trata de uma afirmação completamente descabida.
Leia-se a este propósito este texto de Llewellyn H. Rockwell, Jr., do Instituto Mises:

In the 1930s, Hitler was widely viewed as just another protectionist central planner who recognized the supposed failure of the free market and the need for nationally guided economic development. Proto-Keynesian socialist economist Joan Robinson wrote that "Hitler found a cure against unemployment before Keynes was finished explaining it."

What were those economic policies? He suspended the gold standard, embarked on huge public works programs like Autobahns, protected industry from foreign competition, expanded credit, instituted jobs programs, bullied the private sector on prices and production decisions, vastly expanded the military, enforced capital controls, instituted family planning, penalized smoking, brought about national health care and unemployment insurance, imposed education standards, and eventually ran huge deficits. The Nazi interventionist program was essential to the regime's rejection of the market economy and its embrace of socialism in one country.

Such programs remain widely praised today, even given their failures. They are features of every "capitalist" democracy. Keynes himself admired the Nazi economic program, writing in the foreword to the German edition to the General Theory: "[T]he theory of output as a whole, which is what the following book purports to provide, is much more easily adapted to the conditions of a totalitarian state, than is the theory of production and distribution of a given output produced under the conditions of free competition and a large measure of laissez-faire."

Keynes's comment, which may shock many, did not come out of the blue. Hitler's economists rejected laissez-faire, and admired Keynes, even foreshadowing him in many ways. Similarly, the Keynesians admired Hitler (see George Garvy, "Keynes and the Economic Activists of Pre-Hitler Germany," The Journal of Political Economy, Volume 83, Issue 2, April 1975, pp. 391—405).



PS: Só falta agora ao Rui Tavares comparar as políticas económicas de Merckel às de Hitler. Aguardemos pela próxima crónica...

isento e transparente

O líder da empresa chinesa candidata à privatização da EDP manifestou-se hoje "muito confiante" no sucesso da sua proposta e na "isenção" e "transparência" do Governo português.

Apenas um comentário: o governo português deve ser tão isento e transparente, nestes assuntos, como o governo chinês. Nem mais nem menos.

já começou

Canadá abandona protocolo de Kyoto.

Ver também este post do Insurgente.

brandos costumes

Um funcionário da Euroscut Algarve foi esta noite atingido por um tiro, depois de se deslocar ao pórtico da zona da Guia que estava a arder, mas ficou ferido sem gravidade, disse fonte oficial à agência Lusa.
Público

12 dezembro 2011

o alfabeto é uma coisa fascinante

Verdades de sempre:

A água é um composto fascinante.
A linguagem é um fenómeno fascinante.
A vida é um milagre fascinante.
A reprodução é fascinante (muito mais fixe do que afirmar que o sexo é porreiro).
A existência é fascinante.
O ser é fascinante.
A transformação do sumo de uva em vinho é um fenómeno fascinante, com a característica notável de que quanto mais vinho se bebe mais fascinante nos parece esta transformação.

tem tok

A entrevista de ontem de MRS ao "jovem" escritor Gonçalo M. Tavares revelou potencial. Pelo menos o potencial de passar à história pela afirmação mais profunda e original de 2011. Gonçalo Tavares, depois de se confessar deslumbrado pelas letras e pelo alfabeto, afirmou então o seguinte:
- O alfabeto é uma coisa fascinante!
Num País de analfabetos, temos de concordar com o Gonçalo Tavares. Numa terra de cegos...

PS: Se a entrevista fosse em inglês, o video já se tinha tornado viral.

a date with destiny

A woman is closest to being naked when she is well dressed.
Coco Chanel

+ jennifer