31 agosto 2011

Atílio



O Joaquim está zangado. A forma como ele termina este post não deixa margem para dúvidas. Há cerca de duas ou três semanas, eu já tinha publicado um post a este respeito. Embora, durante o mês de Julho e parte de Agosto, eu não tivesse participado no PC, fui ocasionalmente seguindo o blogue, nessa altura mantido exclusivamente pelo Joaquim. E a minha conclusão foi-se firmando: o Joaquim anda zangado. Ora, para mim, é muito mau sinal que o Joaquim ande zangado. Significa que algo de muito mau está para vir. Pode estar mesmo iminente.

Eu julgo que fui muito objectivo naquele Prefácio que fiz ao livro que a sua filha organizou e lhe ofereceu por altura do seu aniversário em Fevereiro. O Joaquim é uma pessoa séria, cordial, racional, sem excessos nem exageros - um homem cool. Neste aspecto, um homem verdadeiramente protestante. Ora, é um sinal muito mau que um homem assim ande a ficar crescentemente irritado. O que acontecerá com os outros homens imensamente emocionais como são a generalidade dos portugueses?

O Joaquim não tinha nenhuma confiança no governo de Sócrates. Mas tinha uma imensa esperança no governo de Passos Coelho. Tem sido balde de água fria atrás de balde de água fria.

Deus ilumina os homens de forma muito diferente e eu não sinto que possa dar conselhos ao Joaquim. Posso apenas dizer o caminho que segui. Desliguei. Tornei-me uma espécie de Atílio de Souza, um personagem representado pelo actor Mário Lago, numa das primeiras telenovelas brasileiras que fizeram sucesso em Portugal - O Casarão (1976). Por isso, nesta matéria ando indiferente. Mas tenho de reconhecer que não gosto de ver um homem como o Joaquim profundamente irritado. É muito mau sinal.

gémeos virtuais

Eles são como nós.

vou ficar sem nada

O mister Joe Berardo é favorável ao aumento da carga fiscal porque: "Se não nos ajudarmos uns aos outros não vai sobrar nada". Como o mister não representa absolutamente ninguém, a não ser ele próprio, penso que o que ele queria dizer era que se não se aumentar a carga fiscal: "Eu posso ficar sem nada".
O mister "speaks for himself". Infelizmente, o País está cheio de idiotas úteis que pensam que o aumento de impostos é para ajudar os pobrezinhos. Palermas!

esbelta


Leninha,
Então, eu não interesso? Só os judeus?
Estou a imaginá-la, Leninha, no Tribunal de Berlim, na sua esbelta figura, a acusar-me de agravar os judeus, e depois, a voltar-se para o juiz e a perguntar: "O que é ser judeu?".
Ai, essa cabecinha.
Já faz muito frio em Berlim, Leninha?
Daqui lhe envio mais 347 leitores do PC.
Quisses

(Leninha ... please call me ...from Berlin ... para fazer as pazes ...estás aperdoada)

resumo do dia


venha





Obrigado helenafmatos. Mais vale uma morte súbita do que esta morte lenta.

liberal

Existe uma grande diferença entre o liberalismo e o catolicismo? Não, não existe. São muito mais as semelhanças entre estas duas doutrinas do que aquilo que as separa, assim da ordem de 90% de semelhanças e 10% de diferenças. A doutrina liberal é filha da doutrina católica.

Ao mesmo tempo que decorria a Reforma Protestante - cujas duas características essenciais foram a contestação da autoridade do Papa e a rejeição da tradição - um novo movimento paralelo surgia na filosofia, que até aí tinha sido dominada pelo pensamento católico (Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino, etc.).

Descartes foi muito justamente considerado o primeiro filósofo moderno. A sua démarche intelectual consistiu em procurar dar resposta ao problema que o protestantismo tinha pela frente. E envolvia os dois pontos seguintes. Primeiro, fazer tábula rasa do passado - a rejeição da tradição. Mas tendo rejeitado as formas de viver do passado, que estavam assentes na doutrina católica, havia que criar um novo futuro. E como é que esse futuro iria ser criado? Através do segundo pilar da filosofia cartesiana: não acreditando em nada que não pudesse ser demonstrado pela razão. O novo mundo que o protestantismo iria erigir seria criado totalmente à revelia do passado e seria criado pelo poder exclusivo do intelecto.

Descartes era católico, mas a Igreja não achou graça à sua filosofia, como era de esperar. Rejeitar o passado era rejeitar a tradição de que a Igreja era a guardiã; enfatizar o poder do intelecto (razão) não era nada de novo para a Igreja (S. Tomás de Aquino). Mas não ao ponto de o tornar a fonte exclusiva da Verdade. Na altura, a filosofia da Igreja era muito mais influenciada por Santo Agostinho, que enfatizava o coração (amor) como a principal fonte da Verdade.

Quem experimentar replicar a empresa de Descartes verá facilmente que se trata de uma empresa impossível. Essa empresa consite em começar uma vida inteiramente nova e exclusivamente racional, deitando radicalmente fora o passado. É caso para perguntar: tendo esquecido o passado, onde é que ele vai buscar as ideias que lhe permitem começar a vida inteiramente de novo? Só se cairem do céu.

É claro que não cairam do ceú. Aquilo que Descartes - e os outros filósofos modernos - fizeram foi irem buscar as ideias ao único conjunto articulado de ideias que existia e o único que eles conheciam - a doutrina católica. O protestantismo, nas suas múltiplas versões, e a filosofia moderna que lhe deu seguimento em forma laica, tem como matriz o catolicismo. É por isso que o liberalismo, uma ideologia laica herdada do protestantismo britânico, é filho do catolicismo.

Tome-se a doutrina católica em versão laica, isto é, expurgando-a da sua componente teológica e portanto de Deus, a fim de a tornar comparável com o liberalismo. Retire-se um ou outro elemento à doutrina católica e modifique-se ou exagere-se outro. Depois de feito isto, tem o liberalismo.

O principal elemento que o liberalismo retira à doutrina católica é o da autoridade pessoalizada, suprema e absoluta, correspondendo na teologia à rejeição do Papa. O principal elemento que o liberalismo modifica no catolicismo é o equilíbrio entre a prossecução do interesse individual e a prossecução do interesse comunitário, desequilibrando-o em benefício do primeiro.

Excepto para estas duas modificações, o liberalismo não é uma invenção britânica de David Hume, Adam Smith ou Adam Ferguson, como os britânicos tanto gostam de dizer (se reparar, os britânicos acabam sempre a dizer que são os inventores de tudo aquilo que de bom Deus pôs no mundo). Na melhor das hipoteses, esta pode chamar-se uma versão moderna do liberalismo. O liberalismo já existia antes de o protestantismo filosófico britânico lhe introduzir estas modificações. Existia no catolicismo.

Qual deles é o verdadeiro liberalismo, o tradicional (católico) ou, pelo contrário, o novo (protestante-anglo-saxónico)?

Eu vou agora dizer uma coisa que nunca me recordo de ter dito na minha vida, em privado, e muito menos em público, se bem que me tenham chamado isso muitas vezes em versão mega, mas tal nunca me importou, porque eu, genericamente, não acredito no julgamento dos portugueses, certamente que não do povo.

Aquilo que eu tenho para dizer, a novidade - se é que tem algum interesse, excepto para mim - é o seguinte. Eu sou um liberal. Aquilo que eu deixei de ser foi um liberal na versão nova ou protestante para passar a ser um liberal na versão tradicional ou católica. Obviamente, isto não tem nada de original. Tocqueville e Lord Acton, os tais que Hayek considerava serem os dois maiores liberais modernos - e aqueles cujos nomes foram vetados para darem o nome à Mont Pelerin Society (cf. aqui) - eram ambos católicos.

E, em Portugal, não há exemplos destes? Claro que há. Em Portugal, fazendo justiça à sua cultura católica, há de tudo. Era melhor que nós não tivéssemos o nosso Tocqueville ou Lord Acton. Alexandre Herculano é, em Portugal, a grande figura liberal que, tendo embora começado como um liberal em versão protestante ou anglo-saxónica, acabou como um liberal católico.

quase III

Governo deverá agravar IRS e IRC em 2012.

Cortes na despesa consistem em (+) aumento de impostos. Ahahahahah

porque é que a chuva molha?

Duvido que o capital, feitas as contas, pague menos que o trabalho, mas a verdade é que devia estar isento.

quase II

O Ministro das Finanças, logo à tarde, quase vai anunciar (pela segunda vez) cortes significativos na despesa do Estado.

PS: Chegou a altura de apresentar as minhas desculpas às meninas tagarelas. Elas aperceberam-se, muito mais depressa do que eu, que o Vítor não ia lá... É o sexto sentido feminino.

quase

- É pá, ontem quase dei três seguidas na minha namorada.
- Na tua idade?
- É verdade, quase lhe dei uma, depois quase lhe dei a segunda e, por fim, quase lhe dei a terceira...

cortes na despesa

30 agosto 2011

A Leninha de Berlim



Vai por aí, por essa blogosfera fora, um carnaval de posts sobre os judeus, incluindo eu próprio ...


De todos, aquele de que eu gostei mais foi o da Leninha de Berlim.

Gostei daquela parte em que ela diz que seria um óptimo exemplo para se discutir a liberdade de expressão e os seus limites. Mas, depois, "olha ..., agora não me apetece".

Fiquei apreensivo quando a Leninha disse que eu lá em Berlim ia parar aos tribunais. É assim a liberdade de expressão aí em Berlim, Leninha? Bom, se a liberdade de expressão é assim em estrangeiro, então é porque a liberdade de expressão é mesmo assim. Em estrangeiro é que está a Verdade. A Leninha acha mesmo que eu devia ir a tribunal? Fazer o quê, Leninha?

Mas aquilo que me encheu as medidas foi a divagação sobre o debate entre Israel e a Palestina. Anda turvo. Turvo. É assim que anda o debate, Leninha?

You are cute, Leninha. Quisses (em estrangeiro).

semos todos

Eu também sou judeu.

Gostaria de contar (de memória) uma história verídica relatada pelo velho advogado Montalvão Machado no livro Bom Humor nos Tribunais (1967), ocorrida num tribunal do Norte por alturas dos anos 50.

-Qual é a sua profissão? - pergunta o juiz ao réu.

-Nós cá na terra semos todos panelêros, responde o réu.

-Semos, não. Somos. - corrige o juiz.

-Ah, desculpe V. Exa., não sabia que o Sr. Dr. juiz também era... - conclui o réu.

Eu diria ainda mais. Nós cá na terra semos todos tudo. Portanto, eu também sou judeu. E mesmo que não seja vai aparecer por aí alguém a provar conclusivamente que eu sou judeu. Já apareceu (na caixa de comentários aqui). Os judeus são mais que as mães em Portugal. Eu ainda não compreendi é porque é que é tão chique ser judeu em Portugal. Mas se é assim, eu cá também quero ser. Semos todos.

empresários +

O DE, certamente com a melhor das intenções, disponibilizou na sua edição online, um guia para os beneficiários do Passe Social + .
Como o DE se destina a empresários e a homens de negócios, é caso para perguntar quantos leitores deste diário serão elegíveis para aceder ao Passe Social + ?

retrocesso social

Uma entrevista hilariante:

O PCP não soube tirar as lições que devia da história (e o BE soube? ahahahah).
O BE é um partido internacionalista ( e o PCP, é nacionalista? ahahahahah).
A AR é um ambiente hostil. ahahahahah
A direita venceu, ahahahahah (não há direita em Portugal, Srª Deputada!).
O que noto é que as pessoas se viraram mais para a Igreja e isso é um retrocesso social, ahahahah


Ionline

nanny state




Prisão? Fónix!

destino




Que destino vai ser dado ao Cristo-Rei, esse charlatão?

Deita-se abaixo ou guarda-se num armazém?

E da boa!

Peço desculpa pela insistência, eu não sou um homem que se ri com facilidade, mas quando penso no assunto, desconcerto-me a rir. Um judeu a Secretário de Estado da Cultura de um país de cultura católica ...

Equiparável a isto só um ateu (na realidade, uma ateia) a cabeça de lista dos deputados do partido do Governo num dos distritos mais católicos do país. (*)

Democracia representativa ... E da boa!


(*) Falo de Cristina Keller que, por sinal, também se afirma judaica - não por conversão, mas de sangue, genuina. E, de facto, o apelido não deixa dúvidas, é de origem judaica. Veja-a aqui, disfarçada de estrangeira - Christine - a inquirir sobre o assunto quando ainda não tinha a certeza sobre as suas origens judaicas.

quando a realidade bate à porta

Há um ano, queria salvar a Pátria dos mercados. Este ano, quer salvar o banco da nacionalização.

deitar a mão à casixa

Imposto sucessório? É para deitar a mão à casixa.
O património dos ricos é "anónimo".

definitivamente

Pronto. Está comprovado. A cultura popular portuguesa é, de facto, uma cultura fantástica, imensamente permissiva e tolerante. Aceita tudo. Não há outra igual.

Eu tinha acabado de escrever um post relatando um caso de discriminação anti-católica praticada por judeus e protestantes. Em seguida lembrei-me do seguinte: agora, vou escrever outro post para ver se os católicos discriminam contra os judeus (este).

Neste post, afirmei que um judeu (cf. aqui) não pode estar à frente da Secretaria de Estado da Cultura de um país de cultura católica, como é Portugal. As reacções foram as que eu esperava. Primeira, praticamente todas discordantes, como é próprio de um povo de cultura católica. Segunda, a maior parte a pôr a mão por baixo do Secretário de Estado da Cultura e sob os mais variados argumentos (resumindo-se, na prática, a que é um tipo simpático: "Coitado do homem, porque é que não havia de poder ser SEC, se os outros também são?". Terceira - esta eu antecipava por experiência passada -, algumas seriam insultuosas, reflectindo o carácter intelectualmente bronco da cultura popular portuguesa, e eu não tive dificuldade em encontrar imediatamente uma que era exemplar a este respeito.

Já expliquei, em vários posts anteriores, a razão de ser dos dois primeiros tipos de reacções. Falta explicar as do terceiro tipo. Um povo de cultura católica, por esta ser uma cultura universal, há-de ter uma grande capacidade para se pôr na pele das pessoas de outras culturas, para chorar as suas dores e sofrimentos, e rejubilar com as suas alegrias. É por isso que em Portugal - um país que praticamente não tem judeus -, perante uma crítica, existem defensores mais acérrimos dos judeus do que em Israel, defensores mais acérrimos dos tanzanianos do que na Tanzânia, defensores mais acérrimos dos australianos do que na Austrália, para não falar em defensores mais acérrimos dos timorenses do que em Timor. (É claro que estes defensores acérrimos são-no apenas pela palavra, nunca arriscando o corpo pelos ofendidos).

Falta acrescentar um pormenor: a história de discriminação anti-católica que eu tinha contado antes, nem sequer foi lembrada. Um povo de cultura católica não tem memória, os factos, os exemplos e a História não contam para nada.

Finalmente, de volta à questão principal: é ou não importante que um Secretário de Estado da Cultura partilhe a cultura do seu país (no caso de Portugal, a cultura católica)?. Já se viu que em Portugal isso não é importante, como não seria em Itália, em Espanha ou em qualquer país católico da América Latina.

Mas noutros países é importante. Por exemplo, experimente sugerir ao governo de Israel para pôr a Secretário de Estado da Cultura um católico. Mas Israel nem sequer é excepção. Faça a mesma sugestão a um governo inglês, dinamarquês ou sueco, e observe a resposta.

Enfim, diferenças de culturas. A cultura católica - a cultura popular, bem entendendido - é definitivamente a mais tolerante e permissiva. Aceita tudo, engole tudo. Um judeu a Secretário de Estado da Cultura em Portugal ... Francamente, só com um pano encharcado ... (em quem o escolheu para o lugar).

29 agosto 2011

a beast is a beast is a beast

Wait a minute. This is not written by a Jew. The Jews are far too much sophisticated, from an intellectual point of view, to write this shit. Most likely, this is written by a Portuguese fellow who truly believes he is a Jew. There are far too many in this lovely country.


This was the time I was looking for Jews in Portugal.

grupos

O QI de um grupo é igual ao da pessoa mais estúpida do grupo dividido pelo número de pessoas.

PS: Não sei quem é o autor, mas não me parece que seja nenhum estúpido.

human universals

Human universals, "comprise those features of culture, society, language, behavior, and psyche for which there are no known exception."
A lista completa está aqui.


Vereinigten Staaten von Europa

Berlim quer “Estados Unidos da Europa”.

fantástico

Portugal é um país fantástico e a cultura católica uma cultura extraordinariamente aberta. País de cultura católica por excelência, à frente da Secretaria de Estado da Cultura (ex-Ministério da Cultura) tem agora um judeu.

Um judeu a definir a política cultural de um país cristão e imensamente católico ... só se fôr para a destruir.

28 agosto 2011

porque é no catolicismo

O liberalismo moderno é, em primeiro lugar, um enorme preconceito contra a Igreja Católica e o catolicismo.

Quem conhecer os principais autores liberais modernos, encontrará em todos eles, de forma consensual, aquilo que constitui a temática central do liberalismo - a condenação da intervenção do Estado na vida económica e social, e a defesa das instituições voluntárias ou espontâneas. Aquilo que nunca encontrará, entre os vários exemplos de instituições espontâneas que são invocados pelos autores liberais (empresas privadas, associações cívicas, partidos políticos, etc), é a mais antiga, a maior e a mãe de quase todas as instituições espontâneas da nossa civilização - a Igreja Católica.

Que mistério era este que levava os autores liberais modernos, na sua condenação do carácter coercivo do Estado, e na sua exaltação das instituições voluntárias ou espontâneas, que mistério era este, dizia, que os levava sistematicamente a omitir ao mundo a mais importante de todas elas? Tudo começou por aqui.

A verdade revela-se em pequenas peças ao longo do tempo, pequenos episódios que se vão revelando ao longo dos anos e que, um dia, quando postos em conjunto, surpreendentemente fazem luz sobre a realidade. O meu autor liberal preferido era Hayek. Eu sabia, num dos seus livros mais célebres (The Constitution of Liberty, 1960), que Hayek considerava Tocqueville e Lord Acton os dois maiores liberais de sempre. Aquilo que eu não sabia é que na constituição da Mont Pelerin Society em 1947, que é uma instituição-ícone do liberalismo moderno, Hayek tinha sugerido que a sociedade se chamasse The Tocqueville-Acton Society, e que a sua sugestão foi vetada por Ludwig von Mises e Frank Knight (o pai da chamada escola económica de Chicago), sob o argumento deste último de que "Não iam agora dar à sociedade o nome de dois aristocratas católicos...".

Fiquei surpreendido. A Universidade nasceu como uma instituição espontânea fundada pela Igreja Católica (mais uma), uma instituição que tinha como finalidade reunir pessoas, mestres e alunos, irmanados pelo desejo comum de chegarem à Verdade. Ora, estes eram universitários do mais alto calibre (vários dos presentes nessa primeira reunião da Mont-Pelerin Society viriam a receber o Prémio Nobel da Economia). Não era aceitável que a discussão procedesse a este nível, que Tocqueville e Acton fossem excluídos de dar o nome à sociedade só porque eram católicos. Se estes universitários andavam à procura da Verdade era uma Verdade amputada, uma verdade que parecia excluir o catolicismo.

Eu fui procurando e coleccionando, ao longo do tempo, episódios semelhantes a este na vida e na obra dos principais autores liberais modernos, e a conclusão a que ia chegando era invariavelmente a mesma: "A Igreja Católica e o catolicismo são sempre excluidos. Quem fôr católico neste meio não tem futuro". Até que um dia, por ocasião da publicação de um estudo norte-americano que elegia Ludwig von Mises, Hayek, Friedman, Rothbard e Ayn Rand como os principais autores liberais do século XX, autores cuja vida e obra eu conhecia bem, resolvi dar uma nova olhadela à questão. O que é que estes autores tinham em comum, e que me tinha escapado até à data? De repente, fez-se luz. Eram todos judeus. Com uma única excepção, Hayek, que se viria a revelar o caso mais interessante de todos.

Eu julgo que hoje seria capaz de escrever uma biografia de Hayek a uma luz inteiramente nova. Teria o título: "Um caso de gato escondido com rabo de fora: como é que Hayek escondeu durante toda a vida o seu catolicismo" e não teria dificuldade em persuadir os meus leitores, perante a evidência, que sem esconder o seu catolicismo, Hayek - que no auge da sua carreira sempre se disse agnóstico e chegou mesmo a sugerir que tinha uma costela judaica - nunca teria feito a carreira que fez, primeiro na London School of Economics, depois na Universidade de Chicago, e muito menos alguma vez teria recebido o Prémio Nobel da Economia.

Quando no início dos anos 60, Hayek, já com mais de 60 anos de idade e um enorme prestígio académico, regressou à Europa, permaneceu para mim um mistério porque é que ele aceitou uma posição na pouco conhecida Universidade de Freiburg na Alemanha, quando teria a porta aberta em qualquer das maiores universidades europeias. Mais tarde, o mistério foi desvendado. A cidade de Freiburg e a respectiva universidade são dois bastiões do catolicismo no meio da muito protestante Alemanha. Hayek, o intelectual católico, numa universidade católica, a de Freiburg (repare-se no nome), onde viveu os seus últimos anos. Pelo meio passou também alguns anos na Universidade de Salzburgo (igualmente católica).

Já numa fase avançada da sua carreira, quando lhe perguntaram qual considerava ser a ideia mais original que tinha tido em Economia, respondeu que era a ideia da desnacionalização do dinheiro, a ideia de vários bancos emissores privados, actuando em regime de concorrência. Nunca lhe ocorreu, nem ninguém nunca lhe disse, que num pequeno país católico - Portugal - a sua ideia original tinha sido praticada um século antes, por um período de cerca de cinquenta anos (com maus resultados, por sinal), e que mesmo à data em que lhe foi atribuído o Prémio Nobel (1974) o banco emissor desse país - embora na altura já único e, portanto, monopolista - continuava a ser privado. Que concluir daqui? Que para a seita liberal, tudo o que era católico não contava, era como se não existisse.

Ao aproximar-se do final da vida, disse numa entrevista que, se optasse por uma religião, optaria pela religião católica ("because, at least, it contains the articles of the faith"). Antes de morrer, aceitou receber os sacramentos de um bispo católico seu amigo, que presidiu também ao seu funeral católico. Está sepultado em Viena, a capital da católica Austria, que foi também onde nasceu, filho de uma família católica de académicos.

Nesta altura, e depois de vários episódios como este que não interessa aqui referir, eu julguei que me estava a aproximar rapidamente da verdade: "Para o liberalismo moderno, o catolicismo está proibido". Mas a questão essencial permanecia: Porquê? Eu não ficaria satisfeito em concluir apenas que o liberalismo moderno é uma espécie de conspiração judaica contra o catolicismo (em todo o caso, seria mais exactamente uma conspiração judaico-protestante, e não apenas judaica).

Em lugar de me ficar por aqui, decidi estudar a doutrina católica principalmente nos seus aspectos económicos, sociais e políticos (daí o meu catolicismo excessivamente intelectualizado, e mais sociológico do que religioso). Passado um tempo, eu tinha a resposta final ao mistério. O liberalismo não quer ouvir falar do catolicismo, nem de longe, porque é no catolicismo que está a Verdade.

social apartheid

“I believe all children can benefit from studying Latin, from learning about Britain’s history, from reading Shakespeare, and to deny them that opportunity on the grounds that those things are ‘middle class’ is a form of inverted snobbery that does children from low-income families no favours.
“We will never dismantle the class system in this country if poor children are herded into media studies classes and made to study [television programmes], while rich children are introduced to the best that’s been thought and written. That’s not social justice. It’s social apartheid.”

FT

confusionismo

O ex-presidente do Instituto de Segurança Social define o "tributo solidário" como: "trabalho gratuito como contrapartida de uma prestação social".
Ora bem, então é gratuito ou tem contrapartidas? Não dá para entender.

la religión no solo es lícita, sino indispensable

Hay dos lecturas posibles de este acontecimiento, que EL PAÍS ha llamado "la mayor concentración de católicos en la historia de España". La primera ve en él un festival más de superficie que de entraña religiosa, en el que jóvenes de medio mundo han aprovechado la ocasión para viajar, hacer turismo, divertirse, conocer gente, vivir alguna aventura, la experiencia intensa pero pasajera de unas vacaciones de verano. La segunda la interpreta como un rotundo mentís a las predicciones de una retracción del catolicismo en el mundo de hoy, la prueba de que la Iglesia de Cristo mantiene su pujanza y su vitalidad, de que la nave de San Pedro sortea sin peligro las tempestades que quisieran hundirla.
...
El sueño de los católicos progresistas de hacer de la Iglesia una institución democrática es eso, nada más: un sueño. Ninguna iglesia podría serlo sin renunciar a sí misma y desaparecer. En todo caso, prescindiendo del contexto teológico, atendiendo únicamente a su dimensión social y política, la verdad es que, aunque pierda fieles y se encoja, el catolicismo está hoy día más unido, activo y beligerante que en los años en que parecía a punto de desgarrarse y dividirse por las luchas ideológicas internas.
¿Es esto bueno o malo para la cultura de la libertad? Mientras el Estado sea laico y mantenga su independencia frente a todas las iglesias, a las que, claro está, debe respetar y permitir que actúen libremente, es bueno, porque una sociedad democrática no puede combatir eficazmente a sus enemigos -empezando por la corrupción- si sus instituciones no están firmemente respaldadas por valores éticos, si una rica vida espiritual no florece en su seno como un antídoto permanente a las fuerzas destructivas, disociadoras y anárquicas que suelen guiar la conducta individual cuando el ser humano se siente libre de toda responsabilidad.


Mario Vargas Llosa, El País

PS: Um artigo excelente sobre a visita do Papa a Espanha. As opiniões expressas não surpreenderão quem tenha acompanhado os posts do PA.

27 agosto 2011

sem palavras II

Ali Ferzat.

sem palavras I


patético

Mentes brilhantes acreditam que o euro vai sobreviver.

Contudo, em caso de problemas maiores, Joseph Stiglitz, notou que "está a emergir um consenso entre os economistas que aponta no sentido de que seria melhor em termos de complexidade contratual que fosse a Alemanha a abandonar o euro em vez da Grécia". Uma possibilidade que Angela Merkel, a chanceler alemã, voltou hoje a descartar.

Ou seja, o conteúdo da notícia desmente o título.

precário

Depois de tudo o que tenho escrito acerca do catolicismo e da Igreja Católica, serei eu um grande católico? Não. Não sou. Sou mesmo um católico muito precário.

A razão é que eu cheguei ao catolicismo por via intelectual e a minha relação com o catolicismo é uma relação predominantemente intelectual. Por isso, eu não devo ser tomado, nem de longe, como exemplo do verdadeiro, do genuíno, do puro católico.

Eu cheguei ao catolicismo vindo do liberalismo, doutrina na qual eu detectei, ao fim de alguns anos, vícios intelectuais - sobretudo preconceitos, omissões deliberadas e agendas escondidas - que, no meu julgamento, se tornaram imperdoáveis, a maior parte das quais em relação à própria Igreja Católica e ao catolicismo.

No catolicismo, como doutrina, pelo contrário, eu encontrei verdade, simplicidade, abertura, racionalidade e consistência lógica. Fiquei encantado. A tal ponto que ainda recentemente escrevi que o meu maior prazer intelectual seria o de descortinar uma inconsistência grosseira na doutrina católica, a qual poderia revestir a forma de uma interpretação grosseiramente defeituosa das Escrituras ou de uma grossa inconsistência entre dois tópicos da doutrina. Ainda não consegui, mas continuarei a tentar.

Mas é precisamente por aqui que se vê como a minha relação com o catolicismo, sendo uma relação predominantemente intelectual, é uma relação muito precária, e que eu não posso ser referido a ninguém como o exemplo do católico por excelência. No dia em que eu encontrar - se é que vou conseguir - uma inconsistência grosseira no catolicismo, eu vou virar-lhe as costas com a mesma convicção que virei ao liberalismo, e talvez murmurando em relação aos autores católicos (o Papa Bento XVI é um deles), o mesmo que murmurei em relação a alguns autores liberais: "São uma cambada de gente preconceituosa, uma seita, e, nalguns casos, uns verdadeiros aldrabões".

O meu amor pelo catolicismo é um amor muito intelectual, que põe muitas questões e pergunta muitos porquês. Estes amores são sempre precários, seja entre um homem e uma doutrina seja entre um homem e uma mulher. São amores que caem na primeira ocasião em que a resposta a uma questão seja insatisfatória ou as respostas a dois porquês não sejam consistentes. Os grandes católicos, tal como os grandes amantes, são aqueles em que o amor brota espontâneamente do coração, que não põem questões nem fazem perguntas. Este é que é o verdadeiro amor, porque é incondicional, não depende de nada.

Na população laica, os grandes católicos, os puros e genuínos, encontram-se sobretudo entre as mulheres.

26 agosto 2011

não tiveram tempo

Na doutrina católica, a palavra Verdade tem, em primeiro lugar, um sentido teológico e significa Deus. Mas a palavra tem também um outro sentido, mais laico ou filosófico, e que é muito importante, certamente para as ciências sociais, como a Economia, a Política e a Sociologia.

Esse sentido é o seguinte: Existe ou não uma maneira certa - verdadeira - de fazer cada coisa na vida? A doutrina católica responde afirmativamente a esta questão. Acerca de cada questão da vida existe uma Verdade que é absoluta. O protestantismo (e, consequentemente, a filosofia moderna e as ciências sociais modernas) responde a esta questão de forma negativa: existem várias maneiras de fazer a coisa, cada uma é apenas relativa. Daí o relativismo cultural do protestantismo.

Eu hoje penso que a doutrina católica é que está correcta, que existe uma maneira certa de fazer cada coisa na vida (v.g., tomar banhos de mar), de que todas as outras maneiras são meras imitações mais ou menos defeituosas, e que essa maneira certa demora tempo a descobrir na vida. Mas existe e, se eu tiver tempo e a procurar com afinco, acabarei por descobri-la. O tempo é uma variável essencial da doutrina católica. Definitivamente, esta não é uma doutrina facilmente compreensível para jovens. Eles ainda não tiveram tempo.

Não é possível a um homem de trinta anos ter um debate racional sobre as questões essenciais da vida com uma criança de 5 anos. A diferença de 25 anos deu ao primeiro experiências da vida que o segundo ainda não pode ter. Será possível a um homem de 55 ter um debate racional sobre questões essenciais da vida com outro de 30 anos? A diferença de idades é a mesma - 25 anos.

Mas a resposta é também negativa, e pela mesma razão, embora seja certo que a proximidade e a possibilidade do diálogo é agora maior do que no caso anterior. Não obstante, existem certas questões sobre as quais o entendimento parece vedado.

E entre um homem de 95 e outro de 70? Sim, agora o diálogo racional sobre praticamente todas as questões da vida já é possível, e os consensos vão ser numerosos, coisa que não acontecia nos dois casos anteriores, especialmente no primeiro. É que estes dois homens já tiveram a oportunidade de ter praticamente as mesmas experiências de vida, ambos foram pais e avós, tiveram carreiras profissionais, gozaram a reforma, conheceram milhares de pessoas muitos diferentes, etc. A Verdade absoluta existe - nos consensos entre estes dois últimos homens - demora é tempo a chegar-se lá.

Recentemente, um senhor das minhas relações, com 83 anos de idade, virou-se para mim e disse-me: "Oh Pedro, aquilo que é o mais importante na vida descreve-se por uma palavra: Equilíbrio. Demorei 83 anos a chegar a esta conclusão". Oitenta e três anos para chegar à verdade. Ele diz-se ateu, mas a verdade a que ele chegou é a verdade católica. (cf. aqui, aqui e aqui).

pensamento libertário

Porquê alistarmo-nos na marinha se podemos ser piratas?

Steve Jobs

25 agosto 2011

os líderes fazem a diferença


ministras, deputadas e juizas

Num post anterior, estabeleci que num país de tradição católica é o povo que destrói a democracia, e que o carácter anti-democrático da cultura popular católica deriva da característica cultural designada por personalismo ou excepcionalismo católico.

O povo, porém, é constituído por homens e por mulheres, e a questão a que pretendo responder agora é a seguinte: quem contribui mais para minar a democracia num país de tradição católica, os homens ou as mulheres?

As mulheres, a grande distância dos homens.

O personalismo católico que se manifesta no povo por uma tendência, quase obsessiva, para cada um se diferenciar dos demais é, em primeiro lugar, uma característica feminina. Uma mulher, muito mais do que um homem, não gosta de ser vista nem tratada como qualquer outro, muito menos como qualquer outra. A condição de igualdade entre todos, a submissão de todos ao mesmo tratamento e às mesmas regras - a condição essencial subjacente ao chamado Estado Democrático de Direito - é radicalmente contrária à natureza feminina. Toda a mulher se vê a si própria, e quer ser vista e tratada pelos outros, como um ser único e uma excepção.

Por isso, quando as mulheres começam a ocupar funções institucionais nos três poderes do Estado democrático - o executivo, o legislativo e o judicial -, como ministras, deputadas e juizas, a democracia corre perigo e fica seriamente ameaçada. E isto é assim quanto maior fôr o número de mulheres nessas funções. Não é por acaso que, em Portugal, aquele dos três poderes do Estado em que as mulheres são já mais numerosas do que os homens - o poder judicial - é precisamente aquele que se encontra em fase mais adiantada de degradação.

SPA do Vidago Palace II



















O Photoshop não é da minha autoria...

SPA do Vidago Palace

Acesso ao SPA do Vidago Palace, obra do Arquitecto Siza Vieira, inaugurada em 2010 pelo Eng. José Sócrates.

Vidago Palace II


Vidago Palace


















Obra do Arquitecto José Ferreira da Costa, inaugurada em 1910 pelo Rei D. Manuel II (foto após renovação).

Erotic Capital

“Everybody should use all the assets they've got, and this is one asset that women have often been told is inappropriate to use,” she says. “I think women need to stop having a chip on their shoulder, or feel uncomfortable investing in erotic capital. Attractiveness and beauty has real value.”

a Gente dos negócios

Vítor Gaspar é o 5º mais poderoso da economia portuguesa.

Até há pouco tempo, o Vítor era um ilustre desconhecido da grande maioria dos portugueses. Hoje, o JN destaca-o como "o 5º mais poderoso da economia portuguesa". A verdade, porém, é que poderoso, em Portugal, é o cargo de Ministro das Finanças. Se o Vítor bater com a porta, como fez Campos e Cunha há uns anos atrás, o seu sucessor passa de imediato a ocupar o tal 5º lugar.
Era mais honestinho que o JN designasse um anónimo "Minstro das Finanças" para tão importante lugar na economia portuguesa.

Muito chato



Eu gostava de saber porque é que sou considerado o mais reaccionário blogueiro português. Porque é chato um homem ser considerado o mais de qualquer coisa e não saber porquê. Muito chato.

Entre o povo não é

A democracia nunca sobreviveu de forma duradoura como sistema de governação nos países de tradição católica. Portugal está em vias de confirmar esta asserção mais uma vez. A prazo, um país católico governado pelo sistema de sufrágio universal arruina-se (na melhor das hipóteses, porque, na pior, entra em guerra civil, como já aconteceu em Portugal na década de 1820 e mais recentemente em Espanha, na década de 1930).

Para compreender um país católico, muito mais do que um país protestante, é essencial a distinção entre a elite - representada, em última instância pela figura de Cristo - e o povo, que possui comportamentos e valores que, em vários graus, são anti-cristãos.

A questão que pretendo responder aqui é a seguinte: sendo que, a prazo, a democracia de sufrágio universal nunca sobrevive num país de tradição católica, quem é que destrói a democracia - é o povo ou a elite, ou ambos?

É o povo.

O povo não é democrático. A elite é democrática.

Na base da demonstração está aquela característica da cultura católica que mais a distingue da cultura protestante - o personalismo católico. Antes de prosseguir, eu gostaria de afirmar que o personalismo católico que leva cada pessoa a afirmar-se como sendo diferente de todas as outras (e, portanto, uma excepção, daí a designação alternativa de excepcionalismo católico) é, em primeiro lugar, uma característica feminina, muito mais que masculina, fazendo justiça à natureza essencialmente feminina da cultura católica. Experimente-se dizer a uma jovem mulher que ela é parecida com a mãe, e observe-se, de seguida, a sua reacção. Uma mulher não admite sequer ser igual à mãe, quanto mais à vizinha do lado. Ela é única, uma excepção. Pelo contrário, um homem é largamente indiferente à observação de que é parecido com o pai.

O personalismo católico deriva de Deus ter uma relação pessoal com cada um, de existir Deus ou a Verdade em cada um, mas essa Verdade não se revela na sua plenitude assim de uma vez por todas. Vai-se descobrindo ao longo da vida. Cada um possui a Verdade (ou é possuído por Ela), mas de uma forma necessariamente limitada e parcial (caso contrário, cada um seria Deus), e a Verdade revela-se a cada um de maneira diferente. Sendo assim, não é possível a estas pessoas porem-se de acordo sobre o que quer que seja, cada um tendo uma verdade que é diferente da de todos os outros. Os consensos, por mínimos que sejam, são impossíveis, e assim também a democracia. Todos discordam de tudo. Num país de tradição católica, discordar do que quer que seja é um desporto ainda mais popular que o futebol (e uma característica distintiva do homem do povo, e mais ainda, da mulher do povo).

À medida que um homem vai passando pela vida, e se eleva para Deus - um traço característico do homem de elite -, a visão que ele tem da Verdade vai-se tornando mais nítida e completa, e o mesmo acontece com todos os outros homens que evoluem neste processo. A visão que cada um tem da Verdade passa a ter muito mais em comum com a dos outros do que de diferente. Estes homens tornam-se pares, aquilo que eles têm em comum é muito mais do que aquilo que os separa. O bem comum e o bem pessoal confundem-se. Estes homens são democratas por excelência, a sua capacidade para respeitar o próximo, que é igual a eles, é extraordinária, e a visão do bem comum é praticamente igual entre eles. A democracia é possível entre estes homens. (E de facto assim acontece na Igreja Católica, em que a elite dos cardeais pratica a democracia na eleição do Papa. Pelo contrário, generalizar a democracia a todos os padres e, mais ainda aos fieis, destruiria a figura do Papa e a Igreja).

Eu gostaria neste ponto de utilizar uma analogia para descrever o processo que expus no parágrafo anterior. Suponhamos três pessoas, colocadas em lugares distintos do mundo, a discutir o que é a Lua (a analogia para Deus ou a Verdade). Um deles, do ponto em que se encontra, à noite, diz que a Lua tem a forma de um C (quarto minguante); outro, colocado noutro país, também à noite, diz que a Lua tem a forma de um D (quarto crescente); e ainda outro, num terceiro país, a uma hora do dia, diz pura e simplesmente que a Lua não existe (este é o ateu da analogia). Eis o povo de tradição católica. Nunca irão chegar a um consenso acerca do é a Lua.

Admitamos, porém, que estas três pessoas começam a elevar-se em direcção à Lua até se encontrarem nela. À medida que progridem para a Lua aproximam-se também entre si e a visão que cada uma delas tem da Lua, que à partida era muito diferente, torna-se cada vez mais igual. A tal ponto que, quando se encontrarem na Lua, todos terão a mesma visão dela. Agora é possível formarem um consenso acerca do que é a Lua. A Lua pode ir a votos, porque vai resultar daí uma definição precisa e consensual - a Verdade - acerca do que é a Lua. Antes, ça serait la bagarre, e nenhuma Verdade acerca do que é a Lua resultaria da discussão e da votação.

A cultura católica, para ser verdadeiramente universal, contém tudo, e cada coisa de um extremo ao outro, mais todos os seus graus intermédios. E o personalismo católico que, no povo, leva cada homem (e mais ainda cada mulher), quase obsessivamente, a pretender diferenciar-se dos outros, conduz, na elite, a que cada homem se sinta quase perfeitamente igual aos outros. Pergunte-se a um cardeal se considera ter mais de comum ou de diferente em relação aos seus pares, e observe-se a resposta. Entre homens assim é possível a democracia. Entre o povo não é.


Não é possível

Recentemente, D. José Policarpo, o cardeal Patriarca, cometeu uma grande gaffe ao deixar cair numa entrevista que não via objecção à ordenação das mulheres, e que, na opinião dele, era apenas uma questão de tempo até que a Igreja a viesse a admitir.

A observação foi muito protestante e, consequentemente, moderna, mas radicalmente contrária à doutrina católica. O padre católico é suposto ser uma réplica de Cristo, e Cristo era homem. Portanto, o padre católico tem de ser homem. Ponto final parágrafo. Terá sido este o teor de uma carta que passados dias D. José Policarpo terá recebido do Vaticano. Na boca de um cardeal, a gaffe foi monumental.

A doutrina cristã, na sua interpretação católica, é uma doutrina eminentemente racional, e Deus a razão perfeita. A questão mais importante não é tanto a de saber por que é que uma mulher não pode ser padre, porque a resposta a essa questão está dada - porque Cristo era homem. Mais importante é perguntar porque é que Cristo, sendo homem, não tinha mulher, porque é que Deus nunca deu a Cristo uma mulher.

Porque não é possível a um homem servir ao mesmo tempo a Deus e a uma mulher.

É este também o sentido do pecado original. E é esta a razão porque Cristo não tinha mulher e, consequentemente, porque os padres, não se podem casar. Já houve um período na história da Igreja em que os padres podiam casar-se. As coisas não correram bem. Padres casados enfraquecem enormemente a Igreja, e não é certo que ela não acabasse por desaparecer. Porquê? Porque não é possível a um homem servir ao mesmo tempo a Deus e a uma mulher.

Não acredita? Experimente. Experimente viver com uma mulher e anunciar-lhe que, a partir de certo momento, vai passar a levar uma vida de padre (Cristo), uma vida de oração, meditação, recolhimento e de boas obras de amor ao próximo. Em breve a sua vida se tornará impossível. Quem lhe fará a vida impossível? A sua própria mulher.

24 agosto 2011

o mais

Começo a temer que talvez tenha razão aquele que dizem ser “o mais reaccionário” blogueiro português, Pedro Arroja, e que não foi por acaso que este povo quis Salazar, e que prefere mesmo o totalitarismo. (aqui)

wake up and smell the coffee

Os milionários norte-americanos e europeus estão a sofrer um ataque de generosidade?
João Cândido da Silva, no JN

Gostaria de responder claramente a esta pergunta do JCS. Não, os milionários norte-americanos e europeus estão a agir no plano do mais puro egoísmo possível porque eles são os beneficiários directos das políticas Keynesianas dos governos dos seus países.
Cada Euro que entreguem com a mão esquerda regressará à mão direita, depois de multiplicado dezenas de vezes. Por isso é que nos países socialistas os "ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres".
Generosidade?
"Wake up and smell the coffee".

eu não me considero rico

Não fica bem ao Jornal de Negócios tentar ridicularizar o Sr. Américo Amorim.
Eu compreendo perfeitamente o que ele diz, trabalha todos os dias como qualquer outro assalariado da sua empresa.
Infelizmente, os jornalistas do JN não entendem a hipocrisia dos Buffett's deste mundo.

23 agosto 2011

de 21 anos de idade



É uma dupla vergonha o Governo mandar afixar na internet os vencimentos dos empregados do Estado, pessoal político e funcionários de carreira. Felizmente não são afixadas as prebendas que normalmente se auferem com este empregador, como automóveis, telemóveis, subsídios disto e daquilo porque, então, a vergonha seria tripla.

É uma vergonha, em primeiro lugar e decisivamente, porque quebra a relação de confidencialidade que existe entre o empregador e o empregado. Muitas pessoas não dizem sequer em casa, à mulher ou ao marido, quanto ganham, menos ainda ao vizinho, e vêem agora a sua privacidade ser exposta, sem sua autorização, perante o público.

É uma vergonha, em segundo lugar, porque num país em que o português médio ganha, brutos, 750 euros por mês - e apenas aqueles que têm emprego -, aquilo que se vê no Estado é jovens de 30 anos, que mal tiveram tempo para começar uma carreira, a auferir vencimentos de 4 e 5 mil euros ao mês (fora as prebendas); um puto de 26 anos a ganhar mais de 3 mil euros por mês; e um motorista de 21 anos de idade a ganhar mil e seiscentos euros por mês, enquanto, ao lado, um outro, com 48 anos e idade para ser pai dele, ganha o mesmo.

Ninguém acredita que estes vencimentos resultem do mérito ou de qualquer tipo de experiência sólida. São puro nepotismo. O Governo devia ter vergonha.

pagar para educar

Até aos anos cinquenta, a responsabilidade pela educação das crias era dos pais. Depois, com a democratização do ensino básico, essa responsabilidade passou, em grande parte, para a escola. E agora desembocou na polícia e nos tribunais.
Desconfio, porém, que o ciclo deve estar a fechar-se. É só esperar até ver a reação dos pais às multas de centenas de euros que a polícia lhes está a passar pelo mau comportamento das bestinhas. Vai chover bordoada e não vai ser pouca. Volta tudo ao antigamente, só que o Estado passa a cobrar às famílias pelo direito de educarem os filhos.

"We are not Portugal"

The First Law of American Ratings:

"Rating downgrades are just and fair for each and every country - except for the USA"

uma lei cultural

Portugal está a viver uma nova onda de grande emigração. Para além das estatísticas, são cada vez mais ouvidas as histórias de famílias portuguesas que vão para o Brasil, o Luxemburgo, a Suíça, a França e o Canadá, acolhidas por familiares e amigos, e à procura de trabalho.

Certo dia, no início dos anos 80, eu conversava em Nova Iorque com um jovem casal brasileiro, ele universitário e economista como eu. O Brasil atravessava então uma grave crise económica e esse período marcou o inicío de um grande fluxo migratório de brasileiros para a América do Norte. Discutimos longamente a crise económica brasileira e, no final, ele, referindo-se ao seu próprio país, rematou assim a conversa: "Pobre país que não consegue alimentar os seus próprios filhos".

Eu achei a frase emblemática, e por isso a recordo à distância de 30 anos. Tanto mais que Portugal vivia então uma crise económica parecida, ainda no rescaldo do 25 de Abril, por essa altura já tinha recorrido duas vezes à ajuda do FMI, e os portugueses também procuravam no estrangeiro ganhar a vida que não conseguiam ganhar no seu próprio país. Recordo-me até de um episódio que me deixou bastante embaraçado.

O Canadá tinha por essa altura restringido a imigração de carácter económico, admitindo-a apenas nos casos de perseguição política ou religiosa nos países de origem. Certo dia, aterrou no aeroporto de Toronto um avião da TAP com 300 portugueses a bordo que, em massa, em conluio com advogados locais (portugueses), pediram o estatuto de refugiados, alegando serem Testemunhas de Jeová e serem perseguidos em Portugal. Embora o país raramente fosse citado na imprensa canadiana, no dia seguinte fez as primeiras páginas dos jornais: "Perseguição religiosa em Portugal".

Eu não sei com que cara entrei na sala de aula nesse dia para dar uma aula a um curso de MBA constituido essencialmente por adultos, e que naturalmente me interrogaram sobre o assunto. Expliquei-lhes que era falso existirem perseguições religiosas em Portugal. Mas tive grande dificuldade em explicar-lhes o que era a figura do "chico-esperto" (uma figura distintamente católica), porque essa figura não existe na cultura canadiana, e os que existem estão na cadeia. Como quer que fosse, eu lembrei-me daquela frase emblemática do meu colega brasileiro: "Pobre país que não consegue dar de comer aos seus próprios filhos".

Eu já assisti na minha vida a três vagas de emigração em Portugal. A primeira foi nos anos 60 e dizia-se que a culpa era do regime do Salazar (e, então, não é que eu acreditei nessa patranha durante muito tempo?); a outra foi no final dos anos 70, princípios dos anos 80; e, finalmente, a presente vaga. Suponho que estas duas últimas não foram culpa do Salazar.

Não, não foram, nem estas nem a anterior. Todas estas três vagas de emigração, mais todas aquelas que recorrentemente existiram ao longo da história de Portugal, foram culpa de uma causa muito diferente - a cultura católica - e é essa cultura que, também de forma recorrente, gera ondas de emigração no Brasil, na Itália, no México, enfim, em todos os países de tradição católica. Os protestantes não emigram, certamente que não em vagas.

Um país de cultura católica - que quer dizer universal -, volta não volta, tem de gerar condições (v.g., instabilidade política, crises económicas) para mandar para o estrangeiro uma boa parte dos seus filhos. São estes que vão ver aquilo que se passa no estrangeiro para, mais tarde, trazerem para o país. Só assim a sua cultura se mantém universal. A emigração é uma lei cultural dos países de tradição católica. Não há nada a fazer e nada acrescentam os lamentos de "Pobre país..." (excepto, talvez, para dizer que esta é também uma cultura em que o povo gosta de se lamentar). Volta não volta, há uma vaga de emigração. A própria cultura se encarrega espontaneamente de cozinhar as razões para que ela aconteça.

mais vale ficar num hostel

3,000.00 US$ por noite e nem sequer limpam o quarto em condições!

from Goldman to Shitman


This week in 1934, “public enemy No. 1” Al Capone was sent to Alcatraz, having already spent two years in an Atlanta prison for tax evasion. The charge that did him in was minor compared with the money he pillaged, but it nonetheless sunk him.
Blankfein may find himself in a parallel situation. If, as Wells indicates, the CEO hired outside counsel to deal with the PSI report, he may be considering the prospect of a perjury and related obstruction of justice charge.

a mão invisível I

Pequeno comércio desiste do Multibanco por causa da crise.

dormir juntos











Eis como o Público se referiu (na edição impressa) à noite de vigília da JMJ, em Cuatro Vientos:

"COMO ACORDA UM MILHÃO DE JOVENS QUE DORMIRAM JUNTOS".

Na edição online, o título mudou para:

O acordar de um milhão de jovens antes da última missa com o Papa.

Sem saber que o evento se referia à visita do Papa, a primeira coisa que eu pensei foi que se tinha organizado a orgia do milénio.

21 agosto 2011

Rick Perry for President

- Eu vou trabalhar todos os dias para que Washington seja o mais irrelevante possível para as vossas vidas.

- É altura de passar a pasta para Deus e ser muito claro: "Senhor, Vós é que tendes de resolver esta crise".

Os homens saem

Não se trata de sair do Euro, porque não faz parte dele, mas da própria União Europeia. É um país protestante e, portanto de cultura masculina. Os primeiros sinais estão já aqui. É o Reino Unido.

Os homens saem, as mulheres ficam.

Ela faz-lhe a vida impossível

Eu nunca tive dúvidas que o Euro não resistiria. Mas tenho de admitir que sempre considerei que o divórcio entre os países do Euro se consumaria com a saída dos países de tradição católica - essencialmente, os PIIGS - e a permanência no Euro dos países de tradição protestante.

Foi o Ricardo que ultimamente, utilizando um argumento económico, me chamou a atenção para a possibilidade oposta - a de ser a Alemanha a abandonar o Euro, acompanhada dos países satélites, como a Holanda, a Finlândia, eventualmente a França.

Eu hoje estou persuadido que é, de facto, assim, que vai acontecer - a Alemanha vai sair do Euro, e levará a companhia dos outros países protestantes. Os PIIGS ficam com o Euro.

Neste divórcio, a cultura feminina é a dos PIIGS - a cultura católica e a ortodoxa grega - e a cultura masculina é a da Alemanha e dos outros países predominantemente protestantes. Num divórcio, é normalmente a mulher que fica em casa e o homem é posto fora. Ela faz-lhe a vida impossível

nº 23 147

A beleza da doutrina católica não está somente em ela dar uma resposta perfeitamente racional a qualquer questão que se lhe possa colocar acerca da vida humana. Está muito para além disso. Está no facto de a resposta que ela dá à questão nº 78 ser perfeitamente coerente com a resposta que ela dá à questão nº 23 147.


No post anterior ficou ilustrado porque é que as sociedades de cultura católica, como Portugal, são sociedades predominantemente femininas. É que, nas coisas terrenas que são decisivas e vitais, a mulher é mais importante que o homem. Daí também que as mulheres estejam mais vocacionadas para as coisas da terra, e os homens mais vocacionados para as coisas do céu (Cristo era homem), uma conclusão coerente com o carácter exclusivamente masculino do clero católico.

o coração

No post anterior referi que o Papa considera que se chega à Verdade utilizando concorrentemente dois instrumentos - o intelecto (razão) e o coração (amor) -, ao passo que o protestantismo, na doutrina distintiva de Kant, considera que se chega à Verdade exclusivamente pelo intelecto.

Onde é que está a Verdade acerca desta questão, na posição católica ou na posição protestante?Antes de responder a esta questão, pretendo formular uma outra, e responder às duas conjuntamente:

Se perguntássemos ao Papa qual dos dois instrumentos, o intelecto (razão) ou o coração (amor) é o mais importante, o que é que Ele responderia?

Em lugar de considerar questões de lana caprina, e ponderar o papel do intelecto e do coração (se algum) para se chegar à Verdade acerca delas, dirijo-me a uma questão realmente importante e vital, a mais importante de todas - a da vida.

Quandio eu nasci, a minha mãe cuidou de mim - na realidade, já vinha a cuidar de mim há nove meses -, deu-me de mamar e prestou-me outros cuidados sem os quais eu não teria sobrevivido, e continuou a cuidar de mim durante muitos anos até eu me tornar independente.

Será que a minha mãe cuidou de mim porque antes se entregou a um cálculo de custos e benefícios que eu lhe iria trazer mais tarde na vida? Não. Se se tivesse entregue a esse exercício do intelecto - ou a qualquer outro da mesma natureza - ter-me-ia deitado ao mar logo após eu nascer. Ela cuidou de mim por amor, puro amor, foi o coração a funcionar e mais nada. E foi assim, cuidando de mim e não deitando-me ao mar, que ela se aproximou da Verdade, porque eu também tenho um pouco da Verdade.

Está dada a resposta à primeira questão. O coração também é necessário para chegar à Verdade, e não apenas o intelecto, como pretendem os protestantes. E quanto à segunda questão, fica também respondido que nas questões essenciais - como a da vida - o coração é mais importante que o intelecto, e seria essa também a resposta que o Papa daria a esta questão.

Posto de outro modo, o coração e o intelecto, o amor e a razão, são ambos necessários para se chegar à Verdade. Dependendo da questão em concreto e das circunstâncias, devem ser utilizados ambos conjuntamente, num equilíbrio adequado para se chegar à Verdade acerca dessa questão. Mas nas questões verdadeiramente essenciais como as da vida, o coração - que é uma forma de conhecimento predominantemente feminina - é mais mais importante que o intelecto, que é uma forma de conhecimento predominantemente masculina.

Nas questões essenciais, o feminino é mais importante que o masculino, a mulher é mais importante que o homem. Por isso, a veneração de Maria em detrimento de Cristo, que é típica da cultura católica, a Igreja como uma figura também feminina, o pedestal em que são colocadas as mulheres em relação aos homens nos países de tradição católica, e a natureza feminina dos países de cultura católica, como é Portugal.

no protestantismo

O discurso do Papa Bento XVI aos jovens universitários em Espanha, citado pelo Joaquim em baixo, põe em evidência alguns contrastes fundamentais entre a cultura católica e a cultura protestante e que as torna, sob certos aspectos, irreconciliáveis. Naquilo que segue, utilizo o Kant, às vezes considerado o filósofo do protestantismo, como termo de comparação ao pensamento do Papa.

Primeiro, a Verdade existe e nós podemos conhecer a Verdade. Para o protestantismo, nós não podemos conhecer a Verdade, mas apenas as aparências.

Para o Papa, chega-se à Verdade através do coração (amor) e do intelecto (razão), que são a contribuição feminina e masculina, respectivamente, desse empreendimento. Pelo contrário, para o protestantismo chega-se à Verdade somente através do intelecto (razão), tornando a procura da Verdade um empreendimento predominantemente masculino e conferindo às sociedades protestantes o seu carácter essencialmente masculino.

As pessoas não possuem a Verdade, diz o Papa, é a Verdade que as possui a elas. A Verdade está nelas. Elas só têm que aproximar-se dela. A procura da Verdade é um processo interior, espiritual, de contemplação e meditação. Pelo contrário, para o protestantismo, a Verdade é exterior às pessoas e a aproximação à Verdade (ou às suas aparências) é um caminho exterior, o da investigação.

Para o Papa, a aproximação à Verdade é um processo pessoal ou subjectivo, cada um tem o seu caminho, porque a Verdade não se revela da mesma maneira para todos. Para o protestantismo, pelo contrário, a verdade é objectiva, igual para todos, revela-se a todos da mesma maneira e, por isso, só qualifica como tal, quando é sancionada por todos (ou, pelo menos, pela maioria).

Este último ponto é essencial do ponto de vista da teoria do conhecimento.
Para o catolicismo, a visão que eu tenho da Verdade é tão respeitável como a visão que o meu vizinho tem da Verdade, porque embora a Verdade seja única, una e indivisível, ela revela-se a cada um de nós de forma diferente. Estamos no cerne do chamado personalismo católico. Para o protestantismo (Kant), pelo contrário, as coisas passam-se de maneira muito diferente. A única visão que interessa da Verdade é aquela que é sancionada pela maioria, sendo que a minha visão pessoal não interessa para nada, já que a Verdade é igual para todos e revela-se a todos da mesma maneira, e se se revelou a mim de maneira diferente é porque eu tenho algum defeito (v.g., loucura). A desvalorização da pessoa humana é notória, a pessoa humana sujeita à "Verdade" da multidão. As origens dos totalitarismos modernos não se devem procurar noutro lugar. Devem procurar-se no protestantismo.




busca a verdade

A juventude é tempo privilegiado para a busca e o encontro com a verdade. Como já disse Platão: «Busca a verdade enquanto és jovem, porque, se o não fizeres, depois escapar-te-á das mãos» (Parménides, 135d). Esta sublime aspiração é o que de mais valioso podeis transmitir, pessoal e vitalmente, aos vossos estudantes, e não simplesmente umas técnicas instrumentais e anónimas nem uns dados frios e utilizáveis apenas funcionalmente.
...
... havemos de considerar que a verdade em si mesma está para além do nosso alcance. Podemos procurá-la e aproximar-nos dela, mas não possuí-la totalmente; antes, é ela que nos possui a nós e estimula.

Bento XVI, discurso aos professores universitários no Escorial.
Algumas das melhores intervenções de Bento XVI, na minha opinião, são dirigidas "à Universidade".

no compassion

Não há compaixão nas sociedades nórdicas. Por isso é que a Lei procura introduzir algum humanismo nas relações sociais.
Quando se parte o verniz, porém, os nórdicos revelam o seu verdadeiro carácter e evidenciam todos os seus mecanismos tradicionais de defesa.
Estou convencido de que o Sr. Anders Breivik não devia conhecer esta faceta dos seus conterrâneos. Certamente estava à espera de um alegre convívio na cadeia, de uma resposta positiva à sua solicitação de um psiquiatra japonês, de um palanque para se gabar das suas façanhas, de um écran de plasma e de uma Playstation, para se entreter a matar “monstrinhos”.
A realidade é que já completou 1 mês de solitária e vai completar o segundo. E que, por certo, não se vai livrar de perpétua.
No nosso País, por esta altura, já toda a gente chorava a triste sorte dos Breivick’s e até a desgraça do Anders: “Ele até que não é mau rapaz, foi qualquer coisa que lhe deu...”. A responsabilidade pelos seus actos seria atribuída a factores externos (os portugueses têm um locus externo) – foi a educação que recebeu, a rejeição social ou até... foi o diabo.
Na Noruega, uma sociedade masculina, a responsabilidade será considerada 100% do Anders e os noruegueses não demonstrarão qualquer compaixão. Eles não sabem o que isso é.

20 agosto 2011

gradual e negociada ... ahahahahah

Se a saída for gradual e negociada, não é nada dramático.
Gustavo Cudell sobre a saída do Euro.

Não há saída "gradual e negociada". Ou se está dentro ou se está fora e não é possível prever o impacto real da saída de Portugal do Euro porque depende, em grande parte, de factores externos como são os mercados financeiros.
Aliás, a simples percepção de que se está a planear a saída do Euro anularia qualquer benefício imediato dessa saída devido à fuga de capitais. Uma corrida aos bancos, por exemplo, seria inevitável.

Leitura adicional:
A saída do Euro, PA

a Alemanha beneficiou com o Euro

Germany has benefitted more than any other country in the Eurozone since the launch of the Euro in 2002, according to the latest Bruges Group research.
The Euro has effectively become a German currency empire which is draining the resources of the Eurozone’s smaller economies. The harm that German policy is causing is so severe that the Mediterranean-Rim countries are caught in a debt trap where their economies are suffering, they are incurring debt and must then impose austerity measures which further weaken their economies. Yet their economies will not grow so long as the Euro helps German manufacturers dominate the Eurozone.

The document, entitled German Economic Policy and the Euro 1999-2010 reports that since the launch of the Euro currency on 1st January 2002:


  1. The German economy has grown faster than any other country in the Eurozone
  2. Germany has been by far the largest exporting nation within the Eurozone
  3. In the last 3 (recorded) years alone, Germany has run up massive trade surpluses with the other Eurozone countries averaging €100 billion per year
  4. The ECB’s exchange rate policy favors German interests
  5. Germany entered the euro at too low a rate of exchange, cementing its historic economic advantage and to the disadvantage of countries with smaller economies such as Greece and Ireland
  6. The siting of the ECB in Frankfurt enabled Germany to influence policy regarding the Euro in its own interests

PS: A propósito da entrevista do empresário Gustavo Cudell ao ionline.

19 agosto 2011

ninguém é uma tábua rasa

‘As a young teenager in proudly peaceable Canada during the romantic 1960s, I was a true believer in Bakunin’s anarchism. I laughed off my parents’ argument that if the government ever laid down its arms all hell would break loose. Our competing predictions were put to the test at 8.00 a.m. on 17 October 1969, when the Montreal police went on strike. By 11.20 a.m. the first bank was robbed. By noon most downtown stores had closed because of looting. Within a few more hours, taxi drivers burned down the garage of a limousine service that competed with them, a rooftop sniper killed a police officer, a doctor slew a burglar in his suburban home. By the end of the day, six banks had been robbed, a hundred shops had been looted, 12 fires had been set, 40 carloads of storefront glass had been broken, and three million dollars in property damage had been inflicted, before city authorities had to call in the army and, of course, the Mounties to restore order. This decisive empirical test left my politics in tatters…’

Steven Pinker, in Blank Slate

mecânica moral

Não é possível instilar (ensinar) valores morais em ninguém.

Intuitivamente, tendo a subscrever esta tese.

sobre a causa dos motins

... a natureza humana é completamente violenta e perversa.
Matthew Leeming, numa carta ao Spectator.

viciado no dinheiro dos outros

Não obstante as suas qualidades, Cavaco Silva nunca se conseguiu libertar do colete de forças keynesiano e as suas mais recentes afirmações são evidência disso mesmo: Cavaco Silva considera “teoricamente muito estranho” travão constitucional ao défice.

André Azevedo Alves

quercus lamenta

Quercus lamenta que a proposta de meter na choldra quem tiver uma planta ou um animal que conste do "index" não é suficientemente ambiciosa (sic).
Para a Quercus a única espécie que não merece protecção deve ser o Homo Sapiens.

lista de espécies protegidas do reino animal




Pode consultar a lista aqui.

PS: Ainda se usa a expressão: Reino Animal? Não seria mais republicano usar Fauna?

lista das plantas protegidas

Cistus ladanifer
Helminthotheca comosa
Marsilea azorica
Prunus azorica
Prunus lusitanica
Spiranthes aestivalis
Xolantha globulariifolia

Consultar lista aqui.

plantas protegidas

Alguém tem aí uma lista das plantas protegidas?

18 agosto 2011

doutores e engenheiros

Que sentido faz que um dirigente superior da administração pública, ou um presidente de um organismo do Estado, tenha que ter uma licenciatura?
Este princípio é contrário ao que se passa no sector privado, em que as situações são avaliadas caso a caso e em que muitos quadros superiores sobem a pulso até chegarem ao conselho de administração. Pelo caminho vão frequentando cursos de formação e estágios que lhes conferem o conhecimento e a experiência necessária. Algumas empresas até têm os seus próprios centros de formação.
Por outro lado, à tutela destes dirigentes, secretários de Estado, ministros e até ao primeiro-ministro, não são exigidos quaisquer requisitos educacionais.
É muito estranho.

tabelas

A política trata do poder, de ajudar as facções amigas e de prejudicar as inimigas. Nenhum governo pode escapar a este enquadramento. O que pode é alinhar os interesses em jogo com o Bem Comum e estabelecer tabelas bem claras.
Até agora, não é "bem claro" que o novo governo esteja a actuar desse modo.

só pode


velhinhos

Novos dirigentes do Estado têm de ser licenciados há 12 anos.

Nos EUA, se tiverem sucesso, alguns licenciados há 12 anos já estão reformados.

17 agosto 2011

laboratório

A cultura católica, com a sua propensão para aceitar tudo e a sua flexibilidade pendular para ir de um extremo ao outro e ao exagero, é um excelente laboratório para a humanidadel. Invente-se uma instituição social e ponha-se essa instituição a funcionar num país católico. Se ela resistir aí - onde vai ser testada até aos extremos do abuso - então, resistirá em toda a parte, é uma instituição para a humanidade.

Ora, a democracia parlamentar e de sufrágio universal nunca resistiu nos países de cultura católica, como se está a ver mais uma vez. Conclusão: este tipo de democracia não é uma instituição adequada para governar a humanidade.

Quando, dentro de alguns anos, a democracia acabar, eu sempre quero ver onde se vão meter tantos democratas.

iludidos

As universidades só ensinam protestantismo. As doutrinas económicas são protestantes, as doutrinas sociológicas são protestantes, as doutrinas políticas são protestantes, as doutrinas filosóficas são protestantes, as doutrinas jurídica são protestantes. Não existe nelas réstea de pensamento católico - incluindo, em muitos casos, as universidades católicas.

Elas formam cientistas e a marca distintiva da ciência que elas promovem é a exclusão de Deus. A ciência torna-se uma espécie de religião sem Deus. Ora, uma religião sem Deus é uma instituição muito interessante. Cada um, cada cientista, acabará a ambicionar ser Deus e alguns julgarão mesmo que o são. Uma ilusão. As universidades e as ciências formam homens iludidos.

Tenho reparado no ministro das Finanças, que é universitário e economista. Aqueles papos nos olhos, deve passar noites em branco, parece que carrega o mundo às costas. Ele aparenta o ar de quem está convencido que vai resolver os problemas nacionais. Mas não vai. É uma ilusão.

surpreendido

O pensamento de origem protestante, na sua revolta contra a autoridade e a tradição, bem como nas doutrinas que nele tiveram origem - como o liberalismo e o socialismo - tem muito de adolescente. É um pensamento que apela a pessoas jovens, alimentando-lhes ilusões, embora seja essencialmente falso e irrealista.


Fui verificar que idade tinha o Lutero quando se revoltou contra a Igreja. Tinha 33 anos. Não fiquei surpreendido.

viável

A democracia só é viável entre pares, entre pessoas que alcançaram a mesma estação na vida. Os pares têm mais em comum do que de diferente. Só eles podem ter uma visão do bem comum.

zangado

O Joaquim anda zangado. Confiou muito neste governo que rapidamente o desiludiu.

Eu, pelo contrário, vou aguardando calmamente o estouro do Euro. Só então será possível começar a resolver os problemas nacionais.

multitransportaridade

Na maior parte das cidades do mundo ocidental já não se anda só de burro ou de carro de bois. Há transportes públicos, carros privados, táxis, motas, bicicletas e até Segways, skates, trotinetas e patins. Podemos falar de uma verdadeira revolução nos meios de transporte, uma espécie de multitransportaridade (tipo multiculturalismo).
Ora como é que tantos milhões de pessoas, em veículos tão diversos, convivem sem se atropelarem constantemente umas às outras. Muito simples, todas têm de respeitar o chamado Código da Estrada. Até os peões! Desse modo, o risco de acidentes é mínimo.
De igual modo, o convívio entre diferentes culturas, numa sociedade cosmopolita, é possível, se todos forem obrigados a respeitar um código comum. Regras básicas de comportamento em sociedade.
Respeito absoluto pela vida humana, respeito pela liberdade individual, respeito pela propriedade privada e respeito pelo modo como cada um procura a sua felicidade.
Se todos forem obrigados a respeitar estes princípios, o multiculturalismo é viável. Os crimes (acidentes) serão reduzidos e todos poderão beneficiar da interacção cultural.
Se pretendermos porém que alguns grupos escapem ao cumprimento destas regras de bom comportamento social, então será o fim do multiculturalismo e, em seu lugar, teremos a guerra civil.
Os motins de Londres são uma pequena amostra do que por aí pode estar para vir.

inferências

O meu primo casou com uma índia Tupinambá.
O casamento tem sido muito feliz.
Devemos abrir as portas à imigração Tupinambá.

PS: "Resumo" do argumento do eurodeputado Rui Tavares, hoje no Público

short selling V - conclusão

O "short selling" é o bombo da festa.