31 março 2010

nos liceus de portugal

Há dois reparos a fazer à interessante (e tentadora) crítica que o Pedro Arroja tem vindo a fazer nos seus últimos posts à democracia liberal, nomeadamente ao princípio igualitário na formação da soberania partilhado entre pessoas com idades e experiências de vida muito diferentes. A primeira, colhida no próprio liberalismo que o Pedro critica, tem a ver com a dimensão da soberania: se esta for, como se pretende para um Estado Liberal, funcionalmente reduzida, os malefícios de más escolhas, eventualmente provocadas por eleitores imaturos, serão naturalmente reduzidos a um mínimo humanamente aceitável. É o problema do “tira estado, mete estado”, que cada vez mais me parece ser o mais relevante das democracias liberais e que, se não for controlado, continuará a provocar graves abusos de poder. Na maior parte dos casos, diga-se em abono da verdade, provocados pelas gerações mais velhas e marcadas por experiências pretéritas nefastas (tomem-se em consideração as consequências da subida ao poder na Europa das gerações do “Maio de 68”). O segundo ponto tem a ver com a própria dinâmica social: um jovem com 18, 20 anos de idade pode, de facto, ser levado a fazer escolhas políticas pouco racionais, provocadas pela emotividade própria da idade, mas sempre poderá corrigir as suas escolhas à medida que o tempo for passando e se for tornando mais maduro e eventualmente mais sensato. Uma sociedade humana deve ter isto em consideração: as diferentes etapas da vida e os modos distintos como a olhamos à medida que o tempo vai passando por nós. A representação política não sairá diminuída se tiver essas diferenças em conta e, pelo contrário, mostra-nos a nossa História recente que foram muitas vezes os mais novos a impor algum bom senso político aos mais velhos. Basta pensarmos no que aconteceu no pós 25 de Abril de 74 nos liceus de Portugal.

30 março 2010

sem classes

Estamos a caminho de uma sociedade sem classes sociais. Todos vão ter acesso ao mesmo tipo de bens de consumo e todos vão viver vidas muito parecidas.
Cheguei a esta conclusão pelo fenómeno dos mileuristas e pela observação do desaparecimento, lento mas progressivo, das classes média-alta e alta.
A sociedade bolo de noiva está a ser comprimida de tal modo que, no médio prazo, se vai transformar na sociedade bolo de aniversário. Uma só camada donde, por génio ou golpe de sorte, emergirão algumas estrelas.
Como é que surgiu esta tendência? E onde é mais patente?
Esta tendência parece-me ter surgido logo após a segunda guerra mundial, com o desenvolvimento do chamado Estado de Bem-estar social. Mais recentemente, a globalização acelerou todo o processo.
Onde é mais patente? No norte da Europa. Entre nós o processo esteve congelado durante o Salazarismo e só se iniciou verdadeiramente com o 25/4.
É um fenómeno bom ou mau? Não creio que neste momento alguém tenha a resposta pronta para esta interrogação. Nos próximos posts vou tentar analisar algumas consequências previsíveis deste novo modelo de organização social: a sociedade bolo de aniversário.

sociedade bolo de aniversário


A sociedade bolo de aniversário, a mais moderna, só tem uma camada social, da qual se podem destacar algumas estrelas (poucas).

sociedade bolo de noiva

Sociedade tradicional ou bolo de noiva, estratificada em classes sociais relativamente bem definidas. Perdurou até 1945 e em Portugal até 1974.

29 março 2010

PSD

Depois de ter prognosticado que o vencedor das eleições no PSD seria Aguiar-Branco, no que me enganei redondamente, gostava de dizer o seguinte: Passos Coelho está bem melhor que há dois anos atrás, por isso, como o Rui a. aqui escreveu, há que lhe dar o benefício da dúvida. A ver vamos o que sai dali.

fazer contas


28 março 2010

Imprensa escrita


De acordo com notícias publicadas esta semana, o jornal "i" foi colocado à venda pelo seu proprietário, o Grupo Lena. Aparentemente, o jornal tem despesas mensais de 600 a 700 mil euros por mês e o Grupo Lena, a braços com um passivo de 600 milhões, pretende desinvestir da comunicação social.

Primeiro, conforme li num editorial de um jornal concorrente, na altura em que o "i" foi projectado, foi prometido aos seus promotores que existiria dinheiro para financiar o projecto durante 3 anos, período findo o qual o jornal teria de voar com as suas próprias asas. E que terá sido assim que o Grupo Lena seduziu muitos jornalistas de top que constituem a redacção do "i". Infelizmente, ao final de um ano, parece que já não há mais dinheiro e que aquilo que foi prometido não corresponde à realidade. Por isso, não será de espantar que, em breve, toda a roupa suja do Grupo Lena comece a aparecer escarrapachada na imprensa e que aquele realmente se arrependa de algum dia ter entrado na comunicação social...

Segundo, a implosão do "i", e de toda a imprensa escrita em geral, demonstra a crise em que mergulhou o sector. Por um lado, por culpa das novas tendências, sobretudo devido à internet, mas também por culpa própria. Eu escrevo nos jornais desde 2004, colaborando ainda, de forma esporádica, com algumas revistas, por isso, tenho uma opinião formada acerca deste assunto, que, por diversas vezes, tenho repetido junto de algumas pessoas com responsabilidades no sector. E passa essencialmente pelo seguinte: os jornais portugueses são demasiado extensos, demasiado agarrados à pequena notícia que qualquer um pode consultar na net, e, em geral, não possuem colunistas originais. Além disso, continuam vinculados a tabelas de publicidade, a preços proibitivos, que, dada a crise do mercado, não fazem sentido.

Assim, falta em Portugal um jornal do tipo "International Herald Tribune", que tenha colunistas originais, tipos que arrisquem uma opinião (e uma polémica) e que sejam especializados em alguma coisa que não apenas na política. E, sobretudo, um jornal que desenvolva as tais pequenas notícias em grandes artigos de alcance estratégico. Tudo isto em apenas 25 páginas. Enfim, nestas condições, acredito, francamente, que existe em Portugal um mercado de cinquenta mil leitores (0,5% da população) para uma publicação com tais características, que, por sua vez, permita viabilizar as proibitivas tabelas de publicidade que, inacreditavelmente, ainda se tentam praticar.

27 março 2010

male risk capital

duas vitórias

A vitória de hoje de Pedro Passos Coelho no PSD tem algum paralelismo com a tomada do CDS por Manuel Monteiro em meados da década de 90. Surge como um projecto de recuperação de um partido exangue e nos limites da decadência política; tem como protagonista principal um antigo líder da estrutura juvenil do partido; é feita contra um baronato instalado e anquilosado que tem perdido eleições sucessivas; aposta num discurso renovado à direita com ligeiras conotações liberalizantes; é ostensivamente contra Cavaco Silva; tem fortes apoios nalguma comunicação social escrita; levou ao desespero José Pacheco Pereira; e, por último, tem até alguns entusiastas que partilharam, então, as alegrias da vitória com aquele outro líder. Esperemos agora - e digo isto sem a mais leve ponta de ironia - que Pedro Passos Coelho dê ao seu partido um destino substancialmente diferente do que Manuel Monteiro conseguiu dar ao CDS.

26 março 2010

Castro apoia Obamacare


Cuban leader applauds US health-care reform bill

oráculo

Neste post, num único post, António Nogueira Leite consegue predizer cinco consequências que decorrerão da eleição de amanhã no PSD: que Pedro Passos Coelho a vencerá (o que é até bastante provável); que, uma vez líder do partido, Passos o consigará unir (o que é bem menos provável); que, com o PSD unido em torno de si, Passos convencerá os portugueses que fez daquele saco de víboras rastejantes um projecto político sério e credível, e uma alternativa de governo para Portugal (improbabilíssimo); que Paulo Portas perderá o sono dos (in)justos com o novo líder laranja (quem sabe?); que a migração de votos do PSD para o CDS terminará amanhã com a elementar e justíssima ascensão de Passos Coelho à chefia do laranjal (tenho as minhas dúvidas...). Tudo isto neste singular e único post de nove linhas. É de homem!

25 março 2010

é preciso mudar para que tudo fique na mesma

Desisti, há algumas semanas, de comentar o PSD. O motivo é simples: saia quem sair vencedor da eleição de amanhã, o PSD continuará igual a si mesmo, em guerra civil interna, e sem oferecer ao país nada que justifique um segundo de atenção. Fundamento o que digo: nenhum dos candidatos conseguiu ultrapassar a lógica de clan que tem dividido o partido desde o abandono de Cavaco, nenhum dos candidatos apresentou um programa de governo alternativo ao governo socialista e ao Estado Social, nenhum dos candidatos assumiu um programa de vocação liberal e conservadora. Em suma, o que se tem discutido são perfis mediáticos e “carismas” televisivos. Ora, não é disso que o país precisa, nem será isso que tornará o PSD um partido respeitável.

os frutos da paixão

O Professor Cardoso Rosas está cheio de razão: a Universidade portuguesa está em saldos, a vender cursos a pataco a analfabetos funcionais. Cursos que não têm qualquer utilidade e que são oferecidos por instituições públicas de interesse mais do que duvidoso, criados sem qualquer análise ou estudo de mercado. O diagnóstico também é certeiro: a Universidade pública precisa de alunos para ter financiamento e de racios de “êxito” escolar para que esse financiamento se mantenha ou mesmo aumente.

Apesar de tanta sensatez, o Professor Rosas não foi onde deveria ir, isto é, à origem do problema: como chegou a Universidade portuguesa a este estado e com quem? A resposta é elementar: com António Gutrerres e a sua conhecida “paixão pela educação”, e com o investimento público socialista no ensino superior dos últimos quinze anos. Em suma, como todos os tontos apaixonados que gastam o que têm e o que não têm com as vítimas da sua volúpia, António Guterres comprometeu o país com novas instituições de ensino superior desnecessárias e uma infinitude de cursos inúteis e de professores excedentários para as justificar.

A “paixão pela educação”, mito socialista de inspiração rousseauniana que supostamente levaria o país a patamares nunca vistos de desenvolvimento e bem-estar social, levou o governo a criar uma oferta de ensino público completamente divorciada da procura e das necessidades do mercado de trabalho, que tem sido regiamente sustentada pelo orçamento de estado. Teve ainda outra nefasta consequência: a quase extinção do muito frágil ensino superior privado, de resto, intencionalmente anunciada pelos seus ministros do sector, Marçal Grilo e Oliveira Martins, que poderia bem ter sido uma alternativa e um complemento ao ensino público, poupando assim muitos milhões de euros ao contribuinte português.

Como se sai, agora, deste pântano de doutores analfabetos e de universidades públicas inúteis e cheias de cursos desnecessários, ao qual acresce um ensino privado genericamente desacreditado e falido (e sem o orçamento de estado para o sustentar...), é que o Professor Rosas não responde. Esperemos que o faça num próximo artigo.

na Lua

Fitch said Portugal's austerity plan, while "credible", does not go far enough to control surging debt.
Via Telegraph

Risco da dívida portuguesa tem hoje a maior subida do mundo após corte da Fitch.
Via DN

O ministro das Finanças considerou hoje que a decisão da Fitch de cortar do "rating" da dívida pública era "esperada", tratando-se de uma correcção para os níveis das restantes agências, não se estando a fazer sentir no imediato.
Via JN

todos vão pagar

O presidente do grupo Sonae, Belmiro de Azevedo, disse hoje que é cada vez mais evidente que o país está desgovernado, considerando que todos vão pagar a conta da descida do 'rating' de Portugal.
...
A principal consequência da descida do 'rating' é o previsível aumento dos custos de financiamento do país no exterior, que depois se vão repercutir nos custos dos empréstimos externos que os bancos contraem e, finalmente, na despesa das famílias quando contraem empréstimos bancários.

Via DN

24 março 2010

PEC amargo

NEW YORK (AP) -- Stocks are falling in early trading on renewed concerns about European debt problems after a major ratings agency slashed its view on Portugal.

A report showing continued growth in the manufacturing sector is having little effect on trading Wednesday. Investors are also awaiting a report on sales of new homes.

European markets are mostly lower as Fitch Ratings says Portugal's recovery will be slower than other countries that use the euro. Debt problems in Europe have been one of the few drags on stocks in recent months.

The Dow Jones industrial average is down 23.28, or 0.2 percent, at 10,865.55. The Standard & Poor's 500 index is down 3.11, or 0.3 percent, at 1,171.06, while the Nasdaq composite index is down 8.23, or 0.3 percent, at 2,407.01.

out of sight

23 março 2010

Estão todos convidados!




uma asneira (II)

A propósito deste post, aqui vai a minha opinião acerca do mesmo assunto, que publiquei no jornal "Vida Económica" na edição do passado dia 12 de Março sob o título "Integração Europeia".
"As peripécias recentes, vividas pela Grécia e por outros países como Portugal, nos mercados de dívida pública e, também, nos “Credit Default Swaps” (CDS), estão a forçar os políticos a debater o futuro da União Europeia, nomeadamente o seu futuro político. Trata-se de um debate difícil, como a gestão da crise grega tem evidenciado. De um lado estão aqueles países que, no curto prazo, mais ganhariam com maior integração política na Europa. É o caso da Grécia e, também, de Portugal. Do outro lado, está aquele que, no imediato, mais perderia com os custos dessa mesma integração: a Alemanha.

O problema que agora se vive no seio da Europa é um problema, essencialmente, económico. Entre os anos 2000 e 2007, os custos unitários do trabalho na Alemanha mantiveram-se estagnados – na verdade, até diminuíram residualmente no acumulado do período. Pelo contrário, no mesmo período, os custos unitários do trabalho nos restantes países da zona euro aumentaram cerca de 11%. A fonte é a OCDE. E no caso dos países, agora, mais afectados pela crise orçamental – Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha – em todos, sem excepção, esses mesmos custos unitários do trabalho aumentaram mais do que na média da zona euro. A situação mais flagrante foi a Irlanda que, no espaço de oito anos, em face do aumento dos custos laborais, viu a sua competitividade reduzida em mais de 25%. No que diz respeito a Portugal, essa perda de competitividade foi de 17%. Ou seja, comparando com a Alemanha, muitos países que em 2000, provavelmente, já não eram competitivos contra os alemães agravaram ainda mais os seus termos de troca desde então.

A principal consequência desta quebra de competitividade entre países que partilham a mesma moeda, e entre os quais cada país conduz uma parte significativa do seu comércio externo – em Portugal, por exemplo, mais de 50% das nossas importações e exportações são conduzidas dentro da zona euro –, foi a ascensão meteórica da Alemanha enquanto principal potentado económico da Europa. Já o era e ficou a sê-lo ainda muito mais. A prova desse domínio avassalador é a diferença entre o saldo da balança comercial alemã, cerca de 140 mil milhões de euros – de acordo com a última edição da “Economist” – e o saldo apresentado pelo país que segue em segundo lugar nesta classificação, a Holanda, cerca de 35 mil milhões. É claro que a diferença entre Alemanha e Holanda, se colocada em perspectiva, ou seja, face ao respectivo PIB, se atenua, mas mesmo assim, a Alemanha mantém a liderança. Pelo contrário, Portugal regista um défice comercial próximo dos 10% do PIB, na Grécia há um défice de 18% (talvez mais, porque, entretanto, se soube que as contas foram aldrabadas) e na Irlanda só não há défice comercial porque lá estão muitas delegações europeias de multinacionais norte-americanas.

Em suma, se vingar uma atitude paternalista, a Europa avançará no sentido de maior integração política e os riscos de incumprimento em países como Portugal e Grécia serão, na prática, eliminados. Se, pelo contrário, a integração política não se concretizar e não passarmos do que já foi feito, então, estas crises, como a de agora, serão cíclicas. Lendo a imprensa internacional, é curioso observar quão extremadas estão algumas posições editoriais. A revista “Economist” está muito céptica quanto à possibilidade de uma maior coesão política. Pelo contrário, a revista “Newsweek” está muito convencida de que se trata do cenário mais provável. Nesta discussão, eu estou mais do lado da “Newsweek” pela simples razão de que a Alemanha, se conseguir disciplinar os ímpetos despesistas dos países que tomar sob sua custódia, tem muito mais a ganhar do que a perder. Dada a sua posição dominante no comércio intra europeu, e tendo perdido a liderança mundial para a China, a Alemanha precisa de um mercado europeu integrado e aberto para cimentar a sua liderança enquanto potência económica e, a prazo, também, enquanto potência política. Aliás, bem vistas as coisas, os alemães, através do euro, estão a conseguir atingir aquilo que, no passado, não atingiram pela via militar. E, portanto, do seu ponto de vista, não será inteligente mudar de estratégia. Podem até perder uma batalha, mas estão a ganhar a guerra."

ajudar os amigos

Os socialistas esfolam a classe média, para ajudar os amigos. A ILGA, por exemplo.

consequências trágicas

Adalberto Campos Fernandes contextualizou o momento presente do ponto de vista social, político e económico, lembrando que vivemos um período de «condicionalismo extremo em termos orçamentais». E «quando existem condicionalismos orçamentais e não se fizeram os trabalhos de casa nos tempos que os precederam, naturalmente que o risco das medidas avulsas e das medidas intempestivas cegas podem facilmente repercutir-se sobre as organizações».
Notando que em algumas áreas da Saúde os profissionais abundam e o desemprego prolifera, mas, noutras, as carências são evidentes, o orador apontou esta como outra possível causa de descontentamento. E aproveitou a ocasião para criticar fortemente a abertura de novos cursos de Medicina, que considera «um erro de consequências que podem ser trágicas para a qualidade do ensino médico». Na sua opinião, a falta de médicos em Portugal é um «mito», admitindo apenas a carência de clínicos «sectorialmente nalgumas especialidades e nalguns domínios de actividade». E ao invés de se «atomizar o ensino médico», entende que se devia estar «numa fase de concentração universitária para termos faculdades de Medicina de dimensão internacional com potência de meios e recursos financeiros».
Via Saúde SA

22 março 2010

A A Ah

March 22 (Bloomberg) -- The bond market is saying that it’s safer to lend to Warren Buffett than Barack Obama.

21 março 2010

Estado Providência

O Estado Providência só pode ser construído de baixo para cima (bottom-up).
O contrário, que foi o que se passou em Portugal, apenas conduz à exploração dos mais fracos pelos menos escrupulosos.
PS: Conceito a desenvolver nos próximos posts.

reformatórios

Fenprof propõe transformar as escolas públicas em reformatórios. ahahahahahah

inépcia

O âmbito da política são as coligações de interesses, ajudar os amigos e prejudicar os “inimigos”. A procura da verdade e a ética não fazem parte desse domínio.
A única garantia que os cidadãos têm de que o poder não é abastardado é elegerem líderes que sejam cidadãos exemplares, os melhores dos melhores. Quando assim não acontece, o espectáculo político torna-se degradante e o país sofre as consequências.
Estamos a passar por um desses momentos. José Sócrates recusa-se a comparecer na comissão de inquérito parlamentar ao negócio da TVI e acusa os seus adversários de participarem numa coligação negativa para o destruírem. Sócrates tem razão, o PSD e o BE não estarão preocupados com o Bem e a Verdade. Pretendem apenas tirar dividendos políticos da situação, para o que, convenhamos, têm total legitimidade.
O dever da verdade e a questão dos princípios diz respeito ao cidadão Sócrates e a quem o elegeu. Infelizmente o cidadão Sócrates deixou acumular dúvidas sobre o seu carácter e ao fazê-lo deu o flanco a ataques políticos.
Um líder com a experiência do primeiro-ministro devia saber prever este desfecho que obviamente não dignifica o alto cargo que ocupa, mas que é da sua única e exclusiva responsabilidade.

Portugal no balde

Em Portugal, o número de abortos continua a aumentar, tendo atingido 19.572 em 2009. Mais 1.000 do que em 2008.
Este aumento aconteceu em todos os países em que o aborto foi legalizado. Não vale a pena falar da crise, nem do facto da legalização ser ainda recente. Os números falam por si.
Simultaneamente, a taxa de natalidade desceu para 10,5 por mil habitantes, menos de metade do que seria necessário para manter a população actual.
Não é evidente que estamos a trilhar um caminho sem regresso?

20 março 2010

sexo axilar ou axial?


Gostaria de invocar a minha qualidade de médico para uma pequena correcção ao artigo de hoje da MC. O sexo nas axilas deve ser designado por sexo axilar e não por sexo axial, como, certamente por equívoco, é referido no texto do artigo.
O sexo axial é quando a fêmea está pendurada do candeeiro, em espargata, e desce rodopiando sobre o pilar.
Ainda, invocando de novo a minha qualidade de médico, gostaria de lembrar que, devido às alergias, não deve ser usado qualquer desodorizante na preparação para o sexo axilar e, de preferência, as axilas devem estar depiladas.
PS: Marta, ficará mal a um liberal fazer uma cubana?

massa


As ideias movem o mundo. Os irlandeses sabem isso e instituíram um prémio internacional para ideias inovadoras.
É um projecto interessante, na linha do Prémio Descobridores. Uma ideia que eu aqui (e aqui) deixei, em 2009.
Estes prémios dão visibilidade ao país e atraem massa cinzenta. A única massa que nos pode resolver o problema da falta de massa.

justiça socialista

Será justo que os desempregados paguem aos almeidas?

desemprego e reforma

O subsídio de desemprego não deve diminuir, como referi neste post. Os salários reais já são tão baixos que diminuir o subsídio de desemprego conduziria à miséria. As medidas do PEC, referentes ao desemprego, ignoram este facto, com uma argumentação que roça o delírio.
Os trabalhadores, para o PS, não passam de uns calões que se não forem admoestados não voltam ao mundo do trabalho. Sinceramente não partilho desta visão simplex.
Durante o período activo, os trabalhadores descontam 34,75% (23,75 da entidade patronal e 11 do trabalhador) da sua remuneração bruta para a SS. Este montante é um pé-de-meia para períodos de doença, para a velhice e para o desemprego. Atendendo às dificuldades económicas actuais, eu sugiro que, em vez de cortar no subsídio de desemprego, a SS subtraia os montantes pagos (em subsídio de desemprego) aos descontos efectuados para efeitos de reforma.
Não seria mais justo?

19 março 2010

The Economist supports Obamacare


The Brits must be mad with all the criticism of their National Health Service, which has been portrayed in the USA as murderous.
So mad that they are ready to endorse any health care policy that vaguely resembles the NHS.

as leis são como as salsichas


As leis são como as salsichas, é preferível não assistirmos ao seu fabrico.
Otto Von Bismark (o mestre da Realpolitik)

O PEC expôs com dureza os mecanismos internos da política. O poder serve sempre coligações de interesses, ajuda os amigos e prejudica os inimigos.

PECado

Portugal é um dos países com os salários mais baixos da UE-15. Por esse motivo, os subsídios de desemprego não podem ser muito inferiores aos salários, que já são de sobrevivência. Os argumentos do PS, nesta matéria, são moralmente degradantes.

Não é possível avaliar da justiça destas medidas sem atender a alguns factos. Portugal é um dos países da OCDE onde a diferença entre o subsídio de desemprego e a remuneração líquida anteriormente auferida pelo trabalhador é menor. Num contexto de desemprego elevado, como o actual, não repensar o regime de subsídio de desemprego implica pôr em causa a própria sustentabilidade financeira desta prestação social, pelo que a proposta do PS é do mais elementar bom senso. Podemos, é certo, discutir como pomos estes princípios em prática, podemos também discutir como distribuimos os sacrifícios; enfim, podemos discutir muita coisa - só não podemos é negar que algo semelhante a isto é necessário.
Via Jugular

18 março 2010

sim ou sopas?

March 15 (Bloomberg) -- European Commission President Jose Barroso said the Portuguese government’s Stability and Growth Program is “a credible document.”
...
EUOBSERVER / BRUSSELS - The European Commission has said member state growth assumptions in budgetary plans submitted to Brussels are overly optimistic, suggesting upcoming national deficits could be worse than governments predict".

acabar com a globalização

17 março 2010

controlo de despesas na saúde

Sabe quanto é que o PS vai cortar no SNS?
Descubra aqui

não à discriminação sexual

"Eu imponho o limite" é o nome campanha lançada pelas enfermeiras holandesas, cansadas dos pedidos de favores sexuais por parte dos pacientes.
Liderado pela União das Enfermeiras Holandesas, o movimento já tem um site, onde as profissionais podem denunciar doentes mais atrevidos. A campanha teve início depois de uma enfermeira, de 24 anos, ter sido assediada por um paciente de 42. A jovem decidiu apresentar queixa contra o doente, que alegadamente terá conseguido favores sexuais de outras enfermeiras.
Via ionline

PS: É profundamente injusto que os doentes não assediem também as auxiliares de acção médica. Não devemos tolerar a discriminação sexual.

socialismo

Fracos com os fortes e fortes com os fracos.

16 março 2010

25 anos

Em trinta e seis anos de existência, o PSD só por duas vezes esteve unido sem contestar o chefe: com Francisco Sá Carneiro após a vitória da AD e com Cavaco Silva depois da sua primeira maioria absoluta. Fora esses dois momentos, o primeiro que durou pouco mais de um ano e o segundo que atingiu a olímpica meta de oito, o PSD esteve sempre envolvido em trapalhadas, conspirações contra o chefe e contestações para todos os gostos e paladares. São, pelo menos, vinte e cinco anos de gloriosas trapalhadas que não terminarão certamente com a eleição próxima de Passos Coelho ou de Paulo Rangel (Castanheira Barros está excluído à partida), tão-pouco com a norma de cortiça que Santana Lopes, num momento de regressão política, fez aprovar no extraordinário Congresso Extraordinário do fim de semana passado. O que seria, portanto, natural é que o PSD se desmembrasse em tantos partidos quantos os grupúsculos que o compõem. Era já muito boa altura de isso acontecer. Mas, na falta dessa higiénica medida, o que tem sucedido de há quinze anos para cá é a migração dos votos para o PS e para o CDS. À esquerda, mesmo com todos os escândalos e fracassos da governação socialista, a tendência não parece esmorecer, e à direita, com Portas, a coisa só poderá agravar-se. De todo em todo, o que sobrará do partido quando as suas “elites” perceberem que o próximo líder não está fatalmente ungido para ser primeiro-ministro de Portugal é uma incógnita. Veremos quem ficará então para lamber as feridas.

not talking about a revolution

A semelhança entre a crise financeira actual e a dos anos 30 é considerável. Em ambos os casos foi uma crise especulativa e do mercado que se traduziu em muitas falências e desemprego de massa. Existe, porém uma diferença de monta. Nos anos 30, os Estados eram pequenos e praticava-se o princípio do equilíbrio orçamental, significando que as contas públicas, em geral, estavam equilibradas.

Nestas condições, os Estados nacionais puderam intervir aumentando as suas despesas e substituindo em parte a deficiência da procura privada. Foi esta a mensagem de Keynes e foi esta a política do New DEal de Roosevelt. A situação agora é diferente. Os Estados não estão em condições de ajudar como então. Eles próprios estão muito endividados e com as contas desequilibradas. A sua capacidade de actuação é muito mais limitada.

Por isso, se uma nova vaga da crise financeira se produz, e isso pode acontecer ainda este ano, pode ser o descalabro. Ainda que sem este cenário, a agência de rating Moody's tem o sobrolho carregado, mesmo em relação aos países considerados de menos risco.

15 março 2010

we are the people

Cortar a eito


Desde que o congelamento dos salários da Função Pública foi anunciado, algumas empresas do Sector Empresarial do Estado, nomeadamente a TAP e a CGD, vieram a público argumentar em prol de regimes de excepção. Ora, como é evidente não podem existir regimes de excepção, caso contrário, eu próprio, que sou favorável à redução nominal dos vencimentos no Estado, seria o primeiro a dizer aos funcionários públicos: mandem o Governo para o raio que o parta. De resto, a situação é particularmente caricata na TAP. Com que então, naquela empresa, cujos capitais próprios são negativos em mais de duas centenas de milhões de euros - ou seja, é uma empresa que está falida e que não existiria sem o erário público -, os senhores pilotos acham-se no direito de chantagear a administração, recusando aumentos de 8,5%, que mais ninguém, na órbita do Estado, terá e exigindo até, de acordo com a imprensa de hoje, aumentos de 100% nos subsídios de aterragem - bolas, pensava que o salário do piloto era suposto pagar o levantar e o aterrar, mas parece que não! - e nas ajudas de custa que recebem...Enfim, não dá para entender.

Ora, no estado em que está o país, com tantos desempregados sem qualquer perspectiva de melhoria de vida, é preciso acabar com esta pouca vergonha e estas muitas clientelas especiais. Como há dias escrevia a Economist, "Politicians need to hold their nerve and make cuts. They should remember what doctors have always known: those who shout loudest are not always the ones in the most pain". É o que está a acontecer na Grécia e, também, por cá, onde quem mais tem protestado é quem menos razão tem para protestar. Aliás, é isso que, apesar de tudo, mantém a popularidade de alguns políticos, como Papandreou e Sócrates, relativamente pouco beliscada pela crise. Mas concluindo, no caso dos pilotos da TAP, se eu fosse o Fernando Pinto fazia como fez o Reagan nos anos 80 com os controladores aéreos: despedia-os e contratava outros (na Força Aérea, no estrangeiro, fosse onde fosse). E, de seguida, propunha a privatização da empresa: talvez, assim, pondo ordem na casa e mostrando quem manda, se melhorassem depois os lucros da privatização, permitindo compensar o Estado pelos custos extraordinários associados às rescisões, entretanto, operadas. De resto, esta solução poderia depois ser aplicada a outras empresas públicas, em particular as deficitárias, e outros serviços autónomos do Estado. O país precisa de ser gerido com firmeza. Logo, todos os Fernandos Pintos têm de se lembrar disso e contribuir com a sua parte!

o grande cisma

Há um grande cisma, em Portugal, entre a intelligentsia e a populaça no que diz respeito à liberdade de expressão. A intelligentsia considera-a um direito sagrado, mas a populaça, pelo contrário, até rejubilava se alguns canários levassem umas chibatadas na praça pública. Gostaria de submeter quatro argumentos em abono desta tese:


  1. A “norma da rolha”, uma iniciativa populista que recolheu imediatamente o apoio de 2/3 dos delegados do PSD.
  2. A alegada tentativa de José Sócrates de assalto a alguns órgãos de comunicação social. A populaça acredita que ele mente, mas não o penaliza nas sondagens.
  3. Trinta anos de alegada “asfixia democrática” na Madeira, tantas vezes legitimada nas urnas.
  4. A saudade que a populaça nutre por Salazar e pela governação por “comando e controlo”, por oposição às contingências da democracia.

A ascensão de líderes populistas, como Santana e Sócrates, teria de evidenciar este cisma. São líderes que comunicam o sentimento popular.

Ócio?


O Jornal de Negócios publicou hoje uma extensíssima entrevista com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. A entrevista, altamente politizada, tem no capítulo dedicado ao subsídio de desemprego o seu trecho mais interessante. Assim, neste domínio, o ministro defende o seguinte "Actualmente, um beneficiário do subsídio de desemprego pode recusar uma oferta de trabalho nos primeiros seis meses desde que o salário não seja, em pelo menos 25%, superior ao subsídio de desemprego. Entendemos que devemos reduzir este limiar para 10%".

Ora, confesso que não conhecia aquela disposição adicional. E, naturalmente, a minha reacção é de estupefacção, concordando, pois, com o ministro: o limiar deve ser reduzido, aliás, deve ser eliminado. Contudo, e é aí que, na minha opinião, o ministro falha redondamente, a ideia que fica desta alteração é a de que em Portugal, e no mundo ocidental, há empregos de sobra e que os desempregados são bombardeados com inúmeras propostas de emprego, não querendo pois trabalhar! Infelizmente, creio que não é isso que acontece. De acordo com um estudo do Congressional Budget Office (CBO) - nos Estados Unidos, o equivalente à nossa Direcção Geral do Orçamento -, publicado em Janeiro deste ano, nos últimos trinta anos, a percentagem de desempregados que constituem desemprego de longa duração duplicou, de pouco mais de 30% para mais de 60%. Por outras palavras, 60% dos desempregados de hoje têm muita dificuldade em regressar ao mercado de trabalho e, entre estes, muitos não o conseguem de todo.

Assim, o mesmo estudo conclui que entre as medidas que mais poderão contribuir para o crescimento da economia norte-americana está a prorrogação do subsídio de desemprego, até Março de 2011, para aqueles que agora esgotam o prazo a que têm direito. O objectivo é permitir que os desempregados de longa duração possam ter mais tempo, a fim de encontrar novos empregos, continuando, entretanto, a contribuir para o consumo agregado da economia. De acordo, com o CBO, o efeito multiplicador associada à medida será, em média, de 130% do PIB até 2015. Ou seja, cada dólar gasto pelo Estado federal terá um retorno de 1,3 dólares. A título de curiosidade, refira-se que foi com base neste estudo técnico que os legisladores norte-americanos (incluindo os Republicanos) acabam de aprovar a extensão dos ditos benefícios até ao início do próximo ano. E, ainda, que, também, foi este mesmo estudo que "enterrou" o programa de obras públicas de Obama, após concluir que o seu efeito multiplicador no PIB seria em média negativo.

Regressando a Portugal, a realidade do desemprego é idêntica à norte-americana. Porventura, será ainda pior, em termos de desemprego de longa duração. Por isso, custa-me observar que os sacríficios pedidos aos privilegiados da Função Pública e a todos aqueles directa ou indirectamente ligados à máquina do Estado sejam mínimos, carregando-se depois naqueles que, coitados, não têm qualquer rede de apoio. É o caso dos desempregados de longa duração - quase todos funcionários do sector privado - a quem o Estado se prepara para reduzir o coeficiente de 65% no subsídio de desemprego, a par de outras alterações a fim de "desincentivar o ócio". Enfim, além de, economicamente, ineficiente, as medidas anunciadas pelo ministro não atacam o problema de fundo: é que, de um modo geral, o ócio e o esbanjamento não estão no sector privado e muito menos entre a generalidade dos desempregados.

estamos em marcha atrás

Belmiro disse que "há um consenso entre os agentes económicos de que o Governo é o mais ineficiente". E sobre as medidas previstas no PEC não teve dúvidas em afirmar que "estão a subtrair fundos ao sector privado, continuando o regabofe. Estamos a andar em marcha atrás, sem esquecermos que, em termos de capital humano, quem está nos lugares são os inimputáveis e os burocratas".
Ao nível fiscal, o patrão da Sonae aponta o dedo ao incumprimento por parte do Estado: "O Governo não é um sujeito de bem, foge às responsabilidades e acaba por incentivar os privados também a serem incumpridores".
Já sobre a questão das contas públicas o empresário evocou a Grécia para logo de seguida acrescentar sobre Portugal: "Com um governo irresponsável tudo pode acontecer, não podemos ter amadores a gerir o país".
Via DE

esfolamento fiscal

Paulo Portas não quis dizer de forma implícita como irá votar o Programa de Estabilidade e Crescimento, mas garantiu que se o Governo mantiver os actuais cortes nas deduções fiscais "merecerá o voto contra do CDS".
Em conferência de imprensa no Parlamento, o presidente do CDS/PP criticou o PEC por “cortar a eito nos benefícios fiscais”, naquilo que resumiu ser um “plano de esfolamento do contribuinte”.
“Este ataque fiscal é inaceitável face aos nossos compromissos eleitorais”, explicitou o líder do CDS/PP, denunciando um aumento da carga fiscal para a classe média e em matérias “essenciais” como a Saúde e a Educação.
Via JN

santana lopes

Errar todos erramos e quem não tenha errado em política que se atreva a atirar a primeira pedra. Contudo, quem não aprende com os erros que comete só pode queixar-se de si próprio. Ora, se até hoje era legítimo olhar para Santana Lopes como alguém que cometera uma ingenuidade a meio de um percurso político brilhante, a partir de hoje há que reconhecer que Santana não é mais do que uma vítima de si mesmo.

14 março 2010

diferente

Num post anterior, coloquei a questão de saber se um país católico se abrir às vias do socialismo e do liberalismo, qual aquela para que espontaneamente tende, e da qual mais facilmente se aproxima. A resposta foi - o socialismo. O Papa Pio XI já tinha chegado, por outros caminhos, à mesma conclusão na Encíclica Quadragesimo Anno (1931):

"Dir-se-à que o socialismo (...) tende para as verdade que a tradição cristã sempre solenemente ensinou, e delas em certa maneira se aproxima. É inegável que as suas reivindicações concordam às vezes muitíssimo com as reivindicações dos católicos que trabalham na reforma social" (QA: 113).
A questão que pretendo colocar neste post é diferente, refere-se à Igreja Católica como instituição e não a um país de cultura católica, e é a seguinte: Qual é o maior adversário da Igreja Católica enquanto instituição, o socialismo ou o liberalismo?
Antes de responder, gostaria de relembrar que o socialismo coloca como valor supremo a igualdade, ao passo que o liberalismo enfatiza a liberdade. A tónica do liberalismo na liberdade deixa a cada um a possibilidade de ser diferente, na realidade é das diferenças que surgem as oportunidades de troca em que se compraz o liberalismo. O socialismo, pelo contrário, visa a igualdade. E a Igreja Católica alberga em si, intitucionalizando-os, os homens mais diferentes de todos os outros que podem existir na sociedade. Refiro-me, obviamente, ao clero católico. A oposição entre socialismo e Igreja Católica é radical.
Onde quer que os socialistas cheguem ao poder o seu primeiro alvo são os padres e a Igreja. Foi assim no passado, é assim no presente, será assim no futuro. A razão, volto a insistir, é que os padres são os únicos homens genuinamente diferentes que existem na sociedade - nos seus ideais de vida, no seu código de conduta, até no seu vestuário. Daqui resulta outra conclusão importante. Num país dominado pelas ideias do socialismo, o único sítio para um homem diferente se abrigar é a Igreja Católica. Não existe outro. Fora da Igreja não fica alternativa senão fazer parte da massa amorfa onde todos são iguais.

o grande vencedor do congresso do psd

rolha

Formalmente, a “norma da rolha” do PSD não tem nada em comum com a alegada tentativa do PS de controlar os órgãos de comunicação social, mas, no fundo, o que se pretende é o mesmo: calar vozes incómodas.
Quando uma comissão de inquérito se propõe avaliar o comportamento de Sócrates nesta matéria, a norma da rolha só pode retirar autoridade moral ao PSD e reforçar a posição do PS.
Confirma-se, o PSD é o pior inimigo de si próprio.

ao ataque

A ofensiva que nos últimos meses tem sido desencadeada em países protestantes contra a Igreja Católica - e a que fiz referência no meu post anterior - não está desligada da crise financeira internacional. Na Zona Euro, os países vulneráveis já estão isolados, e prontos a serem tratados, e são os países de predominância católica, os PIIGS - Portugal, Itália, Irlanda, Espanha, mais a ortodoxa Grécia, cuja tradição é muito próxima do catolicismo.

Não é possível a duas culturas viverem em conjunto. Uma acabará por dominar a outra. Não demorará que a Grécia já só possa fazer aquilo que a Alemanha deixar, e não tarda que o mesmo suceda aos outros países católicos em dificuldades. A Zona Euro foi uma enorme ratoeira em que os PIIGS se deixaram caír. É nesta situação de fragilidade económica e financeira que o protestantismo retomou a sua ofensiva velha de cinco séculos sobre a Igreja Católica, começando, naturalmente, pelo país mais vunerável, porque é aquele que está cercado de protestantismo - a Irlanda.

A pressão que está a a ser exercida sobre o Cardeal Sean Brady, chefe da Igreja Católica da Irlanda, para que se demita ilustra na perfeição o exagero a que se chegou. Em 1975, quando ainda era um mero padre Brady de 36 anos (hoje, tem 71), e portanto estava no escalão mais baixo da hierarquia, ele foi chamado para secretariar uma reunião onde o seu superior hierárquico - o bispo - procurou resolver uma questão de pedofilia envolvendo um outro padre.

A acusação que agora impende sobre o Cardeal Brady, 35 anos depois, e que leva à exigência da sua demissão, é a de que ele teve conhecimento do crime de pedofilia e não o denunciou. Esta acusação só pode provir da cultura protestante, e revela total incompreensão, ou má-fé, do que é a Igreja Católica.

Não me parece sequer relevante que o padre Brady tenha estado nessa reunião por ordem do seu superior hierárquico - o bispo. Mais importante é a incompreensão revelada pela disciplina a que está sujeito um padre católico. Um padre católico não pode andar a denunciar crimes de que tem conhecimento. Ele tem conhecimento todos os dias de crimes no confessionário - uns que são meros pecados veniais, outros que são mortais. Tem de os guardar para si e partilhá-los com Deus. Não lhe compete andar a denunciá-los à polícia. A Igreja não é nenhuma bófia.

Aquilo que, em última instância, se pretende com a demissão do Cardeal Brady é violar o segredo do confessionário, sob pena de, no futuro, um padre ser ele próprio implicado criminalmente quando tenha conhecimento de um crime, e não o denuncie. Acabar com o segredo do confessionário, escusado será dizer, é pouco menos do que acabar com o clero e com a própria Igreja.

A forma como a Igreja tem lidado com os casos de pedofilia é a forma própria de lidar com eles, sejam os seus autores padres ou leigos. Trata-se de lidar com os casos no máximo sigilo, nunca os denunciado em público, procurando resolver os problemas dentro da instituição, chamando os responsáveis à razão, disciplinando-os no caso de estarem sob a sua hierarquia, e procurando reparar os danos sobre as vítimas.

A Igreja procura fazer da humanidade uma família. E um pai de família, ou uma mãe, que tenha conhecimento de um caso de pedofilia por parte de um filho, não começa por denunciar o filho à polícia.

educação para o futuro

Parece um milagre

Roubar a Igreja Católica Católica foi desde os primórdios da Reforma um dos passatempos preferidos dos protestantes, especialmente na Inglaterra - mais tarde, a pátria do liberalismo - e na Alemanha - mais tarde, a pátria do socialismo -, que foram os dois grandes centros do protestantismo anti-católico. Nós próprios em Portugal replicámos os roubos, embora com séculos de atraso, e somente em pequena escala, primeiro no período liberal (governo de Passos Manuel) e depois com o governo socialista da I República (Afonso Costa). É certo que em meados do século XVIII o Marquês de Pombal (depois de viver em Inglaterra sete anos e aprender como se fazia) já tinha dado o exemplo.

Desde a Reforma inventaram-se mil razões para roubar a Igreja. O objectivo, para quem a roubava, era apoderar-se dos seus bens e impedir a sua expansão, se possível arruinando-a. Num momento em que a Igreja Católica conhece uma nova fase de afirmação (v.g., os católicos decidem as eleições americanas; os anglicanos no Reino Unido convertem-se, em parte, ao catolicismo), que começara já com o Papa João Paulo II, e que se intensifica sob a liderança de Bento XVI, descobriu-se uma nova razão para esvaziar os cofres da Igreja.

A nova razão teve origem, como não podia deixar de ser, nos países de grande influência protestante ou rodeados dessa influência, como a Irlanda. Descobriu-se que havia padres pedófilos e os processos contra as dioceses católicas chovem aos milhares, arruinando muitas delas, sobretudo nos EUA, tanto mais que as indemnizações aos alegados ofendidos, que poderiam ser pagas em preces a Deus, são invariavelmente estabelecidas em dinheiro. Para quem, como os protestantes, fez a Reforma por causa das indulgências, a ideia de que os pecados não podiam ser trocados por dinheiro, o mínimo que se pode dizer acerca destas indemnizações pecuniárias aos ofendidos, é a de que não são muito originais.
E esta descoberta acerca da pedofília dos padres ocorre assim de um momento para o outro, envolvendo milhares de casos. Parece um milagre. Algumas acusações referem-se a actos alegadamente cometidos nos anos 50 e não é certo que os esforços das investigações criminais não cheguem ao tempo de Cristo. (Ver aqui e aqui) . Provar um caso de pedofilia ocorrido nos anos 50 não pode ser senão uma pretensão de fazer milagres.

Já desde há algumas semanas que se tinha dado um passo significativo, lançando suspeitas sobre o envolvimento do irmão do Papa, que também é padre. Hoje o The Times de Londres, esse baluarte de isenção informativa anti-católica, deu o passo decisivo. Envolveu o Papa. (Ver também aqui)

13 março 2010

votos católicos

O exemplo de um país nascido puramente liberal, herdeiro do liberalismo anglo-saxónico puro, e portanto profundamente anti-católico, é o dos EUA. Na altura da sua fundação, o catolicismo estava proibido na maior parte dos estados americanos, e o socialismo nem sequer existia. Apenas um dos subscritores da Declaração de Independência americana era católico.
A Declaração de Independência foi menos uma reacção aos impostos sobre a importação de chá na América decretados pelo Governo britânico, e mais uma reacção de horror à passagem pelo Parlamento inglês do chamado Quebec Act, que autorizava a prática do catolicismo no Québec (hoje, Província do Canadá), e o receio de o ver estendido às outras colónias inglesas da América do Norte.
Hoje o catolicismo representa a maior denominação religiosa nos EUA - cerca de 25% da população adulta é católica - exercendo a sua misteriosa força moderadora ou de equilíbrio. Um país protestante e poderoso é um perigo para o mundo, como a Alemanha demonstrou ser no século passado - é capaz de esmagar tudo o que lhe aparece pela frente e se lhe opõe. Falta-lhe a força da gravidade que puxa o pêndulo para a posição de equilíbrio - a Igreja Católica.
Como recentemente se viu. Depois dos excessos de agressividade da Administração Bush, apoiada na religiosidade protestante e na intelectualidade judaica do Partido Republicano, sucedeu-lhe um homem mais moderado, Barack Obama, do Partido Democrático. E os votos no Partido Democrático são, em primeiro lugar, votos católicos. (ver também aqui)


ao socialismo

Na comparação que tenho vindo a fazer entre os paradigmas da socieconomia socialista, liberal e católica, tenho procurado manter uma nível propositadamente abstracto e evitado descer ao concreto. É, porém, a altura de perguntar se uma dado país concreto, por exemplo, a Alemanha, a Inglaterra, a Suécia, Portugal, ou os EUA é socialista, liberal ou católico.

A resposta é que cada país concreto contém elementos destas três correntes de pensamento em graus diversos, cada uma puxando a sociedade na sua direcção e, consoante a sua força relativa, imprimindo a cada país concreto um carácter mais socialista, ou mais liberal ou mais católico. Voltarei a este tema, mas o meu propósito agora é salientar outro ponto.

Quer o liberalismo quer o socialismo emanam ambos do pensamento ou cultura protestante, e essa é a marca de origem comum que os opõe ao catolicismo, e que em última instância se traduz na sua oposição radical à autoridade pessoalizada (Papa). O liberalismo é mais antigo que o socialismo, o primeiro sendo uma manifestação do protestantismo britânico (Locke, Hume, Adam Smith, etc.), o segundo uma manifestação do protestantismo germânico (Marx, Hegel, etc.).

Entre os dois, o maior adversário do catolicismo, e aquele com o qual o catolicismo tem maior dificuldade em se reconciliar, é o liberalismo. A razão é que a doutrina social da Igreja assenta na ideia central de comunidade, que é uma ideia rejeitada pelo liberalismo para fundar uma sociedade. Na realidade, o liberalismo funda-a no seu oposto - o indivíduo. Não há reconciliação possível. A única comunidade importante para o liberalismo é o mundo - e é porque não há outra maior -, e daí o seu internacionalismo expresso modernamente na ideia da globalização.

O socialismo, tal como o catolicismo, parte da ideia de comunidade para estruturar a sociedade, só que a comunidade-chave do socialismo é a nação, enquanto a do catolicismo é a família. O socialismo parte da nação para forma comunitárias internacionais e até mundiais, e é nisso que se traduz o internacionalismo socialista. O catolicismo partilha com ele este caminho - também é internacionalista, na realidade ambiciona ser universal - mas antes de chegar à nação, põe a família e todas as comunidades intermédias como comunidades prioritárias. Não há dúvida que este ênfase comum na ideia de comunidade coloca o socialismo mais próximo do catolicismo do que o liberalismo.

O ponto a que pretendo chegar é o seguinte, voltando aos três paradigmas. Um país católico que se abra espontâneamente a essas correntes protestantes do pensamento social que são o liberalismo e o socialismo, caminha mais facilmente em direcção ao socialismo ou em direcção ao liberalismo? A resposta é, agora, óbvia - ao socialismo.

Modelos sociais (xiii)

Visto de avião é assim. Mas se você descer lá abaixo...

No país socialista acredita-se que é possível mudar o mundo para melhor, que o mundo será melhor se todas as pessoas forem iguais, e que o Estado é a instituição apropriada para operar essa mudança. O primeiro passo para que um homem seja respeitável neste país é que seja um democrata. É aceitando a igualdade política na qual se funda o Estado democrático que um homem adquire, em primeiro lugar, o estatuto de pessoa decente e o de cidadão respeitável. Porém, isso não basta para se tornar um modelo social, aquele tipo de homem que todos desejariam imitar. Para isso, é necessário que ele participe activamente na construção do Estado democrático, que tenha algum poder - ainda que seja pequeno - para o influenciar na direcção desejada e de melhoria da sociedade. Esta é a figura do político democrata. O político democrata é o modelo social no país socialista.
O país liberal também acredita que é possível mudar o mundo para melhor, que o mundo será melhor se todas as pessoas forem livres de prosseguirem os seus próprios fins na vida sem qualquer subjugação à comunidade. A iniciativa individual é agora o motor da mudança e a instituição privilegiada é a empresa. O homem de negócios - o businessman - é a figura respeitável do país liberal, incluindo quando os negócios são praticados a nível individual (profissionais liberais). Naturalmente, o modelo social do país liberal, aquele que todos gostariam de imitar, é o grande homem de negócios, o grande empresário que, pela sua iniciativa conseguiu produzir algum produto novo, ou mais barato, que contribuiu para tornar mais feliz a vida de milhões de pessoas espalhadas pelo país e o mundo - e que, pelo caminho, se tornou milionário.
O país católico não acredita que o mundo possa ser melhorado pela acção individual ou colectiva do homem que leva o liberalismo e o socialismo a concentrarem-se no futuro e no abstracto. O futuro a Deus pertence, a única realidade concreta é o presente, o aqui e o agora. O homem chega ao mundo e aquilo que encontra é tudo, em última instância, dádiva de Deus, incluindo ele próprio. Compete, portanto, ao homem, em primeiro lugar, cuidar de si próprio, e daqueles que Deus pôs à sua guarda - a começar pela sua família. Tudo o resto é secundário. Se ele conseguir educar bem os seus filhos, de forma a torná-los pessoas decentes, essa é a mais importante contribuição que ele pode dar ao mundo. É uma contribuição pequena, mas é a única que está garantidamente ao seu alcance. As outras não, dependem de Deus. O pai de família é o modelo social do catolicismo.

Bullying

O fenómeno é tão estranho à nossa tradição que nem temos palavra própria para o descrever. Temos de recorrer ao estrangeiro: bullying (de bull, touro). Na comparação que tenho vindo a fazer das socieconomias entre três países imaginários - socialista, liberal e católico -, eu tenho procurado manter a discussão ao nível puramente abstracto, com o objectivo de descrever essas socieconomias em forma pura ou como paradigmas, e sem qualquer referência concreta. É altura de fazer a primeira aplicação. Como é que cada uma dessas sociedades, na sua forma pura, lidaria com o fenómeno do bullying?

Primeiro, é claro, é necessário definir precisamente aquilo de que estamos a falar. O bullying é aquele fenómeno em que um matulão (ou grupo de matulões), aproveitando-se do seu poder físico (ou de grupo) maltrata e abusa outras pessoas. Ocorre frequentemente na Escola, entre adolescentes, mas pode ocorrer em qualquer outro local (emprego, etc.). É uma forma de abuso do poder (físico ou de grupo).

Passo agora à descrição.

No país socialista, a principal instituição educativa é o Estado. Se existem na sociedade comportamentos inaceitáveis por parte dos cidadãos, a responsabilidade pertence ao Estado democrático e, em última instância, a quem ele representa - a sociedade. Compete, portanto, à sociedade, através do Estado, corrigir esses comportamentos. A solução para o problema do bullying consiste, portanto, em melhorar o sistema de educação, em última instância, inscrevendo nos programas de ensino a disciplina de Bullying onde são tratadas as diferentes matérias relativas aoo fenómeno, e os jovens desencorajados de o praticar.

O país liberal acredita na responsabilidade individual e, portanto, atribui a responsabilidade do bullying não à sociedade, mas directamente aos seus autores. Mas o país liberal também acredita nas soluções sociais espontâneas, aquelas que resultam do livre entendimento entre as pessoas, e desconfia fortemente da autoridade, a qual - na sua versão extrema do anarquismo - deveria mesmo desaparecer. Portanto, no país liberal, é preciso falar com os bulls, tentar persuadi-los por argumento racional e, em última instância, à maneira do homem de negócios, striking a deal with them (v.g., se vocês não maltratarem ninguém, no final do ano oferecemo-vos um prémio monetário por bom comportamento).

O país católico lida com os abusos de poder, em última instância, pela violência (Cat: 2242, transcrito aqui). Os bulls normalmente não se fazem na escola. Começam a fazer-se na família, com o irmão mais velho a bater no irmão mais novo, o jovem adolescente encorpado a fazer troça das ordens que a mãe lhe dá, ou a maltratar a empregada doméstica. E como é que se lida com esta situação na família? Colocando à frente do bull um bull ainda maior - o pai. Se o bull persistir nos seus comportamentos, apanha dois borrachos do pai e o assunto está resolvido. Na escola, a solução não é diferente. É colocar em frente aos bulls um grupo de contra-bulls ainda maior que lhes barrem o caminho. E se eles insistirem, que lhes preguem uma coça.





12 março 2010

ucdização

Uma sondagem do Expresso revela um crescimento de quase 50% das intenções de voto no CDS em relação às últimas legislativas. A partir de amanhã essa tendência só poderá acentuar-se.

desequilíbrios-2

Origem do PIB (Portugal, %):

Agricultura: 3%
Indústria: 25%
Serviços: 72%

Dívidas astronómicas


De acordo com a edição de hoje do International Herald Tribune, citando um estudo do CATO Institute elaborado a partir de dados obtidos no Eurostat, se o Estado português tivesse hoje de financiar todas as responsabilidades assumidas perante os seus cidadãos, nomeadamente no domínio das Pensões e da Segurança Social, a dívida pública portuguesa seria de 492% do PIB (comparada com os cerca de 80% de dívida explícita actual). Porém, caro leitor, não se preocupe: estamos longe de ser o pior exemplo dentro da UE-25!

Segundo o mesmo estudo, fosse o raciocínio anterior aplicado ao universo conjunto da UE-25, a dívida pública comunitária seria de 434% do produto. Entre os países com pior registo, a Polónia (1550% do PIB), a Eslováquia (1149%) e a Grécia (875%). Entre os países com registo menos mau, a Espanha (244% do PIB), a Bélgica (297%) e a Itália (364%). A título de curiosidade, refiram-se, ainda, as leituras atribuídas aos dois maiores países da UE, a Alemanha e a França, cujas dívidas públicas, seguindo o tal critério do CATO, seriam de 418% e 549% do PIB, respectivamente. Por fim, a título de curiosidade, nos Estados Unidos os encargos financeiros ascenderiam a 500% do produto.

Entre os factores definidos como mais preponderantes no cálculo dos desequilíbrios, atrás, descritos encontram-se a idade média de reforma e a dimensão dos respectivos sistemas públicos de saúde em cada país. A razão é simples: o envelhecimento da população europeia começa a fazer efeito. Assim, a fim de contribuir para a coesão da própria UE, é necessário que exista uma convergência da idade média de reforma. Infelizmente, não é isso que acontece na realidade. Por exemplo, na Alemanha estão a ser dados passos no sentido de aumentar a idade de aposentação para os 67 anos de idade. Pelo contrário, na Grécia, ao abrigo de uma legislação laboral que classifica 580 profissões como sendo de desgaste rápido, cerca de 14% da sua população activa reforma-se, com pensões máximas, entre os 50 (no caso das mulheres) e os 55 anos de idade (no caso dos homens).

De qualquer forma, a principal conclusão deste estudo da CATO - que, na minha opinião, carece ainda de confirmação (alguns números parecem-me estranhos) - é a seguinte: toda a Europa, não apenas este ou aquele país, está metida num enorme sarilho creditício.

pena capital

Políticas socialistas restabelecem (de facto) a pena de morte. Execuções seguem-se a julgamentos populares e decorrem na praça pública, a pontapé.
Ler aqui e aqui.

Relações sexuais (xii)

Visto de avião é assim. Mas se você descer lá abaixo...
O país socialista visa tornar as pessoas todas iguais. Este é o país em que a mulher se torna igual ao homem (v.g., na maneira de vestir, na forma de falar, nas profissões que desempenha), e o homem igual à mulher (v.g., nos cuidados pessoais, na partilha das tarefas domésticas). Este é também o país onde ninguém precisa de ninguém (e todos precisam do Estado), onde todos são indiferentes uns aos outros e ninguém tem necessidade de atraír o outro. É difícil imaginar uma relação sexual mais fastidiosa do que entre um homem e uma mulher que são praticamente iguais e largamente indiferentes um ao outro. Este é o país das relações sexuais casuais, e das relações múltiplas. Tanto faz uma relação sexual com uma pessoa como com outra porque, na prática, são todas iguais. Neste país, o sexo constitui uma fonte de prazer na vida sobretudo para os homossexuais, porque aí as relações são entre iguais. O país socialista é o reino dos homossexuais. Os homossexuais acabarão por ganhar um estatuto igual ao dos heterossexuais e exibem-se em público como modelo da sexualidade socialista. O homossexual é o role model da sexualidade masculina no país socialista.

O país liberal está baseado na prossecução do interesse-próprio. Este país valoriza a diferença, porque só na diferença existem oportunidades de negócio. Por isso, este país não valoriza a homossexualidade. O modelo sexual prevalecente é o modelo heterossexual, mas as relações sexuais entre um homem e uma mulher assemelham-se a relações de negócios. A própria relação pessoal que conduz à sexualidade tem frequentemente origem no mundo profissional, entre dois colegas de trabalho ou parceiros de negócios. As relações sexuais são rápidas, superficiais, indo directo ao assunto, e terminam logo que uma das partes perca o interesse, deixando a mulher frequentemente em situação de desvantagem. Existe falta de intimidade nas relações sexuais, tal como nas relações pessoais. As relações sexuais são mecânicas e falhas de intensidade, quase por dever de ofício. A figura do giggolo é talvez aquela que melhor representa o role model da sexualidade masculina no país liberal.

O país católico assenta no amor ao próximo e isso, desde logo, deixa antever a intensidade da sua vida sexual. Este é o país onde cada homem e cada mulher ambiciona dar amor ao outro, como um acto de caridade. A ideia é tornar o outro feliz, mais do que a si próprio. Neste país de sexualidade reprimida, as relações sexuais entre um homem e uma mulher são precedidas de longos períodos de namoro feito de jogos de sedução, de olhares e insinuações, de bilhetes trocados e beijos escondidos. os preliminares da relação sexual são tão importantes como a sua concretização. Quando, finalmente, eles se encontram a sós, as tensões, os desejos, os sentimentos tanto tempo reprimidos, tornam a relação sexual de uma intensidade indescritível. O role model da sexualidade masculina no país de tradição católica é o padre. É no padre que estão reunidos os extremos que, combinados num adequado equilíbrio, maximizam a intensidade da relação sexual. Por um lado, o padre é o profissional do amor ao próximo; por outro, a sua sexualidade é absolutamente reprimida. Não há homem que saiba amar como um padre, porque ele é o profissional do amor. E não há homem também mais carente, mais ardente e mais desejoso de amor físico do que ele. Uma mulher que consiga levar um padre ao pecado, vai ser recompensada. Ele levá-la-à ao céu.

560,00 €

Contas feitas, "as receitas, medidas em termos de PIB, sobem de 39,7% para 43% em quatro anos, o que se traduz por mais 3,3 pontos: é este, ‘grosso modo', o acréscimo exigido aos contribuintes, chame-se-lhe imposto ou outra coisa qualquer".
Cerca de 560,00€ por cabeça.

11 março 2010

Relações pessoais (xi)

Visto de avião é assim. Mas se você descer lá abaixo ...
No país socialista todas as pessoas dependem, em última instância, do Estado para os seus empregos, a assistência no desemprego, na diença e na velhice, até para a educação dos filhos. Ninguém depende de ninguém, e todos dependem do Estado. A característica principal das relações pessoais neste país é a indiferença. Todos se sentem iguais porque todos têm acesso aos mesmos serviços prestados pelo Estado. Não precisam uns dos outros. O socialismo desencoraja todo o sentido comunitário que não seja o país e, a prazo, acaba por tornar todas as comunidades de nível inferior dispensáveis, incluindo a família. Existem poucos casamentos.

No país liberal é o interesse que domina as relações entre as pessoas. As pessoas têm necessidade umas das outras por interesse-próprio, para obterem um emprego ou venderem um produto. As relações pessoais tendem a assemelhar-se a relações de negócio, rápidas, superficiais e contratuais, durando apenas enquanto durar o interesse das partes, e não envolvendo nunca intimidade. Mesmo as relações de família tendem a ser contratualizadas, e a família tende a desfazer-se logo que cesse o interesse de, pelo menos, uma das partes. Os divórcios são frequentes.

No país católico, as relações de família e de negócios tendem a interpenetrar-se. A comunidade é pequena e todos se conhecem. Todos precisam uns dos outros e todos valorizam cada um no desempenho das suas respectivas funções (padeiro, informático, advogado, etc.). A característica principal das relações pessoais é a amizade - uma forma do amor cristão ao próximo. O elevado sentido comunitário encoraja o espírito associativo e de família. O casamento é encorajado e os divórcios são raros.

Reforma e velhice (x)

Visto de avião é assim. Mas se você descer lá abaixo...

No país socialista existe um sistema nacional de pensões de reforma, para o qual todos são obrigados a contribuir durante a sua vida activa, e do qual receberão a sua pensão de reforma. As contribuições são obrigatórias e as condições em que cada pessoa se pode reformar são fixadas pelo Estado - idade da reforma, montante da pensão, etc. Os idosos que perderam a autonomia e que não diponham de outras soluções, terão à sua disposição uma rede de lares para idosos gerida pelo Estado, onde acabarão os seus dias.

No país liberal cada um é suposto prover para a sua própria reforma através de poupanças realizadas durante a sua vida activa e aplicadas em produtos financeiros disponíveis no mercado (depósitos bancários, acções, fundos privados de pensões, rendas de imóveis). A velhice é um risco maior no país liberal porque, na ausência de poupanças adequadas, um homem fica â mercê de instituições privadas de solidariedade que disponibilizam hospícios para os desalojados, em condições de impessoalidade não muito diferentes dos lares de idosos do caso anterior.

No país católico, a reforma é, em parte, assegurada pelo próprio, através de poupanças durante a sua vida activa e, em parte, por arranjos comunitários espontâneos (família, caixas de pensões, associações de assistência mútua, etc.), ou institucionais (v.g., Igreja, Junta de Freguesia). Os idosos vivem os seus últimos anos no seio da família e da comunidade com funções activas numa (v.g., cuidar dos netos, funções domésticas) e noutra (v.g., assistência aos pobres e doentes) e, em casos de incapacidade, em instituições comunitárias próximas da sua família e dos seus amigos. A pessoalidade no tratamento dos velhos é uma característica do país de inspiração católica que resulta do seu sentido comunitário.

desequilíbrios

Número de Divórcios por 100 casamentos:

1990: 12.9
2008: 60.4 (+368%)

(Fonte: Público, 5 de Março de 2010)

Criatividade (ix)

Visto de avião é assim. Mas se você descer lá abaixo...

Não é fácil ser criativo num país socialista. A economia é dominada pelo Estado e por grandes empresas públicas. Este é o reino da burocracia, todas as tarefas, todos os produtos, todos os procedimentos estão estandardizados e obedecem a prescrições rígidas. O Estado e as empresas públicas sobrevivem mesmo sem inovar, porque não estão sujeitos à disciplina das perdas. Os empregados comportam-se como funcionários públicos, fazem aquilo que lhes mandam fazer. Ninguém deseja ver perturbada a paz, a segurança, o rame-rame que se vive num departamento do Estado ou numa empresa pública. O homem inovador tem mais probabilidades de ser visto aqui como um perturbador da orrem estabelecida, do que como um herói, e acabar despedido.

No país liberal existe uma grande pressão à inovação. A inovação cria novos produtos, melhora os produtos existentes, inventa novas tecnologias e processos de produção mais baratos, e que dão mais lucros à empresa. Porém, tudo isto se processa dentro de uma grande empresa, às vezes muito grande. O homem inovador tem acima de si vários escalões da hierarquia, que não são necessariamente receptivos às suas ideias visionárias; e, ao seu lado, tem dezenas de colegas que competem com ele para a próxima promoção, e que não serão propriamente adeptos de o ver subir a ele. Finalmente, se o inovador conseguir vingar dentro da organização, e a inovação tiver sucesso comercial, os lucros são da empresa, não do inovador.

Total liberdade criativa possui o empresário do país católico, porque na sua empresa familiar ele é que é o patrão. Não apenas liberdade, mas também o interesse, porque no caso da inovação ter sucesso é ele que beneficia por inteiro. É certo que os recursos da empresa familiar, como o dinheiro, o tempo, etc., ao dispôr do empresário familiar não são grandes. Porém, não é o dinheiro, nem o tempo nem qualquer outro recurso que pode inovar. Só existe um recurso que pode inovar, que é a cabeça do ser humano, e essa o empresário familiar trá-la sempre consigo. A economia de país católico é propensa à criatividade e a uma criatividade realista, que é aquela que visa satisfazer melhor, ou mais barato, as necessidades de pessoas que ele próprio conhece - os seus vizinhos.