30 junho 2009

fechamento



A todos o meu bem-haja!
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O "fechamento" de que o Prof. Arroja fala [aqui] é entendido por mim com algum capital de esperança. Este fechamento (com todos os defeitos e hipocrisias que o configuram) pode ser entendido como o depósito de um modo de vida bastante mais saudável do que aquele que os países de cultura protestante defendem.
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A Reforma modificou muito os países agora protestantes. Tornaram-se mais ricos, organizados e civilizados. Mas também se tornaram mentalmente mais doentes, praticaram mais genocídios e, paradoxalmente, no mesmo momento em que se tornaram mais humanistas, tornaram-se também mais desumanos.
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Já os países católicos parecem preocupar-se menos com o facto de serem mais pobres. Vivem a pobreza zombeteiramente. Ostentam a sua pouca riqueza como autênticos pacóvios. Alguns até têm um Mercedez (protestante) apenas para ir à missa ao Domingo (católica). Infernizam a vida uns aos outros, mas pedem desculpa por isso todos os Domingos e dias santos. Digamos que são culturas apequenadoras. A religião engrandece-lhes esteticamente a força dos absolutos opostos, o bem e o mal. Coisa que eles se encarregam no dia a dia de apequenar. As suas maldades são mesquinhas, não acabam em tiroteios nas escolas, em genocídios etc. As suas bondades não passam de uns quilos de arroz no banco da ajuda alimentar. Quando olhamos para eles (nós) com alguma distância percebemos que no fundo são os lírios do campo.Talvez um dia as culturas protestantes venham a sentir o que perderam e a tomar esta ingenuidade por referência.
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Sinfonia do disparate Homepage 06.30.09 - 10:31 pm #

a diferença


Comentário protestante e comentário católico. São ambos discordantes. Qual é, então, a diferença?
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Adenda: Mais comentário católico: "Vai levar no recto!"

recostado no Estado


O Protestantismo, nas suas diferentes variantes, representou um movimento de concorrência ao monopólio da Igreja, na sua dupla função de autoridade docente e exclusiva do Cristianismo, e de agência sacramental. O sucesso do movimento foi considerável, rapidamente conquistando o mercado à Igreja de uma forma praticamente absoluta nos países do norte da Europa, em mais de metade da Alemanha, nas Ilhas Britânicas, com excepção da Irlanda, e em boa parte da França.

O Protestantismo contestou que a Igreja tivesse o monopólio da interpretação das Palavras de Cristo, insistindo que a única fonte da Revelação são as Escrituras (Sola Escritura), enquanto a Igreja Católica insistia em afirmar que a fonte da Revelação, para além das Escrituras, inclui também a doutrina elaborada pela Igreja ao longo dos séculos (tradição). O protestantismo também contestou os sacramentos, defendendo que os pecados não podem ser perdoados pelos homens (clero), mas só pela graça de Deus. Quem julga a vida humana? "Só Deus!", respondem os protestantes; "Nós!", responde o clero católico.

Nesta última diferença está o carácter transcendente que a justiça possui nos países protestantes e que confere aos seus sistemas de justiça uma qualidade extraordinária, em comparação com o carácter humano, banal e terreno que a justiça possui nos países católicos, como Portugal, e que explicam a sua conhecida ineficácia e frequente injustiça.

A conquista do mercado pelo Protestantismo que desceu do norte da Europa para o sul, só foi travada em Espanha, com Portugal na sua rectaguarda. A Península Ibérica representa a única região da Europa Ocidental onde o protestantismo nunca entrou, e que serviu de base à Igreja para reorganizar as suas forças e iniciar a reacção de defesa (Contra-Reforma).

Como é que a Igreja conseguiu proteger o seu mercado em Portugal e Espanha? Associando-se ao Estado, que promulgou leis que lhe garantiram a reserva do mercado. A expulsão dos judeus ordenada pelos Reis Católicos e o estabelecimento da famosa Inquisição Ibérica (Spanish Inquisition) constituiram as peças essenciais do aparato legal que conferiu à Igreja o monopólio das consciências em Espanha e Portugal: Aqui só se vende um produto - o catolicismo - e quem ousar vender outro é um criminosos (herege) que deve ser preso e lançado à fogueira.

Os grande negócio que, para ser seguro, deve ser feito recostado no poder coercivo do Estado, a tendência para o proteccionismo e para a promiscuidade entre interesses privados e interesses públicos que é típica dos países de cultura católica, encontra aqui a sua expressão.

O impacto destas medidas proteccionistas sobre a mente do homem ibérico e a sua cultura foi extraordinário, e permanece até hoje. Fechou-lhe a mente e o espírito, instituindo uma só verdade e uma só visão da vida e do mundo - e uma visão que é proibido contestar. Quem o fizer não é uma boa pessoa, na realidade só pode ser um louco ou um criminoso. A Igreja Católica, que reclamava ser a única interprete de Cristo, o maior herege de todos os tempos e o Homem que foi condenado por blasfémia, passou, ela própria, a perseguir os hereges.

crooks

caixa de Pandora

Quinze dias de salário em atraso é o suficiente para evitar execuções fiscais de carros, da conta bancária e penhoras comerciais sobre bens, como móveis e electrodomésticos. Despejos por falta de pagamento das rendas das casas também não são permitidos e o Estado passa a substituir-se aos devedores para pagar aos credores e senhorios.
Via DN
ahahahahahahah

dramma jocoso

No caso Madoff, o protagonista é o Sr. Bernard Madoff, que foi ontem condenado a 150 anos de prisão. Lendo as notícias de ontem e de hoje, registamos o nome do juiz que proferiu esta sentença, Denny Chin, mas não conhecemos todos os outros intervenientes no processo. Intervenientes que foram profissionais e eficazes. Recordemos que o caso Madoff se iniciou em Dezembro de 2008 e que foi a julgamento em Março deste ano.
Comparemos isto com o caso Freeport. Neste caso os verdadeiros protagonistas são o Procurador-Geral da República, os magistrados titulares do processo – Victor Magalhães e Paes Faria, o Presidente do Eurojust – Lopes da Mota, um Ministro – Alberto Costa, o presidente do sindicato dos magistrados do ministério público e Cândida Almeida, a “prima-dona” desta ópera bufa.
No campo dos culpados não existem protagonistas. Nem protagonistas nem suspeitos, apenas alguns arguidos, que serão pessoas inocentes sobre as quais recaem fortes indícios (desculpem a minha falta de formação jurídica).
Devemos reflectir sobre esta realidade.

29 junho 2009

A Lei de Say


Educar consiste em moldar o espírito das pessoas, fazer-lhes a cabeça, como se diz na linguagem popular, incutir-lhes no espírito as ideias, as atitudes e os valores que vão governar a sua vida, e que depois passam de geração em geração. A Igreja foi a primeira instituição de ensino na história da civilização, e os padres o primeiro corpo de professores profissionalizados. Até pelo menos ao séc. XVI e à Reforma Protestante, a Igreja teve o monopólio da educação no Ocidente e, em Portugal, praticamente até ao início do século XX. A religião cristã dominava então a mente das pessoas, porque lhes fornecia um quadro de pensamento e acção que dava sentido às suas vidas, e todos os problemas da vida eram vistos à luz da religião (o célebre episódio de Galileu ilustra como a ciência nascente estava também sujeita ao escrutínio da religião).
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A maneira como os portugueses pensam, a forma como raciocinam, reagem e interagem uns com os outros, os seus valores e o seu código de moralidade foram-lhes incutidos no espírito ao longo dos séculos, e começando muito antes da nacionalidade (acredita-se que S. Paulo pregou no território que hoje é Portugal) pelo magistério da Igreja. É neste sentido que tenho afirmado que a cultura portuguesa é uma cultura predominantemente católica.
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Mesmo depois de a Igreja ter perdido o monopólio da educação em Portugal, pouco se alterou, e nada no essencial. O código de moralidade permanece, no essencial, o código católico. É certo que as matérias ensinadas se alargaram e os professores passaram a ser laicos, mas tudo o resto se manteve igual. Os métodos de ensino prevaleceram (sobretudo o magistral); os materiais de ensino são essencialmente os mesmos (a sebenta ou livro-texto, desencorajando a consulta das fontes, e fazendo recordar o recurso ao Catecismo, em lugar da Bíblia); a distância que o professor mantém do aluno, e a altura a que se coloca em relação a ele, mantiveram-se inalteradas, desencorajando o debate e reforçando a posição da autoridade docente; a falta de originalidade intelectual nas escolas e nas universidades portuguesas, e dos seus professores, não se alterou: os professores permaneceram meros repetidores de doutrinas feitas, não seus criadores. Na universidade, os trajes académicos são ainda os dos padres, as orações de sapiência, proferidas a partir de um púlpito, não deixam margem para engano acerca da sua origem, e a curiosidade intelectual que suscitam é, em geral, a mesma de uma homilia.
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O magistério da Igreja Católica é a principal fonte daquilo que chamei a cultura portuguesa. Mas como é que a Igreja maximiza as receitas das Penitências? A resposta é: maximizando o número de pecadores na sociedade. Está aqui a origem do carácter essencialmente pouco cristão das sociedades católicas em comparação com as sociedades protestantes, a que me tenho referido. (Nas sociedades protestantes ninguém vende penitências - só Deus pode perdoar os pecados - e, portanto ninguém sente necessidade de ter pecadores por perto para as comprar).
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A "Lei de Say" na Economia estabelece que a oferta cria a sua própria procura. As empresas farmacêuticas têm interesse em fazer crer às pessoas que elas estão sempre doentes; os bancos propagam a mensagem que é um perigo ter o dinheiro debaixo do colchão; os professores passam o tempo, aberta ou veladamente, a apelidar os seus concidadãos de ignorantes. A Igreja que que vende o perdão dos pecados e durante séculos teve o monopólio da educação na sociedade - o equivalente, no presente, a ter os monopólio dos meios de comunicação - criou uma cultura de pecadores. A Igreja pôde finalmente relaxar quando, nos países sob a sua influência exclusiva e milenar, eram agora os cidadãos que espontaneamente acabavam todas as conversas a atribuirem-se pecados uns aos outros.
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Uma instituição que deriva uma parte das sua receitas e da sua influência social do perdão dos pecados, tem de ter pecadores na sociedade, e se eles não surgirem espontaneamente, ela própria tem de os criar, caso contrário cessa uma das razões da sua existência, tem uma quebra de receitas, e pode até ir à falência. Não apenas isso, pelo menos em épocas de maior aperto financeiro ou para financiar a sua expansão, ela tem de ter pecadores em abundância, senão mesmo de os maximizar. Ora, esta é precisamente a instituição que ao mesmo tempo define também o que é o pecado, e a sua definição, por virtude do seu monopólio na educação durante séculos, era generalizadamente aceite pelo mercado.
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A estratégia mais eficaz para maximizar o número de pecadores no mercado consiste em estabelecer padrões morais tão elevados que ninguém os consegue cumprir, assim criando na sociedade a ideia de que todos são pecadores. E foi isso que a Igreja fez, ao ponto de tornar o Cristianismo quase que exclusivamente uma doutrina moral. Os países sujeitos à influência exclusiva do catolicismo, como Portugal, tornaram-se assim países de moralistas - que não de filósofos ou cientistas -, uma espécie de comerciais de uma empresa que pregava uma moral tão elevada quão elevada era a sua expectativa de que ninguém a conseguisse cumprir.
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O caso dos padres constitui, a este respeito, uma estratégia de marketing de uma eficácia considerável. A moralidade a que a instituição desde sempre sujeitou os padres (vg., celibato, castidade) é de tal modo elevada ao ponto de se tornar desumana. Não surpreende, portanto, que raros sejam aqueles que a conseguem cumprir integralmente. Mas o não-cumprimento pela esmagadora maioria dos padres do código de conduta a que a Igreja os sujeitou apenas serviu para reforçar no mercado a convicção de que todos os homens são pecadores: "Pois se até os padres pecam, o que será de mim...". Os jornalistas que hoje em dia fazem grandes manchetes acerca dos pecados dos padres católicos, como o da pedofilia, nem sempre se apercebem que estão a promover a pedofilia na sociedade e, em última instância, o negócio da Igreja, sobretudo nos países, como Portugal, onde ela não tem uma concorrência credível.

o negócio da salvação das almas


Neste post eu pretendo lançar as bases de uma análise da Igreja Católica e da sua história sob uma perspectiva estritamente económica. Esta análise permite lançar luz sobre muitos acontecimentos e instituições que estão ligadas à história da Igreja no mundo, e sobretudo explicar vários dos comportamentos, instituições, vícios culturais e problemas actuais de Portugal, um dos mais genuínos países católicos do mundo.
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O quadro de análise é o seguinte. A Igreja desempenha tradicionalmente duas funções no seio do Cristianismo. Uma é a de autoridade docente, outra a de agência sacramental. Durante muitos séculos a Igreja exerceu estas duas actividades em regime de monopólio - um monopólio quebrado parcialmente com o Cisma do Oriente no séc. XI e com a Reforma Protestante no séc. XVI. Em Portugal (como em Espanha) a Igreja manteve o seu monopólio sempre intacto.
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Na função de agência sacramental, a Igreja está no negócio da salvação das almas, sendo intermediária entre os fieis e Deus. Para o efeito, oferece sete produtos que os fieis são supostos comprar para obter a salvação. Foi este negócio de intermediação que os Protestantes aboliram no norte da Europa, passando os fieis a obter a salvação directamente da graça de Deus, sem agenciamento da Igreja.
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Os sete produtos são os Sacramentos. Cinco dos produtos vendem-se em momentos coincidentes com marcos importantes na vida de uma pessoa, e são produtos de procura praticamente certa. O Baptismo é coincidente com o nascimento; a Confirmação ou Crisma é coincidente com a adolescência ou a entrada na idade da razão; O Matrimónio é coincidente com maturidade e a dedicação da vida a uma outra pessoa para fins de reprodução; a Ordem, se a pessoa decide, alternativamente, dedicar a sua vida a Deus; e a Extrema Unção ou Unção dos Doentes é coincidente com a morte. Os outros dois produtos podem comprar-se a qualquer momento. Refiro-me à Comunhão (Missa), celebrando a aproximação a Deus, e a Penitência, visando redimir os pecados.
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Em contrapartida dos serviços prestados, a Igreja recebe emolumentos, pagamentos em espécie, e outros em dinheiro (esmolas, doações, heranças, subsídios do Estado etc.). A minha presunção é que, ao longo da história da Igreja, os produtos mais rentáveis foram o Baptismo e o Matrimónio, pela regularidade das suas receitas, a Extrema Unção (a tentação para legar a fortuna à Igreja em troca da salvação é considerável), e, sobretudo as Penitências. Foi, aliás, a especulação neste produto que nos países protestantes levou a acabar com o negócio da Igreja.
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A Igreja maximiza as receitas do Baptismo e da Extrema Unção defendendo a maximização dos nascimentos; maximiza as receitas do Matrimónio defendendo a maximização dos casamentos. Mas como pode ela maximizar as receitas das Penitências?

razões ponderosas

Nas últimas duas semanas tenho escrito pouco no Portugal Contemporâneo. Para além de alguma falta de tempo, confesso a verdadeira razão: uma certa aposta com o Pedro Arroja, que ele insidiosamente me levou a fazer publicamente, que envolvia – já não me recordo com exactidão – algumas garrafas de um vinho de segunda categoria e os resultados das próximas legislativas.

Deste modo, quero aqui publicamente assumir o compromisso solene de regressar mais intensamente à actividade, mas se, e só se, o Pedro der a aposta por inexistente, já que a vitória do PSD, essa, parece já estar fora de causa.

sair bem na foto

O presidente das Honduras foi deposto, na sequência de um processo legal. O poder está nas mãos das instituições democráticas, presidente do parlamento e do próprio parlamento, e não de nenhuma junta.
Ao apoiar o presidente deposto, Obama pretende vincar que os EUA não tiveram nada a ver com o assunto. Contudo, a posição de Obama corre o risco de legitimar uma intervenção da Venezuela e/ou de Cuba e de desencadear um conflito regional que pode vir a custar milhares de vidas.
Obama devia ter condenado a actuação do presidente deposto e intercedido para a realização de eleições, no mais breve prazo de tempo possível.
O presidente Obama demonstrou, com esta actuação, que se está nas tintas para o povo das Honduras e que tudo o que lhe interessa é sair bem na fotografia. É um comportamento muito perigoso para um líder mundial.

Castro & Clinton











Castro e Clinton apoiam chavismo.

súcia




Chavez (Venezuela), Correa (Equador), Ortega (Nicarágua), Morales (Bolívia) e Obama (EUA), condenam golpe militar nas Honduras. Acção do exército foi conduzida para executar uma decisão do parlamento e do supremo tribunal de justiça das Honduras.

seven



Chegou a factura. A UE cobrou 899 M€ à Microsoft e agora a Microsoft vai cobrar esse montante aos consumidores europeus. Como não poderia deixar de ser, porque a Microsoft não fabrica dinheiro.
Acresce, ainda, que na UE o Windows 7 vai ser vendido sem o Explorer, mais uma vez graças à Comissão Europeia. Quem quiser tem que fazer o download separadamente.
Isto não é patético?

bananas


"A inveja, o queixume e o ressentimento, com que muitos portugueses embrulham a pequenez de espírito e a incapacidade de ousar e de assumir os riscos da sua individualidade, esgrimindo-os contra os que têm sucesso ou, mais simplesmente, contra os que atrevem a sobressair da niveladora mediocridade, são outras emanações, limitadoras, desse "carácter" (...) O melhor exemplo desta idiossincrasia é a atitude face ao Mateus Rosé. É a única marca global de origem portuguesa (...) mas que os portugueses se empenham em denegrir.

(...)

Poderá interrogar-se como é que se reproduzem as características comportamentais que se traduzem na cultura ou na idiossincrasia de uma comunidade (...) Há uma interessante experiência que pretende representar um tipo de mecânica de reprodução cultural, frequentemente referida pelos manuais de organização, e que pode ser evocada a este propósito. Um cientista social colocou 3 macacos numa jaula, e no topo dessa jaula, por cima de um banco colocada ao centro, pendurou um cacho de bananas. Quando um macaco se dirigia ao cacho para retirar uma banana, os outros dois eram agredidos por um jacto de água gelada. Repetindo o procedimento, cedo começaram os macacos castigados, para evitar a repressão externa, por agredir o terceiro elemento para o impedir de chegar às bananas, de cada vez que ele a tal se atrevesse. Ao fim de não muito tempo, nenhum macaco se atrevia a ir às bananas e qualquer deles saltaria de imediato a bater em qualquer outro que tentasse aproximar-se do fruto exibido."

Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.

nem se governam nem se deixam governar


"Para fugir aos naturais enviesamentos da forma como nos olhamos a nós próprios, é sempre útil procurar ver-nos no espelho do olhar dos outros (...) O olhar de dentro de Teixeira de Pascoaes ajuda, talvez, a compreender melhor, e a relativizar o olhar de fora de Kapuscinski e a sua sentença de "individualistas empedernidos". Os portugueses têm, de facto, sinais comportamentais que não facilitam a sua organizada inserção comunitária. Daí, provavelmente, a frase que sobre os nossos antecessores Lusitanos é atribuída a Gaius Julius Caesar (110-44 aC): "há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar". Mas não creio que o português típico - se é que existe essa figura - apesar de desorganizado e ter pouca disponibilidade para cooperar com os outros, seja especialmente dotado para afirmar e assumir a sua individualidade. (...) Por isso tenho alguma simpatia por uma interpretação baseada na tese que Michael Oakeshott (*) sustentou, em 1958, nas suas Conferências de Harvard. (...) De um lado (...) a "moralidade da individualidade" (...) de outro lado (...) a "moralidade do colectivismo". (...) Assim e à luz desta tese de Oakeshott, creio ser mais razoável identificar o "carácter" dos portugueses com a moralidade do segundo tipo de governados. Aliás, o que o filósofo José Gil escreveu, a dado passo do livro, "O Medo de Existir", tende a reforçar a interpretação que aqui partilho."

Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.

(*) Para mais acerca do pensamento de Michael Oakeshott leiam o ensaio de João Carlos Espada publicado este fim de semana no "i".

talvez a única


"Não é a primeira vez que a democracia está em perigo", diz o Professor Adriano Moreira este fim de semana numa entrevista ao Semanário Económico. Eu partilho a sua opinião. O sinal que hoje veio das Honduras é um sinal preocupante. As democracias caem com facilidade nos países de tradição católica em períodos de dificuldades económicas prolongadas. O desemprego e a pobreza acrescida são a gota de água no ressentimento que a democracia gera em relação aos políticos e às instituições em países de cultura católica.

Cumpriu-se nas Honduras mais uma regularidade dos países católicos. O árbitro da política e da democracia não é a lei, nem mesmo a constituição. São os militares. Esta regularidade não foi inventada na América Latina, mas é uma faceta que os países latino-americanos herdaram dos seus pais culturais - Portugal e a Espanha.

Os observadores parecem estar de acordo que a única democracia viável na América Latina é a Costa Rica, curiosamente o país onde o ex-Presidente hondurenho se acolheu. A razão parece ser a de que desde 1949, a Costa Rica proibiu os militares, suprimindo constitucionalmente as forças armadas. Esta é talvez a única ideia política original oriunda de um país de tradição católica nos últimos cinco séculos.

28 junho 2009

reformar a Justiça


"A Justiça é uma área onde me sinto menos à vontade para discutir pormenores ou fazer propostas concretas. Mas não é preciso saber muito sobre as tecnicidades do assunto para perceber que a actual situação (...) é insustentável.

(...)

Se noutros países a Justiça consegue ser mais expedita e consegue regular melhor a sociedade do que a nossa, só há que copiar o que se faz nesses países. Mas, para isso, a reforma da Justiça não pode ser conduzida apenas por "especialistas do meio" que, consciente ou inconscientemente, estão viciados no modelo em que aprenderam a funcionar. Tanto mais que, muito provavelmente, para responder ao que a sociedade espera da Justiça - que são soluções práticas e não o juízo divino - toda a filosofia subjacente ao edifício jurídico e institucional do Direito Criminal (Penal), do Direito Processual Penal e da investigação criminal teria que ser revista de alto a baixo, à luz de uma visão mais pragmática, e isso não se faz (só) com quem vive embrenhado nessa filosofia".

Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.

desenrascanço


"Infelizmente para a eficiência económica, a nossa cultura convive muito bem com um largo espaço de arbitrariedade decisória, que tende a interpretar, erradamente, que isso é uma fonte de flexibilidade no funcionamento da economia e da sociedade. Daí os louvores que se concedem ao nosso espírito de "desenrascanço", sem nos darmos sequer ao trabalho de reflectir porque é que as sociedades mais desenvolvidas não dispõem de, nem cultivam, esse espírito.

No fundo, a tão valorizada flexibilidade mais não é do que a combinação de uma grande habilidade para "dar a volta" às regras, com a complacência manifestada para com a sua violação. Esquecemo-nos, contudo, que, pela porta que a "flexibilidade" (i.e. o "jeitinho") abre para facilitar uma decisão necessária, vão acabar por passar muitas mais decisões perniciosas, pelo que o resultado líquido, para a economia e para a sociedade, é claramente negativo. É por isso e para evitar todas as distorções que isto provoca que os países mais desenvolvidos preferem funcionar com regras claras e rígidas, mas sem excepções. Porque sabem que a gestão das excepções é uma inesgotável fonte de arbitrariedades e ineficiências."

Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.

O valor da política


"Francisco Louçã ou José Reis não chegaram a professores catedráticos pela ideologia. (...) Ambos têm uma lista de publicações de referência internacional [e estou apenas a dar dois exemplos!!], com impacto no pensamento económico mundial.", Carlos Santos (signatário do contra manifesto ao manifesto dos 28).

Saúde básica


uma rua estreita


No seguimento do meu post anterior, gostaria de voltar ao tema de liberdade humana sob o ponto de vista de cada uma das culturas católica e protestante.

A intolerância espiritual do catolicismo produz uma espécie muito peculiar de homem livre. É um homem invariavelmente só. Perante uma cultura circundante de intolerância generalizada, um homem apenas consegue ser espiritualmente livre se se retirar deste mundo. Os conventos e os mosteiros são instituições tipicamente católicas e os grandes símbolos da religiosidade católica são quase que invariavelmente pessoas retiradas deste mundo. Mesmo entre os laicos - Alexandre Herculano é o exemplo que ocorre ao espírito - a experiência não é diferente. O próprio Papa, o homem mais livre da Igreja Católica, é um homem retirado do mundo, e no Portugal do Estado Novo o homem mais livre do país, talvez o único - Salazar - era um homem imensamente só.
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Pelo contrário, a tolerância espiritual do protestantismo conduz cada homem a realizar a sua espiritualidade em comunhão com os outros, e em obras deste mundo. As grandes realizações modernas do espírito humano, a democracia, o capitalismo, a ciência, a tecnologia e a filosofia moderna são, quase exclusivamente, obras da cultura protestante.
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O espírito do homem comum criado na tradição católica assemelha-se a uma rua estreita ladeada por muros muito altos - uma espécie de prisão. O seu espírito reprimido, fechado, egoísta e céptico contrasta com a largueza, a abertura, a generosidade e o optimismo de espírito que é típico do homem de cultura protestante. Nesta ortodoxia do espírito realiza o catolicismo a sua unidade cristã, já que no domínio das acções, o catolicismo caracteriza-se por uma imensa liberdade de acção que chega ao ponto da tolerância ao pecado. Para o protestantismo, pelo contrário, a unidade cristã está nas acções, já que a liberdade de espírito consente aí que um homem seja até anti-cristão (o ateísmo e o agnosticismo modernos são, eles também, criações da cultura protestante).
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Para o catolicismo, a unidade cristã está nos pensamentos e nas palavras, que não nas acções; para o protestantismo está nas acções, que não nos pensamentos nem nas palavras. Para o catolicismo pensar diferente é uma heresia, enquanto que para o protestantismo a heresia está exclusivamente no pecado. Esta diferença confere uma aparência enganosa às sociedades assentes quer numa quer noutra das tradições. A sociedade católica é na aparência muito cristã, na realidade é-o muito pouco. A sociedade protestante, pelo contrário, tem uma aparência muito pouco cristã, às vezes até anti-cristã. Na prática, é uma sociedade muito mais cristã do que a católica.
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Nos últimos séculos têm sido as sociedades de cultura católica, como Portugal, Espanha e os seus descendentes na América Latina, a tentar imitar as sociedades protestantes nas suas instituições, na sua prosperidade, na sua maneira mais cristã de viver - e não o contrário. Porém, limitaram-se, em geral, a imitar as instituições, sem reformarem os homens e a sua cultura, que foi a transformação radical da Reforma Protestante. Por isso, as tentativas falharam quase sempre.
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Ainda hoje falhou mais uma. Na tradição protestante, o árbitro da política é a lei. Na tradição católica são os militares. O Presidente das Honduras, fazendo jus à sua cultura católica, quis fazer batota democrática, ainda que referendada. Os militares não deixaram. E lá foi a democracia.

nem para onde vai


Para que haja uma compreensão melhor do assunto, vejam este episódio:

JOÃO 3:1-21

"1 E HAVIA entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
11 Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
14 E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

"Hadassah 06.26.09 - 10:22 pm #
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Poucas passagens das Escrituras ilustram melhor algumas das diferenças principais entre a cultura católica e a cultura protestante do que esta, a primeira cultura representada por Nicodemos, a segunda por Cristo. (Não insistirei mais no ponto de que a cultura protestante é consideravelmente mais cristã do que a católica).
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Nicodemos, tal como a cultura católica, coloca o ênfase no mundo tal como ele existia ao tempo de Cristo, que era um mundo de pecado, doença, fome, escravatura, injustiça, discriminação e morte. Cristo, tal como a cultura protestante, coloca o ênfase num mundo diferente e novo ("7 ... Necessário vos é nascer de novo..."), que é o mundo que virá depois da sua própria morte, o mundo da salvação: "17. Porque Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".
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Para além da sua incredulidade, o aspecto mais saliente da reacção de Nicodemos, é a sua completa incompreensão, a sua radical falta de capacidade para conceber o mundo de forma diferente daquilo que ele é, em tudo se assemelhando à falta de capacidade da cultura católica para a abstracção, a que me tenho referido frequentemente. Cristo não deixa de lhe notar: "12. Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crerereis, se vos falar das celestiais?". O materialismo e a falta de espiritualidade de Nicodemos, tal como na cultura católica, contrasta com a espiritualidade de Cristo, que é inerente à cultura protestante, a capacidade para acreditar mesmo naquilo que não se vê - e sobretudo nisso. A potência do espírito humano é aqui posta em relevo.
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Nicodemos tem o espírito preso a este mundo, a mesma concentração no aqui e no agora que é típica da cultura católica, e a que já me referi noutro lugar. E qual é a faceta principal desse mundo alternativo que lhe é proposto por Cristo? A libertação do espírito humano, deixar o espírito humano voar com o vento, fazendo de cada homem uma experiência única de Deus: "8. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, e não sabes de onde vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
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Eu não estarei certamente a exagerar se disser que o pior vício da cultura católica, e que a história documenta abundantemente, é a sua radical intolerância espiritual, a aversão radical à ideia de que o espírito de um homem possa voar com o vento, não vá ele voar em direcção diferente do rebanho. É este também, ainda hoje, o principal vício da cultura portuguesa, essa muito anti-cristã, intolerável e embrutecedora colectivização do espírito humano.

Frank Knight


Ainda sobre Frank Knight e alguns temas que o Professor Arroja tem colocado neste blogue, diz Robert H. Nelson em “Frank Night and Original Sin”:

“(Frank Knight)…strongly favoured the market over central state control, here again he was manifesting the Calvinist quality of his thinking. As compared to Roman Catholicism, Protestantism in its infancy was fundamentally an individualistic religion in making each of the Protestant faithful responsible for his relationship with God; salvation was a matter of individual “faith alone.”

This strong individualism eventually had profound social consequences outside the realm of theology. The religious beliefs of the English Puritans laid the basis for modern freedoms in the realms of both government (the democratic system) and the economy (the free market). As the distinguished German theologian Ernst Troeltsch would explain with respect to the great impact of the Puritans in shaping the basic values and social institutions of the modern age:The great ideas of the separation of Church and State, toleration of different Church societies alongside of one another, the principle of Voluntarism in the formation of these Church-bodies, the (at first, no doubt, only relative) liberty of conviction and opinion in all matters of world-view and religion.

Here are the roots of the old liberal theory of the inviolability of the inner personal life by the State, which was subsequently extended to more outward things; here is brought about the end of the medieval idea of civilisation, and coercive Church-and-State civilisation gives place to individual civilisation free of Church direction. The idea is at first religious. Later, it becomes secularized. . . . But its real foundations are laid in theEnglish Puritan Revolution. The momentum of its religious impulse opened the way for modern freedom. (Troeltsch, Ernest. [1912] 1958. Protestantism and Progress: A Historical Study of the Relation of Protestantism to the Modern World. Boston: Beacon.)”

D. Costa
Anonymous 06.28.09 - 1:39 am #

27 junho 2009

Parábola dos Talentos


Parábola dos Talentos (Mt. 25, 14-30):

14 «Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens.
15 A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu.
16 Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco.
17 Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois.
18 Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19 Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas.
20 Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: 'Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.'
21 O senhor disse-lhe: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.'
22 Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: 'Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.'
23 O senhor disse-lhe: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.'
24 Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: 'Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.
25 Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.'
26 O senhor respondeu-lhe: 'Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei.
27 Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.'
28 'Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos.
29 Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
30 A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.'»

esqueçam os stilettos

Tenho acompanhado com muito interesse os posts da Marta, no ionline. Não por baixos instintos, mas porque considero que a descendência é o modo mais eficaz de atingirmos a imortalidade. Ora para deixarmos descendência temos de fazer concessões à bestialidade. São sacrifícios sagrados, por assim dizer.
Comecei por aprender o truque da paleta, aprendi que o relacionamento virtual é insuficiente e hoje descobri que afinal a menopausa não é o fim. Em principio, eu não deveria andar atemorizado com esta ideia, mas desde que vi um senhor grávido na TVI, já receio tudo.
A Marta aconselha as madames a não se deixarem levar em cantigas... eu discordo.
Minhas senhoras, se já tiverem passado a barreira dos cinquenta, deixem-se levar em cantigas..., amiúde e repetidamente. Desde que seja de noite, a música estimule os sentidos e o champanhe gelado tolde a razão. Façam é como a Cinderela, regressem a casa antes de amanhecer, mesmo que se esqueçam dos “stilettos”.

bom aluno

Gostaria de assumir, publicamente, inteira responsabilidade pelo último post do Dragão. Como podem constatar, o post foi publicado hoje, às 04:16:00 PM, cerca de 7 horas depois deste post, em que eu dissertava sobre o método de aprendizagem SSS.
O Drago era um bloguer abatido por algumas polémicas com perigosos libertários e tinha regredido mentalmente até à fase anal. No Dragoscópio dedicava-se a chafurdar em imundice que projectava em todas as direcções, qual bonobo enjaulado.
Felizmente, depois de ler o meu post, adoptou rapidamente o método SSS. Espreitou, escolheu e estruturou um texto já melhorzito. Parabéns Drago. Um dia você vai ser um homem capaz de gozar plenamente da liberdade que Deus lhe deu, sem ter de andar sempre com um rolo de papel higiénico atrás.

dúvidas terríveis

A reunião de 3ª feira, entre o presidente da PT e o primeiro-ministro, levanta dúvidas terríveis. Tantas que me faz recordar uma anedota já muito velhinha.
Um marido enganado perseguiu a mulher e o amante até um hotel. Viu-os entrar para um quarto e correu a espreitar à janela. Viu-os despirem-se, abraçarem-se e beijarem-se. Os dois amantes pareciam enlouquecidos pela paixão, saltaram para a cama, mas depois... apagaram a luz.
Ó dúvida terrível! Pensou o marido enganado.
Os portugueses devem ter tantas dúvidas sobre o conteúdo da referida reunião como o protagonista desta história sobre a fidelidade da esposa.

como ensinar

O método de estudo SSS permite extrapolar sobre o melhor método de ensinar uma disciplina ou expor qualquer matéria.
É necessário, logo de início, explicar a estrutura da disciplina. Dar definições, elementos epistemológicos e concretizar o âmbito do que se está a ensinar. Depois, devem ser identificados os conceitos principais. Por fim, deve entrar-se na exposição detalhada.
Parece-me que o mestre deve começar pelo fim, mostrar primeiro “a floresta”. Depois “as árvores principais” e, só por fim, “a sua descrição minuciosa”. Se não proceder deste modo, o mestre corre o risco de deixar o aluno desnorteado e até sem interesse pelo assunto.

SSS

O método 3S, é uma técnica que eu utilizo para estudar. Os três esses são as letras iniciais das palavras Survey, Select e Structure.
Quando necessito de estudar uma determinada matéria, começo por uma primeira leitura do tema (Survey), depois selecciono (Select) elementos fundamentais para a compreensão da disciplina e, por fim, relaciono esses elementos fundamentais entre si, da forma mais lógica possível (Structure). Desse modo, a evocação de qualquer um dos elementos, considerados estruturantes, permite chegar aos outros por associação.
Normalmente mantenho um caderno com a descrição dos elementos fundamentais e um elenco da respectiva associação ou estrutura. Transporto comigo esse caderninho e decoro todo o seu conteúdo.
Os resultados da aplicação deste método têm sido altamente positivos. Usem-no à vontade...
PS: Em português poderíamos usar – eSpreitar, eScolher, eStruturar.

cultura-criança







O título deste artigo do Público é particularmente feliz: Michael Jackson, morreu o homem-criança da cultura pop.
Que tipo de cultura elege um ícone destes? Penso que terá de ser uma cultura-criança. O título poderia ser: Michael Jackson, morreu a estrela da cultura-criança.

26 junho 2009

são muito poucos


Esta tarde, depois de escrever este post, eu receei estar a ser injusto com muitos portugueses e muitos católicos, e seguramente com alguns comentadores habituais deste blogue. Também a cultura católica possui pessoas imensamente decentes, de grande nível intelectual e genuína religiosidade. Entre os comentadores habituais do blogue, pensei em primeiro lugar no Miguel, que sempre me pareceu ser um católico praticante. Pensei também no D. Costa que, embora não sendo religioso, conseguiu libertar-se daquilo que de pior tem a cultura católica, e que tenho vindo a retratar ultimamente, talvez por força da sua experiência de vida em país protestante (Holanda? Alemanha?).

Há poucos minutos o Miguel colocou um comentário ao meu último post. Tenho prazer em reproduzi-lo. Eis aqui o exemplo de um homem da tradição católica que sabe lidar com diferenças de opinião de forma serena, educada e racional. A grande diferença entre as duas tradições é que que na tradição católica estes homens são muito poucos, ao passo que na tradição protestante eles constituem a maioria.
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" Caro PA
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Os seus últimos textos fizeram-me chegar a uma conclusão. Apesar das muitas qualidades que os portugueses inegavelmente têm, se queremos algum dia alcançar a plena democratização vamos ter no entanto que mudar muita coisa. E vamos ter que mudar profundamente. E em relação a isso, primeiro a república e depois o 25 de Abril pouco mais fizeram para além de nos alijar de alguma simbologia, pois não alteraram na sua essência aquilo que somos, no âmago da nossa cultura, nos pressupostos que formataram a nossa maneira de pensar e por conseguinte as nossas acções e os nossos comportamentos.
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Nos últimos trinta anos, quando muito libertaram a boca do povo, dando-lhe a tão propagandeada liberdade de expressão, mas contudo não lhe libertaram a mente. O português é intelectualmente preguiçoso, e por isso da sua boca, hoje como ontem, só sai aquilo que a cartilha lhe ensinou e lhe ensina. A cartilha que outrora foi a verdade propalada pelas autoridades eclesiásticas e aristocráticas, mas que hoje em dia é a cartilha dos líderes políticos, dos chamados líderes de opinião, dos intelectuais, dos novos profetas da desgraça, dos padrecas de serviço.
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E se esta não é suficiente para conseguir contrariar o argumento lógico e fundamentado, inquirir racionalmente o pensamento divergente, o que sai da boca dos portugueses são susceptibilidades, desculpas, impropérios, ataques pessoais e condenações morais. E porque a verdade continua a vir de cima, como no passado, os portugueses, tementes ao suplício da cruz, alheios à vitória da vida sobre a morte, moldam-se no exemplo e não mudam. Portugal está hoje numa encruzilhada, dividido entre o ser e o querer ser. Mas os portugueses vão ter que escolher, mais cedo ou mais tarde, sob pena de Portugal mergulhar numa profunda crise de identidade, a qual, aliás, já se manifesta e adivinha. E é bom que queiram escolher, que decidam escolher, que ousem escolher, que não deixem, mais uma vez, que alguém decida por eles.
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Miguel
Anonymous 06.26.09 - 10:25 pm # "
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Miguel,
Você interpretou-me muito bem. Era aí que eu queria chegar.
PA

vida nova


"Vamos lá então às ideias:
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É ou não verdade que todos os homens são pecadores?É ou não verdade que o próprio Jesus, antes de subir ao céu deu aos apóstolos o mandato para perdoarem os pecados?"Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados ficarão perdoados: àqueles a quem os retiverdes ficarão retidos" (Ev. João, 20, 22-23)Jesus escolheu os homem como mediadores do seu perdão, para assegurarem aos homem que Deus os perdo-ou, como ele fez em tantos casos: "Ninguem te condenou? Também eu nã te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar" (Ev João 8, 10-11).
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Já agora: o perdão nunca depende do julgamento do padre (não há um julgamento) mas sim do arrependimento do pecador e do seu esforço de conversão.
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Francisco Homepage 06.26.09 - 7:06 pm #".
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Francisco,
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i) Claro que todos os homens são pecadores - isso é reconhecido por católicos e protestantes. Essa não é a questão. A questão é que os católicos põem o ênfase no pecado, reduzindo o Cristianismo a um código moral. Ora, acontece, primeiro, que do ponto de vista da moral o Cristianismo nem sequer é inovador, porque os preceitos morais enunciados por Cristo nos Evangelhos já eram pregados muito antes d'Ele, como, por exemplo, a célebre Regra de Ouro.
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Tornando o Cristianismo um código moral e um código moral que não sendo particularmente inovador é, não obstante, muito exigente, o Catolicismo fez do Cristianismo um fardo para o homem e burocratizou a religiosidade. "Porte-se bem!" é a mensagem central do catolicismo, que depois acrescenta. "Mas no caso de não se portar bem, venha ter connosco que nós resolvemos-lhe o problema" (através de certos procedimentos burocráticos que são os sacramentos). No limite, a única maneira de um homem se assegurar que não comete pecados é estar quieto. Falta graça ao catolicismo (não no sentido popular-católico de piada, mas no sentido protestante de iluminação divina).
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O Protestantismo não é sobretudo isto. Aqui, o Cristianismo é um projecto de vida, uma experiência nova de vida, uma experiência para a qual o homem parte livre de todos os fardos e pesadelos (como mencionei aqui). O catolicismo põe o ênfase na morte de Jesus (e na redenção dos pecados), o protestantismo põe o ênfase na ressurreição (e numa vida nova). No protestantismo, a moral decorre deste projecto de vida nova, e não é a finalidade última da vida, como no catolicismo.
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2. Quanto aos padres, eles estão lá para fazer alguma coisa, pelo menos para ajudar ao arrependimento ou julgar quão genuíno é o arrependimento do pecador. Caso contrário, não seriam necessários para nada. É por isso que o protestantismo os torna dispensáveis, defendendo que um homem só se justifica perante Deus, nunca perante outros homens (padres).

rebaixamento moral


A blogosfera permitiu trazer à superfície características culturais dos povos que seriam muito difíceis de ilustrar de outro modo. Consultando as caixas de comentários dos maiores blogues, incluindo as versões on-line de jornais, qual o tom dominante nos comentários? O rebaixamento moral. O comentador fixa-se numa pessoa e atribui-lhe pecados, senão mesmo crimes, e depois aplica-lhe a pena - agressão verbal. Na minha estimativa, mesmo grosseira, cerca de 95% dos comentários em blogues e jornais online em Portugal envolvem uma forma ou outra de rebaixamento moral.

O rebaixamento moral, fazendo parecer mal o outro, é uma característica da cultura portuguesa e católica, e uma característica muito pouco cristã porque, tal como referi aqui, uma das primeiras características socialmente visíveis do Cristianismo foi o respeito com que os cristãos se tratavam uns aos outros. Nos países protestantes, o rebaixamento moral, que é uma atitude mental permanente das populações nascidas em países católicos, praticamente não existe, porque é considerado ofensivo.

Esta perversão católica do Cristianismo resultou, provavelmente como um efeito não pretendido, das funções que a Igreja Católica assumiu no seu seio da religião cristã, , a saber, a de autoridade docente do Cristianismo e a de agente sacramental. Como autoridade docente possuiu o monopólio da educação até há muito pouco tempo e praticamente durante vinte séculos foi ela que moldou o espírito das pessoas em exclusivo. Como agente sacramental, ela possui o monopólio dos actos ou sacramentos que aproximam os fieis de Deus e os reconciliam com Ele. O sacramento da penitência, através do qual a Igreja redime os pecados dos fieis e os reaproxima de Deus, assume aqui uma importância capital. Foi, de resto, este sacramento que gerou a revolta popular encabeçada por Lutero e que conduziu à Reforma religiosa e à divisão da Cristandade Ocidental no século XVI, através da célebre questão das insulgências.

A perspectiva económica parece aqui particularmente eficaz para lançar luz sobre a queatão. Existe uma procura para o perdão dos pecados por parte dos fieis, e uma oferta que é monopólio da Igreja. Para maximizar a procura e maximizar os benefícios (em dinheiro ou em espécie) que a Igreja deriva desta actividade, convém maximizar o número de pecadores na sociedade. Como a Igreja possuia ao mesmo tempo o monopólio da formação dos espíritos (educação) na sociedade, o caminho estava encontrado: criar no espírito dos homens a ideia que eles são pecadores irreformáveis. O trabalho feito ao longo de muitos séculos foi de tal modo eficaz que a Igreja já não necessita hoje de o fazer. São as próprias pessoas criadas sob esta cultura, e mesmo quando se dizem agnósticas ou ateias, que o fazem espontâneamente, passando o tempo a atribuir-se pecados umas às outras. A atitude permanente do rebaixamento moral passou a estar-lhes na massa do sangue.
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PS.: Até o Michael Jackson, que eu procurei lembrar aqui pelo lado positivo da sua obra, é rebaixado na caixa de comentários pela sua alegada (embora nunca provada) pedofilia (ver também aqui). O português, qual padre católico sem vestes, julga moralmente para depois decidir se perdoa ou não (o sacramento da penitência). Na tradição protestante esse julgamento não pertence aos homens. Pertence a Deus, e o Michael Jackson já estará nesta altura a responder perante Ele. No fundo, existe em cada português um irreformável padreca.

Dependência energética


Nos últimos dias, a propósito do endividamento externo e do défice da nossa balança de transacções correntes, o Governo tem procurado arranjar uma boa desculpa e, assim, retirar o tema da discussão pública. A arma utilizada tem sido a dependência energética que Portugal exibe face ao exterior. Por outras palavras, não fosse o petróleo e afins que Portugal compra ao estrangeiro e tudo seria diferente.

Enfim, o argumento tem sido de tal forma utilizado, em especial desde que o PS perdeu as eleições europeias, que a retórica governamental quase dá a entender que esse défice é responsável por todo o défice que a nossa economia apresenta na cena internacional. Ora, na realidade não é bem assim. O défice energético em Portugal representa 40% do resultado negativo registado na balança de transacções correntes, que neste momento já vai em mais de 12% do PIB. Resulta daqui que, sem a tal dependência energética, o nosso défice seria de 7% do PIB. Menos mau, mas ainda assim muito considerável.

esmagadora


Consultando as caixas de comentários aos meus últimos posts onde tenho vindo a contrapôr a tradição católica à tradição protestante, o meu julgamento é o de que os protestantes continuam largamente a ganhar, pela boa educação, pela boa fé posta no debate das ideias e pela racionalidade. Apesar da inferioridade numérica dos protestantes, a sua superioridade intelectual (e moral, pela forma como tratam os oponentes) é esmagadora.


Reproduzo a seguir um comentário que largamente subscrevo:


"Se o valente autor do texto [citado aqui] fôr mesmo um bispo, poderei então seguramente afirmar que estamos diante do mais acabado exemplo do que é a ICAR, ou melhor, do que são os métodos da ICAR. Ou: o que é a substância da ICAR. Vejam: para chegar ao ponto de meter a colher de pau na discussão, e isso com o único propósito de largar na caixa de comentários uma paulada no Professor Doutor, é de se supor que o dito prelado já vem de acompanhar a nossa arenga há algum tempo, certo? E se vem de acompanhar a nossa arenga há algum tempo, porque será que não se aventurou ao debate, contestando as teses do PD, fazendo a apologia do catolicismo ou mesmo reforçando a opinião daqueles que se apresentaram como católicos?

Ora, porque para os católicos, e especialmente para os membros da hermética máquina eclesiástica, debates, discussões de idéias, polêmicas, confrontações de opiniões divergentes, constituem pura perda de tempo, senão mesmo perigosas subversões da ordem. Quando muito, naquelas ocasiões que em a Igreja sente que suas posições estão sobre forte contestação, se permite lançar na arena os seus apologistas, sempre muito bem adestrados na repetição nervosa dos cânones e dos dogmas, mas tudo com a intenção, não de debater, mas sim de pulverizar o oponente. Foi dentro desta mentalidade que foram instituídos os exércitos de Loyola e de Domenico de Guzman.A cultura da ICAR - e isso está arraigado em seu clero, mesmo entre os carismáticos, que gostam tanto de copiar os trejeitos dos pentecostais -é a cultura da prevalência e da primazia social, do domínio absoluto sobre a circulação das idéias, das ações, do que é permitido ou do que é vedado.
.
Hoje, é certo, a igreja romana já não detém o poder temporal que possuiu no passado e já não tem o controle sobre a vida e a mente das pessoas como tinha em época não muito distante. Mas permanece a vontade de poder, a infinita vontade de poder, a sedenta vontade de poder.Isso explica o tom visivelmente nervoso do texto do dito bispo: sarcástico, ácido, mordaz, grosseirão, vulgar, sem demonstrar qualquer paciência ou vocação para o debate (aliás, passa completamente ao largo da questão de fundo da discussão), movendo-se claramente com o intuito de ridicularizar os textos do Arroja, de melar o debate e, sobretudo, de fazer calar as verdades "inconvenientes" que o PD vem trazendo à colação - que de resto nem inéditas são.Enfim, reconheço nisso tudo, num plano pessoal, a postura intolerável que me afastou da igreja romana, e num plano histórico, a que foi causa da divisão da Cristandade e transformou a ICAR nisso que ela é hoje: uma casca, uma fachada, um chamamento à ordem, uma fortaleza de um suposto tradicionalismo, mas sem qualquer força vital.Pobre ICAR. Pobre bispo de Barcellos. Eles não aprendem nada. Eles não esquecem nada."
LG
LG 06.26.09 - 2:41 pm #

16%

... mas o défice comercial entre a França e a China aumentou apenas 16%.
É muito claro que o "comércio livre" com a China não afecta todos os países da UE de igual modo.

25%






Entre 2004 e 2005, o défice comercial entre a UE e a China aumentou 25%.

Tianjan














Sede da Airbus na China. Desde 2008.

quem manda na Airbus


A SOGEPA é uma sociedade francesa de capitais públicos (100%), que participa no capital da holding SOGEADE, que participa no capital da EADS, que detém a Airbus. Apesar do estado francês só ter 15% da EADS, esta participação em cascata garante-lhe uma influência decisiva.
O Sr. Sarkozy é portanto o “grand patron” da Airbus.
A decisão de estabelecer um consórcio entre a Airbus e a AVIC é, essencialmente, uma estratégia que passa pelo Eliseu (mas não só...).

partir a louçã

Para Louçã, “há um aspecto muito político” no negócio, “não só pela intervenção do primeiro-ministro” no debate de quinta-feira mas também pelo facto de, “em véspera de eleições”, o Estado, através da PT, comprar um canal de televisão com o qual “existe um diferendo político importante”.

Via Público
PS: O PS parece que faz tudo para dar protagonismo ao BE.

God be with him


25 junho 2009

começar de novo


"Aqueles que primeiro ouviram os discípulos de Jesus proclamar a Boa Nova [da sua Ressurreição] ficaram impressionados tanto por aquilo que viam como por aquilo que ouviam. Viram vidas transformadas - homens e mulheres vulgares, excepto no facto de que pareciam ter encontrado o segredo de viver. Emanavam uma tranquilidade, simplicidade e alegria nunca vistas. Aqui estavam pessoas que tinham sucesso numa empresa na qual todos gostariam de ter sucesso - a da própria vida.

Especificamente, duas qualidades pareciam abundar nelas. A primeira era o respeito mútuo. Uma das primeiras observações acerca dos cristão registada por um observador independente foi "Vejam como estes cristãos se amam mutuamente". Como parte deste respeito mútuo, existia uma ausência total de barreiras sociais entre eles; era "uma comunidade de iguais", como escreveu um estudioso do Novo Testamento. Aqui estavam homens e mulheres que não apenas diziam que todos eram iguais aos olhos de Deus, como viviam de acordo com o que diziam. As barreiras convencionais de raça, género, e estatuto não significavam nada para eles, porque em Cristo não havia nem judeu nem gentio, masculino ou feminino, escravo ou homem livre. Em consequencia, a despeito de diferenças nas funções ou posições sociais, a sua união era caracterizada por um sentimento de genuína igualdade."
(Huston Smith, The World´s Religions, S. Francisco: Harper, 1961, pp. 331-332)

Igualdade entre todos e respeito mútuo. Estes foram os valores sociais que, surpreendentemente para os observadores, emergiram logo após a morte e ressurreição de Cristo. São os valores sociais originais do Cristianismo. Volto agora ao meu post anterior e ao texto que nele é citado para verificar se o seu autor - que eu julgo que é representativo da cultura portuguesa - e que, ainda por cima, aparenta ser católico praticante, os cumpre.

Não passa o teste do respeito mútuo porque trata os outros por bacocos e ignorantes. E muito menos o da igualdade entre todos, porque o Irmão Manuel está claramente acima dos bacocos e dos ignorantes como eu que ousamos entrar no seu território, que é o de ler o livro mais vendido e mais lido no mundo e, por isso, de longe o mais popular - a Bíblia. Um dos grandes mistérios da cultura católica - ainda hoje a maior corrente do Cristianismo - é o de saber como é que ela se pôde tornar tão pouco cristã, na realidade, tão profundamente anti-cristã em alguns aspectos.

"Tirei-vos de cima todos os sentimentos de culpa, porque vos perdoei os pecados. Tirei-vos de cima todo o medo, incluindo o medo supremo - o da morte - porque vos mostrei que eu próprio vivi outra vez depois da morte. Tirei-vos de cima o peso do vosso próprio vosso ego, porque eu próprio me despojei do meu. Comecem uma vida nova e limpa, livres de tudo isso". Esta poderia ser interpretada como a mensagem central do Cristianismo, um projecto de vida - a de um novo começo, livre de todos os pesos que paralisam e atrapalham a vida dos homens. Isto não tem nada que ver com o homem constantemente a ser recordado que é um ignorante e um pecador, intimidado, abusado e submisso, a carregar a cruz às costas pela vida fora, que é a mensagem do catolicismo. A verdadeira mensagem do Cristianismo é uma mensagem de libertação, não de abuso e submissão.
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Foi a Igreja Católica que, ao longo de dois mil anos, mais contribuiu para pôr estas ideias no espírito dos portugueses, muito antes da fundação da nacionalidade (S. Paulo, ele próprio, poderá ter pregado no século I no território que é hoje Portugal). Não é crível que seja ela a retirá-las, porque dificilmente se reformará nestes aspectos, e sobretudo porque hoje exerce uma influência muito menor sobre os espíritos. Vão ser necessárias outras soluções, para que a democracia possa vencer em Portugal. Que a democracia é uma instituição cristã parece não restarem dúvidas desde os primeiro cristãos - todos considerando-se iguais e tratando-se com o maior respeito. Que não é uma instituição católica, nem portuguesa, também me parece claro. A razão é que nem o catolicismo nem os portugueses são suficientemente cristãos, excepto, talvez, no nome.

bacocos


No comentário de um leitor a este post, que reproduzo a seguir, gostaria de salientar alguns traços da cultura portuguesa (católica) que tenho vindo a descrever em tese e que são um impedimento maior à realização da democracia em Portugal:
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1. O primeiro e o mais importante de todos é a desvalorização de todas as pessoas a quem, concreta ou abstractamente, o autor se refere, com excepção da autoridade (neste caso, o Irmão Manuel). Bacocos e ignorantes são os termos utilizados reiteradamente.
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2. A minha própria interpretação da Bíblia é sumariamente desvalorizada, não com argumentos, mas com adjectivos: "é uma forma política de análise, puramente humana e desprovida de Fé". Posso até ter incorrido no erro de me ter socorrido de um exemplar da Bíblia (na realidade tenho quatro, dois em português, dois em inglês) objecto de "falsas traduções para alterar sentidos".
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3. A tendência para enveredar pelo jocoso (na referência ao psiquiatra, aos meus alegados retiros para multiplicar o vil metal, a referência aos anjos e à média móvel) que é uma forma de diminuir a seriedade de propósitos de quem está do outro lado.
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4. Finalmente, a confiança cega na autoridade institucionalizada, neste caso o Irmão Manuel. Compreender a Bíblia só é acessível a alguns eleitos especialmente ordenados ou licenciados para o efeito e, portanto, a pessoas, que elas próprias, falam com Deus.
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Estão aqui resumidos alguns dos piores vícios da cultura portuguesa (católica), a saber: (i) os outros não prestam; (ii) a pessoa de quem discordamos nunca é séria; (iii) brincar com assuntos sérios (e levar a sério assuntos sem importância); (iv) confiança cega na autoridade institucionalizada; (v) e, finalmente, nunca ver em si próprio os defeitos que atribui aos outros (porque se até aqui alguém mostra ignorância em algum assunto é o próprio autor - sobre a ortografia portuguesa).
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Agora o comentário:
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"Irmão Arroja, ovelha tresmalhada do nosso rebanho.
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Estás a analizar o catolicismo versus protestantismo de uma forma política, puramente humana desprovida da Fé. Assim nunca acharás o caminho da salvação.
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Contestas a Confissão. Um homem, um pecador confessar-se a outro homem -o padre- igualmente pecador. Já pensas-te o que seria o homem confessar-se a um Anjo.Seria impossível. Ele na sua brancura -mais branco que a neve- não o compreenderia. O homem saíria de lá amargurado, vergado pelo pecado, insatisfeito. Provavelmente recorreria ao psiquiátra, o que lhe ficaria caro!Defendes que 2 bacocos tenham a meritória intenção de melhor conhecer as Sagradas Escrituras.Esses 2 bacocos reunir-se-ão para debater.Têm a mesma sabedoria e igual ignorância. No fim saem de lá a saber o mesmo, porque lá não esteve quem estudou e sabendo mais que eles, lhas pudessem explicar.O que é que eles fizeram...? Uma média de ignorância.Se entrar um terceiro bacoco e saír um dos anteriores, será uma média móvel.
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Recomendo-te um Retiro.Terás feito vários por motivos profissionais onde refletes sobre a forma de ganhar o vil metal, de o multiplicar. Este será diferente. Põe-te a caminho.Podes ir a pé que não é longe e só te faz bem. Ruma a Terras da Maia, pastoriadas pelo nosso Irmão Manuel ( o clemente). Num lugar chamado de Catassol, bate à porta -está sempre aberta- entra e diz ao que vais. Serás recebido de braços abertos. O vinho é bom. Sem preconceitos de elitistas e populaças, debaterás, conversarás, farás novos amigos daqueles não interesseiros.Debaterás a Bíblia ajudado por quem a estudou e que sabe mais que tu. Ajudado por quem não fez falsas traduções para alterar sentidos. Por quem aliou a Fé ao estudo. Depois conta-nos o resultado.
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Barcelos, 2009 anos após o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia a seguir às festividades em honra de S. João (o baptista).
Paço Episcopal
Ezequiel bispo de Barcelos.Anonymous 06.25.09 - 3:01 pm # "
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Eu estou razoavelmente certo que se dissesse ao autor que este texto é imensamente ofensivo ele ficaria surpreendido e rejeitaria a alegação. Ofensivo a quem? A Cristo, que é Alguém que o autor parece venerar.

going down


O PIB per capita de Portugal em percentagem da média comunitária voltou a cair em 2008 (aqui). Era 76% em 2007, agora é 75%. Portugal é o nono a contar do fim na UE-27. Entre os doze países que faziam parte da UE quando Portugal aderiu em 1986, Portugal é último. Aqueles que na altura o acompanhavam na cauda da lista (Espanha, Grécia, Irlanda) voaram. Entre os 16 países da zona-euro, Portugal é penúltimo.

Trabalhar no duro


Na caixa de comentários deste post referente à Autoeuropa, um indignado leitor anónimo escreveu o seguinte: "Espermos que os senhores que se manifestão tão indignados agora com as posições radicais dos trabalhadores da AE, se manifestem quando a vossa Administração/Patrão os colocar contra a parede para trabalharem ao Sabado com remuneração normal! É a luta dos nossos pais e avós que estamos a descartar."

De facto, é bem possível que, no caso dos países menos competitivos na cena internacional, como é o caso de Portugal, essa seja uma medida que, rapidamente, nos permita recuperar algum défice de competitividade. Pelo menos, não seria mau de todo solicitar à União Europeia uma claúsula de "opt out", a exemplo daquela de que beneficia o Reino Unido, e que nos isentasse da obrigatoriedade associada ao descanso semanal de 48 horas decretado pela burocracia de Bruxelas.

Já sei que, ao olhos de muitos, esta proposta será anacrónica e um verdadeiro atentado aos direitos fundamentais dos trabalhadores, mas o nosso défice de competitividade só será resolvido se a) existir uma redução dos salários reais; b) aumentarmos a produtividade do país ou c) as duas anteriores. Quanto à primeira, no cenário de deflação que actualmente caracteriza a nossa economia, passa pela redução dos salários nominais. Quanto à segunda, passa por aumentar a "produção", ou seja, trabalhar mais. Sim, trabalhar mais. Pela simples razão de que quem mais trabalha, a prazo, melhor trabalha. Em Portugal, infelizmente, ainda estamos habituados a pensar o contrário, isto é, que é possível trabalhar bem, trabalhando pouco. Mas na realidade não é assim.