30 abril 2009

O Cabo Rui


O nosso comentador residente, Eng. Rui Silva (IST), que diz aqui tudo o que lhe apetece, incluindo chamar nomes ao Salazar, é, afinal, tão mau como ele. É um praticante da censura:
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"Epah o Cabo Rui censurou-me o comentário!O Cabo Rui pertence ao pessoal "de quem tem cú tem medo". E ele gosta de ir à frente do pessoal.Eheheheh.O cabo Rui quer é clics. O cabo Rui vai ser despromovido.Eheheh.

JCB
Anonymous 04.30.09 - 7:07 pm # "
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Normalmente, eles são assim - os grandes adeptos da liberdade de expressão. Foi aqui. Sobre a liberdade de expressão, eu não acredito mais nele. E há muito que não acredito nele sobre o que ele diz que faz em relação a outras coisas. Vamos ter de o censurar também aqui no PC. Porque este é um censor de meia-tigela. Um verdadeiro censor não anda aí pelo mundo a apregoar a liberdade de expressão.

valores católicos





Há valores que deveriam levar os católicos a renegar Manuel Carvalho da Siva.

Inspirado no JN

da língua

Declaro, por este único e exclusivo meio, que aqui dou por encerrada qualquer polémica ou dissensão, que possa, inadvertida e incorrectamente, ter mantido com o Senhor Afonso Miguel, autor do blog Tribuna, para quem “só a verdade importa”. Registo, com indisfarçável comoção e orgulho, ter prestado a minha contribuição – por certo mais do que modesta – para que os monárquicos “integralistas, anti-parlamentares, corporativistas, anti-liberais, católicos fiéis e amantes de Sagres à Sexta-feira à noite” se possam ver reciprocamente, em vez de se prejudicarem com prazeres e gozos nefastos à saúde, à moral e à honra, quem sabe, como antigamente se temia, à própria visão. É sempre um enorme privilégio ajudar um patriota amante de “Sagres à Sexta-feira à noite” a usar a língua como deve ser.

o Estado fiscal







Pelo peso da carga tributária, pelo estatuto de capitis diminutio a que se pretende reduzir o contribuinte, o Estado fiscal ameaça transformar-se num imenso e indomado "Xerifado de Nothingham".

impensável












Impensável? Pense outra vez!

29 abril 2009

monarquia orgásmica

"E quando os monárquicos se vêm, também eles, afectados pela doença, é certamente bom que haja "separação higiénica" - que existe - mas no patamar das ideias.".

pilosidades

Não tendo muito a ver com o assunto, eu recomendaria aos monárquicos que estão seriamente empenhados em serem levados a sério em Portugal, que comecem por proceder a uma separação higiénica de águas e evitem este género de coisas. Caso contrário, em vez de serem confundidos com os tais senhores de bigodes retorcidos e pontiagudos, arriscam-se a outro tipo de pilosidades conotativas.

xeque

O bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, está "envergonhado" com o comportamento da justiça, que acusa de "dar um triste espectáculo" e pede aos seus protagonistas que se entendam. D. Januário aproveitou a homília pascal das Forças Armadas e de segurança, a que ontem presidiu em Viseu, para criticar duramente a justiça da qual "se tem medo de falar".
Perante uma sé catedral cheia de altos responsáveis militares e policiais, o bispo enveredou por um dos mais duros ataques à justiça portuguesa de que há memória. D. Januário Torgal questionou se "vamos permitir este espectáculo degradante a que estamos a assistir em Portugal, na forma como a justiça está a ser vivenciada com discussões publicas, antagonismos, oposições na alta hierarquia do mundo da justiça".

Via DN
PS: D. Januário legitima voluntarismo das FA?

28 abril 2009

os custos da ética republicana


Só não compreendo porque razão continuam praticamente proíbidos os financiamentos privados dos partidos e das campanhas políticas. Será que é para manter a tradição dos financiamentos encapotados, tão típicos da nossa democracia?

vamos à bruxa

2005: PS ganha as eleições com maioria absoluta e Pinto de Sousa torna-se PM.
2008: Crise financeira internacional abala economia portuguesa.
2009: Peste suína vem a caminho.
Fónix!!!

Ainda o enriquecimento ilícito


A propósito da proposta do Governo socialista para combater o enriquecimento ilícito, quero chamar-vos a atenção para um trecho do excelente artigo que Tiago Caiado Guerreiro assina hoje no Diário Económico.

"O Governo quer fazer aprovar uma norma, que diz basicamente o seguinte: em caso de suspeita de enriquecimento ilícito superior a € 100 mil a Administração Fiscal tem acesso por despacho do director geral dos impostos às contas bancárias dos contribuintes e pode aplicar uma taxa de 60% de imposto sobre estes rendimentos, sem prejuízo de outras sanções. (...) Esta proposta foi apresentada como uma medida de combate contra a corrupção, mas dirige-se a todos os portugueses. Ora no direito internacional e no direito comparado as medidas contra a corrupção são dirigidas a áreas específicas, pessoas que têm o poder de oferecerem licenças, contratos e outros benefícios a troco de dinheiro, porque ocupam cargos públicos (Governo, Autarquias, Institutos Públicos, etc.). (...) Podemos então interpretar que, ou não há interesse em combater a corrupção por parte dos políticos, ou a lei foi elaborada de forma invulgarmente incompetente, mesmo para parâmetros portugueses. Esta lei pode aliás permitir o contrário. Dar aos corruptos uma arma de arremesso contra quem denunciar a corrupção, que consista em confiscar administrativamente 60% do património de quem denunciar essas situações. No caso de ser aprovada, irá contribuir para a arbitrariedade e perseguição com o único objectivo de aumentar a receita fiscal, de forma ilegítima e inconstitucional, aprofundando ainda mais a crise económica em que Portugal vive."

estagflação

Numa economia de mercado, quando o desemprego aumenta os salários estabilizam ou descem. É a lei da oferta e da procura a funcionar. Em Portugal, contudo, assistimos ao contrário. O desemprego aproxima-se dos dois dígitos e os salários têm o maior aumento da década.
O que é que isto significa? Significa que não vivemos numa economia de mercado. Significa que uma fatia importante da economia está tomada por interesses que se escudam no Estado para garantir os seus retornos. É o que eu chamo capitalismo de influência.
Os sectores que procederam a aumentos significativos dos salários vão agora reflecti-los nos preços dos seus produtos e serviços. Seja no custo da electricidade, da gasolina, dos telefones, ou (se forem serviços públicos) das múltiplas taxas e coimas com que o Estado assola os cidadãos.
Este aumento de salários vai diminuir a nossa competitividade, vai aumentar o desemprego e diminuir o crescimento económico, eventualmente contribuindo para um fenómeno de estagflação.
Assim, lenta mas inexoravelmente, Portugal afunda-se.
PS: Ontem, numa entrevista, Vítor Bento sugeriu a necessidade de um corte generalizado nos salários. É caso para perguntar, em que galáxia é que VB vive?

crise na media capital

Os lucros da Media Capital caíram 100% para os cinco mil euros no primeiro trimestre, informou a empresa de “media” em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Segundo a mesma fonte, o resultado líquido obtido nestes primeiros três meses do exercício de 2009 situou –se “praticamente ao nível do ‘break-even’”, ou seja, nos cinco mil euros. Este valor compara com os 3,993 milhões de euros obtidos no período homólogo.

Via Jornal de Negócios
PS: Sexta-feira, lá teremos mais uma hora sem sair de cima...

27 abril 2009

sim, não, talvez...

A Dr.ª Manuela Ferreira Leite, líder do PSD com contrato a prazo não renovável até às próximas legislativas, acabou de fazer o seu enésimo desmentido sobre declarações suas “abusivamente deturpadas” pela comunicação social. O caso, desta vez, foi a hipótese de um governo do bloco central a seguir às próximas legislativas. Segundo toda a comunicação social, a Dr.ª Ferreira Leite terá admitido essa possibilidade. Segundo a Dr.ª Ferreira Leite, essa é uma extrapolação abusiva das suas palavras. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite não é propriamente principiante neste género de “equívocos”. Há uns meses foi a “suspensão da democracia”. Depois o bloco central. Agora, o bloco central novamente. Era bom que alguém dissesse à líder do PSD e, no que se vai ainda acreditando, da oposição ao governo do PS, que, em política, as pessoas apreciam a clareza dos líderes: sim quer dizer sim, não quer dizer não. Talvez, é uma palavra que não tem lugar, sobretudo em momentos de crise como aquele em que vivemos.

da monarquia constitucional

Eu partilho de muitas das preocupações que o Pedro Arroja tem manifestado neste blog sobre a governabilidade e sobre o futuro de Portugal. A questão coloca-se, pelo menos na aparência, nestes termos: como pode funcionar e que futuro poderá ter um país onde, ao fim de trinta e cinco anos de regime democrático, o estado não realiza as suas funções essenciais, a justiça é de péssima qualidade, a educação medíocre, a segurança muito frágil e a piorar, onde o mercado e a economia privada são quase inexistentes, onde não existe um desígnio nacional que una os cidadãos, onde a instabilidade governativa é regra, e onde ninguém parece saber o que fazer? Para responder a isto, o Pedro foi à História e concluiu que o país só progride em ditadura, melhor, só progrediu verdadeiramente no século passado com a “ditadura boa” do Doutor António de Oliveira Salazar.

Por mim, não discordo do diagnóstico, mas duvido da conclusão. Primeiro, porque nenhuma ditadura é boa. Ainda que permita, ocasionalmente, um certo desenvolvimento económico de um país, as feridas e as cisões que deixa no tecido social têm sempre, a prazo, de ser ultrapassadas. E só há uma maneira de o fazer: terminar com ela, a ditadura, e repor a liberdade e a livre cooperação e competição entre os indivíduos. A História, de resto, demonstra bem a perenidade de todas as ditaduras, até mesmo das mais violentas, como sucedeu com a soviética. A razão é simples: elas são contrárias à natureza livre do homem e, por isso, são-lhe sempre prejudiciais. Mas, em segundo lugar, porque a boa ditadura é uma coisa que não existe. O consentimento só o é quando livre, e por mais férrea que seja uma ditadura sempre haverá quem tenha a coragem da dissensão. Em terceiro lugar, porque uma experiência política como foi o caso do salazarismo, depende exclusivamente da pessoa física que a protagonizou. Neste caso, aliás, a ausência de doutrina política e de ideologia (com excepção do desenho do corporativismo na Constituição de 1933, com baça, muito baça, correspondência com a realidade social portuguesa) eram bem patentes no Estado Novo: para além de algumas dezenas de discursos, Salazar não deixou uma única obra de doutrina. Ela era ele mesmo e a sua acção. Com o fim do homem foi-se o regime, como, aliás, o marcelismo e o 25 de Abril deixaram bem claro.

Eu penso, por isso, que a solução para Portugal passaria por uma outra solução. Ela não deixa de ser evidente. Praticamente um ovo de Colombo, se nos reportarmos à História Contemporânea de Portugal e da Europa. Apenas nos afastam dessa solução os preconceitos ideológicos e os impedimentos legais e constitucionais. Eventualmente, admito, a vontade popular, muito pouco intuitiva nestes assuntos. A solução é, claramente, a da monarquia constitucional. Julgo que não é difícil demonstrá-lo.

Os portugueses são, de facto, propensos à instabilidade e muito pouco vocacionados para a formação de instituições sociais fortes e representativas dos seus interesses e necessidades. A classe política, por sua vez, espelha bem o que é a natureza dos portugueses. É imediatista, não pensa a médio, longo prazo, consome-se em questiúnculas de menor importância, agarra-se vorazmente ao poder assim que o alcança. Por outro lado, não se respeita, nem dentro dos próprios partidos, menos ainda entre os diferentes partidos. Não consegue, assim, estabelecer metas, objectivos e métodos para o desenvolvimento do país, inalteráveis seja qual for o partido do governo que se suceda. Ora, uma das razões do sucesso de países subdesenvolvidos foi, nos últimos anos, manter as políticas, mesmo que mudem os políticos. Basta pensar nos casos da Índia e do Brasil, desde o começo da década de 90 para cá. Ora, na ausência de instituições sociais e políticas fortes e consistentes, reforça-se a necessidade da coesão social e comunitária. Para esse efeito, a monarquia constitucional poderá ser uma excelente resposta. Tem-no sido em todos os países europeus onde existe, não havendo um caso único, pelo menos desde o fim da 2ª guerra mundial, onde não se tenha imposto com naturalidade e harmonia, contribuindo para o reforço dos laços de coesão social e política entre os cidadãos. Num país como Portugal, muito semelhante, nesse aspecto, à Espanha, a tendência para a divisão é enorme. Veja-se o êxito que representou a monarquia espanhola, na implantação e no desenvolvimento da democracia, na credibilização das instituições políticas, na estabilidade governativa, e compare-se com o Portugal democrático da 3ª República.

Estranhamente, por razões que, para mim, permanecem incompreensíveis, a monarquia constitucional estabelece um elo de ligação entre os cidadãos e a comunidade política que não se encontra na república. Ela tem consolidado política e socialmente os países onde vigora e estabelece um princípio de ordem e de harmonia que é muito considerável. Em Portugal, por exemplo, esse elo é quase estabelecido pela população com a figura do Presidente da República, como sabemos, de acordo com a Constituição vigente, uma espécie de monarca sem trono nem sucessão. A verdade, porém, é que se o povo adere entusiasticamente à figura do Presidente, seja ele quem for, o mesmo já se não passa com a classe política, que frequentemente o desrespeita e põe em causa. Por duas razões: porque o presidente é sempre alguém que saiu do seu meio, logo, um político na pré-reforma que eles bem conhecem e com quem litigaram no passado recente; porque a legitimidade de ambos é igual: ela é meramente eleitoral e não institucional.

A experiência republicana portuguesa é, de resto, eloquentemente defensora da monarquia. A I República, como sabemos, foi um domínio de anarquia, de arbitrariedade e da falta do mais elementar senso político. Originou o Estado Novo e os ditos mais de quarenta anos de ditadura. A III República parece estar a afundar-se, sem soluções, e cada vez mais autoritária e instável. Não fosse a União Europeia e, certamente, ninguém de bom senso daria muito tempo pela vida do regime. Se é que o regime ainda estivesse vivo...

A monarquia constitucional, para além do mérito inegável de trazer coesão social, tem a virtude de definir claramente o sistema de governo como parlamentar, conforme a tradição portuguesa e europeia. Na verdade, o presidencialismo nunca colheu no nosso continente, e o parlamentarismo só tem sido efectivamente bem sucedido em países monárquicos, excepcionalmente na Alemanha, neste caso, graças a um muito bem desenhado sistema constitucional responsabilizador dos partidos políticos pelas crises institucionais que eles eventualmente pretendam criar (vd. a moção de censura construtiva, do art. 67º da Constituição Federal). Para além do mais, o exercício do poder moderador, tão necessário em sociedades como a nossa, só é possível por um monarca. Quando um presidente o tenta fazer, é sempre visto como uma “força de bloqueio”. E, nas sociedades de cariz democrático e liberal, sem uma natural apetência pela ordem e pela disciplina, como a portuguesa, ao contrário, por exemplo, da alemã, a necessidade de um poder supremo de moderação e influência institucional é absolutamente vital para o desenvolvimento do país. Veja-se, uma vez mais, o caso da Espanha, e diga-se se era concebível a transição democrática sem a existência do rei, bem como a transformação constitucional das autonomias sem a sua decisiva influência e sem o seu papel de coesão sem não interventivo.

Quem escreve estas linhas foi, ao longo de toda a sua vida, ferozmente republicano e ferozmente anti-monárquico. O raciocínio era muito frágil e baseava-se, essencialmente, não na dimensão política e histórica da monarquia, mas nas tristíssimas figuras dos nossos monárquicos. Estes, verdadeiramente, são numa imensa percentagem uma grotesca legião de patetas, que confunde a monarquia com o rei e com uma pretensa fidalguia a que julgam pertencer. Na sua generalidade, os monárquicos portugueses são imensamente saloios e provincianos, quando não genuinamente parolos. Acham que a monarquia seria um regime de corte, para a qual a fidalguia, a que por sangue imaginam pertencer, seria chamada para os mais altos feitos e responsabilidades. Para além do mais, confundem aristocracia com fados, guitarradas e faenas. Têm bigodes retorcidos e falam frequentemente com vozes alteradas e aflautadas. Uns pacóvios, em suma. Todavia, o erro que esta gente comete perante a natureza do regime de que se dizem seguidores, cometia-o eu, em sentido inverso, por razões não muito distantes das deles. De facto, não se pode confundir a monarquia com os monárquicos, sequer com a pessoa do rei. Muito menos nos países onde a monarquia constitucional vigora a “fidalguia” tem assento na mesa do estado. Ao invés da nossa república, onde algum do pariato do 10 de Junho e de muitas outras distinções e reformas precoces por “altos serviços” prestados ao estado se continua a banquetear à custa do contribuinte.

a passar o tempo


O manual de História de Portugal de José Mattoso (Lisboa: Estampa) ocupa-se do período do liberalismo nos vols 5 (Luís R. Torgal e João L. Duque, orgs.) e 6 (Rui Ramos, autor). Trato deste último volume neste post.
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O volume ocupa-se do período 1890-1926, que vai deste o Ultimato Inglês até à Revolução do 28 de Maio. O tema está muito bem investigado e o volume lê-se com facilidade e até com agrado porque conta, frequentemente ao detalhe, os mais variados enredos, episódios, acontecimentos e personalidades que marcaram o período. Trata-se de um esforço de investigação extraordinário, uma preocupação extrema com os detalhes e até os pequenos factos.
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No fim, levanta-se a questão: Será que este esforço de investigação vale alguma coisa? A resposta só pode ser dada pondo a questão: Que conclusões se tiram daqui? E a resposta do autor, ao cabo de 600 páginas, é de que não se tiram conclusões nenhumas: "Em história, muita coisa é planeada, muita coisa é improvisada, mas a maior parte das coisas simplesmente acontecem, o resultado acidental dos planos e improvisações mais diversos. Talvez não devêssemos tentar arranjar-lhes demasiado sentido". No meio de tantas histórias, enredos, conspirações, revoltas, governos, partidos, e personalidades bizarras, o própruio autor ficou perdido.

E o autor conclui isto depois de redigir um volume onde fica abundantemente documentado que a democracia-liberal não funciona em Portugal, que a República teve consequências catastróficas, que o país passou o tempo à procura de um César (que acabou por encontrar), que os partidos políticos produziram divisões profundas na sociedade e acabaram sempre em federações de interesses, que a liberdade de expressão em Portugal ultrapassa facilmente os limites, que os portugueses, quando divididos, não são capazes de encontrar consensos mínimos acerca da coisa pública, que a justiça não funciona em democracia, que os portugueses nunca mais se entenderam acerca da Monarquia, que a sociedade portuguesa pode tornar-se violenta quando dividida e que a política democrática em Portugal nunca é um confronto de ideias, mas de personalidades.

Eu tiraria ainda mais conclusões. Mas o autor não tira nenhuma e ilustra a maior pecha que tenho atribuído aos historiadores portugueses - os seus livros não são livros de História, são livros de histórias. Trata-se da falta de capacidade de abstracção dos portugueses a que me tenho referido. Contam histórias e mais histórias e mais histórias, e no fim, quando lhes é perguntado: "Qual a conclusão que tira daí?", a resposta é "Nenhuma". Andaram a passar o tempo.

o golpe fatal



Eu gostaria agora de explicar como estabeleci as previsões do meu post anterior:

1. Estudando a história de Portugal do período da democracia-liberal (1820-1926 e 1974-86, até à adesão à União Europeia) .
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2. Constatando que a cultura portuguesa não se alterou significativamente desde então até agora.
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3. Apesar de o regime se ter aguentado por mais de cem anos no meio de enormes dificuldades, o golpe fatal foi-lhe dado pela Grande-Depressão. Na minha opinião, a situação económica actual reveste gravidade semelhante.
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4. Tomando como hipótese - em que acredito firmemente - que a União Europeia se vai desagregar em resultado da actual crise económica, conduzindo ao proteccionismo e a regimes mais autoritários (como nos anos 30).

Foi sempre assim


Como as próximas eleições, com certeza razoável, não produzirão a maioria absoluta para nenhum partido, o cenário que se vai seguir em Portugal nos próximos cinco anos é o seguinte.

Vão suceder-se os governos minoritários, alguns de iniciativa presidencial. Estes governos terão curta duração porque, enquanto tentam governar o país no Terreiro do Paço, o Parlamento boicota-lhes a acção em S. Bento. Alguns desses governos serão de iniciativa presidencial, levando o Presidente, qualquer que ele seja, a encostar-se aos militares para reforçar a sua autoridade.

Os grandes partidos políticos, especialmente o PS e o PSD, vão-se cindir em pequenos partidos dissidentes (os primeiros sinais estão já aí). Passarão a existir partidos socialistas para todos os gostos e feitios, e o mesmo sucederá com partidos sociais-democratas. A luta partidária será intensificada. A imprensa radicaliza-se e a justiça deixa de funcionar (ela já não está muito longe disso).

As condições económicas, em parte fruto da crise internacional, agravam-se, multiplicando os défices do Estado e fazendo escalar a dívida pública. Muitos portugueses vão optar por emigrar, especialmente para o Brasil e para a antiga África portuguesa. A criminalidade aumenta e haverá episódios de violência. Uma baixa considerável do nível de vida dos portugueses acompanhará a situação económica e política

Os militares tornar-se-ão cada vez mais visíveis como garantia última do poder e o Presidente da República acabará por depender deles. Os próprios militares vão-se dividir ora protagonizando uma solução política ora outra. A estabilidade governativa só será recuperada com a suspensão dos partidos políticos e do Parlamento. O poder estará entregue a um César da confiança dos militares.
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Foi sempre assim em Portugal. Porque é que agora havia de ser diferente?

regionalização



O Público de hoje traz um editorial de Manuel Carvalho a sugerir a regionalização como solução para a reforma do Estado.

Eu já fui um adepto da regionalização. Foi no final dos anos oitenta, princípios dos anos 90 quando Portugal aderiu à UE, os fundos para o desenvolvimento regional abundavam e eu, irreflectidamente, ainda acreditava que Portugal se iria tornar um país de democracia-liberal semelhante aos países do norte da Europa e da América do Norte. Eu hoje continuo a ser um adepto da regionalização e da democracia-liberal - desde que não seja para Portugal, Espanha, Itália, México, Brasil, Argentina e todos os demais países de tradição católica.

Passados mais de vinte anos, estou convencido que os portugueses não possuem, nem nunca possuirão, a cultura democrática que torna a regionalização uma instituição valiosa nos países de cultura protestante, como a Alemanha, a Suíça, os EUA e o Canadá. Em Portugal, ela seria imediatamente partidarizada, poria portugueses contra portugueses, criaria uma nova camada de políticos e de funcionários e, sob circunstâncias excepcionais, não é certo que não levasse a uma guerra civil. Nas graves condições económicas, sociais e políticas que se avizinham, os portugueses precisam de instituições que os unam. Para os desunir já chegam os partidos. A regionalização seria outro factor de desunião.

doente

A economia portuguesa está doente, muito doente. Quando o desemprego se aproxima dos dois dígitos, os salários em Portugal têm o maior aumento da década.

26 abril 2009

o famoso poder judicial


"O famoso poder judicial, por que João Franco tanto esperava para limitar o arbítrio dos governantes, começou logo a exercer a sua função, mas contra o próprio João Franco. Nos julgamentos, por querelas de imprensa, eram raras as condenações. Os jornalistas podiam apelar ao regicídio, ao assalto às Necessidades, que os juizes, exibindo a mais despudorada benevolência, absolviam a torto e a direito. Não era de espantar, quando o acusador público no tribunal da Boa Hora, em Lisboa, era nem mais nem menos do que Trindade Coelho, o qual, na loja maçónica a que pertencia, prometera aos chefes republicanos favorecer os acusados" .
José Mattoso (dir.), História de Portugal, vol. 6, A Segunda Fundação (autor: Rui Ramos), Lisboa: Estampa, 2001, p. 249. (O texto refere-se ao ano de 1907).
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O texto acima ilustra duas características típicas do regime de democracia-liberal nas ocasiões em que vigorou em Portugal desde 1820 - a licenciosidade da imprensa e a partidarização da justiça. O caso Freeport é uma manifestação desta tipicidade. Em Itália, outro país de tradição católica, Berlusconi teve recentemente também de lidar com casos semelhantes.

novo paradigma II





Perguntei à Beata Alexandrina o que deveria fazer para combater a crise. Resposta:
- Joaquim, vá a Fátima e reze à Virgem Santíssima para que tenha misericórdia de nós.
Resolvi pedir uma segunda opinião a São Nuno. São Nuno, o que devo fazer? Resposta:
- Quem é o Rei?
- Não temos Rei, quem governa é a populaça.
- Joaquim, vá a Lisboa e passe essa canalha a fio de espada.

Bethan Huws



Fui a Serralves com a Clara ver a exposição do Bethan Huws. A Clara é a minha filha do meio e faz amanhã 14 anos.
Numa das salas, entre um monte de tâmaras mirradas e um figo raquítico, estava uma caixa de Sensodyne, que se destacava pelo contraste. Perguntou-me a Clarinha:
- Pai, esta pasta dos dentes faz parte da exposição?
- Filha, não sei. Numa exposição de arte moderna é muito difícil distinguir as obras de arte do lixo.

muito bom

O trabalho que o José tem vindo a fazer, no seu blog A Porta da Loja, sobre o 25 de Abril, reccuperando documentos e memórias acerca do que de facto se passou. Autêntico serviço público.

à procura


O Presidente da República voltou a falar em Verdade no seu discurso de ontem. A procura da Verdade parece acompanhar as crises da democracia em Portugal. Salazar elegeu a Verdade como um dos seus valores políticos principais logo depois de ascender ao poder ainda como ministro das finanças, revelador de que os portugueses estavam sequiosos de Verdade, como parecem estar agora.

Porém, não será no actual regime de democracia-liberal que os portugueses vão encontrar a Verdade. Este regime evoluiu precisamente porque em certos países - os países protestantes - se aceitou e reconheceu que não existe a Verdade, mas que só existem verdades - isto é, que a verdade é relativa. Por isso, as instituições da democracia-liberal não estão feitas para encontrar a Verdade, mas apenas para assegurar que as diferentes verdades se exprimem em condições de equidade ou de justiça. A democracia-liberal não atribui importância à Verdade, em primeiro lugar porque não acredita nela.

Os países católicos, como Portugal, acreditam na Verdade, como se vê pelos constantes apelos que lhe vão sendo feitos. Mas que significado pode então possuir esta procura crescente dos portugueses pela Verdade? Significa que eles andam à procura de um homem. Na tradição católica a Verdade existe e está num homem. Para esta tradição Cristo é a verdade em pessoa.

novo paradigma

João Paulo II elegia a populaça:
Alexandrina de Balasar, Francisco Marto, Jacinta Marto
Bento XVI elege as elites:
Nuno Álvares Pereira

São Nuno











Bento XVI consagra um homem de elite. "Por ter dedicado a sua vida ao serviço do Bem Comum e de Deus".

+ elites

Neste post, tentei uma primeira abordagem “ao problema das elites”. Procurei identificar as características das elites, noutras espécies, para depois transpor alguns elementos para o Homo Sapiens.
Certamente que o reconhecimento social (eligere), a capacidade de liderança, a abnegação pessoal e a coragem são características que podemos transpor para as elites da nossa espécie. Em particular, o reconhecimento social é muito importante. Os machos alfa dependem desse reconhecimento para exercerem a liderança e é obvio que um líder político que tenha caído na cadeira do poder, sem ter conquistado esse reconhecimento, não durará muito tempo. Passou-se isso com Santana Lopes e está a passar-se o mesmo com Gordon Brown.
As características enunciadas, só por si, contudo, não chegam para definir uma elite. Interessa sobretudo os fins que servem. Ora uma tribo primitiva, ou um bando de primatas, oferecem-nos um modelo para definir esses fins.
As elites garantem o crescimento e a multiplicação da espécie. Defendendo o território, assegurando a ordem social, garantindo o acesso a provisões, resolvendo disputas internas e dando um exemplo de bom comportamento.
Se formos humildes, podemos utilizar estas observações para reconhecermos rapidamente quem são as elites sociais humanas. São as pessoas que se devotam ao Bem Comum, ao crescimento e multiplicação da espécie, e que são obstinadas e corajosas nesse propósito, estando dispostas a dar a própria vida por esse fim. Como qualquer macho alfa, de qualquer bando de primatas.

25 abril 2009

big brother

Olhe, o que eu tenho a dizer é que isso não se faz. Ponto final. Uma televisão nacional, a emitir em canal aberto para 10 milhões de portugueses, não deve dedicar a maior parte do noticiário a zurzir o Presidente do Conselho.
Não fica bem. Pronto. Depois, tem de se ter em consideração que abordar os assuntos desta maneira equivale a um julgamento popular, o que quer que eu lhe diga?
Um tipo, aquele inglês, não me lembro do nome dele, diz que o Sócrates é corrupto. E que credibilidade tem esse bife? Uma televisão séria não pode dar credibilidade a um imigrante que mal conhece a nossa cultura, num assunto de Estado. Desculpe, isso não se faz.
Eu aceito o papel dos tablóides. Eu doutorei-me no País que inventou o jornalismo de sarjeta, por favor, mas não podemos tratar do mesmo modo a Casa Pia e o Freeporrt...
O tipo recusa-se a vir aqui dar uma entrevista... Por favor, o Sócrates não tem de dar cavaco a um tablóide. Era o que faltava, ainda por cima a um tablóide de Castela. Seria de putamadre, por favor. Mais valia ir directamente pró Maneta...


Comentários virtuais que bem poderiam ser atribuidos ao Birgolino.

profundos


"... Salazar sempre exprimiu ao longo da vida (...) que os portugueses não estariam preparados para profundos debates ideológicos..."
(A. J. Ferreira, 2007, na introdução à edição portuguesa do livro Como se reergue um Estado, op. cit., 1936)

a todos


"Um dos grandes erros do século XIX foi considerar que o parlamentarismo inglês e a democracia inglesa constituíam um regime capaz de se adaptar a todos os povos europeus" .
(Salazar, Como se reergue um Estado, 1936, p. 45).

freeport?

Qual será a pronúncia correcta deste estrangeirismo?

Por Sócrates - Freepót (Inglês técnico?)
Na SIC – Freepôrt (Na SIC Notícias).
Na TVI - Freesporrete (+ Alfacinha?)

Outras sugestões?

+ 1 hora sem sair de cima

Ontem, a TVI presenteou-nos com mais “uma hora sem sair de cima”... devidamente atestada e credibilizada por VPV.
Hoje, o Expresso contradiz os principais argumentos da TVI. Estou com curiosidade para ver que destaque é que esta notícia do Expresso vai ter logo no quarto canal.
O Freeport corre o risco de se tornar em mais um episódio da luta por audiências. Ou será que já não passa disso?

Charles Maurras


"Um hóspede atrevido comentou que havia poucos livros em São Bento. Não lhe desvendo o nome. Concordei com o meu amigo: é verdade! Mas os livros tenhos-os na memória. Posso dispensá-los das estantes"
(Salazar, Diário, 7 de Setembro de 1948)

Passado o período da juventude e da universidade, Salazar lia pouco. As suas referências eram as Encíclicas (ver aqui, escrito quando ele tinha 2o anos) e um ou outro pensador, sendo Charles Maurras talvez o principal.

é um erro!


"Encontrei o que procurava. As Encíclicas são claras e apontam os caminhos que os católicos devem seguir no campo da intervenção política. Interiorizei algumas ideias que dificilmente virei a pôr de lado.

Em primeiro lugar, à Igreja pouco importa que o governo seja de um só ou de muitos. Tanto se lhe dá que seja republicano ou monárquico, desde que se aplique ao bem comum.

Depois, o Estado não pode ser o reflexo da multidão soberana; o poder civil e político não vêm do povo; todos os grupos de homens necessitam de um chefe supremo.

Em terceiro lugar, os católicos devem empenhar-se na vida pública e chegar-se aos mais altos cargos do Estado.

No que respeita às relações entre poder eclesiástico e poder civil, eles devem estar separados com nitidez; cada um é soberano no seu género, ainda que deva existir entre ambos um sistema de relações bem ordenado.

Finalmente, a liberdade excessiva é um erro! Pensar e poder publicar os próprios pensamentos não é por si um bem de que a sociedade tenha de se felicitar; é antes a fonte de muitos males"
(Salazar, Diário, 18 de Maio de 1909).

Dificilmente


Referi num post anterior que a história de Portugal, contada pelos historiadores portugueses, parece um cemitério de factos. Não existe uma ideia directora, em parte porque os portugueses têm dificuldade em se porem de acordo acerca de qualquer ideia. Por isso, o historiador, para sua própria defesa, apresenta factos e mais nada. O resultado, para quem lê, é uma visão algo caótica da história do país, onde não existe um fio condutor, daí resultando a incapacidade de os portugueses compreenderem o seu próprio país.

O período posterior à revolução francesa é disso um exemplo. A lição essencial a tirar deste período é a de que Portugal e Espanha são os dois países mais conservadores da Europa Ocidental - mais de direita, na linguagem política -, os países que mais resistiram e continuam a resistir às ideias da revolução francesa. Aquilo que caracteriza este período da história portuguesa é o confronto permanente entre as ideias e as instituições da revolução francesa com as ideias e as instituições do ancien regime, sem que se possa dizer até hoje, e ao contrário do que sucedeu nos países do norte da Europa, que alguma das partes tenha definitivamente triunfado.

Dificilmente se encontra na Europa Ocidental um país mais conservador ou de direita que Portugal.

de 24º para 29º



1975 : 0.793 (24º país mais desenvolvido do mundo)
2005: 0.897 (29º país mais desenvolvido do mundo)

tipo sueco



sul-americanização





Uma Câmara Municipal pode proibir uma actividade perfeitamente estabelecida e legal, como a tauromaquia?
Pelos vistos pode. Aconteceu em Viana do Castelo, e ... e em Caracas.

graves consequências



“Comparar-me ao Madoff vai ter graves consequências”.
João Rendeiro

Essa afirmação vai ter graves consequências. Eu sou um vigarista de alto coturno e uma celebridade mundial, se o Sr. Presidente da CMVM insistir em comparar-me com desconhecidos terei de o processar.
Madoff

evocar abril: não, passarão!

(No caso concreto, talvez fosse mais apropriado um "não, passarões!")

Quiz


Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, eu gostaria de testar a formação política que os portugueses ganharam com a democracia.

As minhas perguntas são as seguintes: O Fascismo é um regime político de direita ou de esquerda? Justifique a resposta.
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E o nacional-socialismo (nazismo)? (Quanto a esta, parece que a própria pergunta contém a resposta)

25 de abril, sempre!

Anda por aí muita gente a especular sobre a necessidade de uma 4ª República, isto é, por outras palavras, de uma refundação do regime democrático, com uma nova Constituição política, novas regras de governo e outros procedimentos e objectivos. A grande questão é esta: como se poderá lá chegar?

O 25 de Abril de 1974, o 25 de Novembro de 1975 e a Constituição da República de 1976, instalaram a democracia em Portugal. De acordo com todas as definições, a democracia é o regime onde o povo determina o seu próprio destino e estabelece as regras que ele deve percorrer. Pois bem, pode o povo português fazer aprovar uma nova Constituição e fazer findar a vigência da actual? Não, não pode. Pode o povo português substituir a República por uma Monarquia? Não, não pode. Pode o povo português transformar o semipresidencialismo em parlamentarismo puro ou em presidencialismo? Não, não pode. Pode o povo português limitar seriamente o direito à greve? Não, não pode. Pode o povo português expurgar o métodp de Hondt do sistema eleitoral legislativo? Não, não pode.

Enfim, como pode então o povo português chegar a uma nova república, à 4ª, mais precisamente? Apenas e só como chegou à 3ª: por via do golpe de estado e da revolução.

24 abril 2009

mais no Iraque


A partir dos anos 50, sob inspiração americana e da ONU, a democracia-liberal foi vista como o único regime capaz de assegurar a paz, dentro das nações e ao nível mundial.

Os povos de cultura católioca, provavelmente com os portugueses à frente, acham que a verdade está sempre no estrangeiro. Os povos de cultura protestante, pelo contrário, acham que a justiça está sempre com eles: "If liberal-democracy is good for us, why not for other people?"
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Foi esta concepção protestante e tipicamente kantiana que conduziu à oposição dos países ocidentais ao Estado Novo. Mais recentemente, sob a tese de O Fim da História, levou à invasão do Iraque e à implantação da democracia-liberal no país. Os resultados, mais no Iraque do que em Portugal, não são encorajadores.
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A tradição protestante acha que as suas soluções aos problemas da humanidade são universalizáveis. A tradição católica, pelo contrário, deixa cada um viver à sua maneira. A filosofia protestante é neste ponto herdeira do pensamento desse trapalhão por excelência que foi Immanuel Kant.

de novo


No post anterior referi que os nossos aliados na Europa Ocidental e na América do Norte, a partir do fim da guerra, deixaram de ter simpatia pelo regime do Estado Novo e hostilizavam-no abertamente. A situação era idêntica em relação a Espanha.

Na opinião de Salazar tinha sido a democracia liberal que conduzira às dificuldades económicas e sociais dos anos 20 e 30 e que, em última instância, levara à Segunda Guerra Mundial. Salazar ficou, portanto, algo surpreendido quando, finda a Guerra, os países ocidentais decidiram reconstruir-se segundo o mesmo regime.
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A 7 de Outubro de 1945 escreveu no seu Diário: "Quem ganha as guerras dita as modas ... Os meus inimigos internos e externos chamam ao meu regime "ditadura" ... Lá terei de novo de engolir sapos...". Em 14 de Junho de 1958 voltou ao tema: "Os povos têm fraca memória; os malefícios dos regimes parlamentares e das lutas partidárias foram esquecidos e eis que voltam a estar na moda as democracias. Com elas renasce o culto de uma forma abstracta de liberdade que pretendem alguns elevar acima do bom senso, da necessidade de ordem e do sentido da responsabilidade...".
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A democracia estava de novo na moda.

a falta de uma solução


A guerra colonial, a censura e a exclusão dos comunistas. Estes foram os três irritantes que levaram ao isolamento de Portugal da comunidade internacional e, em última instância, produziram o 25 de Abril. Do ponto de vista económico, o regime era imbatível. O fomento da educação foi também extraordinário durante o período.
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Havia obviamente em Portugal um vago sentimento de querer ser como os outros - a Europa Ocidental - mas esta é uma característica da cultura portuguesa, que acha que a verdade está sempre no estrangeiro, e que desde os primórdios da nossa história nos levou a querer conhecer o que por lá existe, e a emigrar.
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A falta de uma solução para a guerra colonial foi o problema decisivo. A solução federalista proposta por Spínola para as colónias tinha sido defendida dez anos antes por Marcello Caetano, e essa tinha sido uma das razões para Salazar o afastar. Como o próprio Marcello Caetano refere no seu livro "As Minhas Memórias de Salazar" (1975), a renúncia à solução federalista foi-lhe imposta como condição por alguns ultras do regime para aceitarem que sucedesse a Salazar.
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A diplomacia portuguesa comandada por Salazar sempre defendeu a especificidade da nossa colonização, e penso que o fez bem. A nossa era de facto uma colonização diferente e multirracial, muito distinta das colonizações francesa, inglesa ou holandesa. Salazar entendia que as colónias eram um património nacional que os portugueses tinham herdado dos seus antepassados e que lhes competia defender. Não é fácil contestar este argumento, excepto que o mundo inteiro, incluindo a ONU e os nossos aliados, como a Inglaterra e os EUA, estavam contra ele.
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Quanto à censura, o regime tinha-se aberto consideravelmente com Marcello Caetano, como o Rui refere num post abaixo. Erro crasso, e que poderia ter sido evitado, foi a exclusão dos comunistas. Os partidos políticos estavam proibidos em Portugal, mas, desde que não se organizassem em partido, não se vê porque não haviam os comunistas de ser permitidos no país. Foi um erro que criou "mártires" desnecessariamente. Por outro lado, é preciso ter em conta que o partido comunista conduzia uma subversão armada contra o Estado português.
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Não acredito que o 25 de Abril tivesse existido sem a guerra colonial e a mobilização dos militares. Sem esta, o regime teria evoluido, de forma mais ou menos atribulada, para uma democracia, como aconteceu em Espanha. Não seria possível manter o isolamento internacional, que reclamava democracia, por muito mais tempo. Os ventos da história sopravam nessa direcção e não havia nada a fazer.
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Eu não tenho dúvidas que Salazar foi o melhor governante que Portugal teve, e o mais patriota, desde a época dos Descobrimentos.

entroncamento

Viana do Castelo é o novo Entroncamento. Apercebi-me deste fenómeno pelo elevado número de notícias, referentes a esta bela cidade, que desafiam a credulidade dos leitores. Algumas, como esta, despertam a atenção pelo insólito. Outras, pelo exagero.
Viana do Castelo, sob os auspícios do seu querido líder, Defensor Moura, tornou-se na primeira cidade anti-touradas do País. Confesso que quando soube que Defensor tinha aplicado este par de bandarilhas aos aficionados da festa brava, imaginei o pior. Pensei que a cidade tinha sido tomada por vegans fundamentalistas, a versão mais radical do vegetarianismo. E cheguei a temer pelo afamado arroz de sarrabulho com rojões (recomendo que o degustem no Camelo, em Santa Marta de Portuzelo). Felizmente, não se foi tão longe.
A prova é que já depois de interditar as touradas e de proclamar a Princesa do Lima como a Rainha do PC (politicamente correcto), a Câmara Municipal já anunciou que vai patrocinar uma feira gastronómica dedicada ao fiel amigo. Nesse evento serão sacrificados cerca de 5.000 indivíduos do género Gadus (vulgo bacalhau), que foram retirados do seu meio ambiente oceânico, sufocados, esquartejados e salgados, para gáudio da populaça.
Graças a Deus que o populismo, em Viana, não enveredou por extremismos.

a infeliz fatalidade do 25 de abril

Uma revolução é sempre um facto lamentável. É inquestionavelmente preferível uma transição pacífica e tranquila dos regimes políticos, a uma transformação violenta que invariavelmente atinge não apenas a política, mas a própria sociedade e os seus alicerces. É certo que, por vezes, não há outra forma de mudar as coisas que necessariamente precisam de ser mudadas e só pela força elas se tornam perecíveis. A culpa, aí, é mais de quem está do que de quem quer vir a estar, e as despesas da festa devem ser imputadas a quem resistiu que as coisas mudassem para melhor.

Não foi nada disto que ocorreu em Portugal no dia 25 de Abril de 1974. Se tem havido algum tino e juízo, teria sido possível forçar uma transição democrática do regime. A prova está no facto indiscutível da “ditadura” não ter feito o mais leve esboço para resistir aos revoltosos. Na verdade, os alicerces do regime encontravam-se muito depauperados, mesmo antes de Marcelo Caetano ter assumido o poder, em 1968. Os últimos anos do salazarismo foram de grande desenvolvimento económico, de crescimento da classe média, logo, da consciência crítica do regime. Os de Marcelo foram uma comédia política. A autoridade, longe, muito longe de ser autocrática, estava pulverizada pelos inúmeros caudilhos do regime, sendo Marcelo apenas mais um, aquele que se encontrava momentaneamente à frente do estado. A oposição democrática socialista reunia às claras, dizia mal do regime e exigia o fim da guerra colonial (leiam-se as actas do Congresso de Aveiro). Os liberais e os social-democratas tinham entrado e saído da Assembleia Nacional, onde tinham feito exigências democráticas ao regime, e teciam-lhe críticas abertas, bem como a Marcelo Caetano. A Universidade agitava-se e enfrentava a polícia política. O Estado Novo já não existia e aguardava apenas que lhe fosse passada a certidão de óbito.

Se tem havido bom senso na oposição, se as paixões ideológicas socialistas não tivessem prevalecido sobre o realismo político, se as Forças Armadas estivessem dispostas a forçar uma solução negociada do problema ultramarino, teria sido possível evitarmos o 25 de Abril, com evidentes vantagens para o país. Infelizmente, a oposição estava dividida em múltiplos grupusculos entretidos a dizerem mal uns dos outros (como a seguir à revolução ficou bem claro), o socialismo era , ao tempo, um dogma absoluto praticamente universal, e os quadros intermédios das Forças Armadas queriam sair do Ultramar fosse como fosse, custasse o que custasse.

Seja pela teimosia do regime deposto, seja pela inépcia e pela falta de qualidade da oposição, o país não conseguiu ser poupado à revolução. As consequências foram trágicas: uma descolonização que mais não foi do que a entrega, pura e simples, dos territórios ultramarinos aos representantes locais dos interesses soviéticos; as nacionalizações de 1975, com a destruição do tecido económico português, o que nos fez perder décadas de desenvolvimento, eventualmente irrecuperáveis; a criação de um sistema político de governo talhado para dividir as instituições e para as fragilizar, em vez de assentar num estado reduzido, com instituições de governo fortes e constitucionalmente ágeis.

O 25 de Abril foi uma fatalidade, mas poderia não o ter sido. Aqui ao lado, em Espanha, foi possível fazer muito mais e muito melhor, numa transição democrática e constitucionalmente estável. Apesar da ditadura espanhola ser, de longe, mas muito de longe, muito mais rígida que a portuguesa. Por isso, também, o atraso português e a crise eterna em que vivemos é, hoje, estrutural, enquanto que no país nosso vizinho ele é meramente conjuntural. Portugal continuará a pagar por muito tempo a irresponsabilidade das elites políticas que, no regime e na oposição, tornaram inevitável o 25 de Abril.

Uma brincadeira


Carta enviada ao Director do Público, por Paulo Carvalho, e publicada na edição do passado domingo:


CARTAS AO DIRECTOR 19.04.2009


E os parlamentares escandalizaram os alunos...Não deve haver semana em que a Assembleia da República não receba a visita de centenas de alunos, provenientes de todos os cantos do país, sob a orientação de seus professores, com o objectivo de observar in loco o funcionamento desse órgão fundamental da democracia que é o Parlamento.

Se para qualquer cidadão português adulto tal visita deveria constituir quase um dever cívico, tratando-se de crianças, adolescentes e jovens em formação, essa visita assume uma importância inquestionável. Foi com estes pressupostos que, conjuntamente com alguns colegas meus, professores, acompanhei cerca de cem alunos há dois dias a uma sessão parlamentar. Acresce dizer que os alunos em causa se debruçam presentemente, na disciplina de Filosofia, sobre conteúdos programáticos relativos ao Estado, ao Direito, à Justiça e às funções das instituições civis, pelo que estavam particularmente despertos para o que se iria passar.

Advertidos de que não se poderiam manifestar nas galerias, nem a favor nem contra, sobre as matérias em apreço, mantiveram-se em silêncio, bastante mais atentos do que em muitas aulas. E a que é que assistiram? À intervenção sequencial dos oradores de cada partido e, simultaneamente, a um número enorme de deputados completamente alheios ao discurso do orador, conversando descontraídos uns, gargalhando outros, telefonando ainda outros, dormitando um, meia dúzia dando as costas ao orador, imensos olhando o ecrã do computador em frente, distraídos no Messenger, no Twiter, nos blogues (no Mini-saia, sobre unhas, observou alguém), no e-Bay, vendo fotos de família, etc., enfim, aquilo que alunos e professores conhecem como "uma turma mal comportada". Aliás, extremamente mal comportada.

Claro que, enquanto cidadãos atentos, os professores não ficaram propriamente surpreendidos (alguns porque já lá tinham estado, todos porque acompanham pelos media a vida parlamentar); indignados ficaram, mas não surpreendidos. Os alunos, porém, à saída, faziam questão de manifestar o seu escândalo, deixando aos professores pouco espaço de manobra para justificar o injustificável.

De facto, não há "figurino do aparte" ou "funcionamento do Parlamento por comissões" que possa escamotear a simples falta de respeito pelo outro (escutar o interlocutor é o mínimo exigido para quem pretende contra-argumentar), quanto mais as faltas de sentido de Estado e de civismo, ou a inqualificável falta de responsabilidade de quem se sabe observado por crianças e adolescentes que serão os futuros cidadãos eleitores deste país e, mesmo assim, tem a postura que tem! Estavam a ser tomadas decisões importantes para o futuro daqueles alunos (no caso, as limitações impostas aos órgãos de Comunicação Social), mas, devido ao péssimo exemplo dos deputados em causa, o conteúdo passou ao lado da maioria desses alunos.

No entanto, é sabido que, naquele contexto, a forma é quase tão importante quanto a substância: com o exibicionismo de uma tal atitude autista e cínica, apostada para mais em realçar somente diferenças e incapaz de chegar à etapa das concessões e dos consensos, ninguém acredita que se trabalhe ali para o bem comum. Aqueles alunos, pelo menos, não acreditaram. E pior: talvez não venham alguma vez a acreditar nisso...

Obrigado, senhores deputados!

Paulo Carvalho, Sintra

da democracia-liberal


O número de desempregados em Portugal aumentou 65 mil no mês de Março, um record em mais de trinta anos. Mesmo na Alemanha, o desemprego está a tornar-se explosivo. Em Espanha, as coisas estão assim, a taxa de desemprego já vai em 17.4%. A situação económica na Europa e na América tem cada vez mais semelhanças com os anos 20 e 30.
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O proteccionismo económico e o recurso a soluções políticas autoritárias, como sucedeu então, parecem-me também agora inevitáveis. A democracia prepara-se para entrar num período de enorme desprestígio, como também aconteceu na altura. E o mercado também. De facto, a crise actual é devida à democracia e ao mercado. É uma crise da democracia-liberal.
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Quando o desemprego aumenta em massa e as pessoas não têm dinheiro para sustentar a família, elas deixam de acreditar em parlamentos e em governos democráticos, sempre com as oposições a desfazer, para lhes resolverem os problemas. E a ideia do liberalismo económico perde a prioridade perante as necessidades imediatas da sobrevivência.
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Em períodos de crise prevalece a mentalidade tribalística, porque é em tribo que desde sempre se governaram as comunidades mais primitivas e mais pobres. A tribo tem um chefe e as liberdades de cada um ficam severamente condicionadas. Os ditadores dos anos 20 e 30 começaram por ser czars económicos (Salazar é um caso típico) que rapidamente se converteram em czars políticos.

à espera


Quando recentemente visitei Trancoso fiquei a fazer contas acerca de quanto custaria cada trancosense ao erário público. Uma pequena fortuna, concluí. A cidade de Trancoso tem três mil e quinhentos habitantes, e o concelho dez mil.

Não existe indústria em Trancoso e muita da agricultura pareceu-me de subsistência. Os empregos parecem ser essencialmente nos serviços e, entre eles, sobressaem os do Estado. Existe a Câmara Municipal, os Correios, a Segurança Social, a Caixa Geral de Depósitos e depois existe o pequeno comércio. Aqui, destaque para o restaurante Área Benta, considerado recentemente um dos melhores restaurantes do país.
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Os monumentos da cidade, de que se destaca o castelo, anterior à nacionalidade, estão bem conservados. A cidade apresenta um aspecto limpo e bem cuidado, graças aos serviços públicos. A qualidade de vida, para quem aprecia a pessoalidade, a comida, a tranquilidade, o ambiente, a paz de espírito e a paisagem é extraordinária. O ponto importante é que se não fosse o Estado, Trancoso seria hoje uma cidade fantasma.

Trancoso é tipicamente uma cidade à espera de pessoas e de iniciativa. Enquanto os trancosenses emigraram à procura de melhores oportunidades de vida, o Estado ficou lá a suportar a cidade.

o caminho mais curto

A percepção de que os EUA estão enfraquecidos e sem liderança aumenta exponencialmente o risco de recurso a soluções extremas. Na Coreia do Norte, no Paquistão, ou na América do Sul, os líderes regionais vão acreditar que têm o caminho livre e podem surgir situações que não se consigam controlar pelos meios convencionais. Imaginem, por exemplo, que o Sr. Kim Jong-il decide invadir a Coreia do Sul, ou que os Talibans se apropriam de armas nucleares no Paquistão...
A imagem de indecisão e de fraqueza é o caminho mais curto para a guerra.

Mau sinal


Risco de reviralho na Alemanha. Mau sinal para Portugal e para a Europa.

23 abril 2009

To


To our buddy Ricardo.

exhibitionist

Querida vem-te e anda comigo,
Para as Caraíbas,
Não vês que estou a perder a pica.
Bebe a água dos cocos,
Bebe a água dos cocos,
Bebe a água dos cocos,
Não consigo ir para a América,
Bebe a água dos cocos, (Alegra-te)
Bebe a água dos cocos, (Dá força)
Bebe a água dos cocos que eu não consigo ir para a América...

Tradução livre, Via Cocanha (um blog que não é erótico)
PS: Sem relação com os mimos que a Zazie me dirige desde que lhe dediquei este post.

capitalismo de influência

O sistema capitalista, nos EUA, assenta numa combinação excelente entre o empreendedorismo e o capital de risco. Esta solução permitiu, nos últimos anos, o aparecimento de colossos como a Amazon, a Yahoo, ou a Google. Estas empresas criaram valor, enriqueceram os seus accionistas e, em particular, enriqueceram os “business angels” que souberam apostar nelas.
Algumas, como a Google, mudaram o mundo. Cada vez que utilizo os serviços da Google dou graças a Deus pelo génio humano e fico contente por todos os bilionários que esta empresa criou.
Porque é que estas empresas surgiram nos EUA e não na Europa? Porque o capitalismo europeu não assenta no empreendedorismo. Pelo contrário, os capitalistas, na Europa, apoiam-se mais na influência e na proximidade ao Estado. É uma estratégia com menos riscos, mas também com retornos menores. É uma estratégia menos sujeita à concorrência e menos sujeita ao desaire.
Como é necessário distinguir entre este capitalismo à europeia e o capitalismo à americana, vou chamar ao primeiro “capitalismo de influência” e ao segundo “capitalismo real”.

yes, we cão!

É impressão minha ou, com excepção das novidades sobre o cão, o Redentor não tem dado sinais de vida?

isentos?

O pior jornalismo é o que se quer fazer passar por isento. Não sei de onde é que vem esta ideia, mas pretender que os jornalistas são uma espécie de Dr. Spock, capazes de analisar qualquer assunto numa perspectiva puramente racional e sob todos os ângulos possíveis é uma fantasia. E é uma fantasia bastante perigosa.
Os jornalistas são pessoas, com todas as qualidades e defeitos. Se conhecermos as suas inclinações, podemos dar-lhes um desconto e toda a gente fica contente. A CNN, o New York Times, ou a MSNBC, são de esquerda. A Fox News é de direita. O Público é de esquerda, o Diabo (ainda existe?) é de direita.
Os jornalistas que não assumem as suas preferências políticas e que se fazem passar por isentos são verdadeiros mercenários, uma espécie de “combatentes ilegais”. O País ficaria muito melhor se fossem todos desterrados para um ilha tropical, sem direito a “habeas corpus”.

Subida de impostos


Há já alguns meses que ando a escrever acerca da subida de impostos que se avizinha - aqui no Portugal Contemporâneo e também no Mercado Puro. Os indícios são evidentes. Repare-se, por exemplo, no que está a acontecer no Reino Unido, cuja política tem sido a referência do Governo de José Sócrates na resposta à crise.

"Um imposto de 50% para os contribuintes com rendimentos anuais superiores a 150 mil libras (167 mil euros), fim das deduções para quem ganhe acima das 100 mil libras (111,4 mil euros) e aumentos nos descontos para a Segurança Social para os titulares de rendimentos elevados. Depois da Irlanda, foi a vez dos Reino Unido avançar com uma subida de impostos"., Jornal de Negócios de hoje.

Com a política que tem sido seguida em Portugal, é quase certo que também nós seremos confrontados com uma subida de impostos, agravando aquele que é um dos sistema tributários relativamente mais pesados e mais persecutórios na Europa. E vou repetir o que já escrevi antes: em 1980, o escalão máximo de IRS na OCDE era em média de 69% e o IRC era de 38%. Portanto, preparem-se!

Infelizmente, uma vez mais, a superficialidade da crítica política e do debate intelectual em Portugal é evidente. Em lugar de confrontarem o senhor Primeiro Ministro com a inevitável subida de impostos, suportando-se nos respectivos estudos e na história do passado, a opinião pública prefere perder horas intermináveis a discutir se "o Presidente quis dizer isto ou aquilo" e se "as indirectas do Primeiro Ministro foram dirigidas a este ou àquele"! Enfim, uma novela desinteressante e sem consequências práticas, ao contrário, por exemplo, da subida dos impostos cujo impacto será sentido no bolso de todos nós (e não apenas no caso dos administradores de empresas, conforme se propagandeia por aí).

De resto, no que diz respeito à oposição política, julgo que o PSD teria muito a ganhar se fosse por esta via de confrontação, sobretudo, tendo em conta que José Sócrates teve neste aspecto uma falha grave (na minha opinião, merecedora de "impeachment") quando em 2005, em plena campanha eleitoral, afastou o cenário de subida de impostos para, imediatamente depois, se desdizer após a tomada de posse, aumentando a carga fiscal. Dah!