31 dezembro 2008

E em 2009 ...

celebram-se os 200 anos do nascimento de Charles Darwin.

Feliz Ano Novo









Acontecimentos de 2008

Internacional:
1. Terminou a folia do aquecimento global.
2. Ficou demonstrado que os governos ocidentais estão ao serviço da alta finança.
Nacional:
1. O País aceitou um Orçamento de Estado virtual.
2. O Presidente da República confessou-se impotente.

confiem em nós











Dêem-nos os vossos biliões... confiem em nós!
Ver:
As duas maiores fraudes de sempre
O fim do aquecimento global.

tripé

Na Idade Média a sociedade estava equilibrada entre a aristocracia, o clero e a populaça. Cada um destes grupos contrabalançava o poder dos outros, limitando os excessos possíveis.
Nas sociedades modernas a influência do clero foi praticamente eliminada, permitindo aos dirigentes políticos (a nova aristocracia) um domínio sobre a populaça que é inédito em termos históricos. Este poder revela-se, por exemplo, nos excessos fiscais ou na forma como o Estado se intromete na vida privada dos cidadãos.
A democracia não resolve este conflito entre governantes e governados. Pelo contrário agrava-o porque estimula o populismo e o cinismo dos políticos. Por outro lado, o laicismo é uma porta aberta a todo o tipo de arbitrariedades porque limita os conceitos de Bem e de Mal à estrita interpretação da Lei.
Todos ficaríamos melhor se o clero recuperasse alguma da influencia perdida e a usasse para balizar a conduta dos governantes e orientar a actividade da populaça.

organize





Via Economic History Blog

ZOTERO

30 dezembro 2008

memórias do nosso tempo

O segundo volume das memórias políticas de Diogo Freitas do Amaral (A Transição para a Democracia: 1976-1982) reveste-se de natural interesse, não só por ser da autoria de quem é, mas sobretudo pelo período da nossa história que abrange, do qual o autor foi um protagonista de inegável relevo. O livro está escrito numa linguagem muito simples, por vezes fazendo lembrar um bloco de apontamentos, e devora-se em duas noites.

Já neste blog tive ocasião de manifestar o meu apreço pela figura política de Freitas do Amaral, ao invés do que dele pensava – erradamente – nos anos em que foi líder do CDS. Freitas tem, se comparado com a classe política do nosso tempo, a enorme vantagem de ser uma pessoa respeitável, muito civilizada, culta e educada, predicados cada vez menos comuns no que por aí anda. O tempo revelou que, para além disso, Freitas do Amaral tinha razão no essencial do seu comportamento político: dar à direita portuguesa a oportunidade de ser democrática, europeia e defensora das regras essenciais do livre mercado. Toda a sua acção política até 1982, muito bem relatada ao longo do livro, foi nesse sentido, o que lhe mereceu críticas e incompreensões de muita gente, sobretudo da dita direita portuguesa. A verdade é que ele, com pouco mais de trinta anos de idade, levou essa direita para o governo, muito pouco tempo depois de uma revolução socialista e de várias tentativas golpistas de implantar o comunismo em Portugal. Fê-lo com a Aliança Democrática, em parceria firme com o PSD, que foi uma fórmula política que, se não tem sido a tragédia de Camarate, bem podia ter dado um rumo muito distinto ao que o nosso país conheceu.

O livro não traz grandes novidades nem revelações, e gira em torno de duas personagens: a do próprio autor, como não poderia deixar de ser, e a de Francisco Sá Carneiro.

Em relação a si mesmo, Freitas do Amaral esclarece, provavelmente de modo involuntário, uma antiga dúvida sobre quem, de facto, nesses anos liderava e decidia no CDS, se ele, se Adelino Amaro da Costa. Ao longo de todo o livro, revelando uma amizade profunda por Amaro da Costa, a quem considera um verdadeiro irmão, Freitas do Amaral deixa inequívoco que ele era o seu número dois e não o contrário. Na verdade, a serem fidedignas estas Memórias, e nada leva a crer que o não sejam, pelo contrário, o papel de Adelino Amaro da Costa nas grandes decisões do CDS daquele tempo foi muito mais secundário do que se poderia pensar, se comparado com o de Freitas do Amaral.

Sobre Francisco Sá Carneiro, o tom do livro é de permanente tristeza e mágoa profunda. Na verdade, o livro lê-se como aqueles romances policiais dos quais se conhece, logo no começo, o crime e a vítima, ainda que se não se saiba quem foi o criminoso. A sensação que o perpassa é a da iminente tragédia que todos conhecemos, e que vitimou um homem que, viesse a ser o que viesse na História do nosso país, seguramente não faria dela aquilo que ela veio a ser. A possibilidade revelada de, caso Eanes ganhasse as eleições presidenciais, o que sucedeu, Sá Carneiro e Freitas do Amaral fundarem um novo partido de direita é, de facto, merecedora de reflexão. Esse teria sido o caminho natural para os dois partidos da direita portuguesa, que nunca se reencontraram depois da morte do fundador de um e do afastamento do fundador do outro. Todos teríamos certamente ganho com isso.

O que restou foram duas agremiações anódinas, sem qualquer vestígio programático ou ideológico, que se limitam a aguardar que o poder venha ter com elas de tempos a tempos, quando o eleitorado se maça com o PS. Se o projecto de Francisco Sá Carneiro tivesse prosseguido por diante, a direita portuguesa seria hoje seguramente muito diferente daquilo que julga que é.

Idade Média

No Sec. XIV, em Inglaterra, a maior parte das pessoas era relativamente jovem. Entre 35 e 45% das pessoas com quem nos cruzamos na rua têm menos de 15 anos. No outro extremo do espectro, só 5% das pessoas têm mais de 65 anos. Há muito mais jovens do que velhos. O contraste é mais marcante quando analisamos a média das idades. Actualmente, em Inglaterra, a média das idades está nos 38 anos. No Sec. XIV, a média das idades era de 21 anos. Metade da população tinha 21 anos ou menos.

PS: Já conhecia estes dados demográficos, mas Ian Mortimer apresenta-os de modo sugestivo. Imaginamo-nos imersos na Inglaterra do Sec. XIV, olhamos à volta e quase só vemos jovens. Refresca a nossa imagem da Idade Média.

chá de limão com mel

As dezenas de milhares de utentes que afluíram às urgências hospitalares e aos centros de saúde, nos últimos dias, não se deslocaram a estas instituições para tratar a gripe. Coisa que qualquer avó sabe tratar. Foram buscar os atestados médicos que, desde o tempo de Correia de Campos, só podem ser emitidos por entidades do SNS.
Existe ainda uma duplicação de serviços e de custos porque os utentes que vão às urgências apenas têm justificação médica para o dia e necessitam ainda de ir aos centros de saúde para os respectivos atestados. São as consequências inesperadas da acção dos governantes.
Não seria melhor que se aceitassem as faltas por gripe apenas com uma declaração do próprio? E averiguar depois os casos suspeitos de fraude. Aqui fica a sugestão.

propriedade privada

No túmulo de Adam Smith (1723 – 1790), em Edinburgh, pode ler-se (cito de cor): o direito à propriedade é o mais importante de todos porque sem ele todos os outros direitos não existem.
Eis um princípio apriorístico que não necessita de qualquer demonstração empírica. Se aceitarmos como sagrado o direito à vida, então temos de aceitar o direito à liberdade como necessário para desenvolver as acções de que depende a vida e a propriedade como o direito de cada um guardar para si os frutos dessas mesmas acções.
Se o direito à propriedade for posto em causa, num sistema socialista, a liberdade não servirá para nada e ninguém poderá garantir a própria existência. Eis os fundamentos do princípio que Adam Smith enunciou.
Mais de 200 anos depois da morte de Adam Smith e depois de tantos autores modernos terem reiterado o valor supremo da propriedade privada, de Ayn Rand a Milton Friedman, continuamos contudo a menosprezar o direito à propriedade privada.
Os Empis não entendem este princípio e os Links entendem-no mas...estão mais preocupados com as suas carreiras que, em última instância, dependem dos Empis.

salário mínimo

O salário mínimo obrigatório (SMO) aumenta o desemprego, especialmente entre os jovens, as mulheres e os trabalhadores menos diferenciados. Este é um exemplo de outro princípio inquestionável.
Os Apris compreendem este princípio e aceitam-no. Os Empis, contudo, rejeitam-no sem hesitação. Argumentam que os salários indiferenciados são demasiado baixos, que os patrões “o querem ganhar todo”, que só há desemprego para quem não quer trabalhar, que os trabalhadores têm de ter certos direitos, que “os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos” e até que “se os ricos não cuidarem dos pobres... um dia os pobres tratam da saúde aos ricos”.
Os Links sabem perfeitamente que o salário mínimo aumenta o desemprego mas vão ao encontro das preocupações do Empis. Um político, interessado em ganhar eleições, dirá qualquer coisa deste género: iremos aumentar o salário mínimo para níveis compatíveis com o nosso desenvolvimento económico, queremos diminuir as desigualdades sociais, queremos mais justiça.
Ora bem, se o SMO contribui para aumentar o desemprego, como é que pode diminuir as desigualdades sociais? A resposta não interessa, nem aos Empis que não apreenderam o conceito económico subjacente, nem aos Links que estão apenas preocupados com os seus horizontes políticos. A carreira dos Links depende da ignorância dos Empis.

a boa moeda







Afasta a moeda má.

29 dezembro 2008

It's a girl


Our buddy Ricardo became a daddy this afternoon. It's a girl, named Francisca.

David Ricardo

O comércio livre, entre países, beneficia todos os participantes. Este princípio, que David Ricardo (1772 – 1823) expôs e demonstrou no seu Principles of Political Economy and Taxation, parece-me inquestionável. É um desses princípios que qualquer Apri aceita de imediato.
Contudo, as vozes contra o comércio livre são mais do que muitas. Com base em elementos desconexos, estatísticas e relatos anedóticos, os Empis rejeitam um dos princípios económicos mais sólidos que existem.
Os Links compreendem os benefícios do comércio livre, mas são sensíveis às preocupações dos Empis, que exploram o mais possível. Dirão coisas como: somos contra o proteccionismo, em princípio, mas não podemos permitir a destruição dos nossos postos de trabalho pela concorrência selvagem.

28 dezembro 2008

apris, empis & links

Os seres humanos podem ser classificados em três categorias: os Apris, os Empis e os Links. Em posts futuros vou tentar elaborar um pouco mais sobre cada uma destas categorias, bastará por agora esclarecer o seguinte:
Os Apris são indivíduos que, analisando a realidade, procuram constantemente descobrir princípios a priori que os guiem. Buscam proposições inabaláveis que sirvam de fundação à cultura humana. Já aqui dei exemplos de alguns desses princípios. Se afirmarmos que “o existente existe”, estamos a afirmar uma dessas proposições inquestionáveis. O mesmo acontece quando afirmamos que “nada pode ser criado do nada”, por exemplo, ou quando afirmamos que Deus, enquanto princípio, existe (não me estou a referir a qualquer Entidade antropomórfica). Afirmar o contrário seria resignarmo-nos à confusão mental e à estupidez.
Os Empis são pessoas que apenas apreendem elementos parcelares da realidade de forma empírica, sem procurarem “reconstruir o puzzle” ou perceber quaisquer princípios gerais. Não me parece que sejam pessoas obrigatoriamente mais estúpidas do que os Apris, apenas pessoas que se prendem demasiado com as árvores e esquecem a floresta. Se apresentarmos a um Empi um argumento metafísico sobre Deus, ele responde-nos com mil e um factos históricos que procuram destruir o argumento inicial. Se insistirmos surge o insulto...
Os Links são um tipo intermédio. Não fazem qualquer esforço por compreender o mundo, mas entendem os princípios a priori. Por outro lado também se mostram sensíveis à perspectiva dos Empis e são hábeis a lidar com factos avulsos. Esta capacidade permite-lhes manipular a populaça, quase toda constituída por Empis, para os seus próprios fins. Estão mesmo a ver que muitos políticos caiem nesta categoria de seres humanos.

27 dezembro 2008

nunca mais...



Nunca mais um Director Executivo do Deutsche Bank deverá estabelecer um objectivo de lucro de 25%. Esse objectivo criou expectativas fantasiosas equivalentes a uma forma de idolatria. Nas actuais circunstâncias, o dinheiro tornou-se um Deus.
Declarações do Bispo Wolgang Huber, responsável da Igreja Evangélica de Berlim.

a sagrada família

Estará a família tradicional ameaçada? Para respondermos a esta questão temos de saber o que é e para que serve a família. A família é a célula mais elementar da sociedade, constituída por um homem e por uma mulher que se reúnem para procriar.
A procriação, na nossa espécie, é um processo elaborado que envolve a reprodução e a tutela das crias até à idade adulta. Ora estas tarefas eram desenvolvidas pela família tradicional. Após a segunda guerra mundial, contudo, o papel da família transformou-se. As mulheres abraçaram carreiras profissionais e passaram a dispor de muito pouco tempo para o lar. A segurança económica deixou de depender do esforço do patriarca e foi transferida para o Estado. O mesmo aconteceu com a educação.
O número de famílias que passou a institucionalizar os filhos (nos infantários), desde os primeiros meses de vida, tornou-se tão elevado que bem nos podemos perguntar se a família continuará a ser necessária para as crias.
Se a família tradicional acabasse quem notaria a diferença? Os pares heterossexuais continuariam certamente a fornicar, as fêmeas continuariam a engravidar e as crias continuariam a passar a maior parte das suas vidas em instituições Estatais ou para-Estatais. A única diferença é que os meninos não iriam pernoitar a casa.
Concluo que, de facto, a família está ameaçada porque cada vez menos desempenha as suas funções.

26 dezembro 2008

DREN





“Não gostaria que um momento de mau gosto e insensatez... acabe por marcar um percurso... feito de sucesso”.
Declarações de uma responsável da DREN a propósito do incidente no Agrupamento Vertical do Cerco. Ainda bem que o aluno não dirigiu palavras insultuosas ao Eng. Sócrates (Lembram-se do caso Charrua?).

25 dezembro 2008

solstício de inverno

Segundo cientistas e clérigos, Jesus Cristo não terá nascido a 25 de Dezembro. A RTP transmitiu esta notícia com grande destaque, dando eco a um movimento que pretende transformar o Natal numa festa laica.
Alguns intelectuais chegaram até a recordar que muito antes de se festejar o Natal já se festejava o solstício de inverno e que a Igreja Católica apenas reformulou esta tradição.
Este debate não me parece útil. O Natal tem, actualmente, uma carga simbólica positiva. Une as pessoas e as famílias em torno de ideais como o amor ao próximo, a solidariedade, a caridade e até a esperança num mundo melhor. Esperança que está presente em todos os nascimentos.
Voltarmos as costas a este simbolismo e paganizar o Natal não é sensato. Em particular se pretendermos apenas promover a festa e o consumismo. Estaríamos a deitar fora valores e ideais indispensáveis à cultura humana.

think different

24 dezembro 2008

Bom Natal

curia romana

O fim da família tradicional, a ocorrer, será uma das maiores transformações sociais de sempre. Penso que representará também o fim do Fim da História, ou seja, o fim das democracias liberais e capitalistas.
Num discurso recente na Cúria Romana, o Papa Bento XVI alertou para a importância deste fenómeno, sublinhando que as relações heterossexuais tradicionais são de extrema importância para a espécie humana. Bento XVI foi ao ponto de afirmar que a Igreja Católica deve proteger os relacionamentos heterossexuais, para evitar que “o homem se destrua a si próprio”.
Compreendo a preocupação do Papa Bento XVI e estou de acordo relativamente à importância da família tradicional, mas não penso que alguém, ou qualquer instituição, possa balizar o nosso futuro.
Se a família tradicional se extinguir, enquanto célula nuclear, uma nova ordem social emergirá de forma espontânea, embora ninguém à face da terra consiga vislumbrar, por enquanto, os contornos dessa nova ordem.
Sabemos contudo, a priori, que em qualquer cenário, continuaremos a “crescer e a multiplicarmo-nos” e a servir os desígnios de Deus.

PS: Ver post do João Miranda.

23 dezembro 2008

Linguagem religiosa interpretada por ateus

O Papa fez um discurso que metia homossexualidade e florestas tropicais. Vem nos jornais, mas duvido que alguém fique mais informado por causa disso. A generalidade dos jornalistas não tem nem a cultura nem a apetência necessárias para interpretar um texto religioso. É uma barreira cultural intransponível.

o arquétipo do Messias

O arquétipo do Messias deve ser tão antigo quanto a existência humana. O Messias representa o que foi ungido, o que foi eleito por Deus para salvar o mundo. A tribos humanas necessitam de líderes que lhes apontem o caminho a seguir e, em períodos de dificuldade, manifestam o desejo que apareça “alguém que nos salve”.
Os portugueses são particularmente sensíveis a este arquétipo, como se manifesta no Sebastianismo. Penso que é uma predisposição que resulta de um espírito simples que oscila entre o desejo e a fantasia.
Esta predisposição torna-nos vulneráveis aos falsos Messias que prometem o céu na terra e a quem a populaça está disposta a confiar a alma. Ao longo dos últimos anos, muitos falsos Messias nos influenciaram, prejudicando gravemente o País. Talvez de forma irreversível.
Os falsos Messias apelam às características mais reles da natureza humana. Apelam à inveja, à igualdade, à preguiça e à luxúria. Alguns apelam até a falsos Deuses.
A maior responsabilidade de um educador é conseguir que os filhos se tornem pessoas independentes, capazes de pensar pelas suas próprias cabeças e de assumir responsabilidades, sem se deixarem seduzir por cantos de sereia.

Luces de Navidad

FIESTAS, DELICIA, LUZ, CALOR, ESTRELLAS, FELICIDAD, RISA, QUIETUD, REPOSO.

PS: Com a crise que vai em Espanha, este apelo ao repouso... Só se for o eterno repouso!

Foto da Calle Velasquez, em Madrid.

22 dezembro 2008

os pobres que paguem a crise












Jaguar asks for bailout. E a seguir? A Rolls-Royce? A Bentley?

festas de natal

As tradicionais festas de Natal estão a descambar para a ordinarice. Os animadores culturais pensam que estão na queima das fitas a aquecer os meninos-mimados, já etilizados, e vai daí pimba!
Esta tendência, que eu próprio constatei e que me foi confirmada por diversos amigos, é deplorável, especialmente porque as festas de Natal são ocasiões familiares que arrastam sempre a criançada.
Exemplo: Meninos e meninas, as sardinhas são femininas ou masculinas? Masculinas porque diz na caixa que vêm com tomates! Tanta piada... Mas o resto não fica atrás: bananas, Viagra e até uma Capuchinho Vermelho grávida de três meses. É de morrer a rir... Lá no bairro vocês debem ser do carago pá!
Por este andar, é preferível deixar estas reuniões para a populaça. Levem umas becas para preparar os meninos para a universidade.

Banqueiro?


Nos últimos dias, dediquei o meu tempo à leitura da biografia "João Rendeiro, Testemunho de um Banqueiro". Um livro polémico, mais pelo "timing" do seu lançamento - ao mesmo tempo que era conhecida a situação de insolvência do banco - do que pelo seu conteúdo. Trata-se de um diário de vida, dos tempos da faculdade aos primeiros passos no mercado de capitais e, em particular, à descrição da actividade do seu Banco Privado Português (BPP). Não tivesse o livro coincidido com a implosão do banco e o sua edição seria apenas mais um elemento da estratégia do BPP - muito ligada à exposição pública do seu fundador. Em particular desde 2005, ano em que Rendeiro passou de CEO (Administrador Executivo) para Chairman (Presidente) do BPP.

De acordo com os dados da página 158 do livro, entre 1995 e 2005, enquanto Rendeiro foi CEO, o balanço do BPP cresceu à média de 66% ao ano. Quanto ao produto bancário (margem financeira + comissões líquidas + lucros líquidos em operações financeiras), cresceu ao ritmo de 52% ao ano. Entre 2006 e 2007, o crescimento médio do balanço e do produto bancário foram de 31% e 19% ao ano, respectivamente. A rentabilidade média anual do BPP baixou 40%. E quanto à alavacangem do BPP, ou seja, a dimensão do balanço face aos seus capitais próprios, passou de 5,6 vezes para 7,9 - um aumento de 43%. Em suma, menos rentabilidade com mais risco. Uma combinação perigosa, à qual se juntariam mais tarde os investimentos com risco colocados fora do balanço ao abrigo de convenções contabilísticas internacionalmente aceites, mas de prudência discutível.

O modelo de negócio do BPP preconizava três eixos: "Private Banking", "Corporate Advisory" e "Private Equity". Contudo, a paixão de Rendeiro era o negócio da gestão de fundos que tinha iniciado na entidade percursora do BPP: a Gestifundos, que mais tarde haveria de vender ao Totta&Açores para depois constituir o Privado juntamente com novos accionistas (Balsemão, Berardo, Vaz Guedes, Saviotti, Serrenho, entre outros). O modo como, desde 2005, Rendeiro se desmultiplicou em eventos sociais e acções de filantropia leva-me a acreditar que, no momento em que cedeu o poder executivo do BPP, delegou também, pelo menos, parte do controlo sob a gestão dos investimentos realizados pelo banco em nome dos seus clientes.

Antes, João Rendeiro tinha sido um bom gestor de carteiras de investimento. Fez vários bons negócios: na Sonae, na Mundicenter, na Jerónimo Martins, entre outros. Embora, por vezes, a sua actuação estivesse no limiar de potenciais conflitos de interesses. O envolvimento do BPP na negociação de títulos das empresas detidas por alguns dos seus mais importantes accionistas é disso exemplo. Aconteceu assim na SIC de Balsemão, na Somague de Vaz Guedes e na CIN de Serrenho. Onde também fez bons negócios! De resto, um dos segredos de Rendeiro foi a sua rede de contactos, desde os tempos da sua admissão no Ministério da Indústria nos anos 70 ao período em que, no início do anos 80, juntamente com António Violante, ajudou a abrir a primeira representação da consultora McKinsey em Lisboa. Mais tarde, em 1986, criou a Gestifundos, sociedade na qual o Barclays participou com 25% do capital social. Rendeiro soube rodear-se dos parceiros ideais. E quase sempre em seu benefício.

A conclusão que retiro do livro é que, sem dúvida, Rendeiro foi vítima da sua estratégia de crescimento. Como gestor de carteiras, enquadrado numa óptica de boutique financeira como era a Gestifundos, Rendeiro estava nas suas sete quintas. Acutilante, informado e agressivo. Os seus clientes no Unifundo e no Capital Portugal ganharam imensamente. Como banqueiro, obrigado a diversificar áreas de negócio, a utilizar o balanço para alavancar investimentos e a adoptar tácticas comerciais pouco éticas, Rendeiro estava fora de jogo. Por isso, os sucessivos aumentos de capital que o BPP concretizou ao longo dos anos também não devem ter sido um grande negócio para os seus accionistas. E a sua recente queda menos ainda.

Enfim, apesar de discordar da ajuda entretanto concedida, estou convencido que o apoio estatal ao BPP se concretizará numa falência controlada. A dimensão dos problemas, de que as queixas conjuntas de clientes são exemplo, é de tal ordem que só um golpe de sorte - ou de magia - salvará o banco. É que, além da forma como venderam certas aplicações financeiras a clientes pouco sofisticados, a verdade é que seria necessária uma enorme recuperação dos mercados internacionais para que o valor de algumas dessas carteiras voltasse ao ponto de partida. Mas quanto a Rendeiro, depois do necessário período de nojo, estou certo de que voltaremos a vê-lo na ribalta. E, em certo sentido, ainda bem. Desde que não existam situações de crime, como ainda acredito ser o caso, todos merecem uma segunda oportunidade.

21 dezembro 2008

marxist management

Muitos gestores portugueses são comunistas. Deixem-me qualificar melhor esta afirmação, muitos gestores portugueses têm uma visão Marxista da sociedade e da economia. Analisam a sociedade em termos de classes e subscrevem a teoria Marxista da criação de valor.
Esta perspectiva ocorreu-me durante a leitura do livro do Huerta de Soto, que aqui citei, e resulta de observar a postura “confrontacional” de muitas administrações de empresas e o modo rústico como pretendem criar valor para os clientes e para os accionistas.
Para Marx, o lucro resulta da “exploração do homem pelo homem” e portanto é o que se paga a menos a quem produz. Podemos ver este princípio em acção em muitas empresas onde a gestão esmifra os trabalhadores para acrescentar umas décimas ao rendimento dos accionistas. Penso que é um tipo de gestão Marxista, se me é permitido usar esta expressão.
Para a escola Austríaca, a criação de valor não resulta de qualquer exploração. É o resultado da acção humana. Se os gestores portugueses se preocupassem mais em criar valor para os clientes e menos em explorar os trabalhadores, seria melhor para todos. O Marxismo já é péssimo para a classe operária, agora na gestão...

recantos


Um Jaguar, na cidade, pode não ser um meio de transporte mais útil do que um Fiat 600, mas, em termos sexuais, dá acesso a recantos onde não se chega de outro modo.

Adaptado do The Economist desta semana.

Darwin

Darwin passou de moda entre os "bien pensants" devido a excessos eugénicos, racistas e de Darwinistas sociais que usaram as suas teorias para o mal. O Darwinismo parece enfatizar o lado escuro da natureza humana e os socialistas convivem mal com esse aspecto. Contudo somos uma espécie evolutiva. O comportamento humano não faz qualquer sentido se não for analisado à luz da evolução. O evolucionismo não explica apenas o lado escuro, também explica o bem.
...
A natureza humana evoluiu para ser boa e má (a Igreja Católica já sabe isto há 2000 anos) e é também a evolução que permite à própria natureza humana discernir a diferença.

The Economist
PS: Nem sempre leio o Economist, por ser uma revista hiper, giga, mega, tona politicamente correcta, mas este número vale a pena.

of the year


The best of the year.

20 dezembro 2008

uma ironia



No país que é frequentemente apontado como o campeão da democracia, da liberdade e da igualdade de direitos - a Inglaterra -, é certamente uma ironia que continue em vigor uma lei de há trezentos anos que impede um católico de ser Chefe de Estado.

está desvendado



O mistério sobre o repentino aumento de capital da CGD, no valor de mil milhões de euros, anunciado esta semana pelo Governo, está desvendado.

Segundo o Expresso, A Caixa foi ao mercado internacional solicitar um empréstimo de 2 mil milhões de euros e só conseguiu pouco mais de metade (1.25 mil milhões), e pelo que conseguiu pagou um elevado spread (1.9%). Tudo isto, apesar da Caixa ser um banco público e ir armada de um aval do Estado.

A situação está a ficar negra. Basta imaginar o que estará a suceder aos bancos privados que têm de ir ao mercado internacional renovar os empréstimos que contrairam no exterior.

10 motivos 10

10 motivos para pedir um empréstimo ao Estado:

1. Fui a o Totta e mandaram-me bugiar.
2. O bacalhau está caro.
3. Tenho dinheiro para o bacalhau, mas não sobra para o alho.
4. Tenho as quotas do partido em atraso.
5. Perdi dinheiro em acções do BCP.
6. O BPP não me paga o que deve.
7. Já tenho o Magalhães e preciso de ligação à Net.
8. Não recebi o reembolso do IRS.
9. Comeram-me e não me pagaram.
10. É pró tintol!

governo de porta aberta



Os funcionários públicos e reformados do Estado que caiam numa "situação de emergência" em virtude de um acontecimento inesperado - como um aumento súbito da renda, da prestação da casa ou morte do cônjuge por exemplo - vão poder candidatar-se a um empréstimo do Estado a partir da próxima segunda-feira.

PS: Não seja TOTÓ, não é preciso ir ao TOTTA!

génesis

Poderemos enunciar alguns princípios apriorísticos em biologia? Certamente que sim. O primeiro é que todas as formas de vida procuram “crescer e multiplicar-se”.
Crescer significa que os organismos vivos são capazes de sintetizar os seus próprios componentes e que o fazem mais depressa do que os catabolizam. Isso revela que têm capacidade para aumentar a sua massa.
Ao crescerem, os organismos vivos replicam-se, ou reproduzem-se, por divisão simples (cissiparidade) ou de forma sexuada. Trata-se de um processo que depende do crescimento e que podemos interpretar como uma tentativa de sobreviver ao tempo.
Se os seres vivos não crescessem e se multiplicassem cessariam de existir porque veriam a sua entropia aumentar até se decomporem. Podemos portanto afirmar que todas as formas vivas crescem e se multiplicam.
Este princípio, a priori, pode ser deduzido logicamente, da própria definição de vida e da análise do que a distingue dos seres inanimados. Quando afirmo que nós, enquanto Homo Sapiens, temos por principal finalidade crescermos e multiplicarmo-nos estou apenas a reiterar que somos elementos da biomassa da terra, sujeitos às suas leis imutáveis.
Qualquer um de nós pode escolher para si o destino que muito bem entender, mas não se pode furtar a este princípio a priori que aqui enunciei, sob pena de renunciar à vida. Quem não apreender que “crescermos e multiplicarmo-nos” é essencial para a existência humana é natural que possa ser considerado confuso.

19 dezembro 2008

Paternalismo liberal


É evidente que os seres humanos têm vícios e fraquezas. Estão sujeitos a limitações cognitivas que os impedem de tomar as decisões que melhor servem os seus interesses. Pode-se argumentar que pessoas com vícios e fraquezas acabam por se prejudicar a si próprias se forem completamente livres. Há por isso quem defenda que a liberdade individual deve ser limitada para proteger as pessoas dos seus próprios vícios. Este raciocínio está na base dos impostos sobre o vício, das campanhas contra a obesidade e da legislação que obriga ao uso do cinto de segurança. Os paternalistas acabam por defender que é necessário limitar a liberdade individual para que as pessoas sejam efectivamente livres. Esta ideia é criticada por Gary Becker neste post. Becker explora as evidentes contradições do chamado paternalismo liberal notando que a vontade individual não pode ser aferida por terceiros, que o paternalismo reduz a capacidade de cada uma para cuidar de si próprio e que os burocratas que implementam as políticas paternalistas estão sujeitos às mesmas limitações cognitivas que os restantes mortais.

Gary Becker usa a metáfora do "eu forte" e do "eu fraco". O "eu forte" é um "eu" racional que resiste à tentação. O "eu fraco" é  um "eu" que cede às tentações. Quando o "eu fraco" prevalece, o indivíduo cede às tentações. Como os custos de longo prazo de ceder à tentação suplantam os ganhos de curto prazo, o indivíduo é globalmente infeliz. O paternalismo estatal visa reduzir os ganhos de curto prazo de ceder à tentação punindo dessa forma os comportamentos do "eu fraco". O paternalismo Estatal tem-se tornado inevitável porque as religiões tradicionais, que costumavam desempenhar esse papel, entraram  em declínio.  As religiões tradicionais são instituições que premeiam o "eu forte". Os indivíduos são convencidos de que se seguirem uma via virtuosa, isto é, se suprimirem o seu "eu fraco", terão ganhos de longo prazo atribuidos por Deus. As religiões são, portanto, uma forma de introduzir um elemento que reforça o peso do longo prazo no conflito entre o "eu forte" e o "eu fraco". É claro que o truque só funciona se o indivíduo acreditar na existência de Deus e na vida eterna. A ideia de que Deus não existe torna inevitável o aparecimento de sucedânios de pior qualidade, como é o caso do Estado.

o custo da trapalhice


A taxa de juro das obrigações do Estado alemão a dez anos está em 3%. Este é o preço que os investidores cobram ao Estado alemão para o financiar. A Alemanha é o baluarte da confiança na Europa. Todos os outros Estados europeus pagam mais de 3% para se financiarem, e a diferença é o spread (ver aqui). O spread para Portugal é 1%, isto é, o Estado português paga 4% ao ano (33% mais que a Alemanha) para se financiar a dez anos nos mercados internacionais e a Grécia, com um spread de 2.3%, paga mesmo 5.3%, quase o dobro da Alemanha.
.
O spread de 1% que neste momento se aplica a Portugal é uma medida da desconfiança relativa que os investidores nutrem por Portugal face à Alemanha e tem vindo a aumentar. A minha questão neste post é a seguinte: quanto custa anualmente aos portugueses essa desconfiança relativa? As contas são fáceis de fazer: basta aplicar o spread de 1% à dívida externa portuguesa que é de 344 mil milhões de euros (ver aqui). O resultado é 3.44 mil milhões de euros (cerca de 700 milhões de contos).
.
Por outras palavras, por não serem pessoas tão fiáveis como são os alemães, os portugueses pagam anualmente aos seus credores estrangeiros um prémio de 3.44 mil milhões de euros, ou 2% do PIB. São 344 euros por cabeça e por ano, o custo da trapalhice.

irresponsáveis



Na minha opinião, o governo deve proibir a anunciada greve da TAP, alegando interesse público. Não o fazer é demitir-se das suas responsabilidades.

confusão mental

Para escolhermos entre diversas interpretações incompatíveis da realidade necessitamos de teorias ou, pelo menos, de proposições teóricas que não dependam da experiência histórica e que possam ser estabelecidas "a priori", uma vez por todas, através da apreensão intelectual ou da compreensão da natureza das coisas.
Exemplos do que eu entendo por teorias a priori são: Nenhuma entidade material pode estar em dois locais ao mesmo tempo. Dois objectos não podem ocupar o mesmo espaço. Uma linha recta é o espaço mais curto entre dois pontos, etc.
Exemplos de teorias a priori também abundam nas ciências sociais, em particular na economia política e na filosofia: A acção humana é a prossecução voluntária de fins valorizados com recursos escassos. Ninguém pode voluntariamente deixar de agir. Uma quantidade maior de um bem tem mais valor do que uma quantidade menor. O consumo no presente tem mais valor do que o mesmo no futuro. A produção tem de preceder o consumo.
E ainda: Sem a propriedade privada dos meios de produção não é possível conhecer o preço desses meios e sem conhecer o preço dos meios de produção a contabilidade de custos não é possível. Os impostos são uma limitação aos produtores ou donos de riqueza e reduzem a produção ou a riqueza abaixo do que seria sem impostos. A democracia (governo da maioria) é incompatível com a propriedade privada (propriedade e respectivo governo individual).
Qualquer pessoa que considere necessário testar estas proposições ou que alegue “factos” que as contradigam está confusa.


Hans-Hermann Hoppe
Economista político da escola Austríaca e filósofo.

Nós, os Portugueses


"Quando aplicada a nações, a abordagem psicologizante é desagradável. Engraçados, estes estereótipos mais não são do que caricaturas apropriadas para charlas: os belgas seriam maçadores, os franceses chauvinistas, os alemães eficientes, os escoceses forretas, os espanhóis barulhentos, os irlandeses bêbados, os ingleses fleumáticos, os suecos frios, os gregos hirsutos e, segundo a versão pós moderna, os portugueses teriam medo de existir."

(...)

"A única maneira de sabermos o que realmente significa ser português é através do estudo da História, coisa que, a avaliar pelo estado em que se encontram os nossos arquivos, interessa a poucos. Às vezes, interrogo-me se tal desprezo se deve ao facto de a nação ser velha e de, portanto, não ter necessidade de se pôr em bicos dos pés, ou de ser, pura e simplesmente, indolente. Não é assunto menor, uma vez que, tal como sucede no caso de uma pessoa, a memória de uma nação é a base da sua identidade. É por isso que considero que, sem uma historiografia rica, viva e polémica, o debate sobre as características nacionais é um imbecilidade".

Maria Filomena Mónica em "Nós, os Portugueses" (págs. 88, 89 e 90).

E assim concluo as transcrições desta interessante colecção de crónicas. Embora nem sempre de acordo, no geral, apreciei a sua sensatez e frontalidade.

18 dezembro 2008

PIB - PPP per capita (Portugal vs. Finlândia)


Fonte: Gapminder

Uma perspectiva diferente, mas muito discutível.


"O debate sobre o atraso nacional é antigo. Desde pelo menos o século XVIII, que ocupa, de forma obsessiva, a intelectualidade lusa. Quem quiser ter um sumário do que os espíritos esclarecidos de oitocentos pensavam, poderá ler o panfleto "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares dos Últimos Três Séculos", a transcrição da palestra que, a 27 de Maio de 1871, Antero de Quental proferiu nas chamadas Conferências do Casino. Para ele três eram as causas: o Concílio de Trento (a Religião Católica), o Estabelecimento do Absolutismo (a destruição das liberdades locais) e o Desenvolvimento das Conquistas Longínquas (os Descobrimentos). A certa altura, dizia: "Assim, enquanto as outras Nações subiam, nós baixávamos." Como se vê, a polémica tem pergaminhos. (...) A última moda consiste em comparar Portugal com a Finlândia, tida como um país pobre que enriqueceu subitamente. Mas quem conheça um pouco de História saberá que aquele país se desenvolveu por, desde há muito, ter uma agricultura mais produtiva que a portuguesa. Em 1850, o PIB per capita de Portugal e da Finlândia não era diferente. Mas em 1914, o PIB português baixara para metade do finlandês. Não foi a Nokia que catapultou a Finlândia para o país dos ricos."

Maria Filomena Mónica em "Nós, os Portugueses" (págs. 75 e 76).

Para poder concordar, ou não, gostava apenas de saber onde é que a autora foi buscar os números referentes ao PIB da Finlândia em 1850, sobretudo, tendo em conta que na altura ainda nem sequer se tratava de um país independente.

en passant


A forma como o Estado tem dado o dinheiro dos contribuintes aos bancos e às grandes empresas em dificuldades nos EUA e em Portugal ilustra bem a diferença entre a cultura democrática existente entre os dois países.

Nos EUA os presidentes dos bancos e das grandes companhias são chamados ao Congresso a responder perante os representantes da Nação porque precisam do dinheiro, qual a situação das empresas, quais as razões que levaram a esta situação, se o dinheiro que pedem resolve todos os problemas ou se é apenas uma primeira prestação de muitas outras a seguir no futuro. Muitos saem de lá merecidamente humilhados, com dinheiro do contribuinte ou sem dinheiro do contribuinte, como sucedeu com a indústria automóvel. Neste último caso, foram mesmos as inquirições televisionadas no Congresso aos responsáveis da indústria (CEO's, dirigentes sindicais, experts, etc.) que criaram o consenso na opinião pública de que nenhuma ajuda deveria ser concedida.

Em Portugal tudo é diferente. O primeiro-ministro aproveitou ontem a sua ida quinzenal à Assembleia da República para anunciar en passant que o Estado vai injectar mais mil milhões de euros na CGD. Nenhuma explicação, nem perante os representantes da Nação, muito menos perante os contribuintes. Estes, pagam e calam. Ficam sem saber quais as causas desta necessidade repentina da Caixa por mais capital; ficam sem saber se outros aumentos de capital vão ser necessários no futuro (este ano já foram feitos três), ou se este resolve todos os problemas; ficam, enfim, sem saber quais os actos de gestão que conduziram à presente situação e que medidas os responsáveis da Caixa estão dispostos a adoptar para os prevenir no futuro e reestruturar a instituição (vg., redução dos vencimentos da administração, redução das pensões de reforma concedidas, etc.) Atiram-se mil milhões para a Caixa como se poderia ter atirado muito mais ou muito menos, e nada se exige da administração em contrapartida, pelo menos que seja público.

No meio desta displicência, apenas um elemento tranquilizador. Questionado pelos jornalistas, o Presidente da Caixa afirmou que este ano não haverá necessidade de mais aumentos de capital. Como ainda faltam duas semanas para o final do ano, todos os cidadãos contribuintes podem passar o Natal em paz.

boxed







Em face destas (desta e desta) notícias, se a Caixa Geral de Depósitos conceder empréstimos com um spread inferior a 2,25% (atribuí 0,5% para custos bancários) estará a practicar dumping ou a fazer favores a amigos. Correcto?

Violência escolar (II)


"O problema da violência na escola tem uma explicação raramente focada. Nos anos 1950, quando apenas 13% dos jovens permanecia na escola após a 4ª classe, a cultura que se vivia no então chamado ensino secundário - do actual 5º ao 12º anos - era semelhante à que reinava nas famílias. A mortalidade escolar encarregava-se de libertar as escolas dos filhos dos pobres. Tanto os pais como os professores pertenciam à mesma classe. (...) Era fácil ser-se pai e docente. Nas décadas de 1970 e 1980, os adolescentes passaram a contestar com crescente virulência, a autoridade. (...) A indisciplina tornou-se a nota dominante. Hoje, quem carece de estímulo à auto-estima, não são os meninos, mas os adultos."

Maria Filomena Mónica em "Nós, os Portugueses" (página 66).

Exactamente. A origem da situação actual está nas teorias inclusivas e na incapacidade de alguns pais que foram educados ao abrigo dessas experiências educativas.

Violência escolar


"Não vejo uma solução fácil para o problema [a violência na escola moderna]. A esquerda continua a defender que as crianças são como as flores; a direita que tudo se resolve com um par de bofetadas. (...) Muitas das crianças que hoje frequentam a escolaridade obrigatória não são capazes de estar sentadas durante mais de quinze minutos; não suportam um revés, sem se insubordinarem; provêm de um mundo de tal forma esquálido que o esforço que o estudo exige se lhes parece inútil. O reconhecimento de que parte da violência escolar tem causas de natureza social não me leva a ser complacente com o mau comportamento nas escolas de aula. Vítimas, ou não, os alunos devem ser julgados pelos seus actos, não pelos seus traumas.", Maria Filomena Mónica em "Nós, os Portugueses" (página 66).

Ora, nem mais. É assim mesmo que tem de ser. A alternativa é o caos - como, infelizmente, podemos hoje constatar.

as brincadeiras dos meninos


O aperto do crédito vai ser a fonte de todos os apertos em Portugal nos próximos anos. Dos quinze países da zona euro, pior do que Portugal estão apenas a Itália e, sobretudo, a Grécia.

Nos últimos três meses, os spreads pagos pelas instituições portuguesas para se financiarem no estrangeiro - aqui exemplificados pelo títulos da dívida a 10 anos do Estado português - praticamente duplicaram. Na Grécia, a situação ameaça a ruptura, depois da contestação social recente, e ilustra quanto estão a custar aos seus concidadãos as brincadeiras dos meninos universitários gregos.

oh tio! ... oh tio!...



Como resulta do meu post anterior, os portugueses que vão ser mais afectados pela crise actual são aqueles - pessoas e empresas - que até aqui viveram do crédito fácil e barato. Entre eles, estão os próprios bancos portugueses.

Na realidade, os bancos portugueses andam actualmente nos mercados internacionais oh tio!.. oh tio!... a ver quem lhes empresta dinheiro. Não o conseguem com facilidade, mesmo exibindo avales do Estado, porque os mercados estão quase paralisados e, sobretudo, muito desconfiados - e, quando o conseguem é a taxas de juro que são crescentemente penalizantes. É esta mensagem que, do outro lado da sua actividade, os bancos transmitem aos seus clientes, pessoas e empresas: Não há crédito para ninguém, e, se houver, é com garantias cada vez mais exigentes e spreads cada vez mais elevados até se tornarem proibitivos.

BMW's



Admitamos que os portugueses decidem comprar BMW's à Alemanha, mas nada produzem e, portanto, não têm nada em troca para vender para lá. Portugal vai ter um défice na BTC. Para comprarem os BMW's os portugueses vão ter de se endividar e, para o efeito, vão junto dos seus bancos para obterem crédito. Porém, os bancos portugueses concedem crédito com os depósitos que recebem. Ora, se os portugueses, por hipótese, não produzem nada, não têm dinheiro, e por isso também não têm depósitos. A única maneira de os bancos portugueses lhes concederem crédito para a compra dos BMW's é os próprios bancos contrairem crédito junto de bancos estrangeiros ou outras instituições estrangeiras. O défice da BTC conduz directamente ao endividamento externo dos bancos portugueses. Este é o ponto que deixei em aberto no meu post anterior.

Nas condições propositadamente exageradas deste Portugal imaginário, as pessoas vivem acima das suas possibilidades - não produzem nada e andam de BMW. Estes portugueses estão endividados perante os bancos do seu país, e os bancos do seu país estão endividados perante os bancos estrangeiros. Admitamos agora uma crise financeira séria que seca os mercados internacionais de crédito. Os bancos estrangeiros deixam de emprestar aos bancos portugueses e estes deixam de emprestar aos seus clientes para adquirirem BMW's. Os portugueses são obrigados a reduzir drasticamente o seu nível de vida - não podem comprar mais BMW's - e o que os leva a isso é o corte drástico na concessão de crédito por parte dos bancos.

O corte drástico na concessão de crédito por parte dos bancos. É daqui que virá o aperto que obrigará os portugueses a viverem de novo de acordo com as suas possibilidades. Esse corte drástico no crédito já está aí. Vai durar e vai ser duro.

acima das suas possibilidades


Os portugueses têm andado a viver ao longo dos últimos anos acima das suas possibilidades. Esta frase tem sido utilizada tantas vezes e em tantos contextos que quase se tornou um slogan político, e ninguém hoje lhe atribui muita importância. O meu propósito neste post é o de analisar se a afirmação é falsa ou verdadeira, e, no segundo caso, fundamentar a verdade.

A afirmação é, de facto, verdadeira. E o indicador que lhe confere veracidade é o défice da Balança de Transacções Correntes (BTC). A BTC regista do lado positivo (crédito) os bens e serviços que nós produzimos e vendemos ao estrangeiro (as chamadas exportações, como vinho, sapatos, prestações de serviços de transporte pela TAP, etc.) e ainda aquilo que recebemos do estrangeiro a título de rendimentos (lucros de empresas portuguesas operando no estrangeiro, juros de empréstimos feitos por instituições portuguesas a estrangeiros, mais as transferências unilaterias feitas a favor de Portugal, como as remessas dos nossos emigrantes no estrangeiro e as dádivas da União Europeia a Portugal). Do lado negativo (débito), registam-se os movimentos opostos: importações de bens e serviços do estrangeiro e rendimentos pagos ao estrangeiro.

No caso português, o lado negativo (débito) é maior que o positivo (crédito) e o défice, medido em percentagem do PIB, é estimado em 12% este ano - uma valor consideravelmente elevado pelos padrões dos economistas e, na zona euro, só excedido pelo da Grécia (16%). O défice significa que nós adquirimos ao estrangeiro mais do que aquilo que produzimos e vendemos para lá. É como se uma família decida persistentemente consumir acima dos seus rendimentos. Esta família vai ter de se endividar.

E assim também o país, que fica endividado perante o exterior. As estatísticas do endividamento externo português relativas a Junho de 2008 indicam que a dívida externa de Portugal é de 344 mil milhões de euros, cerca de 200% do PIB. Tal significa que os portugueses precisariam trabalhar dois anos, sem verem um cêntimo, só para pagarem aquilo que devem ao estrangeiro. Deste total, 90 (26%) é dívida do Estado, 189 (55%) é dívida dos Bancos e 65 (19%) é dívida de outras instituições (v.g., grandes empresas, como a PT, Galp, etc.).

Tem-se colocado muito ênfase na dívida do Estado ao estrangeiro. Porém, muito mais grave nas circunstâncias actuais é a dívida dos Bancos portugueses ao estrangeiro (normalmente, uma dívida perante bancos estrangeiros e outros investidores institucionais estrangeiros), a qual representa, de resto, o grosso do endividamento externo do país. Existe uma relação entre o défice da BTC e o endividamento externo dos bancos portugueses? A resposta é afirmativa e as consequências desse endividamento, nas condições actuais, podem tornar-se explosivas (cf. próximo post).

como castelos de cartas


O aumento de capital da CGD anunciado ontem pelo primeiro-ministro, no valor de mil milhões de euros, é o terceiro este ano. Juntando aos três aumentos de capital uma compra do Estado à CGD de acções da Refer e das Águas de Portugal realizada há poucos meses, e que teve o mesmo propósito - capitalizar a CGD - o Estado já injectou este ano na CGD cerca de dois mil milhões de euros.

A principal conclusão é a de que a CGD tem sido gerida ao longo dos últimos anos com a mesma prudência, ou falta dela, que a generalidade dos outros bancos e, não fosse um banco público de raiz, e já estaria nas mãos do Estado a esta hora. Aliás, a minha convicção é a de que a generalidade dos bancos portugueses, com a possível excepção do BES - o único que pertence a uma família de banqueiros genuínos - acabarão, mais cedo ou mais tarde, nas mãos do Estado para evitarem a insolvência.

A crise financeira, e a situação em que se encontram a generalidade dos bancos portugueses e estrangeiros, tem sido atribuída ao chamado risco sistémico. Esta é uma explicação conveniente para esconder aquilo que, na minha opinião, e na maior parte dos casos, foi uma monumental incompetência dos banqueiros. Que o sistema económico está sujeito a crises - daí advindo um risco sistémico - todos o sabem, e os banqueiros deviam sabê-lo em primeiro lugar. E, por isso, eles deveriam ter feito prova de prudência suficiente na gestão das suas instituições, poupando e constituindo reservas nos anos dourados para fazer face às dificuldades esperadas nos anos de crise.

Não o fizeram. Geriram os seus bancos como se não houvesse risco, como se a era da abundância tivesse chegado para sempre, como se cada ano tivesse que ser sempre melhor que o anterior,e o resultado está à vista. Em apenas três meses, quando a crise está ainda longe de conhecer o seu pior, muitos desses bastiões de confiança que são os bancos esfarelaram-se como castelos de cartas. Incompetência de gestão - e não mero risco sistémico - é o que é.

prole

A população portuguesa não se reproduz o suficiente porque são uma cambada de meninos-mimados que não estão dispostos a fazer quaisquer sacrifícios por objectivos de longo prazo.
Existem dificuldades económicas e problemas sociais, mas essas não são as principais razões. A taxa de natalidade desce enquanto o PIB sobe. O que se passa é que todos olham para o custo de oportunidade de ter filhos e optam pelos écrans de plasma, pelas féria em Cuba ou em Fortaleza, ou por uma nova consola da WII.
Ora como os recursos são escassos (para todos) e ter filhos, ainda por cima, dá trabalho, os portugueses facilitam. Resignam-se a pastar sem deixar descendência. Esta atitude, focada sobretudo no curto-prazismo, constitui uma ameaça grave à sobrevivência da tribo lusitana.