30 setembro 2008

old europe



Os países da Europa, e os seus Governos, estão a lidar com a crise bancária de uma forma consideravelmente mais rápida, sóbria e eficaz do que os EUA.

the enabler


Derrotada


A propósito da votação falhada de ontem, não foi apenas Paulson que foi posto em causa. Também a senhora Nancy Pelosi ficou muito mal na fotografia. Talvez tenha sido até a maior derrotada em todo este processo. Há até quem diga que foi o seu discurso, antes da votação, em que hostilizou a administração Bush, que acabou por inviabilizar a aprovação do projecto lei. Enfim, politiques!

small is beautiful

O que é que mudou tão substancialmente com o Chicxilub XXI que nos permite falar de um novo paradigma económico. O acesso ao crédito!
Os tempos do crédito fácil terminaram no dia 15 de Setembro e essa mudança afecta o modelo de negócios de tantas empresas que é legítimo falar-se de um novo paradigma.
O crescimento económico dos últimos anos baseou-se, por excelência, no crédito bancário. Crédito que permitia um crescimento rápido das empresas e a obtenção de economias de escala que destruíam os concorrentes e deixavam os mercados na mão de verdadeiros oligopólios.
Neste processo, a burguesia foi sendo trucidada até se tornar uma espécie em vias de extinção. Emergiu uma nova aristocracia financeira, a par de uma grande massa indiferenciada e sem esperança. Com o novo paradigma as regras do jogo mudaram e vão surgir oportunidades para as pequenas e médias empresas de raiz familiar. É o regresso do “charme discreto da burguesia”.
O “small is beautiful” vai estar na moda outra vez, assim como a necessidade de conhecer pessoalmente os clientes e avaliar os riscos caso a caso.

29 setembro 2008

A man is in charge



A crise bancária que teve origem nos EUA e rapidamente se propagou à Grâ-Bretanha, chegou hoje à Europa continental. Holanda, Bélgica, Islândia, Alemanha são, para já, os países afectados. Por outras palavras, a crise teve origem, e afectou sobretudo até ao momento os países protestantes.

Nos países predominantemente católicos do sul da Europa - Portugal, Espanha, Itália - ainda não há bancos a ir à falência. Pode ser que eles venham a ser tocados pela crise, mas as consequências serão aqui menores. A razão é que a gestão dos bancos nestes países, como das outras instituições, é altamente personalizada, um benefício claro da cultura católica na prevenção e gestão das crises. A man is in charge.

a quem?

Barack Obama pede calma aos mercados.

Irresponsáveis


O Congresso norte-americano escolheu uma péssima altura para brincar ao "liberalismo". Durante décadas a fio, fecharam os olhos e permitiram que o FED e o Tesouro criassem este monstro. E, agora, deram numa de padrecas!

Eu quero ver o que sucederá nas ruas de Londres, Nova Iorque, ou até mesmo de Lisboa, se os bancos destarem a ruír em catadupa, como poderá estar prestes a acontecer em face da irresponsabilidade política do Congresso norte-americano. É bom que alterem esta votação e que cheguem a uma solução de compromisso, caso contrário, não haverá FDIC que nos valha.

Enfim, "The right to bear arms" volta a fazer sentido.

chumba


Congresso chumba o plano de emergência da Administração Bush. O mercado reage assim.
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Bolsa de S. Paulo suspende sessão, atingindo a queda-limite de 10%.

astrologia

"Crise vai durar 12 a 18 meses."

espreita


O crash espreita nas bolsas da Europa. Wall Street que abre às 14:30 (hora de Lisboa) irá decidir se é hoje. O mercado de futuros sugere neste momento que Wall Street abrirá em queda de cerca de 2%.

chicxulub XXI

Chicxulub ( tʃikʃu'lub ) é um termo Maya que significa “o rabo do diabo” e é também uma cidade mexicana da península do Yucatan, com cerca de 5.000 habitantes. A importância desta pequena cidade advém de estar no centro geográfico da grande Cratera de Chicxulub, o ponto de impacto de um asteróide que atingiu a terra há cerca de 65,5 milhões de anos e que, segundo Walter Alvarez, terá estado na origem da extinção dos dinossauros.
Este evento iniciou-se a muitos milhares de quilómetros de distância, na cintura de asteróides, algures entre Marte e Júpiter, e resultou da fractura do asteróide Baptistina de que um fragmento viria a atingir o nosso planeta. A importância deste evento, em relação a todos os outros asteróides que já atingiram a terra, é que afectou de tal modo a flora e a fauna terrestres que a partir daí nada ficou como dantes.
Com as devidas diferenças, parece-me que estamos a atravessar um evento de grande impacto global, com a actual crise financeira. Muitos acontecimentos que se foram aglomerando, ao longo dos últimos 20 anos, e que, no dia 15 de Setembro de 2008, atingiram Wall Street com a força de um asteróide gigante. Escolhi o dia 15 de Setembro, como marco, porque foi nesse dia que o banco Lehman Brothers declarou falência. Um banco com cerca de 150 anos de história e US $639 biliões de dólares em activos (o pacote Bush/Paulson é de US $700 biliões).
Nada continuará como dantes, após este Chicxulub financeiro (vou-lhe chamar Chicxulub XXI). Todo o processo de globalização irá ser afectado. As economias nacionais, as instituições da sociedade civil e até as funções tradicionais do Estado, serão forçadas a “evoluir”. Estamos no limiar de um novo paradigma.
O grande desafio que se coloca agora aos visionários é o de descobrirem as rotas do futuro. Tal como os dinossauros foram extintos há 65,5 milhões de anos, muitas empresas deixarão de ter viabilidade. Por exemplo, acabaram os bancos de investimento (uma espécie de dinossauros), tal como os conhecíamos. Mas surgirão novos negócios e oportunidades.
Esta é a altura certa para nos dedicarmos a vislumbrar o novo mundo que aí vem. Por enquanto o futuro parece incerto e repleto de perigos, como outrora o Mar Oceano para os descobridores, mas nunca nos faltou “tesón” para a aventura. Como é que Portugal se pode posicionar para prosperar neste novo paradigma? Como é que cada um de nós pode contribuir? É a altura de adoptarmos o Espírito dos Descobridores e de partirmos à conquista.

28 setembro 2008

a primeira


A primeira grande vítima na Europa continental: O Grupo financeiro Fortis é nacionalizado pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo através de uma injecção de 11 biliões de euros de dinheiro dos contribuintes. (Ver desenvolvimento aqui).

no blank cheque


À medida que são conhecidos os primeiros detalhes do plano de emergência americano para o sector financeiro, por exemplo, aqui (cortesia João Miranda), a minha reacção é a seguinte. O secretário do Tesouro, Henri Paulson, tinha pedido ao Congresso um cheque em branco de $700 biliões. Aquilo que o Congresso lhe deu é uma coisa muito mais modesta: $250 biliões para já e o resto logo se vê. E com condições, a mais difícil de cumprir é a de que as instituições intervencionadas dêem garantias, ou comprem seguros que garantam, que o dinheiro dos contribuintes não será esbanjado. Outra condição importante é que o Estado ficará accionista de todas as instituições intervencionadas significando que elas ficam, pelo menos em parte, nacionalizadas. São também proibidas, ou severamente limitadas, compensações por despedimento aos gestores das instituições intervencionadas.(*)

O plano será anunciado hoje à noite antes da abertura dos mercados asiáticos e dos mercados americanos de futuros em Chicago. Estes mercados darão a primeira indicação de como o plano vai ser recebido amanhã na Europa e em Wall Street. Eu não estou optimista porque penso que o mercado estava à espera do cheque em branco, no strings attached.
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(*) Se estes homens ficarem sem dinheiro para habitação, não se atrapalhem. Procurem conhecer um político português. Ele arranja uma casita em Lisboa com renda camarária.
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Actualização às 23:30: Os futuros sobre os principais índices bolsistas americanos, Dow Jones, S&P500 e Nasdaq, abrem ligeiramente em baixa em Chicago indicando, neste momento, uma abertura em baixa amanhã na Bolsa de Nova Iorque. O mercado não está impressionado com o plano de emergência negociado no Congresso.

on edge


Chiu!


Como o Joaquim sugeriu aqui isto resolve-se chamando a polícia.

ao domingo


Nacionalizado ao domingo.

depois vem o Estado


... depois vem o Estado e compra aos bancos os empréstimos concedidos aos clientes, e que estes não pagaram. Os bancos voltam a ter dinheiro para honrar os depósitos. O Estado fica com os créditos sobre os clientes relapsos dos bancos, na esperança que estes um dia lhe paguem.
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Como é que o Estado arranjou o dinheiro? Fabricou-o, usando papel e ar como matéria-prima. Está resolvida a crise financeira? Não, mas é um alívio por algum tempo. Porque $700 biliões não vão chegar. Nem de longe

dançar o tango



Recentemente, tem-se discutido muito sobre a responsabilidade do sector privado e do Estado na actual crise financeira. De quem é a culpa? A resposta certa é - de ambos. Trata-se de um caso típico de serem necessários dois para dançar o tango.

Considere o meu exemplo anterior. O sector privado (bancos) tem interesse em que as reservas obrigatórias sobre os depósitos sejam mínimas, pois quanto menores elas forem mais os bancos podem emprestar recebendo juros por esses empréstimos, os quais constituem os seus lucros. E as entidades reguladoras (Estado) têm-lhes feito a vontade reduzindo as reservas obrigatórias a níveis insignificantes que, nalguns casos, são literalmente zero.

27 setembro 2008

O que espera?




O que espera aconteça a um banco, no caso de uma corrida por parte dos seus depositantes, por mais pequena que seja, quando, por lei, ele é obrigado a manter apenas os seguintes níveis de reservas de caixa em percentagem dos seus depósitos?
Grâ-Bretanha e outros
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Considere um banco da zona Euro. A taxa de reservas obrigatórias é de 2% para a generalidade dos depósitos (e zero para depósitos a prazo superiores a dois anos). As pessoas vão lá depositar 100. O banco guarda 2 em caixa para fazer face aos levantamentos diários, e empresta os restantes 98. Empresta, por exemplo, a clientes para compra de casa. Acontece que estes clientes não pagam os empréstimos. Suponha agora que os depositantes aparecem lá para levantar os 100. O banco só tem 2. Está falido.

previsões

Nassim Taleb é um académico libanês, doutor em probabilidade e estatística, professor de Ciências da Incerteza em Massachusetts, que, ao longo dos seus 48 anos de vida, teve as mais altas responsabilidades em importantes bancos sediados em Wall Street. Num artigo que hoje a Veja publica, Taleb garante que praticamente só tem uma certeza sobre o mercado financeiro: a de que tudo é incerto e nada pode ser garantido por antecipação. Ele estudou, nos últimos vinte anos, a evolução da economia americana e garante que «27000 das principais previsões feitas pelos economistas nesse período não se confirmaram». Taleb compara a futurologia económica e política à astrologia, e refere que o grande problema é que é sobre ela que os governos tomam decisões e planeiam as suas políticas. Ele deixa uma recomendação aos governantes: «não façam políticas públicas fiando-se em previsões». Infelizmente, todos os políticos as fazem. A própria natureza da política estaria em causa, se o não fizessem. Mas é aí, e não no mercado, que reside a origem das más decisões e é delas que resultam as consequências nefastas para a vida de todos nós. Por essa razão, os liberais de sempre não se cansaram de advertir para os perigos do governo, quando ele dispõe de meios legais e técnicos para decidir para além do que é humanamente possível prever. Muito pouco, ou quase nada, como Taleb demonstra.

um saco



No seguimento do post anterior, o que acontecerá na situação extrema de os cidadãos americanos entrarem em pânico e fizerem uma corrida generalizada aos depósitos que possuem nos big five bancos comerciais?

Como referi, os bancos possuem apenas uma pequena percentagem dos depósitos em reservas de caixa. A maior parte dos depósitos estão aplicados em empréstimos ou outros activos e que os bancos não podem converter rapidamente em dinheiro para honrar os seus depósitos.

Neste caso, o governo americano, através do seu banco central (Fed) fabricará notas que emprestará aos bancos para estes fazerem face aos levantamentos por parte dos depositantes. Se o pânico fôr estancado rapidamente, as consequências serão menores. Porém, se o pânico fôr maciço, prolongado e persistente, uma inflação monstruosa será o resultado, acompanhado de um crash na bolsa, da falência de milhares de empresas e de milhões de trabalhadores no desemprego - uma depressão económica.

E na Europa? O mesmo cenário, apenas com um pouco menos de intensidade. Quando sair à rua para comprar o jornal terá de levar um saco cheio de notas e o saco que levará amanhã será muito maior que o saco que leva hoje.

dramática


A crise financeira nos EUA tem vindo a agravar-se numa escalada impressionante. Já vários bancos foram à falência este ano nos EUA. Eram pequenos bancos com um âmbito meramente local ou estadual. A falência do Washington Mutual na última quinta feira é um novo e derradeiro marco. A crise passou a devorar também os bancos comerciais. Como mencionei no meu post anterior, na próxima segunda-feira o Wachovia, o sexto maior banco comercial americano, poderá já não existir.

Até aqui a crise tinha devastado os bancos de investimento. Não é fácil em Portugal dar um exemplo de um banco de investimento porque eles não existem. O exemplo mais próximo que existiu em Portugal foi o BPI nos seus primeiros anos, antes de se ter tornado também um banco comercial. Ao contrário dos bancos comerciais, os bancos de investimento não aceitam depósitos e não concedem empréstimos. Não possuem redes de agências. As suas áreas de negócio típicas estão descritas aqui.

Em poucas semanas a banca de investimento desapareceu da cena financeira americana com o desaparecimento dos cinco maiores bancos, por ordem crescente de importância: Bear Stearns (comprado por um banco comercial, JP Morgan Chase), Lehman Brothers (falido), Merrill Lynch (comprado por um banco comercial, Bank of America), Morgan Stanley e Goldman Sachs (convertidos à pressa em bancos comerciais).

A crise devastou também os bancos que especializavam no crédito hipotecários e os dois principais, o Fannie Mae e o Freddie Mac, acabaram nacionalizados. Pelo caminho, a maior seguradora do mundo, a AIG, foi também nacionalizada para evitar a falência.

A falência do Washington Mutual (WaMu) representa o assalto da crise ao último reduto do sistema financeiro - a banca comercial generalista. Para ver como ela está susceptível basta ver como o WaMu foi à falência. Foi vítima de uma clássica corrida ao banco. Nos últimos dez dias os depositantes levantaram $17 biliões em depósitos. O valor global dos depósitos do WaMu era de $170 biliões. Tal significa que o banco não tinha em reservas de caixa sequer 10% dos depósitos. Na realidade, em condições normais, um banco comercial não tem em reservas de caixa mais de 3% dos depósitos, às vezes menos. Basta uma pequena corrida por parte dos depositantes para que o banco se veja incapaz de lhes restituir o dinheiro. Nesse dia está falido.

É de uma destas pequenas corridas que o Wachovia foi vítima ao findar a última semana. Como referi, o Wachovia é o sexto maior banco comercial americano (veja aqui em 2005 era quinto), significando que a crise vai agora atacar os big five (Citigroup, Bank of America, JP Morgan Chase, Wells Fargo, US Bank Corp.). Estes estão igualmente vulneráveis: somente uma pequena percentagem dos seus vultosos depósitos estão lá em reservas de caixa para fazer face aos levantamentos dos depositantes.
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A próxima semana pode ser dramática.

fechou os olhos


Congressistas americanos negoceiam plano de emergência

"Are you Catholic?" ,pergunta a líder do Congresso, Nancy Pelosi, ao Secretário do Tesouro, Henri Paulson, que se ajoelhou perante ela implorando a aprovação do plano

Crash nas bolsas previsto para segunda-feira se o plano não for aprovado

Na próxima segunda-feira, Wachovia, o sexto maior banco comercial americano pode já não existir.

Bradford & Bingley, o banco inglês especializado em crédito hipotecário - o equivalente da Fannie Mae e Freddie Mac americanos - a caminho da falência ou da nacionalização.

Paul Newman fechou os olhos à crise.

O falhanço


O Falhanço Estrondoso e Perigoso da Consolidação Orçamental – um verdadeiro case studie internacional da incompetência governamental.

Por: anti-comuna

Em 2005 tomou posse o XVII Governo Constitucional, liderado por José Sócrates, com a promessa que garantia um forte crescimento económico português, aproveitando a boleia do maior crescimento económico internacional dos últimos 30 anos; a redução da taxa de desemprego, com a criação efectiva de mais de 150 mil postos de trabalho; e, condição sine qua non para potenciar um maior crescimento económico, a introdução de reformas estruturais na Administração Pública, no sentido de consolidar o défice orçamental, baixando-o para valores que permitissem a Portugal cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Infelizmente as promessas do Governo liderado por José Sócrates saldam-se por um estrondoso falhanço em toda a linha. O inicio da acção executiva do Governo parecia ser uma promessa reformista para Portugal. O Governo, com a ajuda anormal do Governador do Banco de Portugal, que politizou uma instituição que deveria estar acima da luta política, criou um exercicio ficcional, projectando um défice orçamental elevado, que assim criou as condições políticas para o maior Arrastão Fiscal de que há memória em toda a Europa. Mas a contrapartida para esta forte aumento da carga fiscal, que incidiu sobre quase todo o tipo de impostos, não foi um corte na Despesa Corrente do Estado mas um aumento, em apenas um semestre, de 5 000 milhões de euros na despesa estatal, logo quando tomou posse.

Ao contrário do que seria normal num verdadeiro programa de austeridade, tal como levou a cabo o Governo alemão, liderado por Angela Merkel, que acabou com o défice orçamental alemão em apenas um exercício orçamental. Para além de um forte agravamento fiscal, contraproducente para estimular o crescimento económico, que tinha sido promessa do Primeiro-Ministro, José Sócrates, o Governo aumenta a despesa estatal mas promete realizar reformas estruturais na Administração Pública. Na sua cruzada contra o funcionalismo público, José Sócrates leva a cabo um populismo inconsequente, pois embora tenha como fito usar os funcionários públicos como bode expiatório da má gestão dos dinheiros públicos, na prática o Governo nunca cortou na Despesa Pública.

O Governo criou o PRACE, um programa de reestruturação da Admnistração Pública mas que nunca foi levado à prática e apenas serviu como propaganda e arma de arremesso contra o funcionalismo público, detentor de “abusivos privilégios”, nas palavras do Primeiro-Ministro, inspirado nessa figura curiosa e de pensamento estalinista, Vital Moreira. Ficou conhecido para a História o combate à “mordomia” dos Juízes, que gozavam, sic, “demasiadas férias judiciais”.Mas na realidade as tão propaladas reformas na Admnistração Pública são apenas ficção política, truques ilusionistas de um Governo liderado por uma figura sem credibilidade e tida com falta de palavra de honra e espinha dorsal erecta, como José Sócrates; e um Ministro das Finanças, que sempre prometeu rigor na gestão dos dinheiros públicos, mas abusa do recurso a receitas extraordinárias indecentes (como antecipar Dividendos dos Resultados da CGD, descapitalizando-a, numa altura em que se vive um trágico Credit Crunch no sistema financeiro), das desorçamentações, como a transferência de despesas correntes para o SNS; e do recurso a despesas no Sector Empresarial do Estado, para esconder aumentos da despesa dos serviços comunitários, em especial do Eurostat e do ECOFIN.

Para se ter uma ideia do completo falhanço do corte na despesa do Estado, imprescendível para evitar um colapso das Contas Públicas, nos primeiros 8 meses do ano de 2004, a Ministra das Finanças de então, Ferreira Leite, realizou Despesas com Pessoal na casa dos 8 151 milhões de euros (fonte: Boletins publicados pela DGO), mas em 2008, já depois das tão propaladas reformas e cortes na despesa, segundo o Governo de José Sócrates, as Despesas com Pessoal já foram de 8 983 milhões de euros. Ao contrário do que foi prometido, garantido e propagandeado, as Despesas com Pessoal cresceram cerca de 10,2%. E este números excluem muita desorçamentação operada por este Ministro das Finanças, que se poderia apelidar mesmo, o Ministro das Manigâncias Contabilisticas.

Mas o desastre não se fica por aqui no tocante à despesa estatal. A Despesa Corrente Primária, nos primeiros 8 meses de 2004, foi de cerca de 19 813 milhões de euros, e este ano, pasme-se o completo desvario despesista deste Governo, a Despesa Corrente Primária já foi de 24 203 milhões de euros. Uma estonteante subida de mais de 22%. Desmentindo toda o alarde propagandistico do Governo, em especial o seu líder desacreditado, José Sócrates; e o seu fraco Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, também ele ligado ao desastre orçamental perpetrado por António Guterres, de 1995 a 1999.

Pelo exposto fica claro que este Governo falhou completamente na intenção de controlar a Despesa do Estado, para além de que as suas reformas na Admnistração Pública tiveram resultados desastrosos e hilariantes, para um país como Portugal, que vive uma crónica incapacidade para reformar o Estado. Assim chegamos a 2008 com uma situação orçamental deveras preocupante e a resvalar para o abismo colectivo. Nos primeiros 8 meses do ano da graça de 2008, o Défice Corrente do Estado é de 2 631 milhões de euros, uma subida extraordinária de quase 45%, quando o ano passado, pela mesma altura, ele era de 1 829 milhões de euros. As Despesas Correntes do Estado estão a crescer a uma taxa homóloga de 4,8% contra um crescimento da Receita Corrente de uns meros 1,9%. Ou seja, o Estado já entrou novamente no temível processo de falência das Contas Públicas, quando apresenta um hiato preocupante, entre o crescimento da despesa e o da receita.

Enquanto os efeitos imediatos do forte arrastão fiscal, perpetrado contra os portugueses e o tecido produtivo, geraram algumas ficticias vitórias na luta contra o défice orçamental. Para além do normal ciclo do crescimento das receitas do Estado, positivamente correlacionado com o ciclo económico, o Governo ainda foi escondendo a sua péssima gestão orçamental com aumentos de impostos. Mas agora, com o fim dos efeitos do forte agravamento dos impostos, com o ciclo económico em baixa e com o tecido produtivo asfixiado pela pesada carga fiscal; pela também pesada teia administrativa estatal e pelo mau ambiente internacional e no mercado monetário, fica à vista de todos que a política orçamental do Governo foi uma completa aberração idiota, do que seria exígivel e necessário para um país como Portugal.

Portugal deveria ter tido um governo que cortasse mesmo na despesa pública, cortasse na teia burocrática e interventiva do Estado, que promovesse um ambiente fiscal competitivo para atrair e gerar investimento em Portugal. Mas este Govero fez tudo ao contrário. Aumentou a já forte carga fiscal, aumentou o peso do Estado na economia, e elevou de tal forma a despesa estatal, que agora não consegue gerar receitas fiscais, que sequer possam cobrir as derrapagens orçamentais. E este Governo apenas tem vivido de expedientes pouco transparentes, como desorçamentações de despesas, por exemplo, através do sector empresarial do Estado, como na CP; ou vendas de património público, como escolas, quarteis, propriedades imobiliárias várias. Sem falar ao recurso aterrador da perseguição fiscal ao contribuinte, que mesmo sendo injustiçado, já que consegue ganhar em Tribunal 60% dos casos reclamados contra o fisco, nem assim o Estado consegue gerar receitas que cubram o forte crescimento da despesa.

O mais perigoso futuro que enfrentamos, fruto da completa incompetência da dupla José Sócrates e Teixeira dos Santos, é Portugal voltar a violar o tecto dos 3% de défice, imposto pelo PEC. Como Portugal não consegue sequer crescer à mesma taxa dos seus congéneres europeus, como Portugal vive uma situação de endividamento privado e colectivo na casa dos 130% do seu PIB, como Portugal vive actualmente um colapso nas suas exportações, agravando o seu já pesado défice da Balança Corrente, segundo o último Boletim de Conjuntura publicado pelo Banco de Portugal; como Portugal é talvez o país com o maior défice da Balança Corrente e de Capital do Mundo, é fácil de prever que, ou seremos obrigados a abandonar a Zona €uro e a moeda única, ou saímos pelo nosso próprio pé.

Antes que a falência do Estado, famílias e agentes económicos se torne um fenómeno generalizado.Vivemos hoje uma depressão económica que tão cedo não saímos. Temos o Investimento Directo Estrangeiro em forte queda, salvo alguma especulação imobiliária e/ou aproveitamento dos nossos recursos naturais. Temos as exportações em forte queda, em especial para os nossos principais parceiros comerciais europeus, com Espanha à cabeça. Temos o investimento imobiliário a retrair-se, em especial fruto da explosão das taxas de juro europeias, devido ao credit crunch que se vive nos mercados internacionais. Temos o consumo interno asfixiado, com os consumidores a viverem o seu pessimismo histórico, com quedas nas expectativas das famílias nunca antes vistas na história recente de Portugal. E, por fim, Portugal hoje é talvez o maior emissor de trabalhadores da Europa, com a emigração de quadros qualificados e não qualificados, para quase toda o continente europeu. A emigração portuguesa cresce a taxas elevadas na Suiça, Holanda, França, Inglaterra, Escandinávia, Espanha, etc. Num movimento migratório sem precedentes, após o 25 de Abril.
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E o Estado já não consegue estimular o crescimento económico, senão pela via mais fácil do despesismo administrativo estatal, já que a sua política fiscal afasta o investimento produtivo; o seu intervencionismo gera o afastamento do investimento estabelecido em Portugal; e o seu investimento de capital encontra-se em forte queda, levando a que o lançamento das prometidas obras faraónicas do Estado estejam a ser adiadas. Por falta de dinheiros do Estado para as pagar e da incapacidade dos grupos portugueses da construção civil em conseguirem financiar-se nos mercados internacionais, sem os avales do Estado, que na prática seria aumentar a já elevada Dívida Pública portuguesa.
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Com a economia em depressão, o Estado não consegue conter o seu maior despesismo estatal. O que irá gerar, a prazo, além de um forte défice orçamental, um estrangulamento do tecido produtivo, já que sob um ambiente internacional de stress nos mercados de crédito internacionais, o risco sistémico da economia portuguesa cresce a alta velocidade, bem patente na dificuldade dos agentes económicos portugueses em financiar-se. E mesmo quando o conseguem, pagam altas taxas de juro. Gerando mais dificuldades ao enfraquecido tecido produtivo português.
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Concluindo resumidamente, o Governo liderado por José Sócrates, coadjuvado pelo seu habilidoso Ministro das Finanças cavou a sepultura da economia portuguesa. Fez crescer a despesa estatal para níveis incomportáveis pelos pobres contribuintes portugueses. Perpetrou o maior caso de terrorismo contra os agentes económicos na Europa, com o lançamento da operação Arrastão Fiscal, o maior espatafúrdico atentado contra o crescimento económico português, bem patente na nossa crónica incapacidade de crescer tanto como no resto da Europa. E afundou ainda mais os níveis de vida dos portugueses, já de si, entre os mais pobres da União Europeia. E, para cereja no bolo, deixa a economia portuguesa perto do abismo económico, à beira de um ataque de nervos, já que o ambiente externo revela-se demasiado exigiente e díficil para a actual fraqueza do tecido produtivo.Os próximos anos dos portugueses vão ser de muita dor, suor, sofrimento e... pobreza. Salve-se quem puder.

é crime










... a prática de “short selling” pode ser considerada crime. (comunicado da cmvm)

vem aí a crise

No meu consultório tenho esta bola de cristal que aqui vêem. Nunca a utilizei com fins divinatórios, apenas pedagógicos. Por vezes os doentes colocam perguntas para as quais os médicos não têm respostas e insistem de tal modo que se criam situações complicadas. É então que saco da bola de cristal e confesso que só poderei responder depois a perscrutar. Acaba tudo à galhofa e a mensagem passa.
Relativamente à actual crise financeira é evidente que há mais perguntas do que respostas. Os portugueses parecem mais interessados com a América do que com o próprio quintal, mas os dados estão lançados.
Fui à bola (de cristal) e tentei adivinhar o futuro financeiro do País. Eu sei que é um atrevimento, mas é o mesmo que andam a fazer Bernanke, Paulson ou Bush, nos EUA.
A crise financeira vai chegar a Portugal até ao final do ano. O governo não está em condições de deitar a mão seja ao que for, a não ser à carteira dos incautos, e portanto não terá capacidade de intervir. Dois bancos entrarão em ruptura financeira mas serão adquiridos por estrangeiros, um por angolanos e o outro por polacos. As taxas de juro ultrapassarão os 10%, para a compra de habitação, no primeiro semestre de 2009 e as PME’s terão grandes dificuldades em financiar-se.
O Presidente da República e o governo incriminarão a corrupção e a cobiça de Wall Street na crise que aí vem. Guterres, por seu turno, negará qualquer envolvimento no subprime: “sub quê”?
É possível, e Deus queira, que nada disto aconteça, mas pelo menos tenho uma boa desculpa: Foi a primeira vez que fui à bola.

o debate

Barack Obama foi o claro vencedor do debate desta noite, o primeiro entre os dois candidatos à próxima presidência dos EUA. Para além de uma invejável presença física que contrasta com a debilidade de McCain, aspecto muito relevante na televisão, Obama manteve um discurso positivo, apontando medidas concretas que propõe para a sua Administração, ao invés de McCain, que quase sempre optou por dizer o que o seu governo não deverá fazer. Em períodos de crise e de apreensão generalizada, como os que se vivem actualmente nos Estados Unidos, as pessoas preferem sempre que os políticos pensem por elas, a terem de ser elas a pensar. Obama propôs medidas sociais para reforçar o Estado Social: na saúde, na educação, na segurança social, na economia, dizendo que essas medidas retirarão os EUA da crise. McCain optou por explicar que as causas dos problemas actuais dos cidadãos americanos residem no governo, no despesismo descontrolado, no excesso de protagonismo político e de intervenção, e que a sua Administração combaterá esse estado das coisas, de modo a proporcionar aos americanos a oportunidade e os instrumentos para que sejam eles mesmos a refazerem as suas vidas. McCain tem razão e Obama está errado. Os paliativos que passam pelo aumento da despesa pública só agravarão, a prazo, o estado das coisas. O eleitorado americano não tem esta perspectiva, como quase sempre o indicou o barómetro que acompanhou todo o debate. Em momentos de crise, as pessoas pedem protecção e não responsabilidade individual. Uma lição importante que se nos aplica na perfeição.

26 setembro 2008

Notícias financeiras


Bancos centrais injectam $13 biliões no sistema financeiro (aqui)
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"This sucker could go down", diz o Presidente Bush (aqui) (Tradução para português informal: "Esta merda pode ir abaixo").
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Dois outros grandes bancos, Wachovia e National City, podem ser os próximos a ter o destino que hoje teve o WaMu (aqui)
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Os riscos para a economia (aqui)
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O plano de emergência para o sistema financeiro ("bail out") elaborado pelo governo americano, no valor de $700 biliões, não tem o apoio da população (aqui)
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Warren Buffett, empresário consagrado e o segundo homem mais rico do mundo: "Que Deus nos ajude" se o 'bail out' falhar (aqui)

mensagem pessoal


(Esta é uma mensagem pessoal)

Anti-comuna,

Onde é que você anda, homem? Não me diga que tinha comprado acções do WaMu. Olhe que pode ser hoje ... ou segunda feira, depois de as pessoas passarem o fim-de-semana a reflectir sobre o que está a acontecer.

Tenha cuidado, porque eu hoje não vou utilizar a palavra mágica.

Olhe, quando é que me manda o texto sobre o défice das contas públicas?

Abraços.

Alter ego


Mais sobre a entrevista de Vítor Bento ao Jornal de Negócios de hoje acerca da crise financeira. Quero destacar o seguinte parágrafo:

"(...) Ficou demonstrado que o sector financeiro não é auto regulável. A regulação externa também não funcionou de forma suficiente, porque contemporizou com a assunção de volumes de risco e com instrumentos que ninguém sabia como funcionavam. Outra coisa que falhou foi o papel das agências de rating. Ter agências que dão garantia máxima a estruturas que acabam por se revelar frágeis, para na véspera do colapso acontecer lhes darem garantia mínima, para isso não são necessária ".

Incrível! Eu próprio escrevi exactamente o mesmo acerca destes três temas aqui, aqui e aqui. Encontrei no Vítor Bento o meu alter ego!

Mises to the rescue


A crise actual é uma crise do socialismo e só pode ser resolvida pelo capitalismo.

A idiotia tomou conta de Wall Street, financeiros aplaudem o seu próprio enterro.

O plano de Bush / Paulson / Bernanke não resolverá a actual crise.

Work of the devil


A propósito deste comentário do CN, aqui vai a contribuição da Igreja Anglicana:

"Lord God, we live in disturbing days: across the world, prices rise, debts increase, banks collapse, jobs are taken away, and fragile security is under threat. Loving God, meet us in our fear and hear our prayer: be a tower of strength amidst the shifting sands, and a light in the darkness; help us receive your gift of peace, and fix our hearts where true joys are to be found, in Jesus Christ our Lord. Amen", Archbishop of Canterbury Dr Rowan Williams

Grande entrevista


Algumas citações da excelente entrevista concedida pelo economista Vítor Bento ao Jornal de Negócios de hoje (páginas 8 e 9).

"O valor do sistema financeiro depende da fé"

"Os princípios liberais só funcionam dentro de um quadro de moralidade"

"Ficou demonstrado que o sistema financeiro não é auto-regulável"

É só na América?


Num post anterior referi um choque cultural que tive quando regressei a Portugal depois de viver vários anos na América do Norte - aquele que eu ainda hoje chamo o choque da queda no poço. Fiquei confortado por, logo a seguir, na caixa de comentários, o Joaquim ter vindo dizer que sentiu o mesmo.

Gostaria agora de falar de outro choque - o choque da vacuidade intelectual. Este foi o choque que senti ao ver os intelectuais portugueses nos jornais, nas rádios e nas televisões serem exímios a diagnosticar, criticar e apontar soluções para os problemas da América, dos países da Europa e do Mundo, ao mesmo tempo que omitiam, não discutiam, nem diagnosticavam os problemas da mesma natureza que tinham no seu próprio país - e, às vezes, numa escala muito maior (v.g., pobreza, falta de infraestruturas, atraso económico relativo, educação e saúde). Eles eram extraordinários a apontar soluções para resolver os problemas dos outros, ao mesmo tempo que silenciavam os seus que, não raro, eram de uma dimensão muito maior. Na altura, elegi o jornal Expresso como o símbolo desta vacuidade intelectual, opinião que ainda hoje mantenho.

Eu relembrei agora este choque cultural a propósito da crise financeira. Vamos primeiro aos números. As perdas totais dos bancos no mundo, já contabilizadas em resultado da presente crise financeira, ascendem a $560 biliões. Destas, 260 respeitam à América do Norte, 240 à Europa e 60 à Ásia. Nos últimos dois meses os jornais portugueses e europeus estão cheios de grandes notícias acerca da falência de bancos na América. Hoje têm mais uma: o Washington Mutual, também conhecido por WaMu, acaba de falir, sendo adquirido pelo JP Morgan Chase, a pedido do governo americano. Trata-se da maior falência bancária na história dos EUA.

A minha questão é simples. Olhe para os números e depois procure responder à questão: Mas então nos países da Europa não há bancos em situação de falência? É só na América?

religiões

Os estudo das religiões está muito sobre cotado. Presumo que os adolescentes continuam a interessar-se pelo Taoísmo, pelo Budismo, pelo Hinduísmo, ou pelo Islamismo, para aterrorizarem os pais com a perspectivam de mudarem de religião.
Entrar em casa com o Tao Te Ching, debaixo do braço, é uma receita perfeita para criar pânico nas famílias burguesas. Depois, basta o pequeno energúmeno sentar-se no chão de pernas cruzadas e reverberar algumas frases enigmáticas como: “O caminho que pode ser descrito nunca é o verdadeiro caminho”, e o cenário está montado para uma hilariante troca de olhares, ou até de recriminações, entre os pais. Um mantra bem entoado também surte o seu efeito: “Om mani padme hum”.
Não acredito que ninguém, no seu perfeito juízo, escolha uma religião depois de aturado esforço intelectual. As religiões são um elemento estruturante das civilizações e, portanto, a nossa religião vem por default, de acordo com as coordenadas do nosso nascimento. Os adultos que mudam de religião parecem-me pessoas pouco maduras que querem fazer aos vizinhos o que, em devido tempo, poderiam ter feito aos pais.
Daí que, reafirmo, o estudo das religiões tenha um interesse limitado. Perdoem-me a comparação, mas é como o interesse de irmos a um restaurante exótico. Eu adoro sushi e também comida chinesa, mas no dia a dia gosto dos nossos sabores.
Quem nasce em Portugal, pode interessar-se por outras religiões por uma questão de cultura geral, mas, no fim, a única escolha possível, se tiver os sete alqueires bem medidos, é a religião Católica. Ámen.

25 setembro 2008

apontar o dedo


Os portugueses pessoalizam tudo, em parte porque pertencem a uma cultura altamente personalista. Cada português passa o tempo a apontar o dedo a alguém - excepto, naturalmente, a si próprio -, um aspecto em que, no Ocidente, a cultura católica só é largamente excedida pela cultura judaica . Eu não sou excepção e se tivesse de escolher o principal responsável pela actual crise financeira não hesitaria na escolha: Alan Greenpan. Greenspan foi Presidente do Fed entre Agosto de 1987 e Janeiro de 2006, sendo sucedido no cargo pelo actual Presidente, Ben Bernanke.

Greenspan é um finíssimo economista. Nos anos 60 ele fez parte do grupo hiper-liberal de Ayn Rand ironicamente designado por The Collective. Na altura escreveu um artigo em que defendia a abolição dos bancos centrais e um sistema privado e concorrencial de emissão monetária. Anos mais tarde tornar-se-ia o Presidente do banco central mais poderoso do mundo.

Ocupou este cargo durante mais de dezoito anos, batendo o record da longevidade no lugar. Quando se reformou em 2006 foi aclamado como um herói em Wall Street e considerado o maior banqueiro central de todos os tempos. Na minha opinião, a principal razão porque Wall Street o tinha em tão alta conta é que, cada vez que a bolsa tinha uma queda mais pronunciada, Greenspan vinha em socorro dela, baixando as taxas de juro e injectando dinheiro na economia. Desde 1972 que o dinheiro vinha sendo produzido a partir do ar e o dinheiro americano, esse, a partir de ar puro.

Todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, escreveu Lord Acton numa frase que se tornou célebre. E Greenspan, que tinha um diagnóstico imensamente lúcido da grande depressão de 1929-33, acabou a fazer como Presidente do Fed exactamente tudo aquilo que ele sabia que não podia fazer. Foi isso que procurei ilustrar neste post.

A crise actual começou a preparar-se em 1972 depois de, no ano anterior, os EUA terem suspendido a convertibilidade do dólar em ouro e posto fim ao sistema de Bretton Woods. À frente do Fed, especialmente nos últimos dez anos do seu mandato, Greenspan deu-lhe o combustível de que ela necessitava para chegar à situação a que chegou e, sobretudo, àquela a que vai chegar. Porque eu estou convencido que a crise não atingiu ainda sequer metade da sua total dimensão. Está mais para vir e será pior do que aquilo que já se viu e sentiu ao longo do último ano. E penso que temos aqui pelo menos para uma década.

I'm the man!


De acordo com notícia avançada pela RTP a propósito do processo de extradição do Dr. Vale e Azevedo, a proprietária do apartamento onde este reside em Londres reclama do antigo presidente do Benfica a quantia de 400.000 euros em rendas de casa atrasadas.

Há que admiti-lo: este homem não existe!

Leitura recomendada



A propósito deste, deste e ainda deste post, recomendo a leitura da "Visão" desta semana, em particular a reportagem "SOS Médicos".

E, pronto, não escrevo mais acerca do assunto. I rest my case!

Lutador


O candidato John McCain tem passado as últimas semanas a tentar distanciar-se da política económica e financeira de George W. Bush. Nos últimos dias, decidiu mesmo partir a loiça.

Primeiro, afirmou que se fosse eleito presidente imediatamente demitiria Christopher Cox - o chairman da Securities Exchange Commission (SEC), que é um cargo de confiança política.

Segundo, numa inédita aliança pré-eleitoral com Obama, defendeu ontem que o plano da Administração Bush para salvar da bancarrota o sistema financeiro está "flawed".

E, terceiro, também se demarcou da política de subsídios agrícolas implementada pelo seu companheiro partidário nos últimos oito anos.

Uma caixinha de surpresas, este McCain. Enfim, são muitos cabelos brancos!

corrida ao banco



A crise financeira alastra na Ásia. Hong-Kong é o segundo maior centro financeiro da Ásia e o sexto maior do mundo. Esta manhã houve uma corrida ao Bank of East Asia por parte dos depositantes em Hong-Kong e Singapura, onde o banco também opera. Ver aqui.

ódio à humanidade

O desprezo pela vida humana é o resultado directo do niilismo. Se não reconhecermos quaisquer valores transcendentais, tudo pode ser posto em causa, inclusive o direito inalienável à vida.
O estudante finlandês que assassinou dez dos seus colegas de escola, esta semana, é fruto da cultura niilista. Numa nota que deixou, afirma que tem ódio à humanidade. Infelizmente não está só, o ódio à humanidade é um sentimento partilhado e alimentado por muitos intelectuais, quando percebem que a populaça rejeita as suas miríficas soluções.
A ideia de Deus não é apenas uma construção religiosa. É um valor cultural, sem o qual a vida não faz sentido. Se aceitarmos que fomos criados por Deus, no sentido metafísico, e dotados por Ele de direitos inalienáveis, então podemos afirmar que a vida é sagrada.
Para quem acredita em Deus é muito fácil condenar os actos deste estudante finlandês, porque matar é um pecado capital (em todas as religiões que conheço). Para um ateu é impossível encontrar razões absolutas de condenação. Se disser que é ilegal, por exemplo, podemos responder-lhe que as Leis mudam. Só há uma Lei que não muda, os mandamentos de Deus.

24 setembro 2008

Bater em mortos


Pedro Arroja,

Na sequência do resumo que agora vi do debate parlamentar desta tarde, sugiro que encomendes de imediato a caixa de Barca Velha que apostaste comigo a propósito das próximas legislativas. O Scotas vai ganhar de novo e com maioria absoluta. Quanto ao PSD da tua Manuela, vou ali e já venho!

dos bons


A onda de indignação, e o clamor de condenação moral, que tem surgido na imprensa portuguesa acerca dos especuladores financeiros, sobretudo americanos, sugere que os portugueses gostam é de outro tipo de especuladores. Refiro-me aos especuladores sem risco, como estes, e até lhes pagam sem pestanejar:
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Quando o preço do petróleo sobe um por cento o preço da gasolina em Portugal sobe 0.60%. Mas quando o preço do petróleo desce um por cento o preço da gasolina só desce 0.45%.
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Estes é que são especuladores dos bons. Nunca vão à ruina. Mas quem os segura é você.

A única excepção



A propósito deste post do Joaquim lembrei-me de um episódio a que assisti em directo no início dos anos oitenta quando vivia no Canadá. Envolvia a Simone de Beauvoir e um intelectual americano já de certa idade, e cujo nome não me recordo.

A Simone de Beauvoir (na imagem) tinha vindo a público divulgar um affaire que mantivera com o homem durante um curto espaço de tempo em que ele vivera em Paris. Ora, acontece que o homem era casado e tinha filhos. Ficou indignado. E respondeu-lhe assim nos jornais (cito de memória): "Ao longo da minha vida, deitei-me com muitas putas em todos os países do mundo por onde passei. Todas elas tiveram a dignidade de guardar para elas aquilo que fizeram comigo na intimidade. A única excepção foi a Simone de Beauvoir".

nunca terão


O João Miranda, que tem sido o principal dinamizador na blogosfera da discussão acerca da actual crise financeira, trata neste post da questão da previsibilidade da crise. Eu gostaria de relacionar esta questão com o tema da opinião pública em Portugal que levantei brevemente neste post.

É claro que houve economistas que previram a crise e foram vários em todo o mundo. Por exemplo, este. Prever uma crise grave, como esta, é importante porque permite às pessoas tomarem acções preventivas que as defendam dela.
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O problema em Portugal é que, sobre a actual crise financeira, ou sobre outro qualquer assunto, as pessoas não ouvem e não dão importância a especialistas que sejam independentes. Os portugueses só ouvem e dão importância aos especialistas que pertencem ao governo ou, pelo menos, a algum partido político - isto é, àqueles que têm alguma forma de poder - embora esta seja precisamente a situação em que os especialistas passam a ter poderosos incentivos para omitirem a verdade, senão mesmo mentirem às pessoas.

A atitude cultural implícita é a de que "a palavra de quem não tem poder não conta", uma atitude que está nos antípodas de uma cultura democrática que os portugueses não têm e que - cansado de esperar por ela - eu vaticino que nunca terão.

os intelectuais

O que é um intelectual? Um intelectual é uma puta de calças. É um indivíduo que utiliza a sua inteligência e capacidade analítica para a realização de objectivos pessoais, através da exploração dos outros. As putas fazem o mesmo mas com o corpo.
Para chegar a esta definição eliminei dos intelectuais as classes profissionais: médicos, advogados, engenheiros, professores e quaisquer outras actividades que dependam de um exercício intelectual confinado a uma profissão. Não são reconhecidos como verdadeiros intelectuais.
Depois eliminei também os eruditos e académicos puros que passam a vida a estudar ideias e conceitos abstractos, mas que não são prosélitos nem propagandistas. Também estes não são reconhecidos como intelectuais, talvez por falta de exposição pública.
Sobraram, então, os verdadeiros intelectuais. Uns tipos que se cultivaram, menos do que o que apregoam, e que utilizam os seus conhecimentos, capacidade de persuasão e inteligência para conquistarem reconhecimento e mordomias através da exploração dos sentimentos e das emoções da populaça. Populaça por quem nutrem um profundo desprezo.
Apesar desta comparação não pretender diminuir os intelectuais, receio que as putas se possam sentir ofendidas. Pelos menos estas estão dispostas a satisfazer os compromissos que assumem, enquanto os intelectuais prometem mundos e fundos mas, no final, quem se fornica é o povo.

PS: A grande figura de intelectual da minha juventude é Jean-Paul Sartre.

Wall Street


A crise financeira actual não é só americana - é mundial. E quanto pior fôr a situação na América pior será no resto do mundo. A influência económica e financeira da América no mundo é extraordinária. Ilustrarei aqui com as bolsas de valores.

A maior bolsa de acções do mundo é a americana, centrada em Wall Street, Nova Iorque. A dimensão de uma bolsa mede-se pela soma dos valores das acções nela cotadas - a chamada capitalização bolsista. A dimensão da bolsa americana é de $19.4 triliões (dados de 2006).

Em segundo lugar, a grande distância, vem o Japão ($4.7 triliões), cuja bolsa não chega a um quarto da americana. Em terceiro, a Inglaterra ($3.7 triliões), a maior bolsa da Europa, mas cuja dimensão não chega a um quinto da americana. Em quarto está França ($2.4 triliões). A bolsa portuguesa ($0.1 triliões) está na 40ª posição no mundo . Tudo somado, a bolsa americana tem uma capitalização que representa mais de metade das outras todas juntas.

Daí a liderança que Wall Street exerce sobre todas as outras praças internacionais. Quando a Bolsa americana sobe, as outras também sobem, e quando ela cai, as outras também caem. É raro a bolsa de um país andar a contraciclo da bolsa americana e, quando o faz, em geral não é por mais de um dia.

Os factores que contribuem para isto são vários. Saliento os dois mais importantes. Primeiro o peso da economia americana na economia mundial e a influência das suas empresas multinacionais nos outros países do mundo. A economia americana representa quase um terço da economia mundial, tal como medido pelo PIB ($12.4 triliões em $44.7 triliões) e as maiores empresas do mundo são americanas (as duas maiores, a Exxon Mobil e a Wal-Mart, possuem, cada uma, um volume anual de vendas igual ao dobro do PIB de Portugal). Se o sentimento é mau na América em relação à economia e às empresas, levando à queda da bolsa em Nova Iorque, em princípio deve ser também mau nos outros países do mundo, levando à queda das bolsas dos outros países. Segundo, muitas das empresas cotadas nas diferentes bolsas nacionais (v.g., a PT na bolsa de Lisboa) estão também cotadas em Nova Iorque. Ora, se a PT cai em Nova Iorque também tem de cair em Lisboa.

Não é difícil agora imaginar porque é que uma queda catastrófica na Bolsa de Nova Iorque, para além daquela que já ocorreu no último ano, terá o condão de levar tudo atrás. Não é possível prever um crash de bolsa. Os crashes não se anunciam. Mas que as probabilidades aumentaram em favor dele não restam dúvidas.

um especulador a sério


Um especulador a sério, um dos meus heróis. Leia aqui.

entra mosca


Um profissional médico, economista, historiador, biólogo, ou de outra área qualquer que, vivendo na América do Norte decida mudar-se para Portugal, um dos choques culturais que vai sentir é a falta de informação. Aconteceu-me já a mim, uma situação que eu ainda hoje descrevo como "Foi como se tivesse caído num poço".

Uma sociedade como a americana com uma profunda cultura de especulação (na finança, na ciência, nas ideias) é uma sociedade onde a informação é abundante e está facilmente disponível. Pelo contrário, uma sociedade, como a portuguesa, profundamente conservadora e avessa à especulação, quer no domínio das coisas materiais quer no domínio das coisas do espírito, não precisa de informação para nada e, portanto, não a produz nem a procura. Foi este o sentido deste post.

Acresce que dada a sua cultura católica, a sociedade portuguesa é uma sociedade de pessoas muito faladoras, que emitem opinião sobre tudo e sobre nada. Como argumentei repetidamente noutras ocasiões, a cultura católica privilegia as palavras em detrimento das acções.

Coloquemos agora as duas características em conjunto: pessoas mal informadas e que estão sempre a falar e a emitir opinião sobre tudo e sobre nada. Quando abrem a boca, então, o resultado mais provável é "ou entra mosca...". É este o sentimento predominante que tenho tido ao ler e ouvir as apreciações nos meios de comunicação convencionais - jornais, rádio e televisão - à crise financeira actual e, em particular, à crise americana. A melhor literatura a este respeito, curiosamente, tem ocorrido na internet graças, em parte, aos esforços do João Miranda, que é um excelente especulador de ideias.

filthy rich

Numa tribo africana a única riqueza eram as cabeças de gado bovino. Os sobas acumulavam grandes manadas e com essa riqueza obtinham poder, respeito e a admiração que lhes garantia o acesso privilegiado às fêmeas mais cobiçadas.
Por vezes surgiam novos ricos, com manadas impressionantes que só poderiam ter sido roubadas, apesar da vigilância apertada da tribo. Qualquer ladrão de gado que fosse apanhado era de imediato julgado, apedrejado e expulso da tribo.
Os novos ricos, porém, era admirados e bajulados até se descobrir que eram ladrões de gado. Pressuposto que era evidente, desde o princípio, mas tacitamente ignorado por todos.
Nas sociedades modernas impera o mesmo princípio. Surgem fortunas do nada e figurões que se comportam como sobas, apesar de todos sabermos que o dinheiro não cai do céu, mas fazermos de conta de cai. Quando alguns são apanhados (raros), todos estão prontos a atirar a primeira pedra.
Há hábitos difíceis de perder.

23 setembro 2008

não acreditar


O mercado parece não acreditar no plano americano de salvação do sistema financeiro. Está agora de regresso aos níveis que possuia antes de o plano ter sido anunciado na passada quinta-feira.
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Ready for a crash?
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Tradicionalmente o pior mês do ano na Bolsa - aquele em que, em média, o mercado cai mais - é Setembro, seguido de Outubro. Os grandes crashes, como os de 1929 e 1987, ocorreram sempre em Outubro.
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Tinha razão o Mark Twain quando dizia que Outubro é um mês muito mau para especular. Os outros - acrescentava ele - são: Março, Dezembro, Junho, Fevereiro, Novembro, Agosto, Janeiro, Maio, Julho, Abril e Setembro.

A montante ou a jusante?


Neste post , comparei a acção das agências de rating aos peritos que avaliam os activos imobiliários dos Bancos e concluí que ambos partilham do mesmo conflito de interesses: são remunerados pelas entidades que analisam para efeitos de avaliação, por isso, a análise que produzem nunca poderá imparcial. No limite, uns e outros não deviam sequer existir - pelo menos enquanto não se chegar a outra estrutura de remuneração. Na caixa de comentários que se seguiu, este leitor dá a entender que discorda da minha opinião.

Portanto, a solução alternativa que eu preconizo é a seguinte: que estes avaliadores, agências de rating e peritos imobiliários, sejam pagos pelos investidores que compram os títulos obrigacionistas e os imóveis vendidos por Emitentes e Bancos, respectivamente. É, de resto, uma solução defendida por muitos especialistas internacionais. E é também uma solução muito cínica...