30 setembro 2007

este homem não falha 2

Ouvido o professor Marcelo, com a atenção mais do que devida, há duas conclusões a retirar: o professor tinha previsto tudo o que aconteceu nas directas do PSD, mas não o tinha dito por decoro; e o professor considera que Menezes não pode senão ganhar as três próximas eleições (autárquicas, legislativas e europeias). Neste último aspecto, o professor terá sido, salvo melhor opinião, levemente mais exigente do que fora em relação a Mendes, quando considerou que mais do que 20% e o segundo lugar ura um bom resultado nas intercalares de Lisboa.

serve assim ou não?

O que me distingue do Pedro Arroja nesta questão, não é tanto o grau de liberdade presente ou ausente na sociedade portuguesa, mas o excesso de estatismo que historicamente nos caracteriza. O que o Pedro tem, a meu ver, feito até agora é tentar demostrar a tese de que, em Portugal, os governantes são mais livres do que na maioria dos países nossos vizinhos e que a generalidade dos portugueses não se lhes opõe na expectativa de um dia vir a ocupar os mesmos lugares. É uma tese defensável, embora eu não a defenda. E, para mim, o ponto é outro e o seguinte: consome ou não consome o Estado português, pelo menos (contas muito, muito por baixo), 50% do PIB? Isto retira ou não à sociedade portuguesa e aos cidadãos a possibilidade de escolherem, isto é, a liberdade de decidirem o que fazer com esse rendimento que produzem? Isto é ou não um excesso de intervencionismo, provocado por um Estado social com funções desmesuradas, que não se reforma nem quer reformar? Este modelo de Estado convém-nos ou não? A mim não. E penso que à esmagadora maioria dos cidadãos - aos que não vivem do Estado e, até, à maioria dos que para ele trabalham - também não.

constatar o óbvio

Não conheço Menezes, não pertenço ao PSD, nada tenho contra Mendes, e a esmagadora maioria dos barões, dos notáveis e dos cidadãos que pertencem è «elite» laranja é-me completamente estranha e indiferente. Há, contudo, um facto óbvio a constatar: desde sexta-feira à noite que a esquerda ficou nervosa.

falhanço

Com o post anterior, eu considero concluída a defesa da minha tese num ponto de divergência que mantenho com o rui. Eu afirmo que o principal problema da sociedade portuguesa é o excesso de liberdade e a correspondente falta de autoridade. O rui considera que o principal problema é a falta de liberdade.

Eu considero, aliás, irónico ver alguns blogues dispersos pela blogosfera e que andam à procura de formar um partido político de direita com base no liberalismo. Estão condenados ao falhanço. Mais liberdade? Se colocassem o ênfase na autoridade, talvez tivessem algumas probabilidades de sucesso.

a autoridade


Se o meu diagnóstico anterior está correcto, se a cultura católica confere ao homem, como nenhuma outra, a esfera máxima de liberdade, ao ponto até de lhe consentir os excessos - essa faixa marginal da liberdade a que eu chamei liberdade pecaminosa -, então parece-me claro que o principal problema de uma sociedade de cultura católica é o de encontrar um equilíbrio entre a liberdade e aquela outra instituição que lhe pode conter os excessos - a autoridade.

Será esse equilíbrio entre a liberdade e a autoridade, numa sociedade de cultura católica, melhor conseguido quando a autoridade política é pessoalizada num caudilho ou, pelo contrário, quando ela é exercida de forma impessoal pela opinião pública numa democracia?

Há pelo menos dois séculos e meio, desde a Revolução Francesa, que as sociedades católicas do sul da Europa e as suas descendentes na América Latina se balanceiam, alternadamente, entre uma e outra destas soluções, sem encontrar um equilíbrio e um caminho.

Nos períodos em que a solução é o caudilho, estas sociedades acabam, com o decorrer do tempo, a queixar-se da falta de liberdade. Pelo contrário, nos períodos em que vigora a democracia, não decorrem muitos anos até que elas se queixem da falta de autoridade.

O dilema continua aí em aberto e eu penso que ele é hoje - na falta de autoridade, que não na falta de liberdade - o dilema central da sociedade portuguesa e a fonte de todos os seus outros problemas maiores.

contra o populismo


Mário Soares manifestou-se incomodado e muito preocupado com a vitória de Menezes, por ela representar a vitória do populismo. Uma advertência muito oportuna.

uma certa



O que é que faz um homem ou uma mulher que, vivendo já de si no meio da fome e da pobreza generalizada - como eram as condições de vida prevalecentes antes da revolução industrial - e a quem, de repente, a peste varre deste mundo todos os seus filhos?

Suicida-se? Talvez não, mas só se tiver a fé que todos os sofrimentos deste mundo lhe serão compensados um dia, nesta ou em outra vida. Conforto para os sofrimentos presentes e esperança de um futuro melhor foi aquilo que, tradicionalmente, as pessoas foram buscar à religião. E não era pouco, sobretudo quando a humanidade viveu a maior parte da sua história de longos milénios nas condições que Thomas Hobbes descreveu como sendo as de uma vida rude, pobre, bruta e curta.

Sem religião, a humanidade teria sucumbido há muito, e nós hoje não estaríamos cá. Por isso, não é possível ainda hoje encontrar alguma sociedade humana que não tenha uma religião. Todas as que a não tiveram - se é que existiu alguma - desapareceram. Nós devemos muito mais à religião do que à ciência - não existe sequer comparação possível - a circunstância de hoje estarmos aqui.

Eu tenho, por isso, grande dificuldade em aceitar os ataques desbragados à religião, que são tão frequentes entre certos intelectuais. Eles mostram que a sua incompreensão pela condição humana só é excedida pela sua ignorância e, não raras vezes, por uma certa alarvidade.

esperança de vida

Na minha condição de economista e profissional da educação, eu sou levado frequentemente a falar sobre os índices socioeconómicos - alguns dos quais apresentei em baixo -, para caracterizar as condições de vida dos vários países do mundo e o seu grau de desenvolvimento.

Se existe um índice simples ao qual eu atribuo a maior importância é a esperança de vida à nascença. Num país bom as pessoas vivem muito, num país mau as pessoas vivem pouco. A progressão deste índice e a sua tendência servem também para avaliar os progressos realizados num país, e até fazer extrapolações para o futuro. Foi neste último aspecto que recentemente, eu apanhei um choque - destruí um mito.

Em meados do séc. XVIII, no alvor da revolução científica e tecnológica, nos países ocidentais, a esperança de vida à nascença era de cerca de 35 anos. Hoje é de 80, e sempre a aumentar. Este progresso extraordinário, eu atribuí-o à melhoria dos cuidados de saúde, à educação e à subida do nível geral de vida da população - e até aqui não estava enganado. O ponto onde eu estava enganado era o de que esta tendência se iria prolongar no futuro e que, mais dois ou três séculos, e a humanidade, pelo menos a mais próspera, estaria a viver mais de duzentos anos em média.

O choque ocorreu quando no último verão, ao passar em revista a vida e a obra de vários homens do século XVIII, como Adam Smith, David Hume, Voltaire, Rousseau, o Marquês de Pombal, dei conta que, quase invariavelmente, eles tinham tido longas vidas. Voltaire e o Marquês, por exemplo, viveram mais de 80 anos, e os outros, à excepção de Rousseau, não ficaram muito longe. Como era possível, então, que sendo a duração média de vida na altura cerca de 35 anos, estes homens tivessem vivido 70 e às vezes até 80 anos? (Tal equivaleria hoje, em que a esperança média de vida é 80 anos, a que eles vivessem cerca de 200) .

A chave do mistério eu viria a encontrá-la em breve. Estava na taxa de mortalidade infantil, que na altura era de 40% ou mesmo 50%. Era a mortalidade infantil que reduzia drasticamente a esperança média de vida na época. A mortalidade em massa ocorria antes de as pessoas atingirem um ano de idade. Vencida esta barreira, as pessoas viviam quase tanto como nós vivemos hoje - talvez uns 15 anos menos.

Por isso, o aumento drástico da esperança de vida nos últimos dois séculos e meio foi sobretudo o resultado de um único factor e de um factor que é irrepetível no futuro - a redução drástica da mortalidade infantil. Tendo esta taxa, nos países do Ocidente, sido reduzida praticamente a zero - o seu valor actual anda em torno de 0.5% - tal significa que a esperança média de vida não fará grandes progressos daqui para a frente, estacionando em torno dos valores actuais de 80 anos e com uma tendência muito ténue para subir.
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Este grande salto foi obra sobretudo da ciência. Mas o que é que aguentou a humanidade durante os milénios precedentes, quando os seus filhos morriam em massa?

jamais


A humanidade viveu muitos séculos, na realidade, milénios, sem ciência - a qual é um fenómeno relativamente recente - e uma boa parte da humanidade vive ainda hoje sem ela. Aquilo sem a qual a humanidade nunca viveu foi sem uma religião.

A ciência é certamente uma construção admirável do espírito humano. Mas ela não se compara, na sua complexidade, na sua subtileza, na sua beleza, na sua mitologia, na sua liturgia, nas suas crenças, na sua racionalidade até - para não insistir na sua indispensabilidade - ao grande edifício intelectual que é uma grande tradição religiosa.

Uma sociedade humana pode viver sem ciência. Jamais viverá sem uma religião.

na tranquilidade e na certeza


A propósito da discussão sobre os capelães hospitalares que recentemente surgiu no país, tem-se argumentado que não existe razão num estado laico para que o Estado seja prestador de serviços religiosos.

Eu gostaria de defender, em primeiro lugar, que a ideia do estado laico é uma ideia de raiz protestante e que, ironicamente, tem recebido maior acolhimento entre certos intelectuais e políticos dos países católicos, do que nos países protestantes, a começar pelo próprio país onde ela foi inventada - a Grã-Bretanha, que é um estado confessional.

Na concepção protestante, o pastor que é chamado à cabeceira do doente terminal, vai lá para o ajudar a morrer. De acordo com esta concepção, pode legitimamente argumentar-se que o pastor e os serviços que ele presta são perfeitamente dispensáveis, porque, para ajudar o paciente a morrer, estão lá os médicos.

Na concepção católica é diferente. O padre católico não é chamado à cabeceira do doente terminal para o ajudar a morrer. O homem católico não precisa que o ajudem a morrer: sendo um individualista radical, ele sabe morrer, e frequentemente faz questão de morrer, por si próprio. Aquilo que o padre católico lá vai fazer é algo de muito diferente e que é complementar aos serviços de saúde prestados pelos médicos - e algo que acrescenta genuinamente ao bem-estar do paciente.

O padre católico vai lá para, na hora da morte, perdoar o paciente de todos os pecados que ele cometeu em vida, que é algo que o pastor protestante não faz. Por isso, enquanto o homem protestante morre na incerteza e na angústia de ter de confrontar Deus e ter de se justificar perante Deus por todos os seus pecados, o homem católico morre na tranquilidade e na certeza de que, quando chegar a Deus, todos os pecados já lhe foram perdoados - ou, pelo menos, que houve alguém influente que intercedeu por ele para que isso acontecesse*.
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* A instituição da cunha, típica dos países de tradição católica, tem origem nesta e noutras facetas semelhantes do catolicismo.

muito católico

Nos últimos meses, eu tenho vindo a defender neste blogue, e anteriormente noutro, que no seio da civilização cristã, a cultura católica é imensamente mais livre do que a cultura protestante ou qualquer outra corrente do cristianismo. E, embora cometendo o risco de errar, porque não conheço suficientemente todas as outras grandes culturas existentes no mundo, a julgar pelos seus resultados práticos, eu estou pronto a inferir que a cultura católica é a mais livre de todas as culturas que a humanidade jamais conheceu.

Max Weber, no seu conhecido A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905) tocou inadvertidamente no ponto essencial, embora sem o compreender em todas as suas implicações. Disse ele: "O Deus do calvinismo exige dos seus crentes, não boas obras singulares, mas uma vida de boas obras. Não existe lugar ao muito católico ciclo do pecado, confissão, arrependimento e perdão, seguido de novo pecado."

Na realidade, que sistema ético, senão o católico, confere ao homem uma tão grande esfera de liberdade individual, a qual é levada ao extremo de ele ser livre para pecar e, depois de percorrido o ciclo da confissão, do arrependimento e do perdão, voltar a ser livre para pecar outra vez? Eu não conheço outro e esta é, aos meus olhos, a razão principal da supremacia humanista da cultura católica, face a todas as outras - e, ironicamente, também, o seu grande calcanhar de aquiles.

29 setembro 2007

excessos pecaminosos

Num post anterior salientei que, nas duas últimas décadas, os milagres económicos que o mundo ocidental conheceu foram, um da cada vez, o Chile e a Irlanda. Ambos países católicos.

No Chile, o factor principal do seu milagre económico foi, obviamente, o Estado forte, pequeno, sério e autoritário de Pinochet, bem como a imensa esfera de liberdade que ele concedeu à iniciativa privada na sociedade imitando, com algumas décadas de atraso, aquilo que Salazar fez em Portugal e Franco fez em Espanha - e com os mesmos resultados. Na realidade, os dois últimos milagres económicos que o mundo ocidental tinha conhecido antes do Chile e da Irlanda tinham sido precisamente Portugal, em primeiro lugar, e a Espanha em segundo, durante a década de sessenta e até princípios da década de 70. (Em 1973, Portugal cresceu à taxa anual de 11.2%).

O caso da Irlanda é talvez mais complexo, porque o seu milagre económico processou-se em democracia. Algumas das razões deste milagre já foram indicadas no meu post anterior. Mas como foi possível que ele ocorresse em democracia, sendo o país católico e, portanto, possuindo uma cultura que é, em princípio, adversa à democracia e onde a democracia tende a destruír, não a construír?

É preciso notar, em primeiro lugar, que a Irlanda é um país católico rodeado de países protestantes - um verdadeiro enclave católico em meio essencialmente protestante. Por isso, ao longo dos últimos séculos, enquanto os intelectuais portugueses se podiam dar ao luxo de desbaratar a sua cultura católica e perseguir a Igreja Católica porque não conheciam outra cultura, os intelectuais irlandeses - e a população irlandesa -, ao mesmo tempo, tinham de se aplicar a defender a sua cultura católica e a proteger a Igreja Católica, porque estavam ameaçados e em desvantagem perante outra cultura que lhes era adversa.

Talvez por isso, os irlandeses sejam hoje em dia na Europa o povo mais militantemente católico - uma sociedade em que o catolicismo possui ainda hoje uma grande influência, como ilustrei no meu post anterior, e onde a Igreja Católica detém posições de influência considerável em sectores-chave da vida social, como a educação, a assistência social e a saúde.

Ao mesmo tempo, assediada por sociedades de cultura protestante, a Irlanda pode bem, ao longo da sua história, ter assimilado no seu catolicismo alguns dos melhores valores da cultura protestante - a democracia e a disciplina para conter, dentro de limites razoáveis, os excessos pecaminosos da liberdade que a cultura católica intrinsecamente possui.

irish family

Como indiquei no meu post anterior, a Irlanda, partindo do antepenúltimo lugar, transformou-se, no espaço de década e meia, no país mais desenvolvido da União Europeia, enquanto Portugal permaneceu em último (UE-12). Vários factores terão contribuido para este resultado, o mais conhecido dos quais é a política de impostos que o país adoptou no ínício da década de 90. Outro factor terá sido a melhor utilização que deu aos subsidios que, tal como Portugal, recebeu da UE.

Porém, eu gostaria de chamar a atenção para outro factor que, no meu conhecimento, nunca foi referido e que explica muito do vigor económico da sociedade irlandesa, face à relativa estagnação, senão mesmo degradação, da sociedade portuguesa. Refiro-me à coesão da família.

Nos países de tradição católica, a família costuma ser uma instituição muito forte e coesa. A família é também, em qualquer cultura, uma instituição económica muito eficiente. A razão é que, para um homem e uma mulher separadamente, onde seriam necessárias duas casas, dois frigoríficos, dois telefones fixos, duas camas, etc., com o casamento passa a ser necessário apenas uma, permitindo a essas duas pessoas manter o mesmo nível de produção, com custos mais baixos.

Ora, sucede precisamente que, entre o início da década de 90 e o presente, a família irlandesa permaneceu uma instituição aparentemente forte e coesa, ao passo que em Portugal ela não tem deixado de enfraquecer, senão mesmo desagregar.

Neste período de década e meia, a taxa de divórcio mais do que duplicou em Portugal, passando de um para 2.3 divórcios por cada mil habitantes, enquanto na Irlanda ela não passa de 0.7.

No mesmo período, a taxa de casamento em Portugal caíu mais de 40%, passando de 6.8 para 4.0 casamentos por cada mil habitantes, enquanto na Irlanda ela se manteve praticamente inalterada, passando de 5.2 para 5.1. E enquanto a taxa de fertilidade da mulher irlandesa permaneceu razoavelmente elevada nesse período (2.0), a da mulher portuguesa, pelo contrário continuou a ser uma das mais baixas da Europa (1.5).

Resta acrescentar que, enquanto na Irlanda o aborto é proibido, em Portugal ele passou agora a ser livre.

o dono do laranjal

O PSD de Menezes poderá ter algumas expectativas no futuro, ou está irremediavelmente condenado, como pretende o mainstream mediático e opinativo, tratando o novo líder como um inconsciente «populista» de quem só pode vir a desgraça? O assunto merece uma análise em dois planos distintos: Menezes como líder do principal partido da oposição e Menezes como eventual chefe de um governo do seu partido.

No primeiro caso, tem-se dito que Marques Mendes tinha «princípios», «coerência» e um «projecto político», e que, por isso, o seu partido era uma alternativa séria ao PS. Se os tinha, francamente, nunca os revelou. A sua oposição ao governo, onde devia contrapor o tal «projecto», praticamente não se sentiu durante estes quase três anos. Uma ou outra opinião de circunstância, quase sempre a reboque do que fazia o governo de Sócrates. Posições próprias, ideias e posições alternativas, não se viram. Por outro lado, são históricas as suas derrotas nos debates parlamentares com o primeiro-ministro, palco por excelência onde se exigia que brilhasse – pelo menos nos momentos de impopularidade, que foram muitos, do governo - e demonstrasse uma alternativa, ao ponto dos seus mais íntimos, como o próprio Marcelo Rebelo de Sousa, referirem publicamente esses fracassos. De Mendes, em conclusão, não se esperava qualquer vitória eleitoral e, por conseguinte, é absurdo referir os seus «princípios políticos» e o seu «projecto coerente». Ainda que os tivesse, não lhe seriam úteis, por manifesta incapacidade de levar o partido para o governo. Neste aspecto, a liderança de Menezes, por pior que venha a ser, dificilmente colocará o PSD num patamar ainda mais baixo do que aquele que ele está. Não parece, por isso, que dela resulte grande drama.

Quanto a um eventual governo chefiado por Menezes, ainda que não seja possível fazer quaisquer previsões, tal e qual sucedia, de resto, com Mendes, há, porém, dois aspectos importantes a ter em conta. Primeiro, Menezes demonstrou ser um excelente gestor público na presidência da Câmara de Gaia, onde – onde, sejam quais forem as causas – tem obra e obra de excelente qualidade. Poderá dizer-se que gastou nela muito dinheiro, mas a verdade é que gastar muito dinheiro é o que todos os governantes fazem, quase sempre sem obra que o justifique. Segundo, há a ter em conta que, se Menezes não se apresenta publicamente com uma equipa de luxo donde possa sair a base de um futuro governo, há que dizer que a equipa de Mendes, ao fim destes dois anos e meio, é péssima. Nesta medida, se Menezes poderá vir a demonstrar-se incapaz de juntar gente de qualidade política para formar um governo capaz, Mendes já provara essa incapacidade.

Foi por estas razões que Menezes ganhou e Mendes perdeu. O PSD é um partido de poder, com aguçada intuição política. Já tinha percebido que com Mendes não ia lá. Vai agora experimentar Menezes. À partida, e ao invés do que por aí se diz, não se vê nada que possa condenar Menezes a um líder fracassado e transformar Mendes naquilo que ele nunca foi – um líder credível.

champions

Entre o início da década de 90 e o presente, medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, Portugal passou da condição de 34º país mais desenvolvido do mundo para 28º. Esta subida deveu-se a uma melhoria em dois dos indicadores que compõem aquele Índice (taxa de alfabetização da população adulta e esperança de vida à nascença), embora acompanhada por uma deterioração do terceiro (PIB per capita ajustado pelas paridades do poder de compra).

No universo dos 12 países que na altura constituíam a União Europeia, como se alteraram, porém, as suas posições relativas em termos do IDH na última década e meia?

A França que era o primeiro e o mais desenvolvido de todos passou para 6º.
A Holanda manteve o 2º lugar.
O Reino Unido caíu de 3º para 8º.
A Alemanha desceu de 4º para 10º.
A Dinamarca conservou o 5º lugar.
A Bélgica subiu de 6º para 3º.
O Luxemburgo melhorou de 7º para 4º.
A Irlanda subiu de 8º para 1º e é agora o país mais desenvolvido da UE.
A Itália passou de 9º para 7º.
A Espanha passou de 10º para 9º.
A Grécia manteve o 11º lugar.
E Portugal conservou o 12º e último lugar.

o mais pobre do grupo

Entre 1990 e o presente, por entre os 12 países que na altura constituíam a União Europeia, como se alteraram as suas posições relativas em termos de riqueza (medida pelo indicador convencional mencionado no post anterior)?

O Luxemburgo era o primeiro e o mais rico e assim permanece agora.
A Alemanha caíu do 2º para o 7º lugar.
A França desceu do 3º para o 6º lugar.
A Dinamarca subiu de 4º para 3º.
A Bélgica manteve o 5º lugar.
A Itália passou de 6º para 8º.
O Reino Unido subiu de 7º para 4º.
A Holanda melhorou de 8º para 5º.
A Espanha conservou o 9º lugar.
A Irlanda passou de 10º para 2º e é a grande estrela do grupo.
Portugal caíu de 11º para 12º e é hoje o mais pobre do grupo.
Finalmente a Grécia, que era 12º, ultrapassou Portugal e é agora 11º.

era


Em 1990, Portugal era o 34º país mais rico do mundo. Hoje é o 43º.


(Nota: a medida utilizada é a convencional para este efeito: o PIB per capita ajustado pelas paridades do poder de compra. Fonte dos dados: The Economist, Pocket World in Figures, edições de 1993 e 2008, Londres)

o Chile e a Irlanda



No universo dos países de tradição ocidental*, aquele que mais cresceu na década 1985-95 foi o Chile (7.7% ao ano). No mundo, o primeiro foi a China (10%).

Na década de 1995-2005, o primeiro dos ocidentais foi a Irlanda (7.4%). O primeiro no mundo foi a Guiné Equatorial (21.6%).

Neste período de 20 anos, Portugal cresceu, em média, 2.2% ao ano.

*Europa Ocidental, toda a América e ainda os países desta tradição noutras partes do mundo, como a Austrália e a Nova Zelândia.

concentração



Portugal é o 22º país do mundo onde uma maior percentagem da população vive numa só cidade (Lisboa: 26.3%). Os primeiros são Singapura e Hong-Kong (100%).

pode ser que lhes sirva de emenda

Não há nada mais irritante na política portuguesa, do que este recente padrão de auto-regulação dos políticos que é o «populismo». Os «populistas» são, segundo os seus denunciadores, gente imprópria para consumo, uma espécie de patetas atolambados e inconscientes, néscios e irresponsáveis sem credibilidade, a quem as massas acríticas, de tempos a tempos, entregam cegamente o poder. Daqui viriam perigos imensos e incalculáveis para a democracia, o regime e o país. Santana, Guterres, Jardim, Portas e agora Menezes, seriam os ex-libris da peçonha. Em contrapartida, existiriam políticos «sérios» e «responsáveis», avessos ao discurso leviano das promessas e do facilitismo, homens e mulheres preocupados com o destino da pátria, a quem têm para oferecer, em missão de sacrifício, os seus gigantescos talentos. Eles são os «barões» dos partidos, os «notáveis», as «elites» da partidocracia. Os outros são os «populistas». Este critério ignora, naturalmente, a essência do sistema democrático e do sufrágio universal, como tenta convencer-nos de que há políticos capazes de manter a sobriedade no duro caminho para o poder. E é curiosamente aplicado, em regra, por profissionais da política e do aparelhismo partidário, a outsiders, ou figuras politicamente marginais que querem ocupar os seus lugares. Eles dizem, portanto, que as posições de chefia política devem estar reservadas para alguns – para as «elites», como insinuou a preclara drª Teixeira da Cruz -, enquanto que à plebe e aos metecos está destinada a alegria de os ver governar. Pode ser, então, que esta vitória de Menezes os faça ganhar algum juízo, e lhes permita perceber que o cidadão comum não é, ao invés do que presumem, inteiramente desprovido de capacidades intelectuais. O mesmo é dizer, não é estúpido.

este homem não falha

«Marcelo Rebelo de Sousa considerou «um erro monumental» a estratégia adoptada por Luís Filipe Menezes na última semana de campanha eleitoral para as directas do PSD.
«O comportamento de Luís Filipe Menezes conseguiu alargar aquilo que seria uma diferença muito mais apertada entre Marques Mendes e ele próprio», vaticinou o ex-líder do PSD.
Na opinião do professor, com esta atitude, o autarca de Gaia «reconheceu a derrota».

Do semanário Sol.

pedigree

A derrota de Marques Mendes é a derrota das pseudo-elites de um partido entorpecido, que cobardemente se aninharam nos últimos dois anos e meio à sua volta, à espera que ele tropeçasse nas próximas legislativas, abrisse espaço para mais um mandato de Sócrates, o derradeiro, e, aí sim, saltarem para o seu lugar. É difícil fazer a lista dos sinistrados: Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, Cavaco Silva, Alberto João Jardim, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Paula Teixeira da Cruz, Guilherme Silva, Macário Correia, Carlos Coelho, etc. Todos eles, ao longo dos últimos meses, foram-se assumindo como a «elite» do partido e publicamente demonstrado o seu nojo aristocrático pelos menezistas, gente populista e perigosa, cuja eventual vitória faria desertar as muitas sapiências que apoiavam Marques Mendes. Parece que a maioria dos militantes do PSD não se deixou convencer por tanto pedigree. É nestes momentos de tomada da Bastilha pela «plebe», que as coisas animam e se podem tornar verdadeiramente divertidas. Os próximos meses o dirão.

a fuga das elites

28 setembro 2007

um brasileiro em Ottawa

Durante os oito anos que vivi em Ottawa, conheci pessoas de muitas culturas e muitos países, talvez mais de cem. Até brasileiros. Na realidade, só conheci um brasileiro. Foi num dia em que me falaram do gabinete de apoio aos estudantes. Disseram-me que noutra Faculdade existia um estudante brasileiro que tinha chegado há pouco tempo e que estava com dificuldades de adaptação - na realidade, em depressão. Como eu falava a mesma língua e era professor, talvez lhe pudesse dar uma ajuda...

Acedi prontamente e no mesmo dia conheci o estudante. Tinha cerca de 2o anos e eu não era muito mais velho. Na hora, convidei-o para irmos tomar um café. Caminhámos durante dez minutos sob 20 graus negativos e acabámos a tomar um daqueles cafés, os únicos que na altura existiam no Canadá e nos EUA - agora a situação mudou ligeiramente para melhor, com a Starbucks e outras cadeias do género - que eram servidos em grandes copos, alguns de meio-litro, e que tinham o efeito da água. Eu podia tomar cinco daqueles cafés por dia que não faziam o efeito de uma só bica portuguesa. Para um rapaz que vinha do maior produtor mundial de café - um país onde as pessoas sabem verdadeiramente o que é café - o efeito deveria ser ainda mais neutro.

Nos dias seguintes, encontrei-me quase que diariamente com ele, levei-o a jantar a minha casa, introduziu-o à minha família e a alguns amigos portugueses. Nada feito. Passado um mês, regressou ao Brasil para nunca mais voltar. O clima, o café, a impessoalidade da sociedade, a disciplina estrita, a impossibilidade de viver ao ar livre por causa da temperatura, a comida, eventualmente a (ausência de) bebida, a seriedade (e a tristeza, para ele) da vida diária, aquela monotonia da disciplina e da rotina. Tudo isso foi de mais para ele. Diagnóstico: choque cultural.

Nunca mais vi um brasileiro em Ottawa.

a sua tolerância ao pecado

Ottawa é a capital federal do Canadá e está situada na Província anglófona do Ontario. Do outro lado do rio (Ottawa river ou rivière de l'Outaouais), e ligada por várias pontes com cerca de um quilómetro de extensão, está a cidade de Hull, na província francófona do Québec e, portanto, com uma cultura acentuadamente mais católica.

São consideráveis as diferenças culturais que separam as duas cidades e eu vou servir-me de um exemplo pertencente àquela faixa de situações da vida que fazem a diferença no que concerne à maior liberdade que existe na cultura católica por oposição à cultura protestante, que é a sua tolerância ao pecado.

Na Província do Ontario e, portanto, em Ottawa, as bebidas alcoólicas só podem ser vendidas em lojas pertencentes ao Estado - neste caso, ao Governo da Província - sendo proibida a sua venda em lojas, supermercados ou quaisquer outros estabelecimentos privados. Pelo contrário, na Província do Québec e, portanto, em Hull, a venda é livre em estabelecimentos privados (exactamente como em Portugal).

Na Província do Ontario e, portanto em Ottawa, os impostos provinciais sobre as bebidas alcoólicas são muito elevados, tornando o seu preço às vezes proibitivo. Pelo contrário, na Província do Québec e, portanto em Hull, os impostos são baixos e os preços das bebidas alcoólicas muito mais acessíveis. Claro, muitos habitantes de Ottawa atravessam a ponte e vão abastecer-se a Hull, tal como os portugueses de fronteira vão abastecer-se de gasolina e outros bens a Espanha.

Na Província do Ontario e, portanto, em Ottawa, é proibida a venda de bebidas alcoólicas nos restaurantes e outros estabelecimentos similares (hoteis, discotecas, etc.) a partir da uma hora da manhã. No Québec e, portanto, em Hull, não existe tal proibição. Por isso, quando um grupo de amigos habitando em Ottawa decide juntar-se para uma festa, ou vai logo directamente para Hull, ou então janta em Ottawa e, cerca da uma da manhã, muda-se para Hull. Até porque Hull também possui um casino, algo que seria dificilmente concebível na muito selecta cidade de Ottawa.

Barcelona


Quando, numa série de posts anteriores, utilizei vários indicadores de natureza socieconómica para situar Portugal no mundo, acabei por colocar o país - num julgamento que me pareceu razoável-, cerca da 30ª posição no ranking dos duzentos países que existem no mundo. Neste ranking, os países mais desenvolvidos são os países predominantemente protestantes da América do Norte e do norte da Europa, e os seus descendentes em outras partes do mundo, como a Austrália ou a Nova-Zelândia.

O ponto que gostaria de salientar neste post é uma qualificação aos indicadores e ao ranking. Estes indicadores foram desenvolvidos por analistas pertencentes à cultura do norte da Europa e da América do norte. São eles também que, depois, atribuem classificações a cada um dos outros países do mundo, produzindo os indicadores e, em seguida, os rankings. Os critérios de desenvolvimento e bem-estar utilizados reflectem essa cultura protestante, e seriam certamente diferentes pertencessem eles a uma cultura católica ou a qualquer outra das que existe no mundo.

Ilustrarei este enviesamento cultural dos rankings com um dos índices que mencionei - o índice da qualidade de vida nas cidades, o qual é baseado em 39 indicadores que vão desde a disponibilidade de equipamentos recreativos até à estabilidade política. De acordo com este índice a melhor cidade do mundo é Zurique, seguindo-se Geneva, Vancouver, Viena, Auckland, Dusseldorf, Frankfurt, Munique, Berna e Sidney - todas pertencentes a países de cultura maioritariamente protestante. A excepção é Viena, situada num país católico que, não obstante, é um enclave entre países maioritariamente protestante.

A dezena seguinte inclui, por esta ordem, Copenhaga, Wellington, Amsterdão, Bruxelas, Toronto, Berlim, Melbourne, Luxemburgo, Ottawa e Estocolomo - todas ainda pertencentes a países de cultura predominantemente protestante.

As dez seguintes são Perth, Montreal, Nuremberga, Calgary, Hamburgo, Oslo, Dublin, Honolulu, S. Francisco e Adelaide - uma cidade de cultura católica, Dublin, embora um tanto desnaturada, metida como está entre países de cultura protestante.

A seguir, mais dez: Helsínquia, Brisbane, Paris, Singapura, Tóquio, Boston, Lyon, Yokohama, Londres e Kobe - aqui já encontramos duas cidades do país que define a fronteira entre cultura protestante e a cultura católica.

E agora as sete seguintes, sempre por ordem do ranking: Barcelona (41ª: urrahhh), Madrid (42ª: urrahhh), Osaka, Chicago, Washington, Portland e Lisboa (47ª: urrahhhh). Nem uma cidade italiana.

Eu interrogo-me se existe alguém, que não seja uma excepção, pertencente aos países de cultura católica, que deseje viver duradouramente (refiro-me a viver duradouramente, e não simplesmente visitar ou viver por um período curto) numa cidade como Helsínquia, Copenhaga, Vancouver, mesmo Zurique ou Geneva, Bruxelas, Oslo, de preferência a uma cidade como Barcelona, Madrid, Florença, Roma, ou mesmo Lisboa e Porto.

Em Toronto, com sete meses de neve por ano e temperaturas médias de 20 graus negativos? Em Oslo, onde os empregados dos restaurantes põem os clientes na rua às dez da noite porque é hora de fechar? Em Ottawa, onde é proibido beber alcool a partir da uma manhã e, por isso, não há sequer discotecas abertas depois dessa hora? Em Geneva, onde não se pode assar sardinhas porque o vizinho da casa ao lado faz queixa à polícia? Em Boston, onde quem puxar de um cigarro é olhado como um criminoso? Em Singapura, onde fumar um charro significa ir longos anos para a cadeia? Em Bruxelas, essa cidade de burocratas e chuva miudinha permanente? Em Estocolomo, onde no inverno é noite todo o dia e, no verão, dia toda a noite? Em Helsínquia, onde no restaurante, após o jantar, se pedir um digestivo que seja típico do país, lhe servem um grande copo com uma bebida a saber a cereja e, ainda por cima, quente?

São estas as boas cidades? Nem uma italiana, só duas espanholas, só uma portuguesa?

Enfim, se os indicadores e os rankings fossem elaborados por analistas de países de tradição católica, as cidades portuguesas seriam muito mais valorizadas e Portugal, ele próprio, estaria muito melhor classificado do que cerca da 30ª posição do ranking dos melhores países do mundo. Na realidade, no meu próprio ranking, os três melhores países do mundo para (eu) viver são, por esta ordem: Espanha, Portugal e Itália. E, a seguir, está o Brasil.

Alguém acredita?


Alguém acredita que, se estivessem ainda hoje sob administração portuguesa, países como Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau estariam no top 20 do subdesenvolvimento, da pobreza, da mortalidade infantil e da morte prematura?

Na altura não estavam - longe disso. Foi o resultado da liberdade. Há liberdades que conduzem à morte.

?

Ao lado da esperança de vida, só a taxa de mortalidade infantil exprime adequadamente o dramatismo do subdesenvolvimento e da pobreza. O país com a maior taxa de mortalidade infantil no mundo é a Serra Leoa (160 por cada mil nascimentos), o 4º é Angola (132), o 10º a Guiné-Bissau e o 19º Moçambique (96).

Nos países desenvolvidos esta taxa ronda agora os 5 por mil, sendo a Islândia o país que a possui mais baixa no mundo (2.9). (Nota: A taxa de mortalidade infantil exprime o numero de crianças que morrem antes de atingir um ano de idade, em permilagem do número de nascimentos vivos).

a vida é curta


A esperança de vida à nascença é talvez o indicador mais dramático do subdesenvolvimento e da pobreza. O país com a menor esperança de vida no mundo é a Suazilândia (39.6 anos), o 2º é Moçambique (42.1 anos), o 6º é Angola (42.7) e o 12º a Guiné-Bissau (46.4).

No topo do mundo, neste indicador, está Andorra (83.5), seguida do Japão (82.6) e Portugal é 42º (78.1).

pobreza

O país mais pobre do mundo é o Congo Brazaville onde o rendimento médio anual por habitante (PIB per capita) é de US$90. Na 7ª posição está a Guiné-Bissau (US$ 190) e na 19ª Moçambique (US$340).

Como referi em post anterior, o país mais rico do mundo segundo este indicador é o Luxemburgo (US$77 760), estando Portugal no 45º lugar (US$ 17 460).

estão agora


Tendo citado alguns indicadores económicos e sociais, a posição de Portugal no mundo a respeito deles e o país que, em relação a cada um, ocupa o primeiro lugar no mundo, pretendo agora indicar os países menos desenvolvidos do mundo e mencionar alguns dos índices que os caracterizam.

Através deste exercício eu pretendo continuar a situar Portugal no mundo e a expôr a enormidade em que consiste chamar a Portugal um país atrasado, pobre ou analfabeto. Esta viagem pelas estatísticas do subdenvolvimento permite-me também encontrar no caminho algumas ex-colónias de Portugal - um tema a que voltarei mais adiante.

De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano, o país menos desenvolvido do mundo - o último, portanto, na lista de cerca de duzentos - é a Nigéria, aparecendo em 5º lugar (a contar do fim) a Guiné-Bissau, em 10º Moçambique e em 17º Angola. Três ex-colónias portuguesas estão agora entre os 20 países menos desenvolvidos do mundo.

com o estrangeiro



Portugal possui o 10º maior défice da Balança de Transacções Correntes (BTC) no mundo (US$ 17 biliões). O primeiro é os EUA (US$ 792 biliões).

Em termos relativos, Portugal possui o 30º maior défice da BTC no mundo (9.8% do PIB), sendo o primeiro a Mauritânia (46.5%).

Nota: a BTC reflecte o saldo das transacções (exportações e importações), incluindo transferências (vg, remessas de emigrantes), de um país com o estrangeiro.

generoso


Portugal é o 25º país mais generoso do mundo, contribuindo com US$ 377 milhões por ano em ajudas bilaterais e multilaterais ao desenvolvimento. Em termos relativos, é mesmo 22º no mundo (0.21% do PIB).

O primeiro no mundo, em termos absolutos, é os EUA (US$ 27.6 biliões) e, em termos relativos, a Noruega (0.94% do PIB).

Académica


Eu tenho mantido aqui uma divergência com o rui a. acerca dos males da sociedade portuguesa. Nós estamos razoavelmente de acordo que o mal principal está centrado no sector público e nas instituições do Estado. Divergimos, porém, quanto à origem desse mal. Ele afirma que é o resultado de uma tradição de escassez de liberdade. Eu, pelo contrário, digo que é o resultado de uma tradição de excesso de liberdade.

Antes de prosseguir, e para que a discussão possa ser frutuosa, eu achei por bem assentarmos sobre aquilo de que estamos a falar, e elaborei uma série de posts contendo informação estatística que visa situar Portugal no mundo - e esta série terá continuação em posts futuros.

O ponto essencial que eu pretendia assentar é o de que Portugal não é nada aquele país horrível, subdesenvolvido, atávico e pobre, que os nossos intelectuais e aspirantes a políticos tanto gostam de apresentar. Pelo contrário, é um dos países mais desenvolvidos do mundo, aproximadamente trigésimo, entre 200 países que existem no mundo. É um país da primeira liga, embora - para usar uma analogia futebolística -, não o F. C. Porto, o Sporting ou o Benfica, mas assim uma espécie de Académica ou Paços de Ferreira.

sabe bem


Roubado ao Anarko Kapitalism, um grande blog.

vida

Portugal é 42º país no mundo com a mais elevada esperança de vida (78.1 anos). Em primeiro está Andorra (83.5) e em segundo o Japão (82.6).

27 setembro 2007

...e liquidez


Portugal é o 16º maior consumidor per capita de bebidas alcoólicas no mundo (66.9 litros por pessoa por ano). O primeiro é a Austrália (99.2)

líquido...


Portugal é o 11º maior importador líquido de energia do mundo relativamente ao seu consumo de natureza comercial (85%). O primeiro é Hong Kong (100%).

emigrantes

Portugal é o 24º país do mundo cujos emigrantes remetem mais dinheiro para o seu país (US$ 3 biliões). O primeiro é o México (US$ 25 biliões)

nervous drivers


Portugal é o 19º país do mundo com o trânsito mais congestionado (67.4 veículos por cada Km de estrada). O primeiro é o Qatar (283.6).

poluição


Portugal é o 48º maior emissor de dióxido de carbono no mundo, quer em termos absolutos (57.5 milhões toneladas por ano), quer em termos relativos (5.5 toneladas por pessoa por ano).

O primeiro lugar, em termos absolutos, pertence aos EUA (4 816 milhões de toneladas por ano) e, em termos relativos, aos Emirados Árabes Unidos (33.4 toneladas por pessoa por ano).

crazy drivers


Portugal é o 25º país no mundo que regista mais feridos nas estradas (387 por cada cem mil habitantes). O primeiro é o Qatar (9 989).

na hora


Portugal é o 8º país do mundo onde demora menos tempo a registar uma empresa (8 dias). O primeiro é a Austrália (2 dias) e o segundo o Canadá (3 dias).

entertainment



Portugal é o 13º país do mundo a possuír televisores (98.7 por cada cem habitações). O primeiro é a Bélgica (99.8).

Portugal é também o 19º no mundo a possuír leitores de CD (43 por cada cem habitações), sendo o primeiro a Noruega (89.5).

Portugal é ainda o 19º país do mundo em que as pessoas mais vezes vão ao cinema (1.6 visitas por pessoa por ano). O primeiro é a Nova Zelândia (7.7).

jacinto leite capela amazónia 2


É uma santanete?
É uma filipete?
Não! É uma mendesete da Amazónia!

corrupção


Portugal é o 26º país no mundo cujos cidadãos menos corrupção atribuem aos seus políticos e funcionários públicos. O primeiro é a Finlândia.

disparidades


Portugal é o 26º país do mundo onde as disparidades (económicas, culturais, etc.) entre homens e mulheres são menores. O primeiro é a Noruega.

jacinto leite capelo amazónia


Depois de Jacinto Leite Capelo Rego ter honrado com o seu prestígio pessoal o partido da democracia-cristã, o PSD conseguiu um feito histórico ao filiar um numeroso grupo de índios da Amazónia e constituir aí um núcleo de empenhados social-democratas. Um êxito sem precedentes!

país da liberdade


Os EUA são o país do mundo com a maior população prisional, quer em termos absolutos (2.2 milhões) quer em termos relativos (737 presos por cada cem mil habitantes).

Puxa! Se é assim no país da liberdade, o que será em Portugal onde, segundo muitos intelectuais, não existe liberdade nenhuma?

à procura


Eu tenho andado à procura desse país subdesenvolvido, pobre e analfabeto, que existe na cabeça de muitos intelectuais do nosso país - especialmente universitários, também muitos jornalistas - mas não o encontro.

novas tecnologias


Portugal é o 15º país do mundo mais intensivo em agricultura biológica (2.2% da área agrícola). A Áustria é o primeiro (11.6%).

casórios


Portugal é o 20º país do mundo com a menor taxa de casamentos (4.0 por cada mil habitantes). O primeiro é a Colômbia (1.7)